terça-feira, 31 de maio de 2016

Chico Diabo - Um herói esquecido

As vezes a história não destaca personagens que foram importantes para o contexto dos acontecimentos. Esse é o caso de José Francisco Lacerda, conhecido mais tarde como Chico Diabo. Lacerda foi um militar que lutou na Guerra do Paraguai e ficou famoso por ter matado o ditador paraguaio Francisco Solano López, na batalha de Cerro Corá em 1º de março de 1870. Nasceu no ano de 1848 no atual município de Camaquã e desde criança trabalhava.Quando guri conseguiu emprego em uma carniçaria (açougue) de propriedade de um italiano. Em 1863, após o almoço, o seu patrão deixou-o cuidando a carniçaria e foi atender ao seu antigo hábito da sesta; por um descuido, um cachorro entrou no recinto onde estava guardada a carne e conseguiu roubar um pedaço; quando o patrão levantou, Francisco, imediatamente, comunicou-lhe do acontecido o que provocou uma forte reação do italiano, manifestada por uma impar ira e xingada no moço que, diante da inusitada situação, disse-lhe que iria embora para a casa dos pais; porém, o senhor retrucou-lhe dizendo que o mesmo não sairia dali sem, antes, apanhar uma surra; após essas palavras, encerrou-o na carniçaria, atou a porta da mesma com um tento e, com um relho, começou a bater-lhe ao redor de uma mesa. Em dado momento, Chico conseguiu apanhar uma faca, que havia sobre a mesa e investiu desesperadamente contra o seu agressor atingindo-o mortalmente no abdômen; foi quando o moço percebeu que havia matado o seu patrão. Imediatamente, fugiu para a casa de seus pais no município de Camaquã onde chegou à primeira hora da manhã do outro dia tendo, portanto, caminhando a pé, toda a tarde e toda a noite. No momento em que os seus pais perceberam que vinha alguém atalhando o campo em direção a sua morada, tão cedo da manhã, antes de identificar de quem se tratava a sua mãe teria dito: “Garanto que é aquele diabinho que vem vindo”, dai surgiu seu apelido de Chico Diabo. Esclarecidos os motivos da sua fuga, os pais providenciaram a imediata remoção de Chico Diabo para a propriedade do seu tio Vicente Lacerda em Bagé, onde chegou com 15 anos de idade. Em 1865, portanto, com 17 anos, quando uma força de “Voluntários da Pátria” passava pela residência do seu tio, o então Coronel Joca Tavares, que a comandava, convidou-o para integrar o exército brasileiro o que foi prontamente aceito, e o consentimento do seu tio Vicente Lacerda concretizou sua participação na Guerra do Paraguai. Nessa guerra celebrizou-se por haver lanceado, na virilha, do ditador do Paraguai Francisco Solano Lopez, no dia 1º de março de 1870 no local denominado Cerro Corá pondo fim ao mais significativo conflito bélico da América do Sul. Chico Diabo faleceu no Uruguai em 1893, seus restos mortais foram enterrados em Bagé.

 Chico Diabo na Guerra do Paraguai

Francisco Lacerda - Chico Diabo


domingo, 1 de maio de 2016

Revolução Federalista - A "Guerra das degolas".


A Revolução Federalista foi um confronto armado ocorrido no Rio Grande do Sul de 1893 a 1895, também conhecida como a Guerra das Degolas, já que muita gente foi realmente degolada. 
Naquela época o Rio Grande do Sul se dividia em duas facções, uma formada pelos republicanos do então presidente do estado Julio de Castilhos, conhecido também como Pica- Paus e do outro lado, pelos os opositores liderados por Gaspar Silveira Martins do Partido Federalista, que defendiam um regime parlamentarista com um poder central forte, conhecidos também como maragatos. Pica-paus era como os federalistas chamavam os inimigos, pela semelhança do quepe dos oficiais republicanos com o pássaro, de bico fino e comprido. Os republicanos por sua vez, chamavam os federalistas de maragatos, numa alusão aos uruguaios, oriundos da Maragataria na Espanha.
A Revolução Federalista iniciou em 2 de fevereiro de 1893, mas seus acontecimentos se originaram muitos antes, em 19 de novembro de 1890, data em que o presidente Deodoro da Fonseca decreta a anulação do banimento dos monarquistas. Isso possibilita o retorno de Gaspar Silveira Martins ao estado. Sua volta é o incentivo para formar uma oposição contra o presidencialismo e a favor do parlamentarismo. Em 31 de março de 1892 é formado em Bagé, o Partido Federalista. 
Júlio de Castilhos se torna o presidente da província e cada vez mais reprime os federalistas.
O motivo da Revolução Federalista acontece devido aos diferentes ideais políticos, onde os Maragatos, Gasparistas, acusam o estado de tirano e de querer manter um regime de perseguições. 
A luta se caracteriza pelo controle do aparelho do estado, formando se o conflito que passaria do debate pela imprensa e pelo parlamento, as disputas eleitorais até o confronto bélico.
Nas eleições da assembleia constituinte, a União nacional não participou do pleito, propondo abstenção de seus eleitores neste sufrágio. Com isso a chapa do Partido Republicano foi eleita, sob denúncias de corrupção e fraudes eleitorais de parte dos oposicionistas.
Apesar da participação da oposição o resultado das eleições foi de vitória dos candidatos do PRR (Partido Republicano Rio-grandense), novamente diante de acusações de fraudes.
Em 15 de julho de 1891 Julio de Castilhos é eleito presidente do estado e assume funções na Constituinte Federal, promulgando a Constituição do Estado do Rio Grande do Sul, obra elaborada por ele próprio.
Essa constituição garantiria a continuidade perpétua dos castilhistas no poder, passando a ser um dos principais alvos de criticas da oposição. A república não estava disposta a perder eleições para os antigos partidos monárquicos, introduzindo o voto descoberto, apoiado num sistema parcializado e viciado de alistamento e de apuração.
Revoltados com essa posição, em 1892, os liberais por esses motivos reuniram-se em Bagé e criaram o Partido Federalista.
Em 17 de junho de 1892 acontece o levante dos castilhistas e Júlio de Castilho é recolocado no governo do estado. A partir desse momento começara os primeiros sinais de resistência da oposição, sendo que Joca Tavares é colocado como presidente do estado, mantendo um governo paralelo em Bagé, mas que durou pouco com a intervenção do Exército Nacional. Castilhos renuncia em favor de Vitorino Monteiro, que fica no cargo por apenas três meses, assumindo Fernando Abbott, secretário do interior até as eleições estaduais de 1892. Floriano Peixoto decidira apoiar Júlio de Castilhos, pois a oposição dos federalistas era dissidente da monarquia.
As eleições estaduais foram marcadas para novembro de 1892 e o resultado levou mais uma vez Julio de Castilhos para reassumir o estado em 25 de janeiro de 1893. Castilhos sustentava a vigência e a legitimidade da Constituição Estadual, oferecendo garantias de uma eleição livre e fiscalizada pelas duas facções, mas Silveira Martins insistia num pleito que assegurasse representação de 1/3 à minoria e a elaboração de uma nova carta constitucional, com recíprocas concessões.
Sem nenhum sucesso eleitoral e nenhuma exigência atendida à oposição acabaria por escolher pela luta armada. A partir de fevereiro de 1893, com a invasão do território sul-rio-grandense pelos rebeldes, surgindo a Revolução Federalista. Começou então uma série de confrontos entre federalistas e republicanos, sendo destaques os combate do Inhanduí, Cerco de Bagé, Combate do Rio Negro no Rio Grande do Sul e Cerco da Lapa no Paraná. 
A paz foi assinada em 23 de agosto de 1895 na cidade de Pelotas. A Revolução Federalista durou 31 meses, resultando uma das maiores lutas sangrentas da História do Brasil.

A Guerra das Degolas

Referências:

ALVES, Francisco das Neves. Revolução Federalista: história e historografia. Rio Grande: Editora da Furg, 2002

TABORDA,Tarcísio. GARCIA, Élida Hernandes. Bagé de Ontem e de Hoje. Ed: Ediurcamp, 2015

PESAVENTO, Sandra J. A Revolução Federalista. São Paulo: Brasiliense, 1983.