terça-feira, 20 de dezembro de 2016

Corte Real - O bravo farroupilha

Afonso José de Almeida Corte Real foi um militar que se destacou na Guerra dos Farrapos. Nasceu em Rio Pardo em 15 de novembro de 1805. Era filho do Capitão dos Dragões do Rio Pardo Francisco de Borja de Almeida Corte Real. Combateu na Guerra Cisplatina como cadete, participando da Batalha do Passo do Rosario que resultou na independência do Uruguai.
Participou na Revolução Farroupilha, como um dos mais ativos combatentes farrapos, Por ocasião da adesão do coronel Bento Manuel Ribeiro pela primeira vez ao Império, Corte Real, com 27 anos, foi feito coronel da Guarda Nacional. Saiu em campanha com o cunhado major João Manoel de Lima e Silva, ao encalço de Bento Manuel que foi batido em Capané. Deixado no comando de uma tropa para observar Bento Manuel, Corte Real, jovem impetuoso, decidiu atacar o experimentado Bento Manuel sem esperar Bento Gonçalves.
Era excelente soldado portando qualquer arma que fosse, tinha uma fibra notória pelos ideais farroupilhas.
Foi Ministro do Interior da República em Piratini, tendo como escriturário José lgnácio Moreira Filho.
Participou de diversas ações como a Batalha do Seival, sendo preso na Batalha de Fanfa e levado ao Rio de Janeiro como prisioneiro. Recluso no Forte de Santa Cruz fugiu um ano depois em companhia do Coronel Onofre Pires. 
Foi morto aos 34 anos numa emboscada no arroio Velhaco as margens do Guaíba e da Lagoa dos Patos, em 11 de junho de 1840, na casa da fazenda de Marcos Alves Pereira Salgado, por uma força imperial, comandada por João Patrício de Azambuja. 
Segundo uma versão Corte Real teria reagido e sido morto com um tiro na testa, outra versão menciona que confundiu o exército como sendo de Neto e foi morto com um tiro de flanco que lhe atravessou os pulmões e o fez cair morto no corredor da fazenda.
Corte Real está sepultado na catedral da cidade de Viamão e a fazenda onde ele foi morto, hoje chama-se Fazenda Barba Negra.

Fazenda Barba Negra - Barra do Ribeiro - RS
Local onde Corte Real foi morto pelos imperiais

quinta-feira, 10 de novembro de 2016

O Jornal Farroupilha

O Jornal “O Povo” foi, o mais importante jornal dos farroupilhas e o periódico oficial da República Rio-grandense. Se auto intitulava um "jornal político, literário e ministerial da República Rio-grandense".Era editado pelo jornalista Luigi Rossetti e organizado por Domingos José de Almeida. Para iniciar o jornal Domingos comprou as prensas em Montevidéu com o produto da venda de 17 escravos de sua propriedade. A tipografia e a redação foram inicialmente instaladas na mesma casa onde Rossetti morava com Giuseppe Garibaldi, localizada hoje na Avenida Bento Gonçalves nº 182, em Piratini a primeira capital farroupilha. Essa casa foi construída entre 1830 e 1832, e na época era localizada na antiga Rua Clara. Um mês e meio depois de sua fundação os exemplares do jornal foram proibidos de circularem em Porto Alegre que detinha as tropas imperiais.
O Jornal O Povo foi o primeiro periódico publicado depois da proclamação da República Rio-Grandense, tendo sua primeira publicação em 1° de setembro de 1836 até 6 de março de 1839 na cidade de Piratini. Com a mudança da capital da república o jornal transferiu-se para Caçapava do Sul continuando a ser editado até 22 de maio de 1840. Foi brevemente editado por Giovanni Battista Cuneo, após a saída de Rossetti, pouco menos de um mês antes do término do jornal. Logo após a tipografia farroupilha foi atacada por tropas imperiais e destruída. 
O jornal farroupilha era bissemanal, circulando às quartas-feiras e aos sábados, quando não havia interrupção devido a circunstâncias da guerra. 
O Jornal O Povo durou mais tempo e teve mais números de edições publicadas do que o jornal farroupilha anterior, intitulado de O Mensageiro que tivera pouco mais de um ano de atividade, entre 22 de abril de 1835 e 3 de maio de 1836. 
O Jornal O Povo teve 160 números e se notabilizou como o instrumento de voz dos farroupilhas ao povo sul-rio-grandense.

segunda-feira, 7 de novembro de 2016

Lobisomem do Cemitério

Aproximadamente na década de 70, na rua 2 de Novembro, onde até hoje se encontra o Cemitério Católico da cidade de Rio Grande, atuava o famoso “Lobisomem do Cemitério”.
Pessoas que passavam tarde da noite por ali diziam que um estranho bicho aparecia sempre a meia noite. Assim que alguém passava, ele pulava do alto muro do cemitério e assustava as pessoas. Os que eram assustados por ele, revelavam que o bicho era meio homem, meio animal. Foi a partir desse depoimento que as pessoas começaram a acreditar que se tratava de um lobisomem. Notaram também que o bicho uivava quando agia.
Mas o segurança da Viação Férrea (que ficava em frente ao Cemitério) não acreditava no que estava acontecendo. Então ele resolveu vigiar uma noite inteira o cemitério para ver se o que falavam era verídico. Assim que deu meia noite em seu relógio ele ficou mais atento em tudo que estava em sua volta. Foi aí que ele ouviu um uivo muito alto, no instante uma senhora passava pela frente do cemitério (uma mendiga), e o lobisomem saia do muro. O segurança começou a atirar, e o lobisomem saiu em disparada.
Desse dia em diante nunca mais se ouviu falar nele, mas nada dura para sempre, a qualquer momento pode aparecer um para voltar a assustar a cidade.

Nota: O lobisomem é um dos mais populares monstros fictícios do mundo. Suas origens se encontram na mitologia grega, porém sua história se desenvolveu na Europa. A lenda do lobisomem é muito conhecida no folclore brasileiro e principalmente no Rio Grande do Sul, sendo que algumas pessoas, especialmente aquelas mais velhas e que moram nas regiões rurais, de fato creem na existência do monstro.
A figura do lobisomem é de um monstro que mistura formas humanas e de lobo. Segunda a lenda, quando uma mulher tem 7 filhas e, depois, um homem, esse último filho será um Lobisomem.
Quando nasce, a criança é pálida, magra e possui as orelhas um pouco compridas. As formas de lobisomem aparecem a partir dos 13 anos de idade. Na primeira noite de terça ou sexta-feira após seu 13º aniversário, o garoto sai à noite e no silêncio da noite se transforma pela primeira vez em lobisomem e uiva para a Lua, semelhante a um lobo.
O Lobisomem é uma lenda gaúcha que permite outras versões pelas cidades do Rio Grande do Sul. Ela faz parte da cultura gaúcha e das memórias do pampa.


A batalha "mais sangrenta e gentil" da Revolução Farroupilha

A Revolução Farroupilha se comemora no dia 20 de setembro, data em que os farroupilhas tomam e cercam a cidade de Porto Alegre, mas a batalha que deu fama aos farroupilhas por sua hombridade foi sem dúvida a a batalha de São José do Norte.
Bento Gonçalves que estava no cerco à cidade de Porto Alegre, traçou com seus comandantes um ataque surpresa a cidade de São José do Norte, que estava sob o domínio imperial. O objetivo era através de São José do Norte, conseguir invadir a cidade de Rio Grande e tomar seu porto marítimo.
Bento Gonçalves que havia deixado o cerco de Porto Alegre, sob o comando de David Canabarro, assumiu o comando das tropas que rumaram em direção a São José do Norte, com o apoio de seus comandantes, Domingos Crescêncio que comandava a divisão de infantaria, seu primo Onofre Pires no comando da cavalaria e Giuseppe Garibaldi comandando um esquadrão de infantaria, do qual também faziam parte seus marinheiros. No total o numero de soldados farrapos que partiram para esta batalha, chegava em torno de mil homens. Na madrugada de 16 de julho de 1840, desferiram um ataque surpresa as tropas imperiais comandadas pelo coronel Antônio Soares Paiva, sendo que os imperiais foram pegos de surpresa, mas reagiram ferozmente ao ataque. Foram eles favorecidos por uma tempestade que caiu durante a batalha e impediu o avanço dos farrapos. Mesmo assim a batalha durou horas deixando muitas baixas dos dois lados.
A decisão crucial do desfecho desta batalha ficou nas mãos de Bento Gonçalves que teve que tomar uma escolha para sair vitorioso ou recuar e desistir da tomada da cidade. A solução seria atear fogo na cidade obrigando a retirada das tropas imperiais. Essa decisão teria um alto preço, pois acabaria atingindo toda a população que residia na cidade e causaria muitas mortes.
Tudo levava a crer que os farrapos, em maior número venceriam. Bento Gonçalves reuniu os oficiais e perguntou como poderiam tomar definitivamente a vila. A resposta: deveriam incendiar São José. Apavorado com a possibilidade de destruição e de mais mortes, Bento demonstrou grandeza: “Por tal preço não quero a vitória”. E ordenou a retirada do quase vitorioso exército farroupilha. (URBIM. 2008. p. 130).
Seria praticamente a grande tentativa dos farrapos nos campos de batalha e a última chance de tomada do porto de Rio Grande. 
Nos anos seguintes os farrapos começaram a viver momentos difíceis na guerra, por vários motivos como o desgaste de longos anos de guerra, dificuldade de recrutar novos soldados, intrigas que começaram a surgir internamente e uma posição mais dura dos imperiais em relação à revolta que não tinha fim na província.
A tentativa de tomar São José do Norte, para garantir um porto, resultou naquele que foi considerado o combate mais sangrento da guerra. Conta-se que as ruas da vila ficaram cobertas de cadáveres. Nele, os farroupilhas tiveram 181 mortos, 150 feridos e 18 deles foram feitos prisioneiros. Os imperiais tiveram 72 mortos, 87 feridos e 84 prisioneiros.
Apesar da violência do evento, ele também é lembrado pelo gesto cavalheiresco do coronel Antonio Soares Paiva, que comandava a guarnição legalista da cidade. Ao término do combate, Bento Gonçalves - que estava à frente das tropas farrapas - lhe enviou uma mensagem, dizendo que se achava sem médico e remédios para seus feridos. O coronel Paiva, então, lhe mandou um médico e metade dos medicamentos de que dispunha. Em agradecimento, Bento libertou todos os prisioneiros legalistas.

Fontes:

A Revolução Farroupilha, Sandra Jatahy Pesavento, Editora Brasiliense, Lígia Gomes Carneiro | Raízes Sócio-econômicas da Guerra dos Farrapos, Leitman, Spencer - Ed. Graal, 1979 | A Revolução Farroupilha: história e interpretação, Freitas, Décio et alli. Ed. Mercado Aberto, 1985 |

Imagem: Quadro Marcha de Bento Gonçalves a São José do Norte, de José Américo Roig (Zeméco)


domingo, 28 de agosto de 2016

A lenda do Quero-Quero

Quando a Sagrada Família (José, Maria e José) fugia para o Egito, com medo das espadas dos soldados do rei Herodes, muitas vezes precisou se esconder no campo, quando os perseguidores chegavam perto.
Numa dessas vezes, Nossa Senhora, escondendo o Divino Piá, (Jesus), pediu a todos os bichos que fizessem silêncio, que não cantassem, porque os soldados do rei podiam ouvir e dar fé.
Todos os animais obedeceram prontamente, mas o quero-quero, alheio aos acontecimentos e por ser uma ave alarmista, sempre alerta, querendo avisar cantando quando alguém se aproximava, não cessava de gritar a sua voz aguda.E dizia: Quero! Quero! Quero! e queria porque queria cantar.
E tanto disse que foi amaldiçoado por Nossa Senhora e ficou querendo até hoje.

Observação: O Quero-quero é uma ave que se encontra em toda a América do Sul e parte da América Central. É uma ave símbolo do Rio Grande do Sul.




sábado, 30 de julho de 2016

Salamanca do Jarau

Há muitos séculos, quando caiu o último reduto árabe na Espanha, os mouros foram obrigados a fugir e acabaram aportando no sul do Brasil. Trouxeram consigo da cidade de Salamanca uma jovem princesa, transformada por magia, em uma enrugada velhinha, a fim que não fosse reconhecida e aprisionada. Ela foi refugiada no Cerro do Jaraú.
Logo de chegada, deram com o Anhangá-pitã, o demônio dos índios. Contaram-lhe toda a história e o diabo resolveu ajudá-los. Deste dia em diante, a linda princesa passou a ser uma salamandra com a cabeça de pedra brilhante ou "Teiniaguá" e viveria em uma lagoa no morro do Jarau.
No tempo dos padres jesuítas, existia um moço sacristão no Povo de Santo Tomé, na Argentina, do outro lado do rio Uruguai. Ele morava numa cela de pedra nos fundos da própria igreja, na praça principal da aldeia.
Ora, num verão mui forte, com um sol de rachar, ele não conseguiu dormir a sesta. Então, levantou-se, assoleado e foi até a beira da lagoa refrescar-se. Levava consigo uma guampa, que usava como copo.
Assustou-se ao verificar que a água fervia, feito chaleira quente e, de repente no meio dela surgiu a própria Teiniaguá. Ficou pálido de medo, pois sabia que tal bicho tinha parte com o diabo, mas sabia também, tratar-se de uma linda princesa moura jamais tocada pelo homem e aquele que conseguisse conquistar seu amor, seria feliz para sempre.
Num gesto rápido, o sacristão agarrou-a, colocou-a dentro de uma guampa e encaminhou-se às pressas para os seus aposentos atrás da Igreja. À noite ao descobrir a guampa, eis que se opera um milagre, a Teiniaguá tinha voltado a ser princesa e lhe sorriu pedindo-lhe um pouco de vinho. Louco de paixão, correu até a sacristia e roubou o vinho do padre. Todas as noites era a mesma coisa, uma romaria até a Igreja na busca do vinho, até que os padres começaram a desconfiar do sumiço inexplicável da bebida e invadiram o quarto do moço. 
A princesa tomada de susto, transformou-se em Teiniaguá e fugiu para as barrancas do Uruguai e, o sacristão, coitado, acabou preso.
Um crime tão terrível, roubar o vinho sagrado de Deus, só poderia ter uma pena à sua altura, e o moço foi condenado a morte no garrote vil.
No dia da execução, toda a aldeia reuniu-se em torno da Igreja. Teiniaguá sentiu um aperto no coração, pressentindo que algo ruim estava para acontecer. Se utilizando de magia, começou a procurar o seu amado, abrindo sulcos na terra, até chegar à igreja, no momento em que lhe foi possível interromper o garrotear do sacristão. Ouviu-se a seguir, um estrondo muito grande, que produziu muito fogo e fumaça e tudo afundou.
A princesa conseguiu salvar seu amado, mas os dois ficaram confinados a uma caverna muito funda e comprida no Cerro do Jarau e só se libertariam de tal encantamento, quando surgisse alguém capaz de vencer todas as provas de coragem e, depois de realizar um desejo que lhe seria concedido, desistir dele.
Essa caverna, no alto do Cerro, ficou encantada, virou Salamanca, que quer dizer “gruta mágica”, a Salamanca do Jarau. Quem tivesse coragem de entrar lá, passasse pelas provas e conseguisse sair, ficava com o corpo fechado e com sorte no amor e no dinheiro para o resto da vida.
Duzentos anos se passaram sem que ninguém tenha conseguido quebrar o encanto. Até que em uma tarde linda de primavera, campeando o gado, Blau chega à furna de Jarau. Conhecia a lenda, pois sua avó charrua já tinha lhe assoprado no ouvido quando era criança. Sendo assim, foi entrando. Saudou o antigo sacristão das Missões e submeteu-se a todas as provas de coragem sem pestanejar. Ao término delas, foi levado à presença da salamandra encantada, que o alertou sobre o consentimento de um desejo.

A resposta do gaúcho a espantou:

— Não desejo nada.

A princesa ficou cabisbaixa e desiludida, pois necessitava que ele aceitasse algo para que pudesse desistir depois, tal qual rezava uma parte do encantamento.
Quando o gaúcho montava seu cavalo para ir embora, o sacristão alcançou-lhe uma moeda de ouro como lembrança de sua estada. Sendo assim, não podia fazer desfeita e colocou-a no bolso.
Durante muitos dias, Blau nem lembrou mais do acontecido e até tinha esquecido da tal moeda. Então, lhe apareceu um bom negócio, um amigo queria desistir de criar gado e dizia-se interessado em vendê-los. Foi quando puxou a guaiaca e lembrou-se da moeda. Todos os bois não poderia comprar, mas quem sabe um? Retirou a primeira moeda, mas pelo peso percebeu que havia mais e saiu então uma segunda...uma terceira... e assim de uma em uma, conseguiu as moedas necessárias para efetivar a compra.
O amigo surpreso, tratou de espalhar a notícia. E todos ficaram estarrecidos, pois Blau era um gaúcho pobre, que não tinha "eira nem beira", de onde teria vindo tanta riqueza? Todo mundo sabe, que boato é que nem fogo, quando pega, ninguém segura, de ouvido em ouvido cogitava-se que o homem tinha feito um pacto com o diabo. Depois que correu a fama, ninguém mais quis vender-lhe nada. Tinha gente que se desviava quilômetros só para não encontrá-lo.
O gaúcho começou a sentir saudade de sua vida de antes. Algum tempo depois, não aguentou mais. Só tinha um modo de consertar tudo, era devolver a moeda mágica. Foi exatamente o que tratou de fazer. Partiu então decidido.
Chegando à entrada da gruta, contou toda a sua estória ao sacristão, depois pegou a moeda, colocando-a na mão do homem, dizendo:

— Eis aqui sua moeda. Agradeço-lhe o presente, mas não preciso dele. Rico eu era dono de alguma coisa, mas como pobre recebo de herança o mundo.

O encantamento foi quebrado com uma grande explosão. Das furnas saíram os dois condenados, transformados em um belo par de jovens. O sacristão e a princesa casaram-se e trouxeram descendência indígena-ibérica aos povoados do Rio Grande do Sul. Na Salamanca do Jarau a Teiniágua e o sacristão se tornaram os pais do primeiros gaúchos do Rio Grande do Sul. Ah, ali vive também a Mãe do Ouro, na forma de uma enorme bola de fogo. As vezes na tarde ameaçando chuva, dá um grande estouro numa das cabeças do Cerro e pula uma elevação para outra. Muita gente viu!

Observação: Salamanca do Jarau é uma lenda que conta a história de uma princesa moura que se transforma em uma bruxa e que vem em uma urna de Salamanca na Espanha para uma caverna no Cerro do Jarau, em Quaraí no Rio Grande do Sul. É uma das mais tradicionais lendas do estado.



 Cerro do Jarau - Quaraí - RS








domingo, 3 de julho de 2016

Caetano Gonçalves da Silva - O bravo filho de Bento Gonçalves

Caetano Gonçalves foi um militar brasileiro, que nasceu no Departamento de Cerro Largo, Uruguai, em 21 de janeiro de 1822. Apesar de ter nascido no Uruguai, ele tinha dupla nacionalidade, sendo que desde pequeno era um garoto interessado na vida militar. Era filho do presidente da República Rio-Grandense, Bento Gonçalves da Silva e de Caetana Garcia Gonçalves da Silva. Em companhia de seus irmãos, Joaquim e Bento, estudou no Rio de Janeiro. Sua vida acadêmica foi interrompida pela prisão de seu pai na Ilha de Fanfa durante a Revolução Farroupilha. Bento Gonçalves foi transferido para o Forte do Mar, na Bahia, onde fugiria com ajuda de amigos maçons em 10 de setembro de 1837. Percebendo a gravidade dos fatos, Caetano e seus irmãos, ausentaram-se do Rio de Janeiro e vieram alistar-se entre os legionários farrapos.
Trocando os livros pela espada, entrou na campanha e alcançou por seus serviços o posto de capitão, participando de diversos combates até o fim da Revolução Farroupilha em 1845.
Em 10 de dezembro de 1858, foi nomeado tenente-coronel chefe do Estado Maior da Guarda Nacional do município de Bagé, sendo superior ao cargo do coronel Ismael Soares, que era seu sogro. Dedicou-se a vida pastoril no município, de onde adotou para viver. Casou-se com Clara Soares, permanecendo em Bagé, de onde, desta união tiveram três filhos, um filho e duas filhas.
Serviu no sítio de Uruguaiana, onde se apresentou com 20 distintos homens da cavalaria ao Imperador Dom Pedro II. Depois da rendição dos paraguaios em Uruguaiana em 18 de setembro de 1865, Caetano Gonçalves reuniu o 1° Corpo do Exército no território de Corrientes, fazendo toda marcha da Brigada Ligeira do general Antônio de Souza Netto. Participou do Passo da Pátria em 16 e 17 de abril de 1866, e em seguida das batalhas no Estero Bellaco e do Tuiuti, na Guerra do Paraguai. Pelos serviços prestados foi condecorado com a Ordem da Rosa e o Comendador da Ordem de Cristo. Permaneceu no exército até a conclusão da Campanha em 1870. Foi condecorado também com as medalhas de Mérito Militar da Campanha do Paraguai e a comemorativa de ouro da Rendição de Uruguaiana. Apesar de receber todas as honrosas distinções, nunca o coronel Caetano Gonçalves colocou uma medalha no peito, sendo que sua farda jamais revestiu-se de condecorações.
Caetano Gonçalves foi ainda delegado de polícia em Bagé, por duas vezes, e membro do antigo Partido Liberal, sendo vereador do município nas legislaturas de 1847 e 1857.
O coronel Caetano Gonçalves faleceu em Bagé aos 63 anos, em 16 de junho de 1885, após uma vida repleta de conquistas e vitórias.
Devido a seus atos de justiça e bravura recebeu homenagem do município de Bagé, sendo agraciado com o nome de uma rua.
Participou da cavalaria na Guerra do Paraguai e teve destaque nos campos de batalha. Não era considerado com grande fama dentro do exército brasileiro, mas sempre cumpriu os deveres a ele designados.

Fonte:
REIS, Jorge. Homens do Passado. Notas de Eduardo Contreiras Rodrigues, Murilo Edgar Budó e Tarcísio Antonio Costa Taborda. Bagé, Urcamp, 1989.

Artigo de Diones Franchi publicado no jornal Folha do Sul - Bagé - RS em 20/06/2016

 

terça-feira, 31 de maio de 2016

Chico Diabo - Um herói esquecido

As vezes a história não destaca personagens que foram importantes para o contexto dos acontecimentos. Esse é o caso de José Francisco Lacerda, conhecido mais tarde como Chico Diabo. Lacerda foi um militar que lutou na Guerra do Paraguai e ficou famoso por ter matado o ditador paraguaio Francisco Solano López, na batalha de Cerro Corá em 1º de março de 1870. Nasceu no ano de 1848 no atual município de Camaquã e desde criança trabalhava.Quando guri conseguiu emprego em uma carniçaria (açougue) de propriedade de um italiano. Em 1863, após o almoço, o seu patrão deixou-o cuidando a carniçaria e foi atender ao seu antigo hábito da sesta; por um descuido, um cachorro entrou no recinto onde estava guardada a carne e conseguiu roubar um pedaço; quando o patrão levantou, Francisco, imediatamente, comunicou-lhe do acontecido o que provocou uma forte reação do italiano, manifestada por uma impar ira e xingada no moço que, diante da inusitada situação, disse-lhe que iria embora para a casa dos pais; porém, o senhor retrucou-lhe dizendo que o mesmo não sairia dali sem, antes, apanhar uma surra; após essas palavras, encerrou-o na carniçaria, atou a porta da mesma com um tento e, com um relho, começou a bater-lhe ao redor de uma mesa. Em dado momento, Chico conseguiu apanhar uma faca, que havia sobre a mesa e investiu desesperadamente contra o seu agressor atingindo-o mortalmente no abdômen; foi quando o moço percebeu que havia matado o seu patrão. Imediatamente, fugiu para a casa de seus pais no município de Camaquã onde chegou à primeira hora da manhã do outro dia tendo, portanto, caminhando a pé, toda a tarde e toda a noite. No momento em que os seus pais perceberam que vinha alguém atalhando o campo em direção a sua morada, tão cedo da manhã, antes de identificar de quem se tratava a sua mãe teria dito: “Garanto que é aquele diabinho que vem vindo”, dai surgiu seu apelido de Chico Diabo. Esclarecidos os motivos da sua fuga, os pais providenciaram a imediata remoção de Chico Diabo para a propriedade do seu tio Vicente Lacerda em Bagé, onde chegou com 15 anos de idade. Em 1865, portanto, com 17 anos, quando uma força de “Voluntários da Pátria” passava pela residência do seu tio, o então Coronel Joca Tavares, que a comandava, convidou-o para integrar o exército brasileiro o que foi prontamente aceito, e o consentimento do seu tio Vicente Lacerda concretizou sua participação na Guerra do Paraguai. Nessa guerra celebrizou-se por haver lanceado, na virilha, do ditador do Paraguai Francisco Solano Lopez, no dia 1º de março de 1870 no local denominado Cerro Corá pondo fim ao mais significativo conflito bélico da América do Sul. Chico Diabo faleceu no Uruguai em 1893, seus restos mortais foram enterrados em Bagé.

 Chico Diabo na Guerra do Paraguai

Francisco Lacerda - Chico Diabo


domingo, 1 de maio de 2016

Revolução Federalista - A "Guerra das degolas".


A Revolução Federalista foi um confronto armado ocorrido no Rio Grande do Sul de 1893 a 1895, também conhecida como a Guerra das Degolas, já que muita gente foi realmente degolada. 
Naquela época o Rio Grande do Sul se dividia em duas facções, uma formada pelos republicanos do então presidente do estado Julio de Castilhos, conhecido também como Pica- Paus e do outro lado, pelos os opositores liderados por Gaspar Silveira Martins do Partido Federalista, que defendiam um regime parlamentarista com um poder central forte, conhecidos também como maragatos. Pica-paus era como os federalistas chamavam os inimigos, pela semelhança do quepe dos oficiais republicanos com o pássaro, de bico fino e comprido. Os republicanos por sua vez, chamavam os federalistas de maragatos, numa alusão aos uruguaios, oriundos da Maragataria na Espanha.
A Revolução Federalista iniciou em 2 de fevereiro de 1893, mas seus acontecimentos se originaram muitos antes, em 19 de novembro de 1890, data em que o presidente Deodoro da Fonseca decreta a anulação do banimento dos monarquistas. Isso possibilita o retorno de Gaspar Silveira Martins ao estado. Sua volta é o incentivo para formar uma oposição contra o presidencialismo e a favor do parlamentarismo. Em 31 de março de 1892 é formado em Bagé, o Partido Federalista. 
Júlio de Castilhos se torna o presidente da província e cada vez mais reprime os federalistas.
O motivo da Revolução Federalista acontece devido aos diferentes ideais políticos, onde os Maragatos, Gasparistas, acusam o estado de tirano e de querer manter um regime de perseguições. 
A luta se caracteriza pelo controle do aparelho do estado, formando se o conflito que passaria do debate pela imprensa e pelo parlamento, as disputas eleitorais até o confronto bélico.
Nas eleições da assembleia constituinte, a União nacional não participou do pleito, propondo abstenção de seus eleitores neste sufrágio. Com isso a chapa do Partido Republicano foi eleita, sob denúncias de corrupção e fraudes eleitorais de parte dos oposicionistas.
Apesar da participação da oposição o resultado das eleições foi de vitória dos candidatos do PRR (Partido Republicano Rio-grandense), novamente diante de acusações de fraudes.
Em 15 de julho de 1891 Julio de Castilhos é eleito presidente do estado e assume funções na Constituinte Federal, promulgando a Constituição do Estado do Rio Grande do Sul, obra elaborada por ele próprio.
Essa constituição garantiria a continuidade perpétua dos castilhistas no poder, passando a ser um dos principais alvos de criticas da oposição. A república não estava disposta a perder eleições para os antigos partidos monárquicos, introduzindo o voto descoberto, apoiado num sistema parcializado e viciado de alistamento e de apuração.
Revoltados com essa posição, em 1892, os liberais por esses motivos reuniram-se em Bagé e criaram o Partido Federalista.
Em 17 de junho de 1892 acontece o levante dos castilhistas e Júlio de Castilho é recolocado no governo do estado. A partir desse momento começara os primeiros sinais de resistência da oposição, sendo que Joca Tavares é colocado como presidente do estado, mantendo um governo paralelo em Bagé, mas que durou pouco com a intervenção do Exército Nacional. Castilhos renuncia em favor de Vitorino Monteiro, que fica no cargo por apenas três meses, assumindo Fernando Abbott, secretário do interior até as eleições estaduais de 1892. Floriano Peixoto decidira apoiar Júlio de Castilhos, pois a oposição dos federalistas era dissidente da monarquia.
As eleições estaduais foram marcadas para novembro de 1892 e o resultado levou mais uma vez Julio de Castilhos para reassumir o estado em 25 de janeiro de 1893. Castilhos sustentava a vigência e a legitimidade da Constituição Estadual, oferecendo garantias de uma eleição livre e fiscalizada pelas duas facções, mas Silveira Martins insistia num pleito que assegurasse representação de 1/3 à minoria e a elaboração de uma nova carta constitucional, com recíprocas concessões.
Sem nenhum sucesso eleitoral e nenhuma exigência atendida à oposição acabaria por escolher pela luta armada. A partir de fevereiro de 1893, com a invasão do território sul-rio-grandense pelos rebeldes, surgindo a Revolução Federalista. Começou então uma série de confrontos entre federalistas e republicanos, sendo destaques os combate do Inhanduí, Cerco de Bagé, Combate do Rio Negro no Rio Grande do Sul e Cerco da Lapa no Paraná. 
A paz foi assinada em 23 de agosto de 1895 na cidade de Pelotas. A Revolução Federalista durou 31 meses, resultando uma das maiores lutas sangrentas da História do Brasil.

A Guerra das Degolas

Referências:

ALVES, Francisco das Neves. Revolução Federalista: história e historografia. Rio Grande: Editora da Furg, 2002

TABORDA,Tarcísio. GARCIA, Élida Hernandes. Bagé de Ontem e de Hoje. Ed: Ediurcamp, 2015

PESAVENTO, Sandra J. A Revolução Federalista. São Paulo: Brasiliense, 1983.

sexta-feira, 22 de abril de 2016

Memórias do Pampa é reconhecido como Ponto de Cultura pelo Ministério da Cultura

O projeto cultural Memórias do Pampa foi classificado e aprovado pelo Ministério da Cultura como Ponto de Cultura, pela PORTARIA Nº 48, de 17 de novembro de 2015, publicado no Diário Oficial da União, reconhecido pela sua valorização cultural através da utilização da mídia e redes sociais para a divulgação da história local. O Ponto de Cultura Memórias do Pampa está cadastrado no site Cultura Viva no Mapa dos Pontos de Cultura do Brasil desde o dia 22 de abril de 2016.
Dessa forma o Memórias do Pampa se torna uma ferramenta, para ações culturais, onde o jornalista com o apoio do historiador, contribui também para o ensino de história através da TV e as mídias digitais, através de um projeto coletivo tendo como consequência um conjunto de atividades e reflexões partilhadas. 
Ponto de Cultura é a entidade cultural ou coletivo cultural certificado pelo Ministério da Cultura. É fundamental que o Estado promova uma agenda de diálogos e de participação. Neste sentido os Pontos de Cultura são uma base social capilarizada e com poder de penetração nas comunidades e territórios, em especial nos segmentos sociais mais vulneráveis. Trata-se de uma política cultural que, ao ganhar escala e articulação com programas sociais do governo e de outros ministérios, pode partir da Cultura para fazer a disputa simbólica e econômica na base da sociedade.
O “Memórias do Pampa” tem uma página no facebook com mais de 3500 pessoas inscritas, e um blog com mais de 30.000 visualizações mensais. No blog e no Facebook, atualmente são publicados matérias históricas da região da fronteira e do Rio Grande do Sul.
O Memórias do Pampa é também um programa independente veiculado e apoiado pela TV Câmara de Bagé – RS.



domingo, 10 de abril de 2016

A invasão espanhola no Rio Grande do Sul e a reconquista portuguesa

A maior parte do Rio Grande do Sul foi dominada pelos espanhóis durante 13 anos, de 1763 até 1776. O motivo é que os espanhóis reivindicavam por carta do Governador de Buenos Aires, Dom Pedro de Cevallos, ao Governador da capitania do Rio Grande de São Pedro, o Coronel Inácio Elói Madureira, grande parte das terras do Rio Grande do Sul, intimidando os portugueses a desocupar todas as terras da Espanha. E ainda exigiam a devolução dos índios guaranis, que haviam partido com Gomes Freire no final da Guerra Guaranítica. Cevallos que era inimigo declarado dos portugueses interpretou a seu modo, os acordos que modificavam o Tratado de Madri.
Por esses desentendimentos, Portugal deveria devolver as Missões aos espanhóis e reabriria as discussões sobre a Colônia do Sacramento.
Em 1763, Rio Grande foi invadido pelos espanhóis, para isso Cevallos avançou sobre a Colônia do Sacramento, e pela fortaleza de Santa Tereza, ocupando a vila de Rio Grande na barra da Lagoa dos Patos.
Houve falhas na defesa portuguesa para tentar impedir a invasão, ocorrendo cenas de selvageria, fraqueza e pânico. Com a invasão espanhola, grande parte da população foge e o governo se muda as pressas para Viamão. Nesse período a capitania do Rio Grande de São Pedro se limitou a uma pequena faixa litorânea e ao Vale do Jacuí.
Durante o tempo que ficaram no domínio das terras sul-rio-grandense, os espanhóis construíram fortes para assegurar o domínio das terras. Já em 1773 os portugueses transferem a capital de Viamão para Porto Alegre, em vista de sua situação geográfica privilegiada. Para reconquistar o território sul rio grandense, foi designado o Tenente- General Henrique Bönh, com o reforço de militares dos atuais estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Pernambuco, Bahia, Santa Catarina e Paraná. Destacando-se também a contribuição de civis paulistas, enviados durante a guerra, num fluxo contínuo para a fronteira de Rio Pardo, ao lado de civis rio-grandenses, e o Regimento de Dragões do Rio Pardo. Dessa maneira o exército português ataca os espanhóis e vence as batalhas de Monte Grande - 1763, Reconquista de São José do Norte - 1767, Santa Bárbara e Tabatingaí - 1774, São Marçotinho - 1775 e Santa Tecla em 1776, mesmo ano em que os portugueses derrotam os espanhóis, reconquistando a Vila de Rio Grande, depois da maior batalha naval da história do Rio Grande do Sul.



Getúlio Vargas na Rainha da Fronteira

Em setembro de 1952, o presidente Getúlio Vargas chegava ao Rio Grande do Sul para uma série de visitas nas principais cidades do estado. Entre elas Vargas visitou Bagé, cidade localizada na região sul da fronteira do Rio Grande do Sul, conhecida também como a Rainha da Fronteira.. A visita do presidente foi registrada através de imagens capturadas do Arquivo Nacional da Presidência da República. Nas imagens é possível ver a calorosa recepção da população bageense, sua a prefeitura municipal e sua aparição na sacada do prédio acenando para a população. Depois a visita em carro aberto e o discursos na Associação Rural de Bagé. Na viagem foi acompanhado pelo governador do estado Ernesto Dorneles. Sua visita está registrada nas Memórias do Pampa. Confira o vídeo abaixo!





quarta-feira, 23 de março de 2016

O início da ocupação no Rio Grande do Sul

A ocupação do Rio Grande do Sul foi determinada através da autoridade que se constituía o exército português. Para os lusos, não existiam diferenças entre aquilo que era o bem da Coroa e a propriedade particular dos que administraram essas terras em nome do rei. Principalmente nas regiões das fronteiras as ocupações espanholas e portuguesas eram travadas com legitimidade de autoridade.
O modelo de apropriação e ocupação se caracterizou através da colonização ibérica e lusitana, marcada por uma preocupação de constituir na região colonizada uma estrutura, cuja determinação era servir aos interesses da corte. Estes interesses buscavam, na região conquistada, levar mercadorias ou matérias-primas e metais preciosos para gerar na metrópole uma balança comercial favorável. 
A vida desses homens que trabalhavam nesta região tinha só um objetivo: tropear o gado entre o Prata, Laguna e São Paulo. Era um comércio de trânsito que se desenvolvia com rapidez a partir da abertura do caminho da Colônia de Sacramento a Laguna em 1726. O que caracteriza mais tarde, uma disputa por territórios, através de batalhas travadas por portugueses e espanhóis.
Nestas lutas entre os impérios, durante os séculos XVI, XVII e XVIII, tinha como objetivo direcionar as colônias apêndices comerciais para os interesses da Europa. Portugueses e espanhóis buscavam encontrar um lugar para se fixarem, queriam terras e, com a chegada da notícia que na capitania Del Rey havia rebanhos de bovinos pastando livremente, esses homens começaram a disputa por sesmarias nesta região. Estas terras viviam em constantes disputas entre as duas coroas ibéricas, o que facilitou um tipo de ocupação de natureza militar.
Para demarcar o território e sua ocupação foram construídos postos, estâncias e nas fronteiras fortes militares.
De acordo com Fortes, 1941, a estância se torna a primeira forma real de ocupação que levou a uma efetiva presença portuguesa na região, a legitimação da propriedade territorial e a radicação das famílias nas terras recém ocupadas.
Foi com o incremento do comércio do couro, a partir da Colônia de Sacramento, que o processo de ocupação do território se intensificou, pois a coroa procurava retirar dessa região algum dividendo, já que não se tinham, ainda, notícias de outras riquezas a serem exploradas. Esta ocupação foi marcada por lutas entre os impérios europeus, na busca de solidificar colônias.
No século XVIII, Portugal e Espanha negociaram essa região a partir de dois tratados: O Tratado de Madri (1750) e o de Santo Ildefonso (1777). Conforme Fortes, 1941, esta estrutura da propriedade se delineava na medida em que se expandia o comércio do couro. Assim a situação de fronteira do território, levou a distribuição de sesmarias, principalmente, à militares de postos variados. Dessa forma, conforme o autor, o colonizador principalmente nas fronteiras do Rio Grande do Sul, se constituiu nestas paragens, do militar que, por serviços prestados nas campanhas tinha como mérito esse território. Assim novamente afirma o autor “iam recebendo sesmarias de campo onde fundavam estâncias”. 
No século XVIII, o processo de ocupação no sul se faz mediante a realização de conflitos militares, envolvendo os interesses comerciais das coroas ibéricas, as quais buscam determinar suas posses, objetivando, com isto, garantir riquezas no comércio mundial.Nisso entre as regiões de conflito, temos o Forte de Santa Tecla, localizado próximo da fronteira com a Banda Oriental, hoje Uruguai e que foi ponto estratégico para uma batalha entre portugueses e espanhóis. Sobre o comando de Rafael Pinto Bandeira, os portugueses conquistam a região e sua soberania.

Gado ao norte do canal do Rio Grande de São Pedro - Guaíba

quinta-feira, 3 de março de 2016

A lenda do Monstro da Panela do Candal

Diziam existir em Bagé, na Panela do Candal, localizado próximo à igreja catedral de São Sebastião, um monstro com a forma de uma grande cobra, que há muito tempo, vivia tranquilo nos cerros do município. 
Nesse local havia um rio de respeito, grande e majestoso. Nesse rio, vivia um monstro que não agredia, nem matava e não tinha dentes e nem garras. Pouco se afastava de perto dos rios, procurando as funduras maiores onde seu corpo coubesse. Ao entrar nas águas estas marulhavam como se estivessem gemendo, esparramando-se pelas margens, sacudindo-se de ondas. 
Mesmo não agredindo ninguém, a grande cobra era caçada pelos soldados do tenente-general Dom Diogo de Souza. Por isso a criatura veio morar na Panela do Candal, uma região próxima ao arroio Bagé. O monstro em forma de cobra gigante cavou um buraco, formando um túnel e dizem que vive até hoje nesse local. 
O aldeamento começou a se formar, e o povoado passou a freguesia, multiplicando-se a população. Por isso a poucos metros da Panela do Candal, foi construída uma capelinha de São Sebastião, onde hoje em dia é a catedral da cidade. Crescia para ele o risco, e desapareciam as possibilidades de ainda poder sair, para ter um pouco que fosse de liberdade e sossego. 
Em certo dia a criatura surgiu despencando as portas da capelinha, destruindo tudo que enxergava pela frente, confrontando os povoadores da nascente da cidade. Foi nesse momento que o monstro em forma de cobra, foi ferido por uma lança de um jovem soldado, arrancando o seu olho. Perdido e sem alternativa ele fugiu transportando-se pelos ares, jogando-se novamente na Panela do Candal. 
A partir disso, a grande cobra se afugentou no buraco na Panela do Candal, colocando apenas a cabeça de fora da água para respirar. Sentindo-se ameaçado, o monstro feio, caolho e pacífico, continuou escavando e aumentando o túnel, pois precisava espichar-se, descansar e locomover-se. Até que um dia, cansado de ser caçado e de ficar preso embaixo da terra revoltou-se, atacando uma carroça com dois cavalos e o rapaz que a guiava, fazendo-os desaparecer nas águas, esmagando-os e arrastando-os para o subterrâneo. 
Segundo a lenda, muitas pessoas que passavam pelo local, sumiram, entre elas, uma lavadeira, uma criança de um circo, dois militares, um pescador, tropeiros, infinidade de novilhos e cavalos de raça, bois mansos, vacas e terneiros, tantas e tantas vidas foram ceifadas. Além de antigas embarcações, carretas e carroças que nunca mais foram vistas, sumiram sem rastro deixar, sem que nem os cadáveres e nem os veículos jamais fossem encontrados. 
Muitos dizem que até hoje, o monstro da Panela do Candal, vive em um túnel abaixo da catedral de São Sebastião. Ele simplesmente percebeu que se fosse apenas pacífico e brando, não teria sobrevivido, diante da vida que lhe ensinou a lutar. 

Baseado na obra de Pedro Waine.

A lenda 

Panela do Candal - Bagé - RS

Catedral de São Sebastião - Bagé - RS

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

Joca Tavares - O líder federalista

João Nunes da Silva Tavares, mais conhecido como Joca Tavares é considerado um dos importantes personagens da Revolução Federalista de 1893 a 1895. Nasceu em Herval em 24 de maio de 1818, no berço de um das mais tradicionais e importantes famílias do Rio Grande do Sul. Chegou ao posto de general e foi presidente do estado do Rio Grande do Sul de 17 de junho a 4 de julho de 1892 .
Era filho do Visconde de Serro Alegre, João da Silva Tavares, e de Umbelina Bernarda da Assunção, e irmão de Joaquim da Silva Tavares, o Barão de Santa Tecla, sendo casado com Flora Vieira Nunes, com quem teve 12 filhos.
Joca Tavares começou sua história de lutas e desafios, bem antes da Revolução Federalista, já na véspera de estourar a Revolução Farroupilha, onde acompanhou seu pai juntando-se ao lado legalista. Três dias mais tarde combateu no arroio Telho, as forças revolucionárias de Gervásio Verdum. Em seguida partiu para Pelotas e no caminho, em 19 de outubro, próximo a São Lorenço apoiou o combate às forças do coronel Antônio Gonçalves da Silva. Logo depois se refugiou no Uruguai, regressando em 1836 para lutar no combate do Rosário, sendo feito prisioneiro pelo coronel Corte Real. 
Durante a Batalha do Seival foi novamente preso, e incitado pelos farroupilhas a mudar de lado, mas recusou-se inclusive a permanecer neutro, por isso foi mantido preso. Mais tarde é libertado, através da intermediação do chefe uruguaio Calengo. Novamente é atacado e sitiado, perto de Arroio Grande pelas tropas de Davi Canabarro, sendo feito, outra vez prisioneiro, com seu pai. Serviu a outras importantes batalhas na Revolução farroupilha e foi encarregado da defesa de Pelotas, recebendo o Barão de Caxias, que tinha sido nomeado presidente da província e comandante das armas.
Ao fim da revolução farroupilha com o Tratado de Ponche Verde, Joca Tavares tinha o posto de major, com apenas 27 anos de idade e 10 anos de combate, tendo conquistado todas suas promoções por atos de bravura.
Joca Tavares foi promovido à coronel, durante a Guerra do Paraguai e organizou um corpo de voluntários para libertar Uruguaiana. Após a retomada da cidade em 18 de setembro de 1865, vai para Bagé como comandante de brigada, incorporando-se ao 3° corpo de exército, comandado pelo General Osório rumo ao Paraguai. Depois, em 1868 combate em Palmas, recebendo a medalha do mérito militar. 
Ao passar pelo arroio Negla, aprisiona o coronel Salinas e por ele toma conhecimento do paradeiro de Solano López na margem esquerda do arroio Aquidaban. Ataca o acampamento de Solano Lopez, que morre em fuga, atingindo por um de seus soldados o Chico Diabo.
Depois da guerra, chegou ao posto de brigadeiro honorário do Exército imperial e recebeu o título de Barão de Itaqui por decreto de 18 de maio de 1870. Assumiu o comando da fronteira de Bagé de 1874 a 1878 e de 1886 a 1889. Em junho desse ano, declarou-se republicano e renunciou a seu comando militar e a seu título de nobreza, aliando-se aos republicanos gaúchos. Depois da proclamação da República em 15 de novembro de 1889, voltou a assumir o posto de comandante da fronteira de Bagé, onde permaneceu até janeiro de 1892. Nesse período, rompeu com o Partido Republicano Rio-Grandense (PRR), liderado por Júlio de Castilhos, e ligou-se ao Partido Federalista, liderado por Gaspar Silveira Martins. Exilado na Europa desde a queda da monarquia, e agora defensor de uma República parlamentarista, Silveira Martins regressou a Porto Alegre no início de 1892, e em 31 de março desse ano, no encontro que ficou conhecido como Convenção de Bagé, foi aclamado chefe do Partido Federalista, então criado para fazer frente ao PRR de Júlio de Castilhos. Nesse encontro Joca Tavares foi lançado futuro candidato do partido à presidência do Rio Grande do Sul. 
No dia 17 de junho de 1892, Vitorino Ribeiro Carneiro Monteiro tornou-se presidente temporário do Rio Grande do Sul, na sucessão ao Marechal José Antônio Correia da Câmara, enquanto aguardava a instalação de um novo presidente. No mesmo dia, Júlio de Castilhos candidato do Partido Republicano Riograndense, (PRR) se proclamou presidente em Porto Alegre. O governo durou apenas um dia, pois, no mesmo dia, Joca Tavares, filiado ao Partido Federalista, também se proclamou presidente em Bagé, onde permaneceu no poder até 4 de julho de 1892.
Quando Júlio de Castilhos novamente se tornou presidente do Estado do Rio Grande do Sul em 1893, Joca Tavares se revoltou e iniciou uma guerra civil que logo se tornaria uma revolta generalizada contra os que apoiavam o governo republicano, denominando o confronto que ficou conhecido como Revolução Federalista. Ao encontro de Joca Tavares, consagrado chefe militar dos revoltosos, vieram do Uruguai tropas lideradas por Gumercindo Saraiva, formadas por brasileiros e uruguaios. 
Em 23 de fevereiro de 1893, Joca Tavares e Gumercindo Saraiva, juntos, ocuparam Dom Pedrito e em seguida Alegrete, de onde iniciaram vários outros ataques. Joca Tavares também enfrentou o Cerco de Bagé, mas não conseguiu vencer os amotinados liderados pelo coronel Carlos Maria da Silva Telles. 
As tropas federalistas rebeldes eram compostas de civis, e a maioria dos comandantes eram coronéis latifundiários, isto é, chefes locais. O armamento utilizado era precário, por isso os homens lutavam montados a cavalo, portando lanças e esporadicamente armas de fogo. A tática empregada eram as marchas rápidas e fulminantes, ataques de surpresa.
A Revolução Federalista durou até 1895, quando ele e Inocêncio Galvão assinaram a paz em Pelotas em 23 de agosto de 1895.
Joca Tavares faleceu em Bagé em 9 de janeiro de 1906, aos 89 anos. Em sua homenagem foi dedicada a Praça Barão de Itaqui, situada entre as estações do metrô Tatuapé e Carrão, na zona leste de São Paulo. Em Bagé lugar onde residiu, existe uma rua e um distrito com cerca de 800 habitantes, que leva o seu nome, ficando assim eternizado nas memórias do pampa e na história do Brasil.

João Nunes da Silva Tavares - Joca Tavares

Joca Tavares

Coronel João Nunes da Silva Tavares, conhecido como Joca Tavares (Segundo sentado, da esquerda para a direita) e seus auxiliares imediatos, incluindo Francisco Lacerda, mais conhecido como "Chico Diabo" (terceiro em pé, da esquerda para a direita).

terça-feira, 5 de janeiro de 2016

“A Noiva de Garibaldi”

Manuela de Paula Ferreira ou Manuela Amália Ferreira era da família de Bento Gonçalves da Silva, o líder da Revolução Farroupilha, sendo sua prima apesar de ser confundida como sobrinha.
sobrinha de Bento Gonçalves da Silva, o líder da Revolução Farroupilha, mas ficou conhecida pela história como a “Noiva de Garibaldi”, por alimentar uma paixão platônica pelo revolucionário italiano Giuseppe Garibaldi, que a citou em suas memórias.
Nasceu em Pelotas em 8 de julho de 1820, era filha de Francisco de Paula Ferreira e Maria Manuela. Seu registro de batismo data de 20 de agosto de 1820, no Bispado de Pelotas.Tornou-se assim uma figura de certa importância durante a Revolução Farroupilha ao ser celebrizada com certa licença poética na memória popular, na literatura e na TV como "a noiva de Garibaldi”. 
Manuela viveu na companhia de seus pais e seus três irmãos em Pelotas até meados de 1835, quando sua família se envolveu num dos fatos históricos mais convulsivos da história do Rio Grande do Sul: A Revolução Farroupilha.
Seus pais assim como a maioria da população da época acabaram ficando do lado dos Farroupilhas.
Em 1835, Manuela, suas irmãs, sua mãe, Dona Cayetanna, e seus filhos estavam morando juntas em Pelotas, e ao saberem do início da Revolução, decidiram fugir, uma vez que a cidade se manteve fiel ao Império durante toda Revolução.
O lugar escolhido para refugiarem-se foi a Estância da Barra, de propriedade de Dona Anna Joaquina Gonçalves da Silva, irmã do General Bento Gonçalves, ás margens do Rio Camaquã, sendo um local de difícil acesso.
Viveram todas em total isolamento durante a Revolução, sabendo do que se passava somente por meio de cartas, mascates que pernoitava na Estância, ou quando seus parentes vinham até a propriedade.
Manuela teria tido um breve relacionamento com Giuseppe Garibaldi e teriam tornado-se noivos secretamente, pois a família de Manuela não achava que Garibaldi fosse ser um bom marido, e que ele não tinha recursos para dar uma boa vida para Manuela. Os dois mesmo sabendo da oposição da família planejaram-se casar secretamente e fugir, mas Bento Gonçalves tinha antes uma missão para Garibaldi em Laguna no estado de Santa Catarina. Foi na localidade catarinense que Garibaldi conheceu Ana Maria de Jesus Ribeiro, chamava logo depois de Anita Garibaldi. 
Manuela ainda tinha esperanças de que Garibaldi voltasse, pois Anita era casada. Mas logo veio a notícia de que Anita estava grávida, e esse era a única circunstância que faria com que Manuela desistisse de Garibaldi.
Logo assim que nasceu seu filho Menotti, Garibaldi decidiu ir embora do Rio Grande do Sul, pois sabia que a guerra já estava perdida. Em 1849, Anita morreu aos 28 anos na Itália lutando pela unificação italiana, ao lado de Garibaldi. 
Manuela, ao saber dessa notícia, ficava todos os dias à espera de Garibaldi. Seus familiares julgavam que ela estava louca, assim como a sua irmã Rosário que havia enlouquecido de amores por um oficial caramuru, que havia conhecido em Pelotas, e que havia morrido. 
Garibaldi nunca foi ao seu encontro de Manuela, que mesmo assim nunca desistiu e morreu a espera do homem de seus sonhos.
No entanto, essas informações não são comprovadas, podendo não passar de mitos e conjecturas sobre o nome de Manuela, uma vez que é certa sua paixão por Garibaldi, mas não há nenhum indício que foi correspondida. 
A cronologia militar da Revolução Farroupilha registra que, em 17 de abril de 1839, Garibaldi dedicava-se a montar um estaleiro às margens do rio Camaquã, na estância de dona Ana, irmã de Bento Gonçalves, quando foi atacado de surpresa por uma força legalista de 150 homens, sob o comando de Moringue. Ele consegue mesmo assim desvencilhar-se da armadilha; contando com o auxílio de mais 11 companheiros, de início eram apenas ele e o cozinheiro da estância. Devido a sua astúcia e coragem derrotaram o adversário, e no mesmo dia Garibaldi comunicou o fato, com detalhes, ao comando superior. Ele destaca, no relatório, que cabia "toda a glória aos 11 bravos de que acima fiz menção, cujos nomes levarei à presença do governo, para que sejam devidamente premiados."
Muito anos depois nas suas Memórias, o italiano Garibaldi, célebre "herói de dois mundos", acrescenta ao episódio uma observação particular, uma pequena nota íntima, uma curta confissão. Diz assim: "Nós celebrávamos a vitória, gozando o fato de ter sido salvos de uma tempestade. Na sede da estância, a 12 milhas, uma virgem empalidecia e rezava pela minha vida; mais doce do que a vitória, me surpreendia à notícia. Sim, belíssima filha do Continente, eu era orgulhoso e feliz de te pertencer, fosse como fosse: tu, destinada a ser mulher de outro! A mim, a sorte reservava outra brasileira”. Portanto, não era de Ana de Jesus Ribeiro, a Anita, que ele relatava, pois ele só conhecerá sua famosa e brava companheira três ou quatro meses depois, não se sabe em que data na província de Santa Catarina. Tampouco se Anita era virgem: o mais provável que não, pois em 1839 já estava casada, há quatro anos desde os 15, com Manuel Duarte de Aguiar, mais conhecido em Laguna como Manuel dos Cachorros.
Essa, a belíssima filha do Continente, Garibaldi conheceu, no início do ano, na própria estância da família de Bento Gonçalves. Era a sobrinha do então presidente da República Rio-Grandense, filha de outra das suas irmãs, dona Maria Manuela. Garibaldi mesmo é que afirma, em outra passagem das Memórias, que na estância de dona Ana havia três moças, "uma mais graciosa do que a outra" na verdade três irmãs; no entanto, "uma delas, Manuela, dominava absolutamente a minha alma. Não deixei de amá-la, embora sem esperança, porque estava prometida a um filho do presidente".
Desde 1973, graças às pesquisas do historiador italiano Salvatore Candido, duas cartas dirigidas por Luigi Rosseti a Giovanni Battista Cuneo. Em 19 de janeiro de 1839 (meses antes do episódio mencionado neste primeiro parágrafo), informa o remetente: "Garibaldi esteve extremamente doente. Mas restabeleceu-se e ameaça se casar. Escreveu-me pedindo que eu lhe sirva de mentor. Imagine se o farei." Outra carta em 7 de fevereiro, retoma o assunto: "Garibaldi está apaixonado e ameaça se casar. Mas não vai fazê-lo, de jeito nenhum. Ele me prometeu."
De um lado, temos o depoimento de Rosseti, considerando-se responsável pela desistência de Garibaldi, certamente por não confiar na estabilidade do seu compatriota no que dizia respeito aos assuntos do coração; de outro, o depoimento do próprio Garibaldi, segundo o qual fora o presidente dos farrapos quem fizera naufragar o casamento, ao garantir-lhe que a moça estava já comprometida. 
O jornalista Paulo Markun, um dos biógrafos de Garibaldi, quanto ao segundo aspecto conclui e que pode-se entender que com toda a razão: "Era mentira. O presidente recebia o italiano em sua casa, mas no fundo achava-o um aventureiro e inventou o tal compromisso." Manuela Amália Ferreira, a virgem que empalidecera e rezara enquanto Giuseppe Garibaldi combatia, com uma dezena de companheiros, uma centena e meia de adversários, encontrava-se, em 1839, temporariamente na estância da sua tia Ana, em Camaquã, porque Pelotas, estava ocupada pelos legalistas e como em outras diversas ocasiões, durante a Revolução Farroupilha. 
Embora "destinada a ser mulher de outro”, Manuela essa loira, de grandes olhos azuis, conforme Fernando Osorio, relata em Mulheres farroupilhas), morreu solteira em Pelotas aos 82 anos de idade, no dia 26 de janeiro de 1903,de fraqueza do coração, em sua residência na Rua Marechal Deodoro.
Diz-se que guardou consigo, para sempre, cartas e poemas do europeu ilustre por quem fora sinceramente apaixonada. Enquanto viveu , até o início do século 20, era conhecida de todos os pelotenses como simplesmente "A Noiva de Garibaldi".


Manoela foi  mencionada nas Memórias de Garibaldi, escrito por Alexandre Dumas. É personagem nas obras: Garibaldi & Manuela de Josué Guimarães, Os Varões Assinalados de Tabajara Ruas,  A Casa das Sete Mulheres de Letícia Wierzchowski e Um Farol no Pampa, também de Letícia Wierzchowski. Foi também retratada, na minissérie da TV Globo, A Casa das Sete Mulheres, baseada no livro do mesmo nome, onde foi protagonista. 


Manoela citou, porém, a história farroupilha a qual viveu do início ao fim. Seu corpo encontrava-se sepultado na cidade de Pelotas porém há alguns anos atrás foi exumado e incinerado, já que a família não quis pagar para manter a sepultura dela.