quarta-feira, 1 de agosto de 2018

A Carreta de boi

A Carreta ou Carro de Boi é um dos mais primitivos e simples meios de transporte, tendo sido muito utilizado no Rio Grande do Sul.
Desde as origens da Província de São Pedro do Rio Grande do Sul até a chegada do trem e do automóvel, o Estado andou a reboque dos carros de boi.
Conhecida como Boeiro” em Portugal, “cambona” em algumas regiões do interior do Brasil, o carro de boi e “carreta” nos pampas gaúchos já era conhecido dos chineses e hindus. Também os egípcios, babilônios, hebreus e fenícios utilizavam o transporte “via bois”. Mais tarde, os europeus, quando se lançaram à colonização da África e da América, fizeram do boi um item indispensável da carga das caravelas.
Tomé de Sousa, primeiro governador-geral do Brasil, trouxe consigo carpinteiros e carreiros práticos, e, em 1549, já se ouvia o “cantador” nas ruas da nascente cidade de Salvador/BA. A presença do carro de boi também é mencionada no “Diálogo das Grandezas do Brasil”, de Ambrósio Fernandes Brandão: “É necessário que tenha (…), 15 ou 20 juntas de bois com seus carros necessários aparelhados (…)”, e mais adiante, “A vaca, sendo boa, é estimada a (…), e o novilho, que serve já para se poder meter em carro, a seis e a sete mil réis (…)”.
Nos primeiros tempos da colonização, além de manter em movimento a indústria açucareira da roça ao engenho, do engenho às cidades, o carro de bois mobilizou a maior parte do transporte terrestre durante os séculos XVI e XVII. Transportavam materiais de construção para o interior e voltavam para o litoral carregados com pau-brasil e produtos agrícolas produzidos nas lavouras interioranas. No Brasil colonial, além dos fretes, o carro de bois conduzia famílias de um povoado para outro muitas vezes transformado em “carro-fúnebre” e os carreiros precisavam lubrificar os “cocões” para evitar a cantoria em hora imprópria.
No início do século XVI, o carro de bois era ainda absoluto no transporte de carga e de gente. No Sul, no Centro, no Nordeste, era indispensável nas fazendas. No Rio Grande do Sul, as carretas conduziam para a Argentina e para o Uruguai a produção agrícola. Foi utilizada durante a guerra dos farrapos, no transporte também das mulheres, feridos e de armamento. Na Guerra do Paraguai, os carretões transportaram munições, mantimentos e serviram ainda como ambulâncias.
Em meados do século XVIII, entretanto, com o aparecimento da tropa de burros, o carro de bois perdeu sua primazia. Mais leves e mais rápidos, os muares não exigiam trilhas prévias e terrenos regulares. No final do século, vieram os cavalos para puxar carros, carroças e carruagens, e o carro de bois foi proibido por lei de transitar no centro das cidades, ficando o seu uso restrito ao meio rural.
Os veículos motorizados aceleraram o processo de decadência do carro de bois no Brasil, na Argentina, em Portugal, na Espanha, na Grécia, na Turquia, no Irã, na Indonésia e na Malásia. Contudo, em todos esses lugares, artesãos continuaram a construí-los e a aperfeiçoá-los e, graças a essa gente, o carro de bois persiste na sua marcha pela história.
As carretas riscaram os primeiros caminhos do pampa, ajudaram a fundar cidades e abastecer bolichos. Transportaram mantimentos em tempos de paz, armas em períodos de guerra, sempre ao passo vagaroso do gado. Em solo gaúcho, as razões para o abandono da carreta incluem a lentidão do gado e as agruras da viagem, que sujeitam o condutor a intempéries, a dormir e comer ao relento, sem banho ou troca de roupa.
Hoje, um dos mais tradicionais meios de locomoção do gaúcho está em extinção, mas permanece nas memórias do pampa.

Por: Diones Franchi 

Referências:

https://gauchazh.clicrbs.com.br/geral/noticia/2012/08/zero-hora-revela-o-cotidiano-dos-ultimos-carreteiros-do-estado-3865199.html
http://naboleia.com.br/carro-de-boi-a-origem-do-transporte/




segunda-feira, 23 de abril de 2018

A lenda da Lagoa Vermelha

A primeira tentativa dos padres jesuítas, que resultou na fundação de 18 Povos Missioneiros no Rio Grande do Sul, foi fracassada. Os bandeirantes de Piratininga, que haviam arrasado as reduções do Guairá caçando e escravizando índios para a escravidão das lavouras de cana-de-açúcar de São Paulo e Rio de Janeiro, quando souberam que os padres tinham vindo mais para o sul e erguido suas aldeias no Tape, vieram aqui fazer o que sabiam fazer. Assim e aos poucos, os padres tiveram que refluir para o oeste, fazendo agora na volta o mesmo caminho que tinham feito na vinda. 
E nessa fuga tratavam de levar consigo tudo o que podiam carregar. O que não podiam, queimavam ou enterravam. Casas, plantações, até igrejas foram incendiadas, para que nada ficasse aos bandeirantes. 
Pois diz que numa dessas avançadas pelo Planalto, no rumo da Serra, uma carreta carregada de ouro e prata, fugiu das Missões.
Ali vinha objetos das igrejas, como candelabros, castiçais, moedas, ouro em pó, um verdadeiro tesouro cujo peso faziam os bois peludearem. Com a carreta, alguns índios e padres jesuítas e atrás deles, sedentos de sangue e ouro, os bandeirantes. 
Ao chegarem às margens de uma lagoa, não puderam mais. 
Desuniram os bois e atiraram a carreta com toda a sua preciosa carga na lagoa, muito profunda. Os animais sob o peso da carga, puxados pelos índios, entravam na lagoa, submergindo, morrendo e sepultando consigo no líquido da lagoa a preciosa carga. 
Daí então para cá, as águas tornaram-se de uma cor vermelho amarelada, que nunca mudou de tom, simbolizando o ouro sagrado. 
A lagoa ficou perene em tudo, nunca mudou de cor, nunca aumentou de volume e também não diminui com secas; não transborda e a sua quietude no ambiente da plaga campestre constitui a proteção de uma riqueza inviolável e sagrada, confiada à sua perenidade. 
Até hoje, ninguém pode desvendar o mistério da lenda. 
A lagoa é bem profunda, existe muito lodo no leito e a população respeita com amor religioso o preceito da lenda. Essa fé à lenda afasta os ambiciosos e ninguém se aventurou em profaná-la. 
Assim foi e assim será, porque, segundo a lenda, se um dia alguém esgotar a fonte sagrada, secará as águas dos rios e tudo se transformará em deserto. 
Ao seu redor, cresceu uma bela cidade, que tomou seu nome – Lagoa Vermelha. E cada vez que um dos seus moradores passa na beira das águas coloradas, lembra que ali ninguém se banha, nem pesca, pois, conforme a lenda, a Lagoa não tem fundo.

Lagoa Vermelha

Fontes:

http://www.lagoavermelha.rs.gov.br/municipio/historia-e-lenda/
http://www.lendas-gauchas.radar-rs.com.br/lagoa_vermelha.htm

terça-feira, 27 de março de 2018

Mulher Farrapa

Quando se fala em Revolução Farroupilha, logo se pensa nos homens que lutaram contra o Império durante dez anos, mas esta guerra teve centenas de heroínas anônimas. Mulheres que apesar do sofrimento por ver o marido e os filhos partirem para a luta, sem saber se voltariam vivos, tiveram que assumir suas casas e estâncias para assim manter a economia e a sociedade.
A Revolução Farroupilha colocou a mulher num encontro ingrato e arriscado com a vida, porém, por mais ameaçadoras, que se tenham apresentadas as circunstâncias, ela sempre soube manter-se firme: quanto mais a situação era adversa, mais a mulher soube se transformar na forja sagrada das convicções do herói farroupilha. 
A mulher guerreira ficou conhecida “vivandeira” ou chinas de soldado que acompanhavam os homens nos campos de batalha, cuidando de sua roupas e comida. “Andavam à cauda das colunas militares, a cavalo ou em carretas, incitando os soldados às lutas, curando suas feridas ou aquecendo-lhes o corpo e a alma”. 
A mulher estancieira foi a mulher que permaneceu na estância, administrando as lides campeiras e domésticas, tomando conta do lar, dos filhos, e cuidando dos negócios do homem ausente, que rezava pelos vivos e chorava os mortos. Era aos olhos de Deus e da sociedade patriarcal – a mãe, a esposa, a filha – permanecendo em casa, aguardando ansiosa o desfecho da guerra e o retorno do guerreiro. A história também registra a mulher farroupilha do decênio heróico, que foi a mulher que de uma forma ou de outra figurou na história oficial do decênio heróico. Dentre elas, citamos Anita Garibaldi (Ana Maria de Jesus), mulher intensamente feminina, ativa, forte de ânimo, de decisões rápidas, uma exímia cavaleira, que despertou em Giuseppe Garibaldi um fortíssimo sentimento, mesmo nos poucos contatos que tiveram em Santa Catarina, quando da invasão de Laguna pelas tropas farroupilhas; além de Maria Josefa da Fontoura Palmiro, que promovia reuniões políticas em sua casa, em Porto Alegre, em apoio a Bento Gonçalves e aos Farrapos, e também defendia a libertação dos escravos e a causa farroupilha. Foi neste dificílimo momento, que o valor da mulher farroupilha foi testado, fazendo com que seu coração vivenciasse as inúmeras novas circunstâncias, levando-a a sujeitar-se às necessidades, aos infortúnios; mas,ela foi competente em sua função e incansável no desempenho do seu papel. Encantadora e generosa, companheira, não se deixou arrastar por convicções derrotistas, deixando na história um admirável perfil, abrindo perspectivas esplêndidas de esperança para seu companheiro, com admiráveis e imprescindíveis fatores decisivos e determinantes da inacreditável persistência dos farrapos. Numa época de revolta e de falta de carinho, essas mulheres nunca deixaram a afetividade de lado, pois sempre se reuniam nas estâncias e se uniam para rezar pelos vivos ou chorarem pelos mortos. 
A mulher farroupilha, com seu sentimento de compreensão e solidariedade, muito auxiliou o desenvolvimento da semente da República Rio-grandense, fazendo frutificar em heroísmo, a alma da gente farroupilha. Ela soube avaliar e enfrentar o perigo, não para receá-lo e sim para combatê-lo. Esta foi a mais sublime e valorosa lição feminina, raramente descrita com a merecida justiça. Este é o lado da revolta que não é muito enfatizado, mas que sem o auxílio dessas mulheres para seus maridos, provavelmente, a revolta dos farrapos não teria alcançado tanto destaque. Mesmo que a presença do homem se mostre como fundamental nos conflitos, o apoio das mulheres se revela como um papel importante no desenrolar dos mesmos, sobretudo, no reforço dos laços de solidariedade e no apoio prestado entre os que estavam envolvidos diretamente na guerra.

Por: Paulo Mena - Pesquisador