quinta-feira, 16 de dezembro de 2021

Gumercindo Saraiva

Foi um estancieiro, cavaleiro, caudilho e comandante militar gaúcho e importante nome da Revolução Federalista de 1893, onde comandou as tropas rebeldes denominado de maragatos. Gumercindo nasceu em Arroio Grande em 13 de janeiro de 1852, sendo filho de Francisco Saraiva e Propícia da Rosa. Tinha estância na região de Santa Vitória do Palmar, onde conduzia com força e lealdade as suas terras, sendo conhecido como amigo fiel e inimigo perigoso. Foi também capitão de guerra, comissário de polícia e tropeiro. Durante os últimos anos do Império, quando era chefe de polícia daquela localidade, chegou a ser simpatizante da causa republicana, mas os partidários locais o desiludiram. Conhecido também como Napoleão dos Pampas.
Líder caudilho, Gumercindo Saraiva arregimentava rapidamente uma montonera que constituía em uma formação militar geralmente constituída por indivíduos da mesma localidade, que ofereciam seu apoio armado a uma determinada causa. Seu prestígio dividia-se tanto pela amizade com seu ilustre amigo Gaspar Silveira Martins, um dos político mais influentes do Império nos anos que precederam a queda do regime monárquico, como também se dava em parte por seus soldados que o cercavam constantemente. Possuía cerca de quinze mil hectares de terra e milhares de cabeças de gado que se estendiam pela fronteira sul do Rio Grande do Sul. Desde jovem adquiriu agilidade ímpar com o cavalo. Aos dezoito anos se juntou a sua primeira montonera, quando ainda vivia no Uruguai. Muitos que constituíam a sua montonera durante a Revolução Federalista eram falantes de espanhol ou castelhanos que ele conhecera nessa lida na década de 1870 e começo de 1880. Estes eram provenientes da região de San José, e se autodenominavam maragatos devido à origem dos primeiros colonos dessa região, alcunha pela qual ficou célebre o grupo federalista durante as hostilidades. Depois de viver os seus primeiros 30 anos no Uruguai, em 1883 retornou ao Brasil fugindo da justiça A Guerra em que Saraiva entrou para a História teve início com o Golpe de 1889 ou Proclamação da República no Brasil e com a ascensão do governador Júlio de Castilhos, correligionário daqueles que seriam conhecidos como Pica - Paus, em 1892. Nesse período o governo de Júlio de Castilhos entra numa fase de instabilidade no Rio Grande do Sul. O estado se torna um caos, de um lado os castilhistas Pica-Paus, e do outro os federalistas maragatos liderados pelo General João Nunes da Silva Tavares, o Joca Tavares. A inimizade entre Gumercindo Saraiva e Júlio de Castilhos já existia desde a formação da República, quando o Saraiva recusou o convite para chefiar o Partido Republicano no Rio Grande do Sul. A partir daí foi perseguido pelo castilhismo. Seu objetivo buscava a reforma constitucional parlamentarista do então exilado Gaspar Silveira Martins que resolve voltar ao Uruguai onde os rebeldes estavam formando suas tropas. Em 2 de fevereiro de 1893, acompanhado por seu irmão Aparício Saraiva e liderando cerca de quatrocentos cavaleiros atravessou a fronteira pelo povoado da Serrilhada, entrando no Rio Grande do Sul, e juntando-se aos homens do General João Nunes da Silva Tavares, formando assim o Exército Libertador, com um contingente de mais de três mil homens, que em pouco tempo chegaria a doze mil. Consta que um terceiro irmão, Mariano, também teria participado desta revolução. No Uruguai os três irmãos Saraiva, eram conhecidos como Os três de Cerro Largo. Em 4 de abril de 1893 acontece a primeira batalha com as tropas legalistas denominadas Pica-Paus. Depois de vários combates com as forças do governo, percebendo estar diante de um exército melhor preparado e armado, Gumercindo Saraiva parte para a prática de guerrilha, evitando combates convencionais, e dispersando as tropas legalistas para tentar vencê-las depois, em partes, tática esta que deu certo. Gumercindo Saraiva e sua tropa dirigiu-se para Dom Pedrito, iniciando uma série de ataques relâmpagos contra vários pontos do estado, desestabilizando as posições conquistadas pelos legalistas. O governo, autoritário e centralista de Julio de Castilhos, provocou furor na oposição, com a formação de um confronto entre Maragatos e Pica - Paus, a disputa entre centralismo e regionalismo desencadeou uma Guerra Civil no Rio Grande do Sul, estendendo-se para Santa Catarina e Paraná. Em seguida as tropas de Gumercindo Saraiva rumaram ao norte, avançando em novembro sobre Santa Catarina e chegando ao Paraná, sendo detidos na cidade da Lapa, a 60 quilometros de Curitiba. Nesta ocasião, o coronel Gomes Carneiro morreu em fevereiro de 1894 sem entregar suas posições ao inimigo, no episódio que ficou conhecido como o Cerco da Lapa. O almirante Custódio de Melo, que chefiara a Revolta da Armada contra Floriano Peixoto, uniu-se aos federalistas e ocupou Desterro, atual Florianópolis. De lá chegou a Curitiba, ao encontro do caudilho-maragato Gumercindo Saraiva. Após a queda da Lapa, rumou para Curitiba que encontrou completamente desguarnecida, partindo em seguida para Ponta Grossa, onde enfrentou as tropas legalistas que haviam recebido reforços de São Paulo, obrigando-o a recuar, iniciando assim a retirada e seu retorno ao Rio Grande do Sul, agora acossado pelas tropas do governo. Em marcha pelos três estados, desde sua partida de Jaguarão até o retorno ao Sul, o General Gumercindo Saraiva e suas tropas percorreram a cavalo, um trajeto de mais de 3 000 km. Em 27 de Junho enfrentou sua última grande batalha. No dia 10 de Agosto de 1894 morreu com um tiro no tórax, desferido de tocaia por um homem que se encontrava no meio do mato, enquanto reconhecia o terreno na véspera da Batalha do Carovi em área hoje situada no município de Capão do Cipó no Rio Grande do Sul. Dois dias depois de enterrado, no cemitério Santo Antônio de Capuchinhos, atual município de Itacurubi, seu corpo foi retirado da cova, e teve a cabeça decepada. Segundo alguns autores a cabeça foi levada em uma caixa de chapéu ao governador Júlio de Castilhos. Seu corpo, mais tarde, foi novamente sepultado no cemitério municipal de Santa Vitória do Palmar, sem a cabeça. A propaganda de guerra governista na época acusou Gumercindo Saraiva de atrocidades, fato esse que foi desmentido por centenas de testemunhos, inclusive de seus inimigos políticos. Seu sabre se encontra até os dias de hoje no Museu Paranaense em Curitiba.

Por: Diones Franchi

Jornalista e Mestre em História

Fontes:

- Elmar Bones e Tabajara Ruas. A cabeça de Gumercindo Saraiva. 1.ed. Editora Record, 1997. 226 p.

- 1889: A República Não Esperou o Amanhecer, Hélio Silva, Civilização Brasileira, 1972

- A História Ilustrada do Rio Grande do Sul - 2004