domingo, 5 de novembro de 2017

Dona Caetana – A primeira dama da República Rio - Grandense

Por: Diones Franchi

Cayetana Juana Francisca Garcia y Gonzáles nasceu em Melo no Uruguai em 6 de agosto de 1798. Era conhecida como Dona Caetana, a esposa de Bento Gonçalves, líder do movimento farroupilha no Rio Grande do Sul, e presidente da República Rio-Grandense.
Era filha de Narciso Garcia, natural da Espanha, e de dona Maria González, natural da localidade do Povo Novo, na cidade do Rio Grande.
Dona Caetana casou – se com Bento Gonçalves em 7 de dezembro de 1814, com apenas 16 anos e por esse fato é considerada a 1ª Primeira-Dama da República Rio-Grandense.
Em sua juventude Dona Caetana era considerada uma bela uruguaia de olhos verdes, sendo que jamais renunciou a língua pátria. Chamava a atenção em sua maneira de vestir-se, sempre com belos vestidos. 
Dizia uma “lenda” que Bento Gonçalves tratava Caetana de forma carinhosa e que o chamava de “Minha Uruguaiana” pelo fato de Caetana ser uruguaia. E que isto seria uma das denominações da origem do nome da cidade de Uruguaiana. De fato isso não tem comprovação histórica e nem está nos anais daquele município.
Mas na época o povoado da futura Uruguaiana estava sobre domínio dos farroupilhas, constando apenas o decreto n° 21, do General Bento Gonçalves da Silva, então Presidente da República do Rio Grande de Piratini, que autorizou a criação de uma "capela curada" denominada "Capela do Uruguai" no "Capão do Tigre" cujo território, assim como o de Santana faziam parte de 2° distrito de Alegrete.
O novo povoado chamava-se, no início, Santana do Uruguai, por ser uma passagem de tropas e comerciantes que costumavam atravessar o rio Uruguai, sendo mais tarde mudado para Uruguaiana.
Nada que comprovasse a denominação a esse fato, apenas que o local teve grande influência dos farrapos no período da revolução, fez se criar algumas lendas e literaturas romanceadas ligadas a Caetana.
Da sua união com Bento Gonçalves nasceram Perpétua Justa Gonçalves da Silva, Joaquim Gonçalves da Silva, Bento Gonçalves da Silva Filho, Caetano Gonçalves da Silva, Leão Gonçalves da Silva, Marco Antônio Gonçalves da Silva, Maria Angélica Gonçalves da Silva e Ana Joaquina Gonçalves da Silva.
Caetana foi personagem na literatura e na televisão, estando presente em romances históricos, como Os Varões Assinalados de Tabajara Ruas, A Guerra dos Farrapos de Alcy Cheuiche, A Casa das Sete Mulheres e Um farol no pampa, ambos de Letícia Wierzchowski. É mencionada também em correspondências do marido e descrita em registros históricos.
Sua existência tornou-se conhecida nacionalmente com a exibição, em 2003, da minissérie da Rede Globo, A Casa das Sete Mulheres, baseada em livro do mesmo nome, tendo sido interpretada pela atriz Eliane Giardini.
Faleceu em sua estância da Figueira, na casa da filha Maria Angélica e do genro Antônio José Centeno no município de Cristal no Rio Grande do Sul, em 30 de março de 1872 na época município de Camaquã. Seus restos estão sepultados em um jazigo no cemitério São João em Camaquã no Rio Grande do Sul.

Fontes:

Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul. Bento Gonçalves. Parlamentares Gaúchos – Atas e Resoluções da Primeira Legislatura da Assembleis Provincial. (1835-36). 2005
A Guerra dos Farrapos – Alcy Cheuiche. 2003
Prefeitura Municipal de Uruguaiana - http://www.uruguaiana.rs.gov.br/pmu_novo/historia

 Imagens de Bento Gonçalves e Dona Caetana - Museu de Camaquã - RS

Túmulo de Dona Caetana -Camaquã - RS

sexta-feira, 15 de setembro de 2017

O primeiro general da Republica Rio-Grandense

Por: Diones Franchi

A Revolução Farroupilha foi um marco na história do Rio Grande do Sul, disso não há dúvidas. Mas quando denominamos os personagens da revolução certamente lembremo-nos de Bento Gonçalves, David Canabarro, Garibaldi, Teixeira Nunes entre outros e talvez nos esqueçamos de seu primeiro general.
João Manuel de Lima e Silva foi o primeiro comandante do exército farrapo, sendo considerado desta maneira, o primeiro general da República Rio- Grandense.
Nasceu no Rio de Janeiro no ano de 1805. Era proveniente de uma tradicional família de militares, sendo tio de Duque de Caxias, apesar de ser dois anos mais jovem.
Casou-se com Maria Joaquina, irmã do também farroupilha coronel José de Almeida Corte Real.
Estudou na Academia Real Militar e lutou na Bahia na Guerra da Independência como soldado de infantaria.
Como Major foi enviado para o Rio Grande do Sul em 1828 para comandar o 28° Batalhão de Caçadores Alemães, parte do Corpo de Estrangeiros. Em 1830 foi investigado como conspirador de um golpe republicano.
Colaborou com o irmão, general Francisco de Lima e Silva, Regente do Império, nos acontecimentos políticos que resultaram na abdicação de Dom Pedro I em 7 de abril de 1831.
Em 1834, foi denunciado como rebelde e acusado de manter entendimentos secretos com Juan Antonio Lavalleja para a separação do Rio Grande do Sul, onde foi chamado à Corte, junto com Bento Gonçalves.
Em 1835 era coronel comandante de um quartel em Porto Alegre quando a Revolução Farroupilha estourou.
Em dezembro de 1835, quando Bento Manuel Ribeiro aderiu aos imperiais, assumiu o comando militar dos republicanos sendo para isso promovido a general, e com isso considerado o primeiro general do exército farroupilha.
João Manuel foi fundamental nos primeiros meses da Revolução, pela organização do exército rebelde, aproveitando sua experiência de Academia Militar.
Derrotou Bento Manoel Ribeiro e tomou Pelotas no combate do Passo dos Negros, em 2 de junho de 1836. Ferido recuperou-se na casa de Domingos José de Almeida, às margens do Arroio Pelotas. Em 1° de novembro do mesmo ano assume como comandante chefe dos exércitos da República.
Foi o principal promotor do alistamento dos libertos, mestiços errantes e escravos no exército republicano que estava se formando. Alguns meses antes de sua vitória em Pelotas, ele havia organizado alforriados numa unidade de infantaria. No dia 12 de setembro de 1836, às vésperas da Batalha do Seival, foi constituído o 1º Corpo de Cavalaria de Lanceiros Negros, com mais de 400 homens, que teve importante papel na vitória sobre o exército imperial.
Assinou a carta de corso que dava poderes a Giuseppe Garibaldi de atacar e prender qualquer navio de guerra ou mercantil do governo brasileiro e de seus súditos.
Em 5 de julho de 1837, auxiliado por uma tropa de 260 uruguaios, partidários de Fructuoso Rivera, derrotou, no Botuí, em São Borja, a força imperial do coronel Manuel dos Santos Loureiro. Fustigados novamente em Itaquera, os imperiais se refugiam na Argentina, de onde retornam em dois bandos de 20 homens. Em uma operação de guerrilha, comandada pelo cabo Roque Faustino, é aprisionado em São Luís das Missões, enquanto organizava a defesa das Missões, em 16 de agosto.
Seu fim foi trágico com apenas 32 anos, no dia 29 de agosto de 1837, João Manuel saiu de uma festa de batizado no interior de São Borja e relaxou a segurança. Foi tocaiado e assassinado por Roque Faustino e seu bando. Faustino foi identificado mais tarde por usar os arreios de prata e o poncho do general.
Seu corpo depois foi exumado e sepultado com toda a pompa em Caçapava do Sul, incluindo tochas e desfile de 35 virgens. Em 1840 o túmulo foi destruído por imperiais e seus ossos espalhados pelos campos. Tempo depois outro monumento foi construído em honra do herói farroupilha, que fez parte dos ideais republicanos que um dia tanto sonhou.

Fontes:

História Ilustrada do Rio Grande do Sul – RBS Publicações, 2004
PALDING, Walter. A revolução farroupilha in: Enciclopédia Rio-grandense, Editora Regional, Canoas, 1956


segunda-feira, 31 de julho de 2017

A ferrovia no Rio Grande do Sul

Por: Diones Franchi

A ferrovia no Rio Grande do Sul teve seu inicio em 15 de abril de 1874, quando foi construída pela companhia inglesa denominada de Companhia Brasileira Ltda, de Johan Mac Ginity, uma linha férrea de Porto Alegre até a cidade de São Leopoldo, no Vale do Rio dos Sinos. A primeira ferrovia do estado tinha 33 km de extensão e oito estações ferroviárias, sendo hoje o caminho atual do metrô de Porto Alegre conhecido como Trensurb. Em 1º de janeiro de 1876 foi inaugurado o prolongamento até Novo Hamburgo. Em 1880 já eram transportados cerca de 40 mil passageiros por ano, sendo que a linha posteriormente foi estendida até Carlos Barbosa e Caxias do Sul. 
Após a inauguração da primeira ferrovia do estado, foi criada em 23 de dezembro de 1877 uma linha principal denominada de “linha tronco”, que atravessava o estado horizontalmente de Porto Alegre a Uruguaiana, que levou cerca de 30 anos para ser construída, sendo finalizada no dia 21 de dezembro de 1907. Com o passar do tempo, esta linha foi ficando insuficiente e então foram criados os ramais, que eram as linhas ferroviárias que ligavam as cidades até a linha tronco.
Em 2 de dezembro de 1884 foi a vez da cidade de Rio Grande ganhar transporte ferroviário. Nesse mesmo ano Bagé ganhava um terminal ferroviário da linha chamada Bagé-Marítima. Essa linha foi construída em partes: pela Southern Brazilian Rio Grande do Sul Railway Company Limited, sucessora de uma série de concessões anteriores. De Cacequi a São Gabriel, em meados de 1896 e de São Sebastião a Bagé, no final do mesmo ano, ambos pela E. F. Porto Alegre-Uruguaiana. Em 1900, a união São Sebastião-São Gabriel completaria o trecho Bagé-Rio Grande.
Enquanto isso Rio Grande criaria importante linhas férreas de trem como a Cia Estrada de Ferro de Rio Grande a Costa do Mar em Julho de 1890, Cia Carris e Estrada de Ferro a Estrada do Mar em Setembro de 1892, Cia e Viação Rio-grandense em fevereiro de 1895. Muitas linhas férreas foram construídas pelo estado, tornando o trem um importante meio de transporte no século 19.
No dia 29 de julho de 1920, o governo da união passou para o estado do Rio Grande do Sul a administração das ferrovias localizadas no seu território, o mesmo acontecendo no restante do país. Neste ano, foi criada a Viação Férrea do Rio Grande do Sul. Nisso houve um aumento de linhas ferroviárias gaúchas que passaram de 2.300 km para 3.650 km. Em média acontecia cerca de 70 transportes de passageiros no Rio Grande do
Sul diariamente.
Em 30 de setembro de 1957, surgiu a Rede Ferroviária Federal (RFFSA) em consequência da decadência das “estradas de ferro” existentes no Brasil. As 42 ferrovias que existiam foram incorporadas a nova rede ferroviária num sistema de regionais, resumidas em 18. Nesse período novamente houve um grande avanço no setor ferroviário, surgindo os trens de luxo com locomotivas a diesel. O primeiro trem de luxo, foi chamado de “Minuano”, sendo de origem alemã. Logo após surgiu o trem de luxo Húngaro. Neste período, houve também um aumento na capacidade e remodelação dos vagões, onde as linhas foram melhorados os traçados dos trilhos, substituindo os dormentes de madeira por concreto. Mas os anos dourados do trem chegava ao seu fim com o avanço das rodovias no país e a desestatização da Rede Ferroviária Federal. 
Em 5 de dezembro de 1999, a RFFSA foi extinta, sendo criada a Agência Nacional de Transporte Terrestre (ANTT), que ainda hoje é o órgão que fiscaliza e controla o pouco que sobrou do transporte ferroviário do país e do Rio Grande do Sul.

Fontes:
Ministério dos Transportes - A ferrovia no Rio Grande do Sul
www.estacoesferroviarias.com.br/
www.riograndeemfotos.fot.br

Porto Alegre - Estação Férrea do Riacho

Estação de Rio Grande - RS

Primeiras ferrovias do Rio Grande do Sul

quinta-feira, 29 de junho de 2017

A origem dos farroupilhas

Por: Diones Franchi

Muitas pessoas se confundem entre o termo farroupilha e farrapos, de fato os dois se caracterizam no mesmo grupo, mas suas origens podem ser diferentes.
Alguns livros insistem que os termos farrapos ou farroupilhas dado aos revolucionários gaúchos, teve origem nas roupas que estes vestiam, que eram gastas e esfarrapadas. No entanto, a denominação é anterior à Revolução Farroupilha, sendo utilizada para designar os grupos liberais de ideias exaltadas.
O termo foi utilizado pela primeira vez para indicar revolucionários que no ano de 1700, no Rio de Janeiro, descontentes com as resoluções da câmara, na sua maior parte pequenos agricultores resolveram marchar sobre a cidade para protestar.
No ano de 1829 os grupos liberais já se reuniam em sociedades secretas. Uma delas era a Sociedade dos Amigos Unidos, do Rio de Janeiro, cujo objetivo era lutar contra o regime monárquico. Desde então, eram chamados de farroupilhas. 
O termo “farroupilha” já era um apelido antigo, que desde 1831 circulava no Rio de Janeiro nos jornais denominados “Jurujuba dos Farroupilhas” e “Matraca dos Farroupilhas”. Uma das versões diz que o termo havia sido inspirado nos "sans culottes" franceses, os revolucionários mais extremados durante o período da Convenção (1792 a 1795). Os "sans culottes", que literalmente quer dizer sem calção, usavam calças de lã listradas, em oposição ao calção curto adotado pelos mais abastados.
Outra versão insiste no fato de que o termo foi provavelmente inspirado nas roupas rústicas de um dos líderes dos liberais, Cipriano Barata que, quando em Lisboa, circulava pela cidade usando chapéu de palha e roupas propositadamente despojadas.
Em 1832, Luís José dos Reis, fundou o “Partido Farroupilha” em Porto Alegre, partido que já existia em São Paulo. Os “farroupilhas” eram os liberais exaltados, radicais, facção revolucionária que defendia a separação do Rio Grande do Sul em relação ao Brasil.
Nessa época já havia uma divisão entre o movimento farroupilha, pelo menos, em dois grupos: o grupo da maioria e o da minoria. O grupo da maioria possuía como líder Bento Gonçalves da Silva, Domingos José de Almeida, Mariano de Matos e Antônio da Silva Netto e defendia a independência do Rio Grande do Sul num Estado republicano independente que poderia se vincular, numa espécie de federação, tanto ao Brasil como aos demais países platinos. O grupo da minoria, representado por David Canabarro e Vicente da Fontoura, desejava reformas para a autonomia da Província, fosse num sistema monárquico ou republicano sem, necessariamente, sua separação do Brasil. Esse grupo assumiu o controle da revolução já em seu final, a partir de 1843, negociando o processo de paz com o Império. Mas sabe-se que os dois grupos tinham interesses em comum, como o controle de sua produção e dos altos impostos que a coroa cobrava da província, não buscando de fato uma divisão do resto Brasil, mas que suas solicitações fossem atendidas pela Coroa.
De fato o termo "farrapos" ganhou mais força durante o fim da revolução quando os soldados farroupilhas, diziam remendar suas roupas gastas e esfarrapadas no longo conflito, mas suas origens estão longe desta ideia.

Fontes:

ALMEIDA, Jerri Roberto. Revoluçãoi farroupilha: Traição e Morte no Cerro de Porongos
SPALDING, Walter (1963). A epopeia farroupilha.


sábado, 3 de junho de 2017

Sanguanel

O Sanguanel é um mito da região ítalo-gaúcha, cuja crença é muito viva, ainda no presente. Ele é um ser pequeno, vivo, de cor vermelha que, a rigor, não faz mal pra ninguém, mas dá cada susto! Ele vive pelos pinherais da serra e seu prazer é roubar crianças, as quais esconde no alto das árvores ou no meio das reboleiras do mato. Mas não judia delas. Pelo contrário, até traz mel numa folha e água, se tem sede. Os pais, como loucos, procuram as crianças roubadas pelo Sanguanel. Quando eles encontram as crianças, elas estão sempre em estado de sonolência, lembrando pouco e mal das coisas que aconteceram, embora não esqueçam a figura vermelha do Sanguanel, o ninho em cima de um pinheiro e o mel trazido numa folha. Mais raramente o Sanguanel se envolve com adultos. Nesses casos, assume o papel de vingador engraçado, fazendo picardias e provocações aos preguiçosos, bêbados ou não religiosos, mas tudo sem maldade.


segunda-feira, 24 de abril de 2017

O massacre dos Charruas em Salsipuedes

Por: Diones Franchi

O massacre de Salsipuedes ocorreu em 11 de abril de 1831, sendo considerado um dos principais genocídios indígenas da história. Neste dia foi praticamente extinto os índios charruas, que viviam no Uruguai e habitavam a região do pampa gaúcho. Salsipuedes era uma localidade do Uruguai, onde o governo colocou em prática o plano de extermínio destes índios nos primórdios da República Oriental do Uruguai.
Após a campanha libertadora dos 33 Orientales, momento em que o Uruguai se tornou independente do Império do Brasil, existia uma preocupação do governo uruguaio para se livrar dos charruas. O comandante e libertador uruguaio Juan Lavalleja, já havia recomendado por carta datada de fevereiro de 1830 a Fructuoso Rivera, presidente da recém-criada república, que adotasse as providencias “mais ativas e eficazes” para a segurança dos habitantes e a garantia das propriedades afetadas pelos charruas: Dizia ele que eram “malvados, não conhecem freio algum que os contenha, e não se poderia deixá-los livres às suas inclinações naturais”.
O plano de extermínio foi uma traição e um covarde ataque dos soldados uruguaios aos índios que se encontravam desarmados.
Este massacre foi atribuído a Fructuoso Rivera e seu sobrinho Bernabé Rivera, que segundo historiadores armaram uma emboscada para os charruas.
Os caciques haviam sido convidados a um encontro para organizar a defesa das fronteiras do novo país. Nesse encontro organizado pelo governo uruguaio foi servido um churrasco com bebida alcoólica .
Os índios que compareceram foram mortos ou aprisionados e enviados a Montevidéu como escravos. Esse massacre foi planejado friamente, pois os uruguaios temiam entrar em confronto com os charruas em batalha, pois estes eram exímios guerreiros em destreza com as boleadeiras.
Na época existia nas autoridades a ideia de que algumas tribos Charruas, se tornavam uma ameaça, por se moverem livremente pelos campos do pampa e especialmente pelos territórios do norte como na época da pré-colonização. O governo via isso como um obstáculo intransponível para a estruturação de uma sociedade organizada.
Eles também não esqueciam o ato que os charruas fizeram na primeira fundação de Montevidéu, onde eles destruíram o povoado e não aceitavam a colonização, se mostrando combativos e guerreiros na metade do século 16.
Diferentemente das outras tribos os charruas eram um povo nômade, que se deslocava para varias regiões do pampa gaúcho, a fim de buscar a caça ou demarcar o território. Muitos deles tinham tendência a viverem sedentários, principalmente após os estabelecimentos fundadas pelos jesuítas, as chamadas missões jesuíticas, sendo que outros foram integrados na sociedade rural e a miscigenação . Existiam grupos eram considerados perigosos, mas também guerreavam entre si, tendo grupos e tribos diferentes. Em algumas situações se uniram aos uruguaios para ajudar na defesa do território e também lutar ao lado de José Artigas nas lutas revolucionarias. 
Após a independência do Uruguai, a situação dos povos indígenas foi uma das principais preocupações dos militares, pressionados pelos caudilhos, grandes proprietários de terras que viam o índio como uma ameaça. Eles temiam que os índios pudessem cobiçar suas terras para fortalecer suas tribos e atrapalhar a dominação da classe social. Tendo assegurado a fronteira com o Brasil, os índios já não eram necessários para a nova organização do Estado.
A decisão de acabar com os Charruas era questão de tempo. Rivera tinha boa relação com alguns caciques, pois os charruas haviam lutado ao lado dos uruguaios para conter os diversos ataques do território. Aproveitando-se da confiança dos charruas, o presidente, Rivera chamou os principais caciques Charruas, Venado, Polidoro, Rondeau e Juan Pedro, juntamente com suas esposas e filhos, para uma reunião, a ser realizada nas margens do arroio Salsipuedes , dizendo-lhes que o exército necessitava de sua ajuda para proteger as fronteiras do estado.
Segundo relatos históricos, em 11 de Abril de 1831 participaram da reunião várias centenas de índios, que foram inicialmente bem tratados com comida e bebida. Quando os charruas se encontravam alcoolizados, em um ponto da reunião, Fructuoso Rivera perguntou a seu “amigo” Venado cacique se poderia cortar o rapé, uma espécie de tabaco, e esse quando pegou a faca para cortar, Rivera atirou e o matou. Então o cacique no leito da morte teria dito: ¡Olha, Don Frutos... Seus soldados matando amigos!. Este teria sido o sinal para iniciar o ataque. Os charruas foram imediatamente cercados por uma tropa de 1200 soldados sob o comando de Bernabé Rivera. De acordo com a historiografia oficial com base em Rivera o saldo foi de 40 mortos e 300 prisioneiros indígenas. Entre as tropas foram 9 feridos e um morto. Mas sabe-se que o número pode ter chegado entre 150 e 200 mortes. Os cavalos dos charruas estavam distantes, pois os charruas confiavam em Rivera que no fim preparou toda emboscada.
Após o massacre os indígenas sobreviventes foram presos e levados para Montevidéu. A maioria deles, principalmente mulheres e crianças, foram para famílias de Montevidéu onde foram escravizados. Quatro dos sobreviventes chamados de Vaimaca Piru , Tacuabe , Senaque e Guyunusa foram entregues a um francês chamado François de Curel, que levou para Paris, onde foram exibidos como espécie exótica da América. Todos eles morreram em cativeiro, sendo que a única exceção foi Laureano Tacuabé que conseguiu fugir com a filha de Guyunusa nascido na França, e não há nenhum registro de seu paradeiro. 
A perseguição dos charruas continuou após Salsipuedes, por Bernabé Rivera que descreveu como "grande interesse levar à conclusão dos infiéis." 
No dia 17 de agosto de 1831 , Bernabé Rivera surpreendeu no Mataojo perto da foz do rio Arapey outros chefes liderados por Juan Pedro e atacaram matando 15 e mais de 80 presos. Bernabé Rivera informou que 18 homens haviam escapado, 8 meninos de sete a doze anos e cinco chineses muito velhos "e, com eles, Polidoro, único cacique sobrevivente. 
No início de 1832 houve uma revolta dos índios Guarani em Santa Rosa e Barnabé foi para reprimi-la. Ele lutou contra o levante com sua habilidade habitual e intransigência. Mas a tarefa de perseguir os fugitivos acabaria em 20 de junho de 1832, quando encontrou um grupo de 16 charruas comandados cacique Polidor. Bernabé foi atingido por uma lança e morto. O comandante do massacre de Salsipuedes foi reconhecido e teve as veias dos braços arrancadas e colocadas na ponta das lanças dos charruas.
Os charruas são considerados extintos apesar de haver povos no Brasil e Uruguai, que se dizem descendentes destes indígenas.

Fontes:

BARRIOS PINTOS, Hannibal. "Caciques Charruas em território oriental" na revista Almanac State Bank Insurance.
Bracco, Diego. Charrúas, Guenoas y Guaraníes: Interacción y Destrucción: Indígenas en el Río de la Plata. Editor: Linardi y Risso, Libreria, 2004.
Hugarte Renzo Pi. Os índios Del Uruguay. Montevideo, Ediciones de la Banda Oriental, 1998.
Documentário Salcipuedes - Genocídio Indígena https://www.youtube.com/watch?v=GCMapV1RQQo
Documentário: Os Últimos Charruas - Histórias Extraordinárias – RBS TV https://www.youtube.com/watch?v=Z0bonoBzask


 Charruas em combate

Monumento aos últimos charruas - Montevidéu - Uruguai

sábado, 25 de março de 2017

Escravo de Saladeiro

Por: Diones Franchi

No Brasil do Império, existiram muitos tipos de escravos, para as mais diversas funções, desde criados que ficavam em casa até escravos que faziam funções nas lavouras. Mas existiu um tipo de escravo que trabalhava constantemente nas charqueadas do Rio Grande do Sul. Eles se chamava escravo de saladeiro, sendo responsável pela salga da carne.
A Charqueada era a denominação da área da propriedade rural em que se produzia o charque,um dos principais produtos gaúchos da época, sendo normalmente composto por galpões cobertos onde a carne salgada era exposta para o processo de desidratação. A indústria saladeiril e o ciclo do charque do século XIX, deixaram suas marcas no extremo sul do Brasil.
Toda a produção de charque, como de resto as produções mineradora e agrária da época, no Brasil era baseada no trabalho dos escravos. Hoje, poucas das antigas charqueadas existem, apenas as instalações , mantidas como marco turístico regional.
Em 1820, eram mais de 20 charqueadas, sendo a cidade de Pelotas o pólo do estado na produção do charque, chegando num total de 400 mil cabeças de gado por ano.
O escravo de saladeiro era chamado desta maneira por que os negros eram caracterizado pelas mãos cortadas pelo sal e por suas costas cortadas pelo relho do carrasco. Muitos tiveram os olhos cegados pelos raios do sol que refletiam no sal. Era comum também o sofrimento desses escravos, devido seus garrões sangrarem por causa do sal, exposto ao sol. Alguns escravos eram sepultados entre o esterco e o sangue dos animais. Era um trabalho árduo que começava na madrugada e chegava até a noite.
O fim deste martírio e das charqueadas acabaram devido a abolição da escravatura, pois houve o desaparecimento dos compradores que com o charque alimentavam seus escravos nas mineração do ouro de Minas Gerais e plantações de cana-de-açúcar na América Central e América do Sul.
Outo motivo, foi o surgimento dos frigoríficos, na década de 1910. Em 1918, já restavam apenas cinco charqueadas em Pelotas. A charqueada foi trocada pela produção de arroz, hoje uma das maiores produções do estado.
O escravo de saladeiro ficou com as cicatrizes de um tempo em que o boi morria mas seu sangue vertia junto com a escravidão.

Fonte:
DA FONTOURA MARQUES, Alvarino. Episódios do Ciclo do Charque.
História do Rio Grande do Sul, RBS Editora.
Ver a música "Escravo de Saladeiro" - Neto Fagundes.



domingo, 29 de janeiro de 2017

A lenda da Lagoa da Corneta

Por: Diones Franchi

Tudo começa em 17 de março de 1836, próximo de onde surgiria o município de Rosário do Sul. À frente de 800 farrapos, o coronel José de Almeida Corte Real foi envolvido e desbaratado pelo astuto Bento Manoel Ribeiro. Corte Real deveria ter esperado o reforço de Bento Gonçalves, que estava perto, mas aceitou bater-se acreditando numa vantagem de que não dispunha.
A falta de cautela dos farroupilhas foi desastrosa: o imperial Bento Manoel contou 200 prisioneiros, entre eles Corte Real, e dezenas de mortos, incluindo o soldado corneteiro do clarim. Parte deles afogou-se na lagoa durante a fuga, ignorando que não dava pé, embora aparentasse, e segue parecendo ser rasa.
O episódio alterou a vida na região, com desdobramentos que ainda perduram. Situada entre a Vila Carmelo e o Rio Santa Maria, a então Lagoa Funda foi rebatizada de Lagoa da Corneta, em homenagem ao clarim farroupilha. E suas águas plácidas passaram a emitir ecos que continuam surpreendendo até os dias de hoje.


A batalha da Lagoa da Corneta


No dia 17 de marco de 1836, as tropas de Bento Manoel, que estava bandiado para o lado imperial naquele momento, travaram uma batalha contras as tropas farroupilhas do comandante Corte Real que comandava uma coluna de 800 homens. Esta batalha aconteceu em Rosário do Sul, onde Corte Real acampou sua tropa na margem esquerda do rio, pois ele estava em perseguição a tropa de Bento Manoel. O que Corte Real não esperava é que Bento Manoel que estava sendo perseguido, receberia reforços com as forças legalistas de Antonio Medeiros Costa e Joca Tavares e do experiente coronel Manoel Luis da Silva Borges. Essa força parte do Passo do Dom Pedrito e desce costeando o Rio Santa Maria, de caçado Bento Manoel passa a ser caçador, pois estão em seu comando mais de 800 homens. Corte Real recebe a noticia em seu acampamento, que o inimigo marcha em sua direção. Corte Real então transpõe sua tropa para outro lado do rio, escolhe o terreno e espera o inimigo. Alguns companheiros lhe aconselham a esperar reforços dos generais Bento Gonçalves e de João Manoel de Lima e Silva, que estavam no Curral de Pedras. O jovem Corte Real não quis esperar, e não temia o inimigo. Bento Manoel e Silva Tavares ordenam o ataque, sendo que a cavalaria estava a comando de Silva Borges e de seus filhos José Luis e Manoel Luis Osório, futuro patrono da cavalaria. Bento Manoel dando ordens foi conduzindo o ataque contra a tropa de Corte Real, sendo que o ataque foi acirrado, mas as forças farrapas não conseguiram resistir ao exército imperial. A desordem se generalizou e muitas baixas tombaram a beira da Lagoa da Corneta. Um grupo de farrapos no desespero tentou atravessar a lagoa, sem conhecer sua profundidade. Entre os vários que morreram afogados, estava o corneteiro da tropa farroupilha. Abandonado por alguns de seus companheiros, Corte Real se viu cercado por um grupo de legalistas, a mando do tenente José Luis Osório, que gritou "Renda-se patrício, entregue-me a espada que lhe garanto a vida", e Corte Real rendeu-se. Bento Manoel contou 200 prisioneiros e mortos atingiram o número de 150.
Um monumento foi erguido em homenagem aos 150 mortos no dia 17 de março de 1836, entre eles o do bravo corneteiro que morreu afogado na Lagoa, também chamada de Lagoa Funda.

 Lagoa da Corneta - Rosário do Sul - RS

Monumento Farroupilha na Lagoa da Corneta