sexta-feira, 23 de setembro de 2022

A Revolução Farroupilha (1835-1845)

A Revolução Farroupilha foi a mais longa guerra civil da história brasileira, durando de 1835 até 1845. Foram dez anos de batalhas entre Imperialistas e Republicanos, os primeiros defendiam a manutenção do império e os segundos lutavam pela proclamação da república brasileira.

Porque a Revolução Farroupilha aconteceu:

No final do século XVIII, os ideais iluministas e liberais eram apresentados ao mundo. Na Europa a burguesia chegava ao poder após a Revolução Francesa, e na América, os norte-americanos conheciam a independência, após uma longa Guerra Civil.
Os iluministas e os revolucionários franceses defendiam a liberdade e a igualdade de todos perante a lei, a livre iniciativa e o direito à propriedade privada.
Quando essas ideias chegaram ao Brasil, no início do século XIX, a monarquia brasileira passou a ser vista como um atraso ao desenvolvimento econômico do país, principalmente pela burguesia que se formava.
Devido a isso, diversas revoltas - denominadas de Rebeliões Regenciais - estouraram em todo o país. No Rio Grande do Sul iniciava a Revolução Farroupilha.

Como começou a Revolução:

As ideias de autonomia e federalismo, encantam a elite brasileira e ganham força ao natural na província de São Pedro do Rio Grande do Sul.
A distância do poder central, a condição de produtor de alimentos, os elevados impostos pagos ao Império e a recente vivência de guerras impulsionaram o estado gaúcho a não aceitar a submissão que lhe era imposta.
Para piorar o governo central resolveu baixar o imposto sobre a importação de charque estrangeiro. Medida que afetava diretamente as oligarquias gaúchas, já que na época o Rio Grande do Sul era um grande produtor deste item.
Isto somado ao fato da elite rural gaúcha estar cansada dos desmandos do centro do país e do descaso político com o estado, decidiu se rebelar contra o Império.

A Revolução:

No dia 20 de setembro de 1835, tropas farroupilhas marcham sobre Porto Alegre, tomando o poder da cidade. No dia seguinte Bento Gonçalves, líder do levante, entrou triunfante na capital. Bento deu posse ao vice-presidente da província, Marciano Ribeiro, e acalmou a população declarando: "Em nossas mãos, a oliveira substitui a espada".
Alguns dias depois praticamente todo o estado estava em mãos farroupilhas. Somente as cidades de Rio Pardo, São Gabriel e Rio Grande ficaram em poder do Império.
No dia 15 de julho de 1836, os imperialistas reconquistaram Porto Alegre. Bento Gonçalves, líder dos farrapos, tentou a reconquista da capital mas foi frustrado após três horas de luta. A perda de Porto Alegre foi uma derrota decisiva, pois a capital nunca seria reconquistada pelos revolucionários.
Em 09 de setembro de 1836, iniciou a primeira grande batalha. Antônio de Souza Netto, a figura mais respeitada das forças farroupilhas depois de Bento Gonçalves, venceu as tropas imperiais na Batalha do Seival.
A vitória foi tão entusiasmante, que Netto, instigado pelos republicanos radicais, proclamou em 11 de setembro de 1836 a República Rio-Grandense. A decisão emancipava o estado gaúcho do restante do Brasil. A medida deu novos rumos ao levante, configurando o caráter revolucionário do movimento farroupilha.
General Netto proclamou dizendo: "Camaradas! Nós, que compomos a Primeira Brigada do exército liberal, devemos ser os primeiros a proclamar, como proclamamos, a independência dessa província, a qual fica desligada das demais do Império e forma um Estado livre e independente, com o título de República Rio-Grandense, e cujo manifesto às nações civilizadas se fará oportunamente. Camaradas! Gritemos pela primeira vez: Viva a República Rio-Grandense! Viva a independência! Viva o exército republicano rio-grandense!".
Outra medida muito importante foi que todos os escravos que se alistassem nas tropas farrapas seriam libertos. Com isso, o número de soldados farroupilhas dobrava de tamanho.
Contudo, em outubro do mesmo ano, na Batalha do Fanfa, os farroupilhas foram derrotados pelas forças imperialistas. Bento Gonçalves e outros oficiais farroupilhas foram presos e enviados para o Rio de Janeiro, capital do Império.
Na capital, Bento Gonçalves acaba conhecendo o revolucionário italiano Giuseppe Garibaldi. O italiano resolve aderir ao movimento farroupilha. Garibaldi e seus seguidores navegam em direção a o sul do Brasil onde são recebidos como reforços ao exército revolucionário.
As forças imperiais, acreditando que a revolta havia sido sufocada, oferece anistia aos derrotados. Mas Antônio de Souza Netto, agora líder absoluto do movimento, mantém-se rebelado.
Em 05 de novembro de 1836, a câmara municipal da cidade de Piratini oficializa a proclamação da República Rio-Grandense. Mesmo feito prisioneiro, Bento Gonçalves é declarado presidente do novo país, como vice-presidente é nomeado José Gomes Jardim, que assume a presidência interinamente.
Em outubro de 1837, Bento Gonçalves foge da prisão, dois meses depois chega ao Rio Grande do Sul onde assume a presidência da República.
O ano seguinte foi péssimo para os rebelados. Os farroupilhas não tiveram sucesso na reconquista de Porto Alegre e Rio Grande, além disso, sofrem importantes baixas militares.
Em 1839, Giuseppe Garibaldi e Davi Canabarro conquistam as cidades catarinenses de Laguna e Lages, e proclamam a "República Catarinense" ou "República Juliana".
Entretanto, poucos meses depois da conquista de Santa Catarina, os farrapos foram surpreendidos e Laguna voltou para o controle do Império. As embarcações farroupilhas foram destruídas, somente Garibaldi escapou. A cavalaria de Canabarro foge pelo litoral, escondendo-se na cidade de Torres.
De 1840 em diante, dois terços do exército brasileiro passou a lutar em território gaúcho. Em sua ofensiva final, o exército imperial contava com 11.400 combatentes, números elevadíssimos para a época. Para se ter uma ideia da expressividade deste contingente, basta lembrar que a população total do Rio Grande do Sul era de 70 mil habitantes aproximadamente. A Revolução também teria o polêmico episódio sobre o Combate de Porongos, onde se aponta a suspeita de traição aos lanceiros negros.
Em primeiro de março de 1845, os imperialistas, liderados por Duque de Caxias e os republicanos farroupilhas assinam um tratado de paz, o "Tratado de Poncho Verde". Oficialmente a guerra está terminada.

Principais pontos assinados no Tratado de Poncho Verde:

- O império pagaria as dívidas do governo republicano;
- Os oficiais republicanos seriam incorporados ao exército brasileiro;
- Eram declarados livres todos os escravos que haviam lutado nas tropas republicanas;
- Seriam devolvidos todos os prisioneiros de guerra;
- Foram elevadas as taxas alfandegárias para importação do charque estrangeiro, o que favoreceu ao charque gaúcho.

Pós Guerra:

- Antônio de Souza Netto muda-se para o Uruguai;
- Davi Canabarro luta ao lado das forças brasileiras na Guerra do Paraguai;
- Após deixar o Rio Grande do Sul, Giuseppe Garibaldi voltou à Itália onde foi um dos grandes heróis da unificação deste país.
- Bento Gonçalves morre dois anos após a guerra.

A assinatura do Tratado de Poncho Verde trouxe benefícios para ambos os lados, mas nem tudo foi cumprido. Por isso, é fato que os farroupilhas não venceram a guerra, da mesma forma que os imperiais. Por outro lado, também não podemos dizer que foram derrotados. A verdade é que os dois lados alcançaram parte de seus objetivos. Se o Império Brasileiro não perdeu sua importante província fronteiriça, os farrapos também lucravam com o aumento do imposto sobre o charque importado.
Entretanto o mais importante e polêmico sobre o final da Guerra dos Farrapos está na discussão que envolve o seu desfecho.
A Guerra dos Farrapos foi diferente das outras Rebeliões Regenciais que ocorreram na mesma época, pois houve um caráter revolucionário. Isto é, o rompimento com o Império e a luta pela República e pela abolição da escravatura. Fatores que tornavam o levante gaúcho uma revolução.
Contudo, quanto a este caráter revolucionário, os farroupilhas não obtiveram sucesso. Pois o Brasil manteve-se uma monarquia e o Rio Grande do Sul voltou a condição de província brasileira. Mas o pior de tudo foi que a escravidão foi mantida, mesmo os que haviam lutado na guerra, poucos foram os que mantiveram sua liberdade após a declaração de paz.
A revolução farroupilha ficou eternizada na memória e cultura dos gaúchos devido ao MTG - Movimento Tradicionalista Gaúcho, que cultivou os valores de uma guerra, constituindo personagens em heróis farroupilhas.

Por: Diones Franchi
Jornalista e Mestre em História

Fontes:
Urbin, Carlos. Os Farrapos, 2001
Flores, Moacyr. História do Rio Grande do Sul, 1986
Faber, Marcos Emílio Ekman, 2016



O Rio Grande do Sul na independência do Brasil

O início do processo da independência do Brasil começou com o retorno de Dom João IV a Portugal em 26.04.1821 devido a revolução liberal do Porto. Com isso surge uma divisão entre os partidos políticos portugueses.
José Bonifácio o ministro do regente Dom Pedro I, queria a união de Portugal e Brasil em uma só nação e império, através de uma monarquia constitucional e liberal, mas com o Brasil mantendo sua autonomia administrativa através de um Conselho de Estado. Uma ideia que influenciava Dom Pedro, pois garantia a possibilidade do Brasil não voltar a ser colônia.
Na época da independência governava o Rio Grande do Sul, o capitão-general João Carlos de Saldanha de Oliveira e Daun, que era mal visto pelos liberais nacionalistas, pelo fato de ser português e neto do Marquês de Pombal. Quando Daun visitava as Missões, o coronel Antero José Ferreira de Brito e o Tenente-General Manoel Marques de Souza reuniram uma assembleia com militares liberais para formarem uma junta. Seus inimigos queriam derrubá-lo, com isso o governador prendeu os conspiradores remetendo-os ao Rio de Janeiro. Enquanto isso o processo da independência prosseguia com a resolução de Dom Pedro permanecer no Brasil no chamado Dia de Fico em 9.01.1822, recebendo adesão imediata das províncias de Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro, Santa Catarina, Cisplatina e o Rio Grande do Sul.
A província do Rio Grande do Sul foi representada pelo coronel Manoel Carneiro da Silva e Fontoura, se incorporando a representação da Câmara Municipal do Rio de Janeiro, onde ele discursou relembrando que “os rio-grandenses com espadas e vidas formavam barreiras aos inimigos do Brasil no Sul”. O apoio dado pelo coronel Fontoura a Dom Pedro I não modificou a opinião do governador do Rio Grande do Sul, Daun. Diante disso em 22.02.1822 a tropa acompanhada por populares dirigiu-se a frente do palácio e aclamou a nova Junta Governista formada pelo Marechal João de Deus Menna Barreto, brigadeiro Felix José de Matos, Manoel Marques, José Inácio da Silva, Manoel Lousada, Fernando José Mascarenhas Castelo Branco, Francisco Xavier Ferreira, José Teixeira Bacelar, tendo como presidente o general Daun.
O governo provincial no Rio Grande do Sul era exercido pela Junta Governista, quando ocorreu a independência do Brasil. O general Daun não aderiu a ordem e em 15.7.1822 e a Câmara Municipal de Porto Alegre pediu sua exoneração, onde ele posteriormente solicitou demissão em 29.8.1822, com o objetivo de tentar ir para o Uruguai, mas foi lhe negado pois havia Voluntários Reais com cerca de 5000 soldados. Sendo assim a independência do Brasil ocorreu em 7 de setembro de 1822 nas margens do Rio Ipiranga.
No Rio Grande do Sul, a nova junta tomou posse em 29.11.1823, sendo denominado o presidente José Inácio da Silva, e os demais membros formado por José de Oliveira, Francisco Ferreira, Fernando Castelo Branco e o padre Tomé Luís de Souza.
A lei imperial de 20.10.1823 criou para cada província do Brasil, um presidente e um conselho. José Feliciano Fernandes Pinheiro foi nomeado presidente provincial em 25.11.1823, tomando posse em 8.3.1824. A constituição de 1824 confirmava essa nova forma admnistrativa, que além disso transformava Dom Pedro I no herdeiro do trono do Império com o controle político e executivo do Brasil.
O processo de independência do Brasil não foi um movimento popular por que o povo não tinha consciência de formar uma nação. O Rio Grande do Sul era uma província considerada distante das decisões do Império, mas foi de extrema importância, principalmente por ser um território de fronteira que visava a unificação e segurança do Brasil.
Por: Diones Franchi
Jornalista e mestre em História

Fontes:
Flores, Moacyr. História do Rio Grande do Sul, 1986
Fausto, Boris. História do Brasil, 1994