terça-feira, 27 de março de 2018

Mulher Farrapa

Quando se fala em Revolução Farroupilha, logo se pensa nos homens que lutaram contra o Império durante dez anos, mas esta guerra teve centenas de heroínas anônimas. Mulheres que apesar do sofrimento por ver o marido e os filhos partirem para a luta, sem saber se voltariam vivos, tiveram que assumir suas casas e estâncias para assim manter a economia e a sociedade.
A Revolução Farroupilha colocou a mulher num encontro ingrato e arriscado com a vida, porém, por mais ameaçadoras, que se tenham apresentadas as circunstâncias, ela sempre soube manter-se firme: quanto mais a situação era adversa, mais a mulher soube se transformar na forja sagrada das convicções do herói farroupilha. 
A mulher guerreira ficou conhecida “vivandeira” ou chinas de soldado que acompanhavam os homens nos campos de batalha, cuidando de sua roupas e comida. “Andavam à cauda das colunas militares, a cavalo ou em carretas, incitando os soldados às lutas, curando suas feridas ou aquecendo-lhes o corpo e a alma”. 
A mulher estancieira foi a mulher que permaneceu na estância, administrando as lides campeiras e domésticas, tomando conta do lar, dos filhos, e cuidando dos negócios do homem ausente, que rezava pelos vivos e chorava os mortos. Era aos olhos de Deus e da sociedade patriarcal – a mãe, a esposa, a filha – permanecendo em casa, aguardando ansiosa o desfecho da guerra e o retorno do guerreiro. A história também registra a mulher farroupilha do decênio heróico, que foi a mulher que de uma forma ou de outra figurou na história oficial do decênio heróico. Dentre elas, citamos Anita Garibaldi (Ana Maria de Jesus), mulher intensamente feminina, ativa, forte de ânimo, de decisões rápidas, uma exímia cavaleira, que despertou em Giuseppe Garibaldi um fortíssimo sentimento, mesmo nos poucos contatos que tiveram em Santa Catarina, quando da invasão de Laguna pelas tropas farroupilhas; além de Maria Josefa da Fontoura Palmiro, que promovia reuniões políticas em sua casa, em Porto Alegre, em apoio a Bento Gonçalves e aos Farrapos, e também defendia a libertação dos escravos e a causa farroupilha. Foi neste dificílimo momento, que o valor da mulher farroupilha foi testado, fazendo com que seu coração vivenciasse as inúmeras novas circunstâncias, levando-a a sujeitar-se às necessidades, aos infortúnios; mas,ela foi competente em sua função e incansável no desempenho do seu papel. Encantadora e generosa, companheira, não se deixou arrastar por convicções derrotistas, deixando na história um admirável perfil, abrindo perspectivas esplêndidas de esperança para seu companheiro, com admiráveis e imprescindíveis fatores decisivos e determinantes da inacreditável persistência dos farrapos. Numa época de revolta e de falta de carinho, essas mulheres nunca deixaram a afetividade de lado, pois sempre se reuniam nas estâncias e se uniam para rezar pelos vivos ou chorarem pelos mortos. 
A mulher farroupilha, com seu sentimento de compreensão e solidariedade, muito auxiliou o desenvolvimento da semente da República Rio-grandense, fazendo frutificar em heroísmo, a alma da gente farroupilha. Ela soube avaliar e enfrentar o perigo, não para receá-lo e sim para combatê-lo. Esta foi a mais sublime e valorosa lição feminina, raramente descrita com a merecida justiça. Este é o lado da revolta que não é muito enfatizado, mas que sem o auxílio dessas mulheres para seus maridos, provavelmente, a revolta dos farrapos não teria alcançado tanto destaque. Mesmo que a presença do homem se mostre como fundamental nos conflitos, o apoio das mulheres se revela como um papel importante no desenrolar dos mesmos, sobretudo, no reforço dos laços de solidariedade e no apoio prestado entre os que estavam envolvidos diretamente na guerra.

Por: Paulo Mena - Pesquisador