sexta-feira, 4 de agosto de 2023

Sete Povos das Missões

Os Sete Povos das Missões foi o nome dado aos sete aldeamentos indígenas fundado pelos Jesuítas espanhóis na Região do "Rio Grande de São Pedro", (Rio Grande do Sul). Era composto pelas reduções de São Francisco de Borja, São Nicolau, São Miguel Arcanjo, São Lourenço Mártir, São João Batista, São Luiz Gonzaga e Santo Ângelo Custódio. Os Sete Povos também eram conhecidos como Missões Orientais, por estarem localizados a leste do Rio Uruguai. As missões, também chamadas de reduções, foram fundadas e organizadas por padres da Companhia de Jesus. Os jesuítas chegaram à região com o objetivo de catequizar e "civilizar" sob a autoridade espanhola. Os conflitos eram marcados pela destruição das missões e pelos primeiros êxodos dos guarani. Nos períodos de paz, os indígenas retornavam ao local de origem com o apoio dos jesuítas

 A origem

 A fundação da Colônia do Sacramento no Rio da Prata provocou a reação do governo espanhol. Para evitar o avanço dos portugueses pelo litoral sul, a colonização espanhola foi realizada por povoados. Por falta de homens brancos, o governo espanhol recrutou índios cristãos, se tornando súditos do rei. Assim em 1682, se criou a primeira redução de São Francisco de Borja e logo depois as demais, totalizando Sete povoados.

 A organização

Os Sete Povos eram organizados com uma praça central, tendo em sua volta diferentes edificações. A praça era um espaço cívico-religioso com uma cruz latina em cada canto, com um padroeiro do povoado.Em um dos lados da praça eram construídos a igreja, residência dos padres, colégio, oficina, cemitério, cotiguaçu (casa grande com vários aposentos) e horta. Na igreja não existiam bancos e os homens ficavam de um lado e as mulheres de um outro. No cemitério havia uma pequena capela e túmulos onde os índios eram enterrados de forma cristã. As habitações abrigavam índios do mesmo clã, onde cada bloco era dividido em vários cômodos, sob responsabilidade de um cacique. A gestão governamental das missões obedecia à organização das cidades espanholas. Cada uma possuía um chefe superior e havia prefeitos e vereadores. Ambos formavam um conselho. Todos os cargos eram exercidos por indígenas. O objetivo dos padres jesuítas era reunir os indígenas e educá-los de acordo com os princípios da cultura cristã ocidental. Foi também criada oficinas de artesãos, carpinteiros, escultores e fabricantes de instrumentos musicais. Na maioria das Missões surgia uma organização social, comercial, cultural e mesmo militar que mostrava a plena capacidade de desenvolvimento dos indígenas ‘descobertos’ pelos europeus. Cada povoado possuía a sua plantação de erva mate para a comunidade e também a criação de bovinos. A Coroa portuguesa permitia a escravidão indígena, enquanto o Império espanhol os tornava automaticamente súditos do rei. As missões foram constantemente atacadas por bandeirantes em busca de escravos para as colônias. Os Sete Povos das Missões comportou 30 mil habitantes. Todos eram indígenas, e os padres espanhóis seus principais administradores. O modelo inicial de catequização e de criação das Missões Jesuíticas somente foi encontrar maior sucesso em meados do século XVII, e cresceu bastante a ponto de virar um entrave para a expansão dos colonizadores europeus.

O fim

No século XVIII, a região estava sob disputa entre Espanha e Portugal. O Tratado de Madri de 1750 estabelecia que a região dos Sete Povos das Missões fosse entregue a Portugal, e em troca disso a Espanha ficaria com a Colônia do Sacramento saindo os Jesuítas espanhóis. Mas este Tratado gerou conflitos: pois nem padres nem índios queriam abandonar suas reduções, e nem os portugueses queriam abandonar o Sacramento. Houve uma série de confrontos armados que culminaram na Guerra Guaranítica, que deixou um rastro de destruição e sangue que abalou as estruturas do sistema missioneiro. Acredita-se que 20 mil indígenas morreram. Logo depois veio o fim: com a intensa campanha difamatória que os Jesuítas sofreram a partir de meados do século XVIII, a Companhia de Jesus foi expulsa de terras portuguesas em 1759, e em 1767 a Espanha fez o mesmo. No ano seguinte todas as reduções foram esvaziadas, com a retirada final dos Jesuítas. Então suas terras foram apossadas pelos espanhóis e os índios foram subjugados ou dispersos. Quando em 1801 eclodiu a nova guerra entre Portugal e Espanha, os Sete Povos já estavam em tal estado de desintegração que com apenas 40 homens  Manuel dos Santos Pedroso e José Borges de Canto conseguiram conquistá-los para Portugal, embora pareça ter havido a participação indígena como facilitadora da tomada de posse. Depois disso Portugal anexou o território ao Rio Grande do Sul, instalando um governo militar. Atualmente, dos Sete Povos existem as Ruínas de São Miguel das Missões e de São Nicolau, além das cidades de Santo Ângelo, São Luiz Gonzaga e São Borja que ainda guardam suas particularidades dentro da história e preservam a cultura gaúcha e missioneira.

 

Por: Diones Franchi

Jornalista e mestre em história

 

Referências:  

FLORES, Moacyr. História do Rio Grande do Sul, 1985

GARCIA, Elisa Frühauf. A "conquista" dos Sete Povos das Missões: de "ato heróico" dos luso-brasileiros a campanha negociada com os índios


                                                                   Ruínas de São Miguel


                                                                  Ruínas de São Miguel


Redução Jesuítica