terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Teixeira Nunes - O lanceiro farrapo

Joaquim Teixeira Nunes foi um militar que deixou seu nome gravado na história do Rio Grande do Sul, comandando os lanceiros negros na Revolução Farroupilha. Sua origem é considerada um pouco turva por alguns historiadores, mas provavelmente nasceu na costa do Rio Camaquã, em Canguçu - RS, no ano de 1802, sendo filho dos primeiros povoadores do município. Casou-se, em Porto Alegre, em 4 de maio de 1823, com Felícia Maria da Silva Reis, natural de Viamão, filha do Capitão Manoel da Silva Reis e de Anna Felícia de Oliveira Pinto. Desse casamento, houve, o registro de apenas uma filha, Joaquina Teixeira Nunes, nascida em 7 de janeiro de 1824, em Porto Alegre. 
Era conhecido também como “Gavião” e por sua habilidade com as lanças, participando também da Guerra Cisplatina como alferes do Regimento de Cavalaria das Missões, onde fez parte da Batalha do Passo do Rosário. 
Republicano convicto ingressou na Revolução Farroupilha. Combateu em Rio Pardo em 1838, e logo após participou da expedição à Laguna em 1839 que formou a República Juliana. Foi ali que conheceu o revolucionário italiano Giuseppe Garibaldi. 
Liderou o célebre 1º Corpo de Lanceiros Negros, constituído de escravos recrutados das charqueadas oriundos dos municípios atuais de Arroio Grande, Canguçu, Piratini, Pinheiro Machado, Herval, Bagé, Camaquã, São Lourenço do Sul, Pelotas, Pedro Osório, Caçapava e Encruzilhada do Sul. 
Em companhia de Garibaldi, Luigi Rossetti e Anita Garibaldi ao retornar da expedição à Laguna, derrotou em Bom Jesus a Divisão Paulista ou da Serra ao comando do brigadeiro Francisco Xavier da Cunha, enviada de São Paulo para lutar contra os farroupilhas. Tomou parte do indeciso combate de Taquari, onde comandou uma brigada ligeira de cavalaria. Sob o comando de Bento Gonçalves participou do ataque a São José do Norte. 
Era considerando o maior lanceiro de sua época. Na Revolução Farroupilha foi um dos mais constantes, intrépidos e denodados líderes de combate. Destacou-se em diversas ações, ao ponto de ser classificado por Assis Brasil como o “maior herói da Revolução Farroupilha" e pelo General Tasso Fragoso como "a maior lança farrapa". Era também reconhecido como líder abolicionista e defensor dos direitos dos negros.
A importância de Teixeira Nunes na Revolução Farroupilha pode ser medida pela lembrança de Garibaldi, já herói da unificação da Itália, nestas palavras relatadas em carta a Domingos José de Almeida.
"Eu vi batalhas mais disputadas, mas nunca vi, em nenhuma parte, homens mais valentes, nem lanceiros mais brilhantes que os da Cavalaria Rio-Grandense... Onde estão estes belicosos filhos do Continente, tão majestosamente intrépidos nos combates? Onde Bento Gonçalves, Netto, Canabarro, Teixeira Nunes e tantos outros."

Massacre de Porongos

A Batalha de Porongos foi o confronto mais polêmico da Revolução Farroupilha. Ocorreu na madrugada de 14 de novembro de 1844, quando as tropas imperiais comandadas por Chico Pedro – o Moringue, atacaram o acampamento farroupilha que se encontrava numa curva do Arroio de Porongos, entre Piratini e Bagé, exterminando o batalhão de Lanceiros Negros comando por Teixeira Nunes. Alguns soldados farrapos também morreram, mas o que causou estranheza e polêmica foi o fato de que os cerca de 100 negros lanceiros tinham sido desarmados por David Canabarro. Persistem suspeitas que o ataque, teria sido previamente combinado com David Canabarro, que na época estava negociando a paz farroupilha com o Barão de Caxias. O receio do Império era que os lanceiros negros, formassem bandos contra a escravidão, após o término da guerra. Não há um consenso histórico sobre a traição de Canabarro no Combate ou Massacre de Porongos.
Teixeira Nunes, principal líder dos lanceiros negros, também foi surpreendido com o ataque sendo ferido durante o confronto, conseguiu fugir mas ficou debilitado. Mesmo assim coube a Teixeira Nunes em 28 de novembro de 1844, a última reação armada da República Rio - Grandense, onde foi derrotado e ferido no Arroio Chasqueiro, na Batalha de Arroio Grande. Nesse último combate farroupilha impossibilitado de defender-se após seu cavalo ser derrubado com boleadeiras, Teixeira Nunes foi lancetado pelo alferes Manduca Rodrigues que lutava pelos imperiais comandados por Moringue. Ao fim foi degolado por Eliseu de Freitas. Seu cavalo encilhado foi vendido ao cabo Mariano e o relógio, com uma grossa corrente de ouro, ao Capitão Carneiro.
Morria Teixeira Nunes, mas sua memória é preservada ao lado dos Lanceiros Negros Farroupilhas, que buscavam apenas a verdadeira liberdade, igualdade e humanidade.
No ano seguinte, em 1º de março de 1845 é assinado o Tratado de Ponche Verde e assim chegava ao fim a Revolução Farroupilha.
Teixeira Nunes foi sepultado em frente à capela de Nossa Senhora da Graça do Arroio Grande, atual Igreja Matriz de Nossa Senhora da Graça do Arroio Grande.

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Diones Franchi - Jornalista e Especialista em história do Rio Grande do Sul.


Teixeira Nunes - O Gavião e seu lanceiros negros - História do Exército

A Batalha de Porongos (1844) - Considerado por alguns como a "Traição de Porongos".

Lanceiro Negro - Quadro de Juan Manuel Blanes

Local da morte de Teixeira Nunes, no Chasqueiro, em Arroio Grande-RS

Pinheiro Machado: O senador e o município

José Gomes Pinheiro Machado foi um importante político brasileiro, conhecido como “o condestável da república”. Nasceu em Cruz Alta em 8 de maio de 1851, sendo considerado um dos mais influentes políticos da República Velha (1889-1930). Era filho de Antônio Gomes Pinheiro Machado e Maria Manoela de Oliveira Ayres. Pinheiro Machado estudou na Escola Militar e aos quinze anos abandonou o curso para lutar, como voluntário e contra a vontade dos pais, na Guerra do Paraguai. Deixou o exército em 1868 e permaneceu durante algum tempo na fazenda de seu pai, no Rio Grande do Sul para se recuperar do desgaste físico sofrido em batalha.
Fundou junto com amigos o jornal A República. Após a sua formatura, casou-se, ainda em São Paulo, com Benedita Brazilina da Silva Moniz, e voltou para o Rio Grande do Sul, onde exerceu advocacia na cidade de São Luís das Missões, atual São Luiz Gonzaga. Foi Pinheiro Machado que fundou o primeiro partido republicano do Rio Grande do Sul.
Ardoroso defensor da República no Brasil lançou-se à propaganda com republicanos como Venâncio Aires, Demétrio Ribeiro, Apolinário Porto Alegre, Ramiro Barcelos, Joaquim Francisco de Assis Brasil e Júlio Prates de Castilhos, de quem se tornou amigo. Após a Proclamação da República em 1889, foi eleito senador participando da Constituinte de (1890/1891), na cidade do Rio de Janeiro.
Na Revolução Federalista (1893-1895) deixou a sua cadeira no Senado para combater o movimento armado no comando da Divisão Norte, por ele organizada.
Derrotou os revolucionários comandados por Gumercindo Saraiva na Batalha de Passo Fundo (1894), fato esse que lhe valeu a patente de general de brigada honorário. Retornou ao senado, onde permaneceu até a sua morte.
Pinheiro Machado atingiu a sua máxima influência quando Nilo Peçanha assumiu a presidência, após a morte de Afonso Pena em 1909. Apoiou a candidatura do marechal Hermes da Fonseca para presidente da República em oposição a Rui Barbosa apoiado pelos estados de São Paulo e Bahia. O resultado das eleições foi de 403.800 votos para Hermes da Fonseca contra 222.800 para Rui Barbosa.
No mandato de Hermes da Fonseca, o poder de Pinheiro Machado atingiu o seu ápice, onde teve papel predominante na política de salvação, movimento que visava apaziguar as disputas entre as oligarquias regionais.
Pretendia se candidatar à sucessão presidencial em 1914, mas articulações de seus oponentes impediram seu intento.Voltou então aos bastidores, de onde pretendia continuar manipulando à distância os jogos parlamentares e a política dos estados. Tinha imenso prestígio no Rio Grande do Sul e na região Nordeste, mas já colecionava um imenso número de desafetos noutras regiões. Em 1915 ao impor o nome de Hermes da Fonseca como Senador pelo Rio Grande do Sul, quase foi linchado por uma multidão feroz que o aguardava na porta do Senado. Foi nesta ocasião que Pinheiro Machado disse uma de suas mais célebres frases, ao ordenar ao cocheiro que o apanhara na porta do Palácio do Conde dos Arcos e que lhe perguntara como deveriam sair dali: “Nem tão devagar que pareça afronta, nem tão depressa que pareça medo”.

O fim de Pinheiro Machado e o inicio de um município

Pinheiro Machado foi assassinado com uma punhalada pelas costas por Manso de Paiva às 16h30 de 8 de setembro de 1915. O senador foi atacado no saguão do Hotel dos Estrangeiros, no Flamengo onde visitaria Rubião Júnior, político do Partido Republicano Paulista. Vinha do Senado e estava em companhia dos deputados federais paulistas Cardoso de Almeida e Bueno de Andrade. Suas últimas palavras teriam sido: "Ah, Canalha! Apunhalaram-me!". Manso de Paiva entregou o punhal sujo de sangue a Cardoso de Almeida e calmamente esperou que a polícia chegasse ao hotel para prendê-lo. Pelo resto de sua vida, Manso de Paiva insistiria que agiu por conta própria.
Meses antes, Pinheiro Machado previra sua própria morte em entrevista ao jornalista João do Rio: "Morro na luta. Matam-me pelas costas, são uns 'pernas finas'. Pena que não seja no Senado, como César”.

De Cacimbinhas a Pinheiro Machado

Por ironia do destino o local onde nascerá seu algoz Manso de Paiva, Cacimbinhas é homenageado com o nome de Pinheiro Machado, hoje um dos municípios mais antigos do Rio Grande do Sul. Até 1830, a área do município pertencia ao município de Rio Grande depois passou a integrar o município de Piratini desmembrando-se em 24 de fevereiro de 1879 sob a denominação de Nossa Senhora da Luz das Cacimbinhas. Em 1857 foi elevado a freguesia e, em 1878, ocorreu a emancipação. 
O município de Cacimbinhas teve seu nome mudado para Pinheiro Machado no governo do intendente provisório Dr. Ney Lima Costa, quando o senador José Gomes Pinheiro Machado foi assassinado no Rio de Janeiro por Manso de Paiva, que era um morador da região de Cacimbinhas.
Existe uma capela a beira da estrada do município, onde a água verte diariamente. Segundo a lenda havia um morador chamado Dutra de Andrade que teria perdido a visão e feito uma promessa de que se recuperasse a mesma ao lavar os olhos nas águas das cacimbinhas, mandaria construir uma capela em honra de Nossa Senhora da Luz das Cacimbinhas, o milagre aconteceu e a capela foi construída.
O punhal usado no assassinato de Pinheiro Machado pertence ao acervo do Museu da República (Palácio do Catete) no Rio de Janeiro, onde pode ser visto. O senador Pinheiro Machado se encontra sepultado em Porto Alegre.

O Senador Pinheiro Machado

Notável político da República Velha

O município de Pinheiro Machado com cerca de 12000 habitantes.

Túmulo de José Gomes Pinheiro Machado em Porto Alegre - RS


segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

Castelo de Pedras Altas - O recanto de Assis Brasil

O castelo de Pedras Altas está localizado no município de Pedras Altas, sendo umas das principais obras arquitetônicas da história do estado do Rio Grande do Sul.
O castelo de Pedras Altas se localiza na região do pampa no sul do estado do Rio Grande do Sul fazendo parte da história e patrimônio dos gaúchos. Nascido em São Gabriel, Joaquim Francisco de Assis Brasil foi um diplomata, político, revolucionário, agropecuarista e escritor. 
Depois de ter atuado nas embaixadas de Washington e Portugal e discursado em parlamentos, Assis Brasil queria morar no campo. Também desejava oferecer conforto à segunda mulher, Lídia Pereira Felício de São Mamede, filha de José Pereira Felício, o segundo conde de São Mamede. Os dois se casaram em Lisboa, em 1898. 
A escolha da sede do castelo aconteceu em 1904. Situada a 30 quilômetros de Pinheiro Machado, Pedras Altas tem pastagens abundantes e fontes de água. A pedra angular da fortaleza, de 44 cômodos, foi lançada em maio de 1909.
Pedras Altas impulsionou a atrasada pecuária gaúcha. Assis Brasil importou vacas Jersey da Inglaterra, robustos touros Devon, cavalos árabes e ovelhas Karakul e Ideal. Só criava animais de raça, como galinhas white wyandotte trazidas dos Estados Unidos. Ele também introduziu novas espécies de árvores, como o eucalipto, construiu estrebarias, galpões e porteiras que ainda funcionam. Ainda inventou utensílios, como a bomba de chimarrão de mil furos que jamais entope e leva o seu nome.
Assis Brasil ergueu a fortaleza com traços medievais numa das paisagens mais isoladas do Rio Grande do Sul para mostrar que era possível desfrutar a natureza sem ficar embrutecido. A idéia não era ostentar, mas enobrecer e valorizar o campo. 
O castelo foi inspirado no antigo lar de sua esposa, para fazê-la sentir-se em casa. Usou granito rosa e trouxe três espanhóis para trabalhar as pedras e encaixá-las sem uso de argamassa.
Ergueu um império onde dez crianças e seis empregados viviam baseados na concepção de mundo que tinha: o campo aliado à intelectualidade. Depois de mexer com a terra, faziam saraus, atividades culturais e se debruçavam em literatura em inglês, francês, latim e português em uma biblioteca com 9 mil exemplares, projetada de maneira que o sol entrasse e as obras não mofassem.
Foi no Castelo de Pedras Altas que aconteceu o Pacto de Pedras Altas, tratado de paz que acabava com a Revolução de 1923, luta ocorrida no Rio Grande do Sul e que teve a duração de onze meses e foi o último conflito armado entre elites estaduais. Opuseram-se novamente maragatos e chimangos, alcunha pejorativa em alusão à ave de rapina, e que, outrora denominados pica-paus. O pacto de Pedras Altas foi assinado em 14 de dezembro de 1923 e o castelo de Assis Brasil entrava para a história do Rio Grande do Sul e do Brasil.

Diones Franchi - Jornalista

O Castelo de Pedras Altas

Biblioteca de Assis Brasil no Castelo de Pedras Altas

Foto do Castelo - Acervo de Assis Brasil

Pacto de Pedras Altas assinado no Castelo durante Revolução de 1923 no Rio Grande do Sul.

Município de Assis Brasil - AC. O pequeno município de pouco mais de 6000 habitantes, localizado no Acre recebeu o nome de Assis Brasil em sua homenagem por ser o embaixador que teve papel de destaque, junto com o Barão do Rio Branco e Plácido de Castro, na Questão do Acre, que culminou com a assinatura do Tratado de Petrópolis, entre Brasil e Bolívia. Esse tratado garantiu a posse das terras do território do Acre ao Brasil e o direito da exploração da borracha nesta região.

 Assis Brasil

sábado, 12 de dezembro de 2015

Os farroupilhas na tomada de Porto Alegre

Na madrugada de 20 de setembro de 1835 as tropas farroupilhas invadiram Porto Alegre, tomando o poder da cidade. Mas precisamente o primeiro combate ocorreu na Ponte da Azenha. No dia seguinte Bento Gonçalves, líder do levante, entrou triunfante na capital. Bento deu posse ao vice-presidente da província, Marciano Ribeiro, e acalmou a população declarando: "Em nossas mãos, a oliveira substitui a espada".
Alguns dias depois praticamente todo o estado estava em mãos farroupilhas. Somente as cidades de Rio Pardo, São Gabriel e Rio Grande ficaram em poder do Império.
Era o inicio da maior guerra civil da História do Brasil, surgia a Revolução Farroupilha. 
Para comemorar esta data, desta vez não vou me reportar a história em si, já que muito publiquei neste espaço sobre as causas do movimento. Exibirei algumas imagens em forma de quadrinhos e charges de artistas gaúchos que retrataram sua visão critica sobre a história farroupilha.

Diones Franchi - Jornalista

Bento Gonçalves em quadrinhos!

História em quadrinhos A Tomada de Porto Alegre. Gilmar Fraga

História em quadrinhos que conta de forma didática a Guerra dos Farrapos, no Rio Grande do Sul.

Charge que retrata o desejo do Rio Grande do Sul de se separar do Brasil. Na verdade sabemos que isso não estava nos planos de Bento Gonçalves.

Charge do Radicci criticando os reais motivos da Revolução Farroupilha. Iotti

Charge que mostra a provável visão dos outros estados a respeito da Revolução Farroupilha e o bairrismo do gaúcho. Mais uma critica de Iotti. A verdade que muitos não querem saber.

Charge que retrata de forma humorística a deixa sobre os farrapos em relação a briga do gaúcho com sua mulher. Como tudo a um certo exagero na questão do vestuário dos farrapos!

Charge que retrata um dos motivos para o inicio da guerra de maneira critica e humorada!

A Lenda da Lagoa da Música

Em Bagé, na atual e desmembrada Hulha Negra, perto do Rio Negro, existe uma lagoa mal-assombrada. Altas horas da noite, muito campeiro, ouviu notas de música brotando de suas águas calmas.
É que na sangrenta Revolução Federalista de 1893 uns trezentos republicanos pica-paus foram degolados em suas margens e os maragatos, vencedores, atiraram muitos mortos na lagoa. O coronel Negro Adão, de poncho largo atirado por cima dos ombros para as costas, firmava a ponta da faca bem chairada embaixo do nariz da vítima e quando esta instintivamente levava a cabeça para trás com perícia de bom conhecedor do ofício lhe era desfechado o rápido e profundo talho no pescoço. Esguichando sangue, o ferido irremediável, ainda caminhava alguns passos antes de cair. Mas não só os castelhanos foram imolados. Muitos brasileiros estavam na lista das vinganças e passaram a fazer parte dos trezentos e muitos daquela tarde suja de sangue e noite de lodo vermelho sobre a relva.
Diz a lenda que o último degolado era um rapaz muito novo, valente com armas e clarim da força derrotada. Ao ser degolado, ainda correu para a lagoa, levando o seu clarim - clarim que ele gosta de tocar até hoje, nas noites de lua cheia.

Lagoa da música - Hulha Negra - RS. 
Foto: Núcleo de Pesquisas Históricas de Candiota
Degolados da Lagoa da Música!!

Lagoa da Música atual

A lenda da panelinha

Na bela cidade de Cruz Alta, nos começos deste século, havia uma grande fonte em forma de poço, de onde partia uma sanga, hoje tudo urbanizado no cruzamento das ruas Andrade Neves e General Portinho, quase no centro da cidade. Remonta a época em que os primeiros moradores estabeleceram-se em Cruz Alta, lá pelos idos de 1805, formaram um pequeno amontoado de casas onde hoje é a Praça Erico Verissimo. Ali próximo, havia uma mata chamada de Capoeira, onde era extraída a madeira para lenha e para as construções. Na direção oposta, onde hoje forma-se a esquina da João Manoel com a Venâncio Aires havia uma nascente para o abastecimento do vilarejo, chamada de arroio Panelinha. Sua segunda vertente desemboca na esquina da Gal. Portinho com a Andrade Neves. Nesta segunda vertente, a água límpida e abundante jorrava como uma cachoeira. Era onde as lavadeiras batiam a roupa. Essa fonte, pela sua forma de poço, recebeu o nome de Fonte da Panelinha e ali muita gente boa, praticamente toda a zona nobre da cidade, abastecia-se de água. Seguidamente, apareciam tropeiros, que paravam por ali para saciar a sede. Eventualmente, muitos desses viajantes engraçavam-se com as mulheres locais ou índias enamoradas, que na maioria dos casos, acabavam retornando, geralmente para casar-se com a moça e fixar residência na localidade. E nessas idas e vindas, o imaginário popular acabou por enraizar o entendimento de que, todo aquele que bebia a água da Panelinha, acabava, inevitavelmente, voltando para Cruz Alta.
E existia a crença geral de que beber água da Panelinha era amarrar-se definitivamente a Cruz Alta. Muitas moças cruzaltenses, namoradas de oficiais do Exército de outras plagas ou de viajantes que eventualmente passavam por Cruz Alta, sempre davam um jeito de lhes servir um copo d´água da Fonte da Panelinha.
Monumento a Lenda da Panelinha, localizada de fronte a uma das vertentes do arroio em Cruz Alta - RS

As índias enamoradas ofereciam água aos tropeiros, para que eles sempre voltassem.

Monumento simboliza mulher oferecendo a água cristalina ao seu amado.

A lenda do João de Barro

Contam os índios que foi assim que nasceu o pássaro joão-de-barro.
Segundo a lenda, há muito tempo, numa tribo do sul do Brasil, um jovem se apaixonou por uma moça de grande beleza.  Jaebé, o moço, foi pedi-la em casamento.
O pai dela então perguntou: 
- Que provas podes dar de sua força para pretender a mão da moça mais formosa da tribo? 
- As provas do meu amor! - respondeu o jovem Jaebé. 
O velho gostou da resposta, mas achou o jovem atrevido, então disse: 
- O último pretendente de minha filha falou que ficaria cinco dias em jejum e morreu no quarto dia. 
- Pois eu digo que ficarei nove dias em jejum e não morrerei.
Toda a tribo se admirou com a coragem do jovem apaixonado. O velho ordenou que se desse início à prova. Então, enrolaram o rapaz num pesado couro de anta e ficaram dia e noite vigiando para que ele não saísse nem fosse alimentado. A jovem apaixonada chorava e implorava à deusa Lua que o mantivesse vivo. O tempo foi passando e certa manhã, a filha pediu ao pai: 
- Já se passaram cinco dias. Não o deixe morrer.
E o velho respondeu: 
- Ele é arrogante, falou nas forças do amor. Vamos ver o que acontece.
Esperou então até a última hora do novo dia, então ordenou: 
- Vamos ver o que resta do arrogante Jaebé.
Quando abriram o couro da anta, Jaebé saltou ligeiro. Seus olhos brilharam, seu sorriso tinha uma luz mágica. Sua pele estava limpa e tinha cheiro de perfume de amêndoas. Todos se admiraram e ficaram mais admirados ainda quando o jovem, ao ver sua amada, se pôs a cantar como um pássaro enquanto seu corpo, aos poucos, se transformava num corpo de pássaro!
E foi naquele exato momento que os raios do luar tocaram a jovem apaixonada, que também se viu transformada em um pássaro. E, então, ela saiu voando atrás de Jaebé, que a chamava para a floresta onde desapareceram para sempre.
E foi assim que nascia o joão de barro.
Podemos constatar a prova do grande amor que uniu esses dois jovens no cuidado com que o joão-de-barro constrói sua casa e protege os filhotes. Os homens admiram o pássaro joão-de-barro porque se lembram da força de Jaebé, uma força que nasceu do amor e foi maior que a morte.


O João de barro é uma espécie de pássaro nativa da Argentina, Bolívia, Brasil, Paraguai e Uruguai, ocupando uma vasta região, que vai do sul dos estados brasileiros de Pernambuco, Goiás e Mato Grosso e todo o Rio Grande do Sul. Também cobre toda a parte leste da Bolívia, seguindo para o sul pelas encostas da Cordilheira dos Andes até a altura da Pensínsula Valdez, na Argentina, espalhando-se destes limites até o litoral atlântico.É a ave nacional da Argentina e uma das mais populares da região do pampa.

O casal de João de barro

 João de Barro dos pampas

João de barro em sua casa.

terça-feira, 8 de dezembro de 2015

A mulher gaúcha e farroupilha

A mulher teve papel importante na história do Rio Grande do Sul como fator decisivo para a sociedade rio-grandense. A tradição machista, é originária de uma oligarquia militarizada, que demarcou fronteiras, através de lutas e de guerras.
A formação da mulher, desde a mais tenra idade, é direcionada para cuidar dos afazeres domésticos, rezar, enquanto aguarda o casamento com o noivo, que era escolhido pelo pai.
A liderança singular da mulher, como mola-mestra do lar, não pode ser anulada e tão pouco esquecida pela sociedade gaúcha, pois sua participação ativa sempre deteve a estrutura da família e da sociedade.
Não podemos esquecer, que a mulher sempre trabalhou nas estâncias, assegurando a economia do Rio Grande do Sul, enquanto seu pai, esposo e filho saiu para defender as fronteiras e os ideais rio-grandenses.
Dentre tantas grandes mulheres, que se destacaram no cenário Rio-grandense, em defesa das nossas fronteiras, destacamos a Marquesa de Alegrete: heroína anônima, nobre pampeana, que em 14 de janeiro de 1717, na Batalha de Catalan, ao lado do esposo Marques de Alegrete – Luiz Telles de Caminha e Menezes e do filho, ajudou a escrever, com sangue suor e lágrimas, a história das batalhas entre Portugal e Espanha, servindo como enfermeira, mãe e até soldado, na demarcação de fronteiras do nosso pago gaúcho.
A participação da mulher foi de fundamental importância no contexto da formação histórica, social e cultural do Rio Grande do Sul.
A Revolução Farroupilha colocou a mulher num encontro ingrato e arriscado com a vida, porém, por mais ameaçadoras, que se tenham apresentadas as circunstâncias, ela sempre soube manter-se firme: quanto mais a situação era adversa, mais a mulher soube se transformar na forja sagrada das convicções do herói farroupilha.
A mulher guerreira ficou conhecida por "vivandeira", a "china de soldado", foi a mulher, que acompanhou as tropas em seus deslocamentos e permaneceu nos campos de combate cuidando do soldado.
A mulher estancieira foi a mulher, que permaneceu na estância, administrando as lides campeiras e domésticas, tomando conta do lar, dos filhos, da estância e cuidando dos negócios do homem ausente, que rezava pelos vivos e chorava os mortos. Era, aos olhos de Deus e da sociedade patriarcal – a mãe, a esposa, a filha – permanecendo em casa, aguardando ansiosa o desfecho da guerra e o retorno do guerreiro.
A história também registra a mulher farroupilha do decênio heróico, que foi a mulher que, de uma forma ou de outra, figurou na história oficial do decênio heróico. Dentre elas, citamos Anita Garibaldi (Ana Maria de Jesus). Mulher intensamente feminina, ativa, forte de ânimo, de decisões rápidas, uma exímia cavaleira, que despertou em Giuseppe Garibaldi um fortíssimo sentimento, mesmo nos poucos contatos, que tiveram em Santa Catarina, quando da invasão de Laguna pelas tropas farroupilhas, além de Maria Josefa da Fontoura Palmiro, que promovia reuniões políticas em sua casa, em Porto Alegre, em apoio a Bento Gonçalves e aos Farrapos, também defendia a libertação dos escravos e tantas outras.
Muitas foram as heroínas desconhecidas, que lograram entrar na história, mas nem sequer seu nome é conhecido, como Caetana, esposa de Bento Gonçalves da Silva e Elautéria, mulher de Manuel Antunes da Porciúncula.
Foi neste dificílimo momento, que o valor da mulher farroupilha foi testado, fazendo com que seu coração vivenciasse as inúmeras novas circunstâncias, levando a sujeitar-se às necessidades, aos infortúnios, mas ela foi competente em sua função, incansável no desempenho do seu papel. Encantadora e generosa, companheira, não se deixou arrastar por convicções derrotistas, deixando na história um admirável perfil, abrindo perspectivas esplêndidas de esperança para seu companheiro, com admiráveis e imprescindíveis fatores decisivos e determinantes da inacreditável persistência dos farrapos.
A mulher farroupilha, com seu sentimento de compreensão e solidariedade, muito auxiliou o desenvolvimento da semente da República Rio-grandense, fazendo frutificar, em heroísmo, a alma da gente farroupilha. Ela soube avaliar e enfrentar o perigo, não para receá-lo e sim para combate-lo. Esta foi a mais sublime e valorosa lição feminina, raramente descrita com a merecida justiça e homenagem dos pósteros.
Essas mulheres representam a fibra guerreira das mães gaúchas, que fazem desta terra.

Mulheres na Revolução Federalista

Anita Garibaldi
A prenda

Lenda do Caverá

O Caverá é uma região na fronteira-oeste do Rio Grande do Sul, ouriçada de cerros, que se estende entre Rosário do Sul e Alegrete. Na Revolução de 1923, entre os maragatos (os revolucionários) e os chimangos (os legalistas) o Caverá foi o santuário do caudilho maragato Honório Lemes, justamente apelidado "O Leão do Caverá".
Diz a lenda que a região, no passado, era território de uma tribo dos Minuanos, índios bravos dos campos, ao contrário dos Tapes e Guaranis gente mais do mato. Entre esses Minuanos, destacava-se a figura de Camaco, guerreiro forte e altivo,que vivia uma paixão não correspondida por Ponaim, a princesa da tribo, que só amava a própria beleza.
Camaco vinha depositar aos pés de Ponaim, os melhores frutos de suas caçadas, os mais valiosos troféus de seus combates sem conseguir dela qualquer demonstração de amor.
Um dia, achando que lhe dava uma tarefa impossível, Ponaim disse que só se casaria com Camaco se ele trouxesse a pele do Cervo Berá para forrar o leito do casamento. O Cervo Berá era um bicho encantado, com o pelo brilhante - daí surgiu seu nome. O mato era dele: Caa-Berá, Caaverá, Caverá, finalmente.
Então Camaco resolveu caçar o cervo encantado. Ele foi montando o seu melhor cavalo, armado com vários pares de boleadeiras, saiu a rastrear, dizendo que só voltaria depois de caçar e courear o Cervo Berá.
Depois de muitas luas, num fim de tarde ele avistou a caça tão procurada na aba do cerro. O cervo estava parado, cabeça erguida, desafiador, brilhando contra a luz do sol no morro. Sem medo, Camaco taloneou o cavalo, desprendeu da cintura um par de boleadeiras e fez as pedras zunirem, arrodeando por cima da cabeça. Então, no justo momento em que o Cervo Berá deu um salto para a frente quando o guerreiro atirou as Três Marias, houve um grande estouro no cerro e uma cerração muito forte tapou tudo. Durante três dias e três noites os outros índios campearam a procura de Camaco e seu cavalo, mas só acharam uma grande caverna que tinha se rasgado na pedra dura do cerro e por onde, quem sabe, Camaco e seu cavalo tinham entrado a galope atrás do Cervo Berá para nunca mais voltar.

Serra do Caverá - Rosário do Sul - RS

 Caverá - RS

Morro - RS

A lenda do Boitatá

Em tempos mui antigos, que "as gentes" mal se lembram, houve um grande dilúvio, que afogou até os cerros mais altos. Pouca gente e poucos bichos escaparam e quase tudo morreu. Mas a cobra-grande, chamada pelos índios de Guaçu-boi, escapou. Tinha se enroscado no galho mais alto da mais alta árvore e lá ficou até que a enchente deu de si, as águas empeçaram a baixar e tudo foi serenando, serenando... Vendo aquele mundaréu de gente e de bichos mortos, a Guaçu-boi, louca de fome, achou o que comer. Mas - coisa estranha! - só comia os olhos dos mortos. Diz-que os viventes, gente ou bicho, quando morrem guardam os olhos a última luz que viram. E foi essa luz que a Guaçu-boi foi comendo, foi comendo... E aí, com tanta luz dentro, ela foi ficando brilhosa, mas não de um fogo bom, quente e sim de uma luz fria, meio azulada. E tantos olhos comeu e tanta luz guardou, que um dia a Guaçu-boi arrebentou e morreu, espalhando esse clarão gelado por todos os rincões. Os índios, quando viam aquilo, assustavam-se, não mais reconhecendo a Guaçu-boi. Diziam, cheios de medo: "Mboi-tatá! Mboi-tatá!", que lá na língua deles quer dizer: Cobra de fogo! Cobra de fogo! E até hoje o Boitatá anda errante pelas noites do Rio Grande do Sul. Ronda os cemitérios e os banhados, e de onde sai para perseguir os campeiros. Os mais medrosos disparam, mas para os valentes é fácil: basta desenrolar o laço e atirar a armada em cima do Boitatá. Atraído pela argola do laço, ele se enrosca todo, se quebra e se some.

Nota: A lenda do boitatá foi criada pelo padre José de Anchieta, na qual descreveu o boitatá como uma gigantesca cobra de fogo ondulada, com olhos que parecem dois faróis, couro transparente, que cintila nas noites em que aparece deslizando nas campinas e na beira dos rios. Diz a lenda também que o boitatá pode se transformar em uma tora em brasa, para assim queimar e punir quem coloca fogo nas matas.
No Rio Grande do Sul ela criou a sua história adaptada e é uma das mais famosas lendas brasileiras.

O índio e o Boitatá

A cobra de fogo que anda pelas noites frias do Rio Grande do Sul.

Lenda de Sepé Tiaraju (São Sepé)

Sepé era um índio valente e bom, que lutou contra os estrangeiros para defender a terra das missões. Ele era predestinado por Deus e São Miguel: tinha nascido com um lunar na testa. Nas noites escuras ou em pleno combate, o lunar de Sepé brilhava, guiando seus soldados missioneiros. 
Em 1750, Portugal e Espanha haviam assinado o Tratado de Madri, implicando na troca entre si das Missões pela Colônia de Sacramento. Com isso, cerca de 50 mil índios deveriam deixar as terras de seus ancestrais, onde, em meio a igrejas e fazendas exerciam a pecuária e a agricultura. Ao passo que os jesuítas buscavam revogar o Tratado, os enviados dos reis começaram o trabalho de demarcação. 
Em um cenário rio-grandense de lutas e conquistas, surgia Sepé. Junto dos guaranis, ele impedia a entrada da comitiva em suas terras - daí sua declaração famosa: - Esta terra tem dono! Quando a guerra chegou, por ordem dos Reis. O lunar do moço índio brilhou de dia também. Diante de armas luso-brasileiras e espanholas, apesar de toda a luta, Sepé pereceu junto de 1500 guaranis na batalha do Caiboaté.
Quando ele morreu, vencido pelas armas e o número de portugueses e espanhóis, Deus Nosso Senhor retirou de sua testa o lunar, e colocou no céu do pampa para ser o guia de todos os gaúchos. Este guia é o Cruzeiro do Sul.
Sepé é considerado um santo popular brasileiro e declarado "herói guarani missioneiro rio-grandense" pela Lei nº 12.366.
Existe um município gaúcho chamado São Sepé em sua homenagem.

Diones Franchi - Jornalista

Sepé Tiaraju guerreiro


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Sepé Tiaraju

Arte em homenagem a Sepé Tiaraju

Estátua de Sepé Tiaraju

Dom Diogo de Souza

Programa Memórias do Pampa, exibido no Canal TV Câmara Bagé - RS.
Veja a história de Dom Diogo de Souza, militar responsável pela fundação de Bagé e outras cidades. No quadro dica de leitura saiba sobre o livro Bagé 1923 - Batalha de Papel na Guerra Civil no RS.

Apresentação e Produção: Diones Franchi
Locução, imagens e edição: Ivan Casartelli


A lenda da Casa de MBororé (Missões)

No tempo dos Sete Povos das Missões, havia um índio velho muito fiel aos padres jesuítas, chamado MBororé. Com a chegada dos invasores portugueses e espanhóis, os padres precisaram fugir levando em carretas, os tesouros e os bens que pudessem carregar. Assim, amontoaram o muito que não podiam levar consigo, entre eles, ouro, prata, alfaias, jóias. Então construíram ao redor uma casa branca, sem porta e sem janela. Para evitar a descoberta da casa pelo inimigo e o conseqüente saqueio, deixaram um velho índio fiel chamado MBororé, cuidando, com ordens severas de só entregar o tesouro quando os jesuítas voltassem às Missões.
Mas os jesuítas nunca mais voltaram. Com o passar dos anos, o velho índio morreu e o tempo foi marcando tudo, deixando as ruínas de pé, como as cicatrizes de um sonho que acabou. Acabou? Não. A Casa de MBororé continua lá, num mato das Missões, imaculadamente branca, cuidada pela alma do índio fiel que ainda espera a volta dos jesuítas.
Às vezes, algum mateiro lenhador ou caçador, dá com ela, de repente, num campestre qualquer. Imediatamente dá-se conta de que é a Casa de MBororé, cheia de tesouros. Resolve então marcar bem o local para voltar com ferramentas e abrir a força a casa que não tem porta nem janela. Guarda bem o lugar na memória pelas árvores tais e tais, pela direção do sol e coisas assim. Sai, volta com ferramentas, só que nunca mais acha de novo a Casa Branca de MBororé, sem porta e sem janela.

MBororé

sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

A Lenda do Negrinho do Pastoreio

O Negrinho do Pastoreio é uma lenda do folclore brasileiro surgida no Rio Grande do Sul. De origem africana, esta lenda surgiu no século XIX, período em que ainda havia escravidão no Brasil. Esta lenda retrata muito bem a violência e injustiça impostas aos escravos. 
De acordo com a lenda, no tempo em que as fazendas e estâncias tinham escravos, que fizeram as taipas de pedra que a gente ainda vê no campo, havia um estancieiro muito, mas muito mau. Ele só dava valor para a sua prataria e para a sua tropilha de cavalos. E tinha um chamego especial por um baio, que era seu animal de confiança para as carreiras. 
Havia um menino negro escravo, de quatorze anos, que possuía a tarefa de cuidar do pasto e dos cavalos do rico estancieiro.O guri era obrigado a fazer todas as vontades do patrão.
Porém, num determinado dia, o menino voltou do trabalho e foi acusado pelo patrão de ter perdido um dos cavalos. O estancieiro mandou açoitar o menino, que teve que voltar ao pasto para recuperar o cavalo. Após horas procurando, não conseguiu encontrar o tal cavalo. Ao retornar á estância foi novamente castigado com chicotadas pelo estancieiro. Desta vez, o patrão, para aumentar o castigo. colocou o menino pelado dentro de um formigueiro. No dia seguinte, o patrão foi ver a situação do menino escravo e ficou surpreso. O garoto estava livre, sem nenhum ferimento e ao lado dele, a Virgem Nossa Senhora, o cavalo baio que havia sumido e mais adiante os outros cavalos. O estancieiro se jogou no chão pedindo perdão, mas o negrinho nada respondeu. Apenas beijou a mão da Santa, montou no baio e partiu conduzindo a tropilha. A partir disso, entre os andarilhos, tropeiros, mascates e carreteiros da região, todos davam a notícia, de ter visto passar, como levada em pastoreio, uma tropilha de tordilhos, tocada por um Negrinho, montado em um cavalo baio. Desde então, quando qualquer cristão perdia uma coisa, fosse qualquer coisa, pela noite o Negrinho procurava e achava, mas só entregava a quem acendesse uma vela, cuja luz ele levava para pagar a do altar de sua madrinha, a Virgem, Nossa Senhora, que o livrou do cativeiro e deu-lhe uma tropilha, que ele conduz e pastoreia, sem ninguém ver.
Conta a lenda que foi um milagre que salvou o menino, que foi transformado num anjo. 
Quem perder coisas no campo, deve acender uma vela junto de algum mourão ou sob os ramos das árvores, para o Negrinho do pastoreio e vá lhe dizendo: "Foi por aí que eu perdi... Foi por aí que eu perdi... Foi por aí que eu perdi...". Se ele não achar, ninguém mais acha.
O Negrinho do Pastoreio é considerado, por aqueles que acreditam na lenda, como o protetor das pessoas que perdem algo. Em retribuição, a pessoa deve acender uma vela ao menino ou comprar uma planta ou flor.

Uma lenda gaúcha retratando a escravidão no Rio Grande do Sul.

Uma lenda gaúcha - O negrinho do Pastoreio

O negrinho do Pastoreio

Cultura dos alemães e italianos no Rio Grande do Sul

A imigração italiana rumo ao Rio Grande do Sul ocorreu devido a grave crise econômica e social que havia sido desencadeada pelo acelerado desenvolvimento industrial e com a intensificação do comércio. Em um país que ainda esperava pela unificação, a imigração seria o próximo passo a ser dado por todos aqueles que ainda buscavam um sentimento de pátria.
Segundo Santos (1994), a imigração italiana e alemã para o Rio Grande do Sul:
“Fez parte de um projeto geopolítico do governo imperial brasileiro, que ocorreu no final do século XIX e o início do século XX e utilizava a imigração para preencher os chamados vazios demográficos do sul do país. No pós independência há uma decisão de concentrar a colonização na região sul como uma decisão geopolítica de consolidação de fronteiras” (p.24). 
Traço marcante tanto da cultura alemã quanto da cultura italiana foi a religiosidade que fez estas etnias construírem em suas colônias centros religiosos que eram além de transmissores da fé, serviam de centros agregadores e mantenedores da cultura desses povos, uma vez que eram nestes locais que se desenvolviam as reuniões para decidirem as suas plantações, colheitas e os rumos que as colônias tomariam. Junto com a dança, a gastronomia e o artesanato, aos poucos, o interior do Rio Grande do Sul foi criando uma característica própria. 
Tanto a cultura Italiana quanto a alemã repassam como herança cultural a sua culinária. Ambas com seus pratos típicos e suas iguarias movimentam a economia gaúcha através do turismo. 

Referências:
LUCHESE, Terciane Angela. O processo escolar entre imigrantes italianos no Rio Grande do Sul.
NETO, Helena Brum. Regiões Culturais: A construção de identidades culturais no Rio Grande do Sul e suas manifestações na paisagem gaúcha. 
SANTOS,Mirian Oliveira. A imigração italiana para o Rio Grande do Sul no final do século XX.

 Alemães indo a missa!

 Estudantes alemães!!

Família Italiana!