quinta-feira, 8 de junho de 2023

Dialeto Gaúcho

O dialeto gaúcho, também conhecido como dialeto guasca, é um dialeto português falado no Rio Grande do Sul e em algumas outras partes do Brasil, onde exista uma presença de população de gaúchos. É fortemente influenciado pelo espanhol devido a colonização espanhola, tendo influência do guarani e de outras línguas indígenas, possuindo diferenças léxicas e semânticas em relação ao português padrão. Na fronteira com o Uruguai e Argentina a influência castelhana se acentua, enquanto que regiões colonizadas por alemães e italianos mantém as respectivas influências. Vale ressaltar que assim como no Brasil, existem no Uruguai e na Argentina os gaúchos, conhecidos como o termo “gaucho”. Algumas palavras de origem africana e até mesmo da língua inca também podem ser encontradas. Foi publicado um dicionário "gaúcho-brasileiro" por Batista Bossie, listando as expressões regionais e seus equivalentes na norma culta.

Tchê

Tchê é uma interjeição muito utilizada no Rio Grande do Sul. Sua origem vem do espanhol “che” falado na Argentina, Uruguai e Paraguai. O tchê, portanto, é uma variação do “che”, oriundo da forma de grafar em português como ele é pronunciado no espanhol, como se tivesse um”t” e com o “e” fechado (ê). A interjeição “che” pode ser empregada com dois sentidos: a) como expressão de espanto e dúvida; como o sentido de companheiro, amigo, irmão, camarada. Há controvérsias quanto à sua etimologia. Uma das versões diz ser originária do dialeto falado pelos índios guaranis, em que “che” significa eu, meu, ei. Em decorrência disso, era empregada no início de frases. Outra versão afirma que “che” é uma forma abreviada usada pelo espanhol para a palavra latina “caelestis” (em latim, lê-se tchelestis), com o significado de gente do céu, criatura de Deus, menino do céu. Na linguagem regional gauchesca, prevalece, atualmente, a forma escrita e falada “tchê”, empregada geralmente ao final de uma frase, como expressão de espanto, surpresa ou como forma de chamar a atenção de alguém, como se fosse um vocativo. Exemplo: “O que é isso tchê?” Mas bah tchê, tava bom barbaridade!”

Principais termos, frases típicas e ditados populares da linguagem regional do gaúcho

Abagualado - expressão para descrever alguém grosseiro, rude ou sem muita instrução.
Abichornado - Indivíduo triste, abatido, aborrecido, desanimado, envergonhado.
Arreganhado - adjetivo que significa "exibido", pessoa que gosta de se exibir; ou uma aproximação com intenção de seduzir.
Afuzel / Afudê - usada para expressar que algo era bom, bonito, legal, entre outras coisas boas.
Arriar - também significa fazer graça de alguma coisa, zoar da cara de alguém.
A la pucha - Expressão para manifestar espanto, surpresa, admiração.
À ponta de faca - Ao pé da letra; de forma radical, sem concessões, sem meias palavras, sem meio-termo.
Arranca-rabo e rabo de cavalo - situação conflituosa entre indivíduos; discussão, desavença, briga.
Atucanado - pessoa estressada, que se preocupa com tudo e se diz ocupada com muitas tarefas e com a cabeça cheia de problemas. A etimologia da palavra está relacionada com o tucano.
Bah - uma expressão usada em praticamente todas as frases, e que não tem um significado específico. Serve para enfatizar alguma reação ou sentimento, como tristeza, dúvida ou alegria. Muito usado com o "Tchê", "Bah Tchê".
Bagual - excelente, bom, ótimo ou cavalo xucro.
Balaqueiro - expressão usada para se referir a uma conversa provavelmente cheia de mentiras, a conhecida "conversa-mole" ou "papo-furado".
Barbaridade - Termo usado para indicar surpresa, espanto. Empregado também com o objetivo de destacar, dar ênfase, sob a forma da exclamação: Mas que barbaridade!
Bergamota – é o modo como se chama a tangerina ou mexerica.
Branquinho - beijinho (doce).
Brigadiano - policial da Brigada Militar, conhecida em outros estados como Polícia Militar.
Boca aberta - uma pessoa sonsa, lerda ou burra.
Bodoque - arco de atirar que, composto por um elástico ligado às suas extremidades, é ativado pelo gatilho e usado para arremessar pedrinhas, chamado também de atiradeira ou estilingue.
Bochincho - é uma festa informal, local de bebedeira, desordem, briga, bagunça, baile popular, um arrasta-pé.
Bolicho - Pequeno armazém de secos e molhados. Em feriados e fins de semana, serve como local de encontro onde os homens do campo jogam baralho, bebem um trago e contam causos. O mesmo que bodega ou boteco.
Boia - como os gaúchos chamam comida.
Borracho - bêbado
Buenas - saudação espanhola, muito usada pelos gaúchos.
Bucha - pode ser para expressar que algo é difícil, mas no futebol significa um gol bonito.
Cacetinho - modo como os gaúchos chamam o pão francês, ou pão de sal.
Campeando - sinônimo de "procurando", ato de buscar por algo.
Cancheiro - pessoa que tem experiência e/ou habilidade em alguma coisa
Carpim - meia.
Casamata - banco de reservas (futebol).
Chasque - é um convite, uma carta ou aviso.
Chavear - o mesmo que fechar a porta com chave.
Chapa - pode se referir a uma radiogradia ou uma dentadura, mas também é uma forma de dizer "amigo".
Chimia - geleia de frutas
China - à-toa, mulher ou prostituta.
Chinaredo - bordel; onde fica o chinaredo.
Chinoca - guria que se pilcha de bota e bombacha ao invés do vestido de prenda, prenda que passou dos 30 anos.
Chinelagem - expressão para comportamento despojado, decadente, brega ou desajeitado, ou ainda ato ou objeto de gosto duvidoso ou popular (no sentido de brega). Algo ruim, fraco, bagunçado ou desanimado. Uma pessoa chata também pode ser chamada de chinelo.
Chinelão - pessoa que pratica a chinelagem.
Colorado - torcedor do Sport Club Internacional.
Cuecão - ceroula
Cuia - é o suporte para a erva-mate, sendo o fruto da Cuieira, um tipo de árvore. Pode também ser lavrada e ornada em ouro, prata e outros metais, posteriormente.
Cupincha - camarada, companheiro, amigo (em outras regiões essa expressão também é usada no mundo do crime, sendo sinônimo nesse caso a comparsa, capacho ou jagunço)
Cusco - uma gíria para se referir a "cachorro".
Entrevero - grande confusão de pessoas, animais ou coisas, transformando-se em uma desordem ou um prato típico.
Esgualepado - é o mesmo que machucado, arrebentado e ferido.
Faceiro - alegre, contente.
Fatiota - usado para falar que alguém está bem vestido, principalmente quando a pessoa está de paletó ou terno.
Faixa - é como os moradores do Rio Grande do Sul chamam as estradas asfaltadas.
Fandango - uma festa, qualquer tipo de baile ou divertimento.
Gaudério - homem do campo, pode também ser um indivíduo sem ocupação ou vadio.
Ginete - um cavaleiro habilidoso, que sabe montar bem um cavalo, com destreza e elegância.
Goleira - baliza (campo de futebol)
Guapo - palavra para dizer que alguém é bonito e forte.
Guaiaca - espécie de pochete de couro
Guampa - chifre.
Guaipeca - modo como os gaúchos chamam cachorros, geralmente vira-latas.
Gringo - modo como os gaúchos chamam os descendentes de italiano que moram na serra gaúcha.
Guri /Guria - gíria que pode substituir as palavras "menino" e "menina" em diferentes situações.
Guisado - no Rio Grande do Sul, guisado é o mesmo que carne moída.
Gremista - torcedor do Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense.
Indiada - grupo de várias pessoas.
Inticar - provocar
Lagartear - o mesmo que ficar no sol.
Laço - apanhar, surra ou corda.
Lomba - uma ladeira ou morro para subir ou descer.
Macanudo - Adjetivo que caracteriza o que é excelente, valente, de boa qualidade; que é admirado pela beleza, força, prestígio, poder, inteligência.
Matear - tomar erva-mate.
Matungo - palavra para designar um cavalo velho, que já não serve para o trabalho.
Melena - cabelo
Minuano - vento vindo do sul que traz as massas gélidas do Polo Sul.
Mongolão - não entende as coisas, burro, abobado, taipa ou boca a berta.
Negrinho - brigadeiro (doce).
Ôigale - gíria usada para expressar espanto e alegria.
Orelhano - animal sem nenhum sinal nas orelhas, portanto não foi assinalado, não possui marca de seu dono. Seria um antropônimo originado do padre Cristobal de Mendoza y Orellana, introdutor do gado no Rio Grande do Sul. Para alguns estudiosos, o termo vem do espanhol “orejano”, arisco, agreste, provavelmente derivado de “arilla”, margem, borda, portanto sem nenhuma ligação com a palavra orelha a não ser pela semelhança de grafia.
Paleta - sinônimo de ombro ou a parte superior das costas.
Pandorga - brinquedo também conhecido como pipa ou papagaio.
Parada de ônibus - Ponto de ônibus.
Parelho - liso, homogêneo, igual.
Patente - vaso sanitário.
Pechada - o mesmo que batida, um acidente que envolve dois carros, ou pessoas colidindo.
Peleia - briga
Prenda - como os gaúchos chamam suas mulheres.
Piá - palavra para se referir a um guri, menino criança.
Pingo - ao contrário do matungo, o pingo é um cavalo jovem, com saúde, bonito e cheio de energia.
Pila -palavra regional que dá nome a moeda nacional, no caso o Real (ex: 10 pila, 25 pila - usa-se sempre no singular)
Pousar - o mesmo que dormir na casa de alguém.
Querência - sinônimo para "terra natal", a cidade ou região de origem da pessoa.
Quebra-molas - lombada
Rabicó -gominha de cabelo
Ranheta / Reinento - o mesmo que uma pessoa brava ou reclamona.
Rengo - é algo capenga, mal feito, acabado.
Roleta - catraca.
Rótula - rotatória, redondo.
Sestear = dormir depois do almoço.
Sinaleira - outro nome para semáforo, sinal de trânsito.
Tchê - significa "amigo", "cara". Muito usado, inclusive, junto ao "Bah", no inicio ou fim de frase, formando a expressão "Bah Tchê", que tem a mesma função de surpresa.
Taipa - Parede de pedra com ou sem terra para represar água num açude. Parede de pedra para cerco de animais menores, especialmente o porco. Sujeito tapado, idiota, ignorante, sendo aquela pessoa sonsa, que nunca entende nada. Outras gírias para isso são “mongolão”, “tcho” ou “tanso”.
Talagaço - Porção de bebida alcoólica tomada de uma só vez, num único gole. O mesmo que talagada, mas também significa tomar golpe.
Taura - o mesmo que macanudo (valente).
Terneiro - bezerro
Trampa/Tramposo - é o mesmo que armadilha, pode ser usado ainda como adjetivo para alguém traiçoeiro. Ex.: Cuidado com ele, já me disseram que é um grande tramposo.
Tri - uma expressão usada para dar intensidade as coisas, para que elas pareçam maiores ou melhores. Para isso, basta adicionar o termo “tri” na frente da palavra que você deseja intensificar. Ex.: A festa ontem foi tri legal. Que tri!
Trovar - o mesmo que falar muito e contando vantagem.
Vareio - o ato de vencer com grande vantagem. Diz-se que o jogo foi um vareio.
Vazio - corte de carne conhecido como Fraldinha em outras regiões.
Vianda - palavra usada para se referir a uma marmita de comida.
Vivente - uma expressão utilizada para se referir a uma pessoa. Geralmente é usada com outra gíria, como “bah” e “tchê”. Ex.. Bah, vivente… tenho que contar algo para ti.
Veranear - passar o verão.
Xiru - índio ou caboclo. Na língua tupi quer dizer "meu companheiro".
Xis - hambúrguer.

Existem algumas expressões como: Afiada que nem dentada de traíra, Agarrado como carrapato em costela de boi gordo, Bagaceiro que nem papagaio de zona, Me caiu os butiá do bolso, Cheio que nem penico de velha, Mais solto que nem peido em bombacha, Dar uma banda, Deitar o cabelo, Estar a meia guampa, Mas que frio de renguear cusco, Mais feio que briga no escuro de foice, Mais feliz que lambari de sanga, mas bem capaz.
O Rio Grande do Sul conta com uma grande diversidade de palavras e frases caracterizando a cultura gaúcha composta por um rico vocabulário.


Por: Diones Franchi
Jornalista e Mestre em História

Fontes:
Flores, Moacyr. História do Rio Grande do Sul,1985
Dicionário de Regionalismos do Rio Grande do Sul, de Zeno e Rui Cardoso Nunes, Ed: Martins Livreiro, 1986.
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           O gaúcho e seu vocabulário




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