quinta-feira, 10 de novembro de 2016

O Jornal Farroupilha

O Jornal “O Povo” foi, o mais importante jornal dos farroupilhas e o periódico oficial da República Rio-grandense. Se auto intitulava um "jornal político, literário e ministerial da República Rio-grandense".Era editado pelo jornalista Luigi Rossetti e organizado por Domingos José de Almeida. Para iniciar o jornal Domingos comprou as prensas em Montevidéu com o produto da venda de 17 escravos de sua propriedade. A tipografia e a redação foram inicialmente instaladas na mesma casa onde Rossetti morava com Giuseppe Garibaldi, localizada hoje na Avenida Bento Gonçalves nº 182, em Piratini a primeira capital farroupilha. Essa casa foi construída entre 1830 e 1832, e na época era localizada na antiga Rua Clara. Um mês e meio depois de sua fundação os exemplares do jornal foram proibidos de circularem em Porto Alegre que detinha as tropas imperiais.
O Jornal O Povo foi o primeiro periódico publicado depois da proclamação da República Rio-Grandense, tendo sua primeira publicação em 1° de setembro de 1836 até 6 de março de 1839 na cidade de Piratini. Com a mudança da capital da república o jornal transferiu-se para Caçapava do Sul continuando a ser editado até 22 de maio de 1840. Foi brevemente editado por Giovanni Battista Cuneo, após a saída de Rossetti, pouco menos de um mês antes do término do jornal. Logo após a tipografia farroupilha foi atacada por tropas imperiais e destruída. 
O jornal farroupilha era bissemanal, circulando às quartas-feiras e aos sábados, quando não havia interrupção devido a circunstâncias da guerra. 
O Jornal O Povo durou mais tempo e teve mais números de edições publicadas do que o jornal farroupilha anterior, intitulado de O Mensageiro que tivera pouco mais de um ano de atividade, entre 22 de abril de 1835 e 3 de maio de 1836. 
O Jornal O Povo teve 160 números e se notabilizou como o instrumento de voz dos farroupilhas ao povo sul-rio-grandense.

segunda-feira, 7 de novembro de 2016

Lobisomem do Cemitério

Aproximadamente na década de 70, na rua 2 de Novembro, onde até hoje se encontra o Cemitério Católico da cidade de Rio Grande, atuava o famoso “Lobisomem do Cemitério”.
Pessoas que passavam tarde da noite por ali diziam que um estranho bicho aparecia sempre a meia noite. Assim que alguém passava, ele pulava do alto muro do cemitério e assustava as pessoas. Os que eram assustados por ele, revelavam que o bicho era meio homem, meio animal. Foi a partir desse depoimento que as pessoas começaram a acreditar que se tratava de um lobisomem. Notaram também que o bicho uivava quando agia.
Mas o segurança da Viação Férrea (que ficava em frente ao Cemitério) não acreditava no que estava acontecendo. Então ele resolveu vigiar uma noite inteira o cemitério para ver se o que falavam era verídico. Assim que deu meia noite em seu relógio ele ficou mais atento em tudo que estava em sua volta. Foi aí que ele ouviu um uivo muito alto, no instante uma senhora passava pela frente do cemitério (uma mendiga), e o lobisomem saia do muro. O segurança começou a atirar, e o lobisomem saiu em disparada.
Desse dia em diante nunca mais se ouviu falar nele, mas nada dura para sempre, a qualquer momento pode aparecer um para voltar a assustar a cidade.

Nota: O lobisomem é um dos mais populares monstros fictícios do mundo. Suas origens se encontram na mitologia grega, porém sua história se desenvolveu na Europa. A lenda do lobisomem é muito conhecida no folclore brasileiro e principalmente no Rio Grande do Sul, sendo que algumas pessoas, especialmente aquelas mais velhas e que moram nas regiões rurais, de fato creem na existência do monstro.
A figura do lobisomem é de um monstro que mistura formas humanas e de lobo. Segunda a lenda, quando uma mulher tem 7 filhas e, depois, um homem, esse último filho será um Lobisomem.
Quando nasce, a criança é pálida, magra e possui as orelhas um pouco compridas. As formas de lobisomem aparecem a partir dos 13 anos de idade. Na primeira noite de terça ou sexta-feira após seu 13º aniversário, o garoto sai à noite e no silêncio da noite se transforma pela primeira vez em lobisomem e uiva para a Lua, semelhante a um lobo.
O Lobisomem é uma lenda gaúcha que permite outras versões pelas cidades do Rio Grande do Sul. Ela faz parte da cultura gaúcha e das memórias do pampa.


A batalha "mais sangrenta e gentil" da Revolução Farroupilha

A Revolução Farroupilha se comemora no dia 20 de setembro, data em que os farroupilhas tomam e cercam a cidade de Porto Alegre, mas a batalha que deu fama aos farroupilhas por sua hombridade foi sem dúvida a a batalha de São José do Norte.
Bento Gonçalves que estava no cerco à cidade de Porto Alegre, traçou com seus comandantes um ataque surpresa a cidade de São José do Norte, que estava sob o domínio imperial. O objetivo era através de São José do Norte, conseguir invadir a cidade de Rio Grande e tomar seu porto marítimo.
Bento Gonçalves que havia deixado o cerco de Porto Alegre, sob o comando de David Canabarro, assumiu o comando das tropas que rumaram em direção a São José do Norte, com o apoio de seus comandantes, Domingos Crescêncio que comandava a divisão de infantaria, seu primo Onofre Pires no comando da cavalaria e Giuseppe Garibaldi comandando um esquadrão de infantaria, do qual também faziam parte seus marinheiros. No total o numero de soldados farrapos que partiram para esta batalha, chegava em torno de mil homens. Na madrugada de 16 de julho de 1840, desferiram um ataque surpresa as tropas imperiais comandadas pelo coronel Antônio Soares Paiva, sendo que os imperiais foram pegos de surpresa, mas reagiram ferozmente ao ataque. Foram eles favorecidos por uma tempestade que caiu durante a batalha e impediu o avanço dos farrapos. Mesmo assim a batalha durou horas deixando muitas baixas dos dois lados.
A decisão crucial do desfecho desta batalha ficou nas mãos de Bento Gonçalves que teve que tomar uma escolha para sair vitorioso ou recuar e desistir da tomada da cidade. A solução seria atear fogo na cidade obrigando a retirada das tropas imperiais. Essa decisão teria um alto preço, pois acabaria atingindo toda a população que residia na cidade e causaria muitas mortes.
Tudo levava a crer que os farrapos, em maior número venceriam. Bento Gonçalves reuniu os oficiais e perguntou como poderiam tomar definitivamente a vila. A resposta: deveriam incendiar São José. Apavorado com a possibilidade de destruição e de mais mortes, Bento demonstrou grandeza: “Por tal preço não quero a vitória”. E ordenou a retirada do quase vitorioso exército farroupilha. (URBIM. 2008. p. 130).
Seria praticamente a grande tentativa dos farrapos nos campos de batalha e a última chance de tomada do porto de Rio Grande. 
Nos anos seguintes os farrapos começaram a viver momentos difíceis na guerra, por vários motivos como o desgaste de longos anos de guerra, dificuldade de recrutar novos soldados, intrigas que começaram a surgir internamente e uma posição mais dura dos imperiais em relação à revolta que não tinha fim na província.
A tentativa de tomar São José do Norte, para garantir um porto, resultou naquele que foi considerado o combate mais sangrento da guerra. Conta-se que as ruas da vila ficaram cobertas de cadáveres. Nele, os farroupilhas tiveram 181 mortos, 150 feridos e 18 deles foram feitos prisioneiros. Os imperiais tiveram 72 mortos, 87 feridos e 84 prisioneiros.
Apesar da violência do evento, ele também é lembrado pelo gesto cavalheiresco do coronel Antonio Soares Paiva, que comandava a guarnição legalista da cidade. Ao término do combate, Bento Gonçalves - que estava à frente das tropas farrapas - lhe enviou uma mensagem, dizendo que se achava sem médico e remédios para seus feridos. O coronel Paiva, então, lhe mandou um médico e metade dos medicamentos de que dispunha. Em agradecimento, Bento libertou todos os prisioneiros legalistas.

Fontes:

A Revolução Farroupilha, Sandra Jatahy Pesavento, Editora Brasiliense, Lígia Gomes Carneiro | Raízes Sócio-econômicas da Guerra dos Farrapos, Leitman, Spencer - Ed. Graal, 1979 | A Revolução Farroupilha: história e interpretação, Freitas, Décio et alli. Ed. Mercado Aberto, 1985 |

Imagem: Quadro Marcha de Bento Gonçalves a São José do Norte, de José Américo Roig (Zeméco)