segunda-feira, 2 de maio de 2022

O Tratado de Ponche Verde

O Tratado de Poncho Verde foi um acordo que pôs fim à Revolução Farroupilha, onde ficou definida a volta do território da província do Rio Grande do Sul, a fazer parte do Império do Brasil. À data de sua assinatura acontece em 1º de março de 1845, quando foi anunciada a paz.
Ponche Verde é uma região assim denominada pelos seus verdes campos, ótimos para a criação de gado, que faz parte atualmente do município de Dom Pedrito, localizado no sul do estado do Rio Grande do Sul.
Em 18 de dezembro de 1844, D. Pedro II elaborou um decreto, de conteúdo reservado, dispondo sobre as condições de paz. Estas condições poderiam ser adaptadas e autorizadas pelo Barão de Caxias nas negociações.
Ainda em 1844, Bento Gonçalves iniciou conversações de paz, mas retirou-se por discordar de Caxias em pontos fundamentais, assumindo no seu lugar Davi Canabarro.
Na verdade não foi uma paz fácil de ser realizada, pois um dos impasses era que o Império queria negociar uma anistia, mas os farrapos rejeitavam, entendendo que o acordo deveria ser através de um tratado de paz, fato esse que o governo central recusava, com o argumento que tratados se faziam entre países e a república rio-grandense não era reconhecida. O que podemos entender é que Caxias usava uma linguagem dupla, para satisfazer os farroupilhas e outra que evitasse condições inaceitáveis pelo Império. Através de documentos pode-se entender também que Canabarro e Vicente da Fontoura se submeteram em parte, as condições impostas pelos imperiais, sem dar um reconhecimento maior aos seus companheiros farroupilhas. Uma dessas condições seria não haver um acordo assinado em conjunto.
Em Ponche Verde, no final de fevereiro de 1845, foram examinados pelos republicanos os termos do documento, já assinado por Caxias, que foi intitulado de Convenção de Paz entre o Brasil e os republicanos. O general David Canabarro, comandante em chefe do exército republicano, investido de poderes para representar a presidência da República, aceitou as condições. Farrapos e imperiais se reuniram no Acampamento Imperial de Carolina, em Ponche Verde, região do atual município de Dom Pedrito, para decretar a pacificação da província. Foram 12 as cláusulas da pacificação. Foram lidas em Ponche Verde no dia 25 de fevereiro, por Antônio Vicente da Fontoura:
Art. 1° - Fica nomeado Presidente da Província o indivíduo que for indicado pelos republicanos.
Art. 2° - Pleno e inteiro esquecimento de todos os atos praticados pelos republicanos durante a luta, sem ser, em nenhum caso, permitida a instauração de processos contra eles, nem mesmo para reivindicação de interesses privados.
Art. 3° - Dar-se-á pronta liberdade a todos os prisioneiros e serão estes, às custas do Governo Imperial, transportados ao seio de suas famílias, inclusive os que estejam como praça no Exército ou na Armada.
Art. 4° - Fica garantida a Dívida Pública, segundo o quadro que dela se apresente, em um prazo preventório.
Art. 5° - Serão revalidados os atos civis das autoridades republicanas, sempre que nestes se observem as leis vigentes.
Art. 6° - Serão revalidados os atos do Vigário Apostólico.
Art. 7° - Está garantida pelo Governo Imperial a liberdade dos escravos que tenham servido nas fileiras republicanas, ou nelas existam.
Art. 8° - Os oficiais republicanos não serão constrangidos a serviço militar algum; e quando, espontaneamente, queiram servir, serão admitidos em seus postos.
Art. 9° - Os soldados republicanos ficam dispensados do recrutamento.
Art. 10° - Só os Generais deixam de ser admitidos em seus postos, porém, em tudo mais, gozarão da imunidade concedida aos oficiais.
Art. 11° - O direito de propriedade é garantido em toda plenitude.
Art. 12° - Ficam perdoados os desertores do Exército Imperial.
Os republicanos também conseguiram que o governo imperial elevasse em 25% a taxa sobre o charque importado, mas nem todas as cláusulas são integralmente cumpridas pelo exército imperial.
- Os farrapos não escolhem seu presidente provincial e o barão de Caxias é indicado a senador pelo Império.
- O Império não ressarci integralmente as dívidas de Guerra contraídas pela província do Rio Grande do Sul, elas não são devidamente contabilizadas e tendo sido pago apenas há alguns pouca quantia.
- Não houve a libertação de todos os escravos que lutaram no Exército Farroupilha, a fim de se evitar a insurgência dos negros pelo resto do Império. Alguns são devolvidos aos seus donos, mediante reivindicação, outros são levados para Rio de Janeiro e vendidos a outros senhores. Os que fazem parte do corpo de Lanceiros Negros, comandados por Canabarro, são massacrados na Batalha de Porongos, mais conhecida como massacre de Porongos. Apenas 120 soldados são mandados incorporar por Caxias aos três Regimentos de Cavalaria de Linha do Exército na Província.
No local onde houve as tratativas entre farroupilhas e imperiais, existe um obelisco de granito, a beira de uma estrada, a 45 km da cidade de Dom Pedrito, onde lêem-se estas palavras: “Nestes campos de Ponche Verde, em 1º de março de 1845, os defensores do Império e os republicanos de Piratini asseguraram a unidade nacional, com a pacificação do Rio Grande do Sul”.
Dessa forma o Tratado de Ponche Verde foi uma “forma honrosa” de acabar um conflito onde os farrapos se apresentavam, defasados em relação ao exército imperial.
Sendo assim a partir de 1º de março de 1845 o território do Rio Grande do Sul volta a integrar o império brasileiro e posteriormente, em 15 de novembro de 1889, à República Federativa do Brasil.


Por: Diones Franchi
Jornalista e mestre em história


Fontes:
Flores, Moacyr. História do Rio Grande do Sul, 1986.
Flores, Moacyr. Negros na Revolução Farroupilha, 2004
História Ilustrada do Rio Grande do Sul, 2004.
URBIM, Carlos. Os Farrapos - Porto Alegre, 2001.

 

Monumento a Paz Farroupilha - Dom Pedrito - RS

Obelisco da Paz - Dom Pedrito - RS



Mata – A cidade da pedra que foi madeira

Mata é uma cidade situada na área central do Rio Grande do Sul, onde possui uma imensa floresta de fósseis, contendo um jardim paleobotânico de 200 milhões de anos. A cidade também é conhecida pelos fósseis de dinossauros encontrados na região. O turismo influi diretamente na economia do Município, pois se constitui de importante fator de desenvolvimento. Mata, possui numerosas atrações culturais e turísticas, sendo considerado um verdadeiro Museu a Céu Aberto, cobertos por fósseis de pedras que já foram árvores, possuindo a maior reserva em área delimitada de fósseis do Brasil, para estudos científicos.
Mata é um importante ponto turístico do Rio Grande do sul, por fazer parte diretamente da pré - história do estado e do Brasil. Além da própria cidade que possui esses fósseis espalhados, o Jardim paleobotânico, possui uma a área de 36.000 m2, sendo a única reserva delimitada do Brasil em quantidade de fósseis do gênero. O local fica a cerca de 80 km de Santa Maria e foi descoberto em 1976, pelo Padre Daniel Cargnin, quando Mata ficou conhecida como "cidade da madeira que virou pedra" ou “cidade da pedra que foi madeira”.
A cidade de Mata faz parte, dos Sítios Paleobotânicos do Arenito Mata, criado pela Comissão Brasileira de Sítios Geológicos e Paleobiológicos. De idade Triássica, estas exposições de "florestas petrificadas" estão entre os mais importantes registros do planeta, tendo se formado a mais de 200 milhões de anos. No Museu da cidade denominado Padre Daniel Cargnin você encontra uma coleção com mais de 2.500 peças com fosseis animais, vegetais, minerais e na parte da arqueologia, sendo considerado um dos museus mais completos que existe também para estudos científicos. O acervo conta com material considerados, como um dos mais antigos do Rio Grande do Sul.
A cidade é tombada pelo patrimônio histórico e cultural, onde é composto por madeiras que passaram por processo de fossilização e se transformaram em pedra.
A explicação para a formação dos fósseis, segundo os paleontólogos, têm relação com um abalo no eixo da terra, que soterrou tudo, mantendo uma camada composta de mineral com água e sílica.
Dessa forma a madeira ficou toda soterrada e a água foi se infiltrando na própria madeira, tirando os pedacinhos de madeira e mineral, cristalizando no local. Seria uma substituição da matéria orgânica pela mineral.
Todos os anos, cerca de 10 mil pessoas visitam a cidade de Mata. E os fósseis não estão apenas nos museus. A madeira que virou pedra também é encontrada na arquitetura das casas, nas igrejas, nos detalhes das praças e até nas calçadas. Certamente é uma cidade que conta a verdadeira pré-história do estado do Rio Grande do Sul.


Por: Diones Franchi
Jornalista e mestre em História


Fontes:
- História Ilustrada do RS – RBS Publicações.
- Portal G1 - https://g1.globo.com/.../jardim-paleobotanico-de-200...
- Prefeitura de Mata – https://www.mata.rs.gov.br/

                                                             Pórtico de entrada Mata - RS

                                                                   Monumento Petrificado


                                                                        Praça petrificada


                                                                       Jardim Paleobotânico