quinta-feira, 14 de janeiro de 2021

O significado do Hino Rio-grandense

O Hino do estado do Rio Grande do Sul já foi chamado de Hino da República, Hino Nacional, Hino de 35 e Hino Farroupilha, mas o nome que ficou famoso foi de Hino Rio-grandense. Oficialmente existe o registro de três letras para o hino, desde os tempos do Decênio Heróico até aos nossos dias. Num espaço de tempo de quase um século foram utilizadas três letras diferentes, até que finalmente foi resolvido, por uma comissão abalizada, que somente um deles deveria figurar como hino oficial. A história real do Hino começa com a tomada da então Vila de Rio Pardo, pelas forças revolucionárias farroupilhas. Ocasião em que foram aprisionados uma unidade do Exército Imperial, o 2° Batalhão, inclusive com a sua banda de música. E o mestre desta banda musical era Joaquim José de Mendanha, mineiro de nascimento que também foi feito prisioneiro, ele era um músico muito famoso e considerado um grande compositor. Após a sua prisão ele, Mendanha, teria sido convencido a compor uma peça musical que homenageasse a vitória das forças farroupilhas de 30 de abril de 1838, no “Combate de Rio Pardo”. A música era muito festejada entre farroupilhas e populares àquela época. Quase um ano após a tomada de Rio Pardo, foi composta uma nova letra e que foi cantada como Hino Nacional, o autor deste hino é desconhecido, oficialmente ele é dado como criação de autor ignorado. O jornal “O Povo”, considerado o jornal da República Rio-grandense em sua edição de 4 de maio de 1839 chamou-o de “o Hino da Nação”. Após o término do movimento apareceu uma terceira letra, desta vez com autor conhecido: Francisco Pinto da Fontoura, vulgo “o Chiquinho da Vovó”. Esta terceira versão foi a que mais caiu no agrado da alma popular. Um fato que contribui para isto foi que o autor, depois de pronto este terceiro hino, continuou ensinando aos seus contemporâneos o hino com sua letra. A letra deste autor é basicamente a mesma adotada como sendo a oficial até hoje, mas a segunda estrofe, que foi suprimida posteriormente, era a seguinte:

Entre nós reviva Atenas
Para assombro dos tiranos;
Sejamos gregos na Glória,
E na virtude, romanos.

Em 1933, ano em que estavam no auge os preparativos para a “Semana do Centenário da Revolução Farroupilha”. Nesse momento um grupo de folcloristas resolveu escolher uma das versões para ser a letra oficial do hino do Rio Grande do Sul.
A partir daí, o Instituto Histórico contando com a colaboração da Sociedade Rio-Grandense de Educação, fez a harmonização e a oficialização do hino. O Hino foi então adotado naquele ano de 1934, com a letra total conforme fora escrito pelo autor, no século passado, caindo em desuso os outros poemas.
No ano de 1966, o Hino foi oficializado como Hino Farroupilha ou Hino Rio-Grandense, por força da lei 5213 de 05 de janeiro de 1966, quando foi suprimida a segunda estrofe.
Muitos gaúchos sabem cantar o hino, mas poucos sabem o significado dos versos. O hino pode ser traduzido da seguinte forma:

O que diz: 

Como a aurora precursora
do farol da divindade,
foi o vinte de setembro
o precursor da liberdade.

O que quer dizer:

O autor faz, nessa estrofe,
uma referência ao início da Revolução Farroupilha, movimento que iria criar condições, mais tarde, em 1836, para a criação da República Rio-grandense, tornando livre a província em relação ao império brasileiro.

O que diz:

Mostremos valor constância,
nesta ímpia injusta guerra,
sirvam nossas façanhas
de modelo a toda a terra.

O que quer dizer:

O autor faz um chamamento aos farroupilhas de então para que seus atos, naquela guerra cruel e desumana, demonstrem os valores que os caracterizavam, como coragem, brio e, sobretudo, permanente disposição para a conquista de seus ideais de república e de federação. Injusta seriam a guerra e a situação que o Rio Grande do Sul estava sendo submetido pelo tratamento recebido do Império.
Numa proposta de efeito, apontam seus atos heróicos como exemplos a serem seguidos.

O que diz: 

Mas não basta para ser livre
ser forte, aguerrido e bravo,
povo que não tem virtude acaba por ser escravo.

O que quer dizer:

O Hino Rio-grandense afirma a necessidade do cultivo de valores virtuoso para que um povo se mantenha em liberdade, por meio da manutenção da capacidade de decidir segundo seus próprios valores.
A utilização da palavra escravo está no sentido figurado, sendo o vício entendido como o oposto da virtude, como o fator escravizante. O escravo também seria a forma como o sul rio-grandense ficaria sendo tratado e submetido aos desmandos do Império, caso não houvesse tomado alguma atitude por parte dos farroupilhas. 

É preciso saber interpretar e compreender o tempo em que houve a composição, entendendo que o hino é importante para a cultura gaúcha, não atingindo nenhuma classe de pessoas, sendo considerado até hoje um dos mais belos hinos do Brasil.

Por: Diones Franchi

Fonte:

História do Rio Grande do Sul, regionalismo gaúcho
Portal das Missões
Corte Real, Antônio T. Subsídios para a história da música no Rio Grande do Sul. Movimento, 1984, p. 336
MTG





O Partido Farroupilha

O Partido Farroupilha foi um partido político brasileiro fundado em Rio Grande em 1832, que resultou nos dissidentes gaúchos que mais tarde lideraram a Revolução Farroupilha.
Foi fundado pelo tenente Luís José Alpoim, que participara, no Rio, das agitações populares de 7 de abril de 1831, que resultaram na queda do Imperador. O grupo se encontrava na casa do major João Manuel de Lima e Silva, sede também da Sociedade Continentino. O objetivo do partido era criar a federação, desenvolver o nacionalismo e proclamar a república, apesar de nem todos os farroupilhas tomarem conhecimento sobre esse assunto. Desde o início o partido teve atuação intensa. Em 24 de outubro de 1833, os farroupilhas promoveram um levante contra a instalação da Sociedade Militar em Porto Alegre (que congregava conservadores) em Porto Alegre.
No cenário político, os farroupilhas, reunidos num partido próprio - contrapondo-se aos conservadores, os caramurus - eram um dos grupos mais exaltados e defendiam idéias como a adoção de um regime republicano ou, ao menos, de um regime de federação, em que as províncias tivessem maior autonomia.
Na primeira eleição para a Assembléia Legislativa, em 7 de abril de 1835, fez a maioria no Legislativo do Rio Grande do Sul. 
Foi também em uma sessão extraordinária da Câmara de Piratini, na primeira capital da República Rio-Grandense, que em 6 de novembro de 1836, procedeu-se formalmente a votação para Presidente da República, conforme os parâmetros da época. Quem tinha direito a voto eram em sua maioria estancieiros que faziam parte do partido farroupilha. A eleição foi vencida por Bento Gonçalves (mesmo sem estar presente e sem campanha) e primeiro vice-presidente José Gomes de Vasconcelos Jardim. Assumiu o vice interinamente a presidência, nomeando o ministério e tomando a incumbência de convocar uma Assembléia Constituinte para formar a Constituição da República Rio-grandense.
Bento Gonçalves governou de 1836 a 1841, e logo após a renúncia de Bento, José Gomes de Vasconcelos Jardim governou de 1841 a 1845.
O Partido Farroupilha foi dissolvido em 1 de março de 1845, com o fim da Revolução Farroupilha.

Por: Diones Franchi

Fonte:
FLORES, Moacyr, República Rio-Grandense: realidade e utopia,Coleção História, vol. 54, EDIPUCRS, 2002.


General Neto – O Proclamador da República Rio-Grandense

Antônio de Sousa Netto foi um militar, considerado um dos mais importantes nomes da história do Rio Grande do Sul. É reconhecido por ser um dos líderes da Revolução Farroupilha (1835 a 1845). Nascido no Povo Novo, distrito do município de Rio Grande em 25 de maio de 1803. Era filho de açorianos, casais portugueses que colonizaram o Rio Grande do Sul. Mas foi em Bagé – RS que o General Netto desenvolveu a maior parte de sua enorme atividade de defensor da Liberdade, da República, da dignidade do Brasil Império, que ele profundamente amava como sua pátria, mas detestava como monarquia.
Estanceiro no Uruguai e Brasil, com seus campos talados e vazios, tudo que lhe restou foi a Revolução Farroupilha a que se dedicou de corpo e alma. Durante esse período não deixava de visitar sua casa em Bagé nos campos do Seival.
A partir de 1835 quando foi desencadeada a Revolução Farroupilha que manifestava o descontentamento dos gaúchos com o governo imperial. Enquanto o líder Bento Gonçalves, concentrava-se em ação militar próximo a Porto Alegre, Netto comandante da 1ª Brigada Ligeira de Cavalaria do Exército Liberal, travava uma batalha contra forças imperiais, próximo ao Arroio Seival, em Bagé. A batalha vencida pelos farroupilhas ficou conhecida como Batalha do Seival, onde Netto a estabeleceu no dia 11 de setembro de 1836 a proclamação da República Rio-grandense. Mesmo sem o conhecimento de Bento Gonçalves, líder do movimento, Neto e seus pares, pelos princípios republicanos resolveram separar a Província do resto do Império do Brasil e proclamá-la uma nação republicana independente. Bento Gonçalves seria informado e aclamado presidente, posteriormente.
A guerra durou 10 anos e a paz foi realizada em Ponche Verde no dia 1° de março de 1845, que pôs fim a Revolução Farroupilha, destinando-se a unir a todo o Brasi., Apesar de contrariado Netto concordou com os chefes da república que findava para a pacificação do Rio Grande do Sul. Desolado por motivos idealistas retirou-se para o Uruguai, sendo exilado voluntário. 
Era abolicionista ferrenho, e por isso levou alguns negros que o acompanharam por livre vontade e lá continuou com a criação de gado. 
Retornou à luta em 1851 na Guerra contra Rosas, com sua cavalaria na brigada de Voluntários Rio-Grandenses, organizada inteiramente à sua custa, o que lhe valeu a promoção de Brigadeiro Honorário do Exército brasileiro, e a transformação de sua brigada em Brigada de Cavalaria Ligeira. 
Voltou ao combate na Guerra contra Aguirre e depois, juntamente com seu exército pessoal, na Guerra do Paraguai. No comando em brigada ligeira fez a vanguarda do General Osório na invasão do Paraguai, no Passo da Pátria, em 16 de abril de 1866.
Sua brigada ostentava sempre, ao lado da bandeira do Brasil Imperial, o pavilhão tricolor da República Rio-grandense. Na batalha de Tuiuti foi importante na defesa do flanco da tropa brasileira, mas foi ferido a bala e mandado para um hospital em Corrientes na Argentina, onde morreu e foi inicialmente sepultado. 
Em 29 de dezembro de 1966 no centenário de sua morte, seu corpo foi exumado e transferido para um mausoléu em Bagé. Em sua lápide diz “Aqui descansam os restos mortais do Brigadeiro Antônio de Souza Netto, falecido na cidade de Corrientes em 1º de julho de 1866”. Existe em varias cidades do Rio Grande do Sul, ruas que fazem homenagem a este notável personagem histórico. O seu nome esta eternizado por sua bravura como proclamador da República Rio-grandense.

Por: Diones Franchi

Referências:
Pesavento, Sandra. História do Rio Grande do Sul. Mercado Aberto. 1982
Ruas, Tabajara. Netto perde sua alma. 1.ed. Editora Record, 2001


General Neto

José da Silva Pais - O Fundador do Rio Grande do Sul

José da Silva Pais foi um militar, engenheiro e administrador colonial português, tendo destaque por ser um grande estrategista e especialista na construção de fortes.
É considerado o fundador do Rio Grande do Sul. Não apenas idealizou, mas também participou diretamente da administração pública que estruturou a concepção do Brasil Meridional lusitano. Foi responsável pela construção de fortificações, desempenhando as construções de diretrizes geopolíticas para garantir a presença portuguesa no Prata, no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina. 
Silva Paes nasceu na freguesia de Nossa Senhora das Mercês, em Lisboa, sendo batizado no dia 25 de outubro de 1679, não há uma concepção do dia exato de seu nascimento. Era filho de Roque Gomes Paes e Clara Maria da Silva. Casou-se em Lisboa no dia 8 de maio de 1704 com Máxima Teresa da Silva ou de Brito. Aos 22 anos iniciou sua vida militar em Lisboa, passando no mesmo ano à província do Alentejo, na Praça de Olivença, nas funções de ajudante-engenheiro. Em 1703, atuou em Abrantes para determinar o local conveniente para construir-se uma ponte ligando a província da Beira ao Alentejo. Em 1705, foi-lhe outorgado o título de Cavaleiro Fidalgo da Casa Real. Neste mesmo ano, é admitido na Ordem de São Tiago, da qual é transferido por Alvará de 12 de janeiro de 1716 para a Ordem de Cristo. Em 1712, junto com o Marquês Bay participou do sítio da Praça de Campo Maior. No ano seguinte é nomeado Coronel de Engenheiros, sendo investido em emprego judicial em Lisboa em 1719, e passando em 1720 a desempenhar, por designação Real, serviços nos Açores. De 1723 a 1730, passou a Coronel de Infantaria com exercício de Engenheiro-Agregado e depois continuou no mesmo posto no regimento da Armada Real até 1735. Foi designado em 1728 para administrar os bens vinculados à Capela de Monte Argil. Nos anos de 1729 a 1733 foi encarregado da implantação de obras de engenharia em Lisboa.

A chegada ao Brasil

Aos 56 anos, embarca para o Brasil como Brigadeiro. No Rio de Janeiro foi designado para projetar e construir as fortificações da cidade e na Barra de Santos. Realizou várias obras públicas na capital da colônia, destacando-se o novo edifício da Alfândega.

A fundação do Rio Grande do Sul

Dois anos após desembarcar no Brasil, comandou as expedições ao Rio da Prata com cerca de 1100 soldados. Seu objetivo era expulsar os espanhóis de Montevidéu, socorrer a Colônia do Sacramento que estava sitiada e ocupar a barra do Rio Grande de São Pedro. Para isso contava com a ajuda do coronel Cristovão Pereira de Abreu a frente de 160 homens experientes em montaria, sendo o responsável por preparar o terreno para desembarcar em Rio Grande. O resultado das ações da esquadra no Prata não foram tão positivos,pois foram rechaçados de Montevidéu e os soldados não tiveram muito o que fazer em Sacramento, onde se vivia uma expectativa de paz entre Espanha e Portugal. Silva Paes, parte então com apenas 250 homens em cinco barcos para fortificar o canal que liga a Lagoa dos Patos ao Atlântico. Ter o controle estratégico do canal era primordial, devido ser a única entrada para navios, desde Tramandaí até o Prata. Ao se dirigir para a barra, Silva Paes espera 10 dias para desembarcar, após isso avança até a Serra de São Miguel onde construiu e projetou o Forte Jesus, Maria, José. Com isso distribuiu as primeiras sesmarias, fundando assim a cidade de Rio Grande em 1737.
É considerado o primeiro povoado do futuro estado do Rio Grande do Sul, que fora projetado para estabelecer as fortificações básicas para defender as novas áreas incorporadas a Portugal. O objetivo era marcar a presença portuguesa no sul da colônia. Aquela área era objeto de incursões espanholas comandadas por Dom Pedro de Ceballos, que por duas vezes a tomou. Desenvolveu neste tempo contínuas atividades em apoio à cartografia e criou o núcleo inicial do Regimento dos Dragões do Rio Grande de São Pedro.
Manuel José Gomes de Freitas, político e historiador enaltece Silva Paes: "E a 19 de fevereiro de 1737, o Brigadeiro Silva Paes descia a terra, com um contingente de 254 arcabuzeiros e dragões, dando nascimento ao quartel e vila de Rio Grande – núcleo inicial da Capitania Real de São Pedro do Rio Grande do Sul”.

Eventos posteriores

Silva Paes após sair do Rio Grande foi nomeado primeiro governador da recém-criada capitania de Santa Catarina, cargo que ocupou por 10 anos (1739 a 1749). Neste tempo, urbanizou a capital da província e projetou a nova igreja, obra essa que foi executada pelo seus sucessores que se tornaria a Catedral Metropolitana de Florianópolis.
Projetou e construiu as fortalezas que constituíram o principal sistema de defesa da ilha de Santa Catarina:
Ao norte: Anhatomirim, São José da Ponta Grossa e Ratones;
Ao sul: Conceição de Araçatuba.
Criou o Batalhão de Infantaria de Linha da Ilha, mais tarde batizado de Barriga-verde.
Retornou ao Rio de Janeiro em 1743, e no mesmo ano Paes partiu para o litoral gaúcho, onde construiu fortificações para defender o novo território e incorporá-lo a Portugal. 
Reassumiu o governo da capitania de Santa Catarina, de 1746 a 1749. Neste período, idealizou e administrou a vinda dos açorianos para colonizar o litoral catarinense, visto que nas ilhas dos Açores havia o problema da explosão populacional.
Em 1750, Portugal e Espanha assinam o Tratado de Madri, onde a Espanha reconhece pelo princípio do direito privado romano do uti possidetis, ita possideatis (quem possui de fato, deve possuir de direito), as posses portuguesas (da qual Silva Pais teve participação direta) no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e a oeste do Tratado de Tordesilhas.
Retornou para Portugal em fevereiro de 1749, onde ainda exerceu funções públicas e privadas, vindo a falecer em 14 de novembro de 1760, aos 81 anos, deixando testamento em que estabelece o destino de seus bens e num anexo arrola o acervo de sua biblioteca, da qual existe na Biblioteca Rio-Grandense, em local separado e em destaque, um bom número das obras ali relacionadas. Da análise dos títulos constantes da biblioteca de Silva Pais verifica-se, nos mais de 200 títulos, que além de obras de Engenharia Militar e Estratégia existem muitos livros de Biografias, História e Filosofia, denotando as preocupações intelectuais daquele homem invulgar e com características de um “iluminista”, que sem saber escreveu seu próprio livro na história do estado e do país.

Por: Diones Piazer Franchi - Jornalista e Mestre em História.

Fontes: 

- Borges Fortes (gen) - O Brigadeiro Silva Paes e a fundação de Rio Grande. Separata RIHGSR. Porto Alegre, 1933.
-História ilustrada do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, 2004.


José da Silva Paes

A história da bombacha

A história da bombacha é um dos fatores importantes de nossa cultura gaúcha e brasileira.
O tradicionalismo costuma dividir a história da pilcha masculina em quatro fases: chiripá primitivo, braga e chiripá, chiripá farroupilha e, finalmente, bombacha. Quando portugueses e espanhóis colonizaram o pampa, a vestimenta padrão passou a ser o chiripá indígena, também chamado chiripá primitivo ou chiripá-saia: traje simples, um tecido retangular de couro cru ou algodão que ia até os joelhos, amarrado à cintura e preso por uma tira de couro. O contato com os ibéricos incluiu outros elementos à roupa indígena, como a guaiaca presa à cintura. O chiripá-saia foi usado por muitos anos pelos peões, enquanto os estancieiros, conforme enriqueciam, passaram a adotar roupas europeias. Uma delas foi a braga – calções largos acompanhados de ceroulas de crivo, uma espécie de calça branca justa com franjas finas na barra. No período da Guerra dos Farrapos, o chiripá indígena foi adaptado pelos gaúchos para facilitar a montaria – assim, o tecido, maior, foi passado entre as pernas e amarrado, ficando como um fraldão. Também conhecido como chiripá-fralda, geralmente era acompanhado das mesmas ceroulas de crivo, e foi uma criação pampeana legítima. O chiripá farroupilha foi usado entre 1820 e 1865, foi então que entrou a bombacha.
A história da chegada da bombacha até o sul da América não é precisa, mas alguns pesquisadores procuraram refazer sua trajetória através do tempo. Existe mais de uma versão, e uma delas está ligada à invasão árabe à Península Ibérica, no século VIII: os mouros trajavam bombachas e este hábito foi incorporado pelos nativos, já que o domínio da região durou 600 anos. Assim, a vestimenta teria chegado ao pampa através dos colonizadores, especialmente os espanhóis da região de La Maragateria, ao norte do país.A uma probabilidade para que seja de origem arabe, mas a mais provável é que seja de origem turca. Nessa segunda versão, mais aceita, a bombacha fez seu caminho através de duas guerras: a guerra da Crimeia (1853-1856) e a guerra do Paraguai (1864-1870). Na Crimeia, ingleses, franceses, sardenhos e turcos uniram-se contra a expansão do Império Russo. A industria britânica, com sua produção têxtil, confeccionou bombachas para os aliados turcos durante todo o conflito e ficou com um enorme excedente quando este acabou. Com o início da guerra contra o Paraguai, os ingleses, apoiadores da Tríplice Aliança (Argentina, Brasil e Uruguai), venderam aquelas bombachas para os exércitos no Rio da Prata. Ao voltarem para casa, os militares sulinos levaram consigo o novo traje – que se adaptava perfeitamente ao clima temperado e tornava as cavalgadas muito mais confortáveis. De traje militar passou a ser um traje civil que se incorporou ao cotidiano sul-americano. No início, a bombacha só era usada por peões no trabalho nas estâncias, mas logo foi adotada pelos mais ricos, já que se adequava ao estilo de trabalho e de vida predominante no RS. Entre o fim do século XIX e o XX, o gaúcho começou a sair da margem, num processo nacional de valorização do homem regional. A bombacha, seu traje diário, foi valorizada junto com ele. Nos anos 1940-50, principalmente, o homem campeiro virou símbolo da regionalidade cultural, e o Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG) difundiu a bombacha como traje identitário do gaúcho rio-grandense.
Assim a bombacha pode ser larga ou mais estreita, com ou sem favos (chamados “de mel” ou “de abelha”), de brim, linho, algodão, tergal ou outro tecido – mas sempre com punho abotoado no tornozelo. De acordo com especialistas existem particularidades em cada região: na fronteira, elas costumam ser bem largas e com favos, chamadas também “de dois panos”; no Planalto Médio e Missões, são médias, nem muito largas, nem muito justas; no litoral e na Serra, são estreitas, quase calças-bombachas, conhecidas também como bombachas campeiras. Geralmente são usadas com botas altas, botas sanfonadas ou alpargatas.
Em 1989, a indumentária gaúcha passou a ser considerada traje oficial e social do Rio Grande do Sul através da Lei Estadual da Pilcha, nº 8.813, desde que seguidas as recomendações do MTG. Mas, quando saem das bailantas e cavalgadas e entram no ambiente urbano (coisa cada vez mais comum), as bombachas são adotadas por homens e mulheres, indiscriminadamente, preocupados apenas em valorizar a cultura daqui.
Fonte:

A Lenda do Arroz

Conta-se que, em 1637, quando os bandeirantes de Raposo Tavares devastaram o atual município de Cachoeira do Sul, no Rio Grande do Sul, destruindo todos os aldeamentos indígenas que os Jesuítas haviam fundado, conseguiu sobreviver apenas um jovem índio chamado Tuti.
Desesperado com a perda dos seus pais e de sua morada, Tuti sentava-se à margem do Rio Jacuí e via ali noites e dias nascerem e morrerem.
O índio chorava. Chorava de fome, chorava de dor, e de saudades.
E tudo parecia chorar com ele; o sol era pálido, a noite era negra, as florestas haviam se curvado e as águas endoideceram.
Seis sóis eram passados. Tuti, sentado no mesmo lugar, broqueado de fome e de dor, com a face chicoteada pelo vento e os olhos cravados ao céu, como a pedir clemência, enxergou um vulto.
Neste momento tudo cessou. As águas continuaram enfurecidas, mas em profundo silêncio, o vento adormecera nas moitas e no céu, como que prevendo felicidade, a lua sorria.
Sobre as águas, o vulto aproximava-se de mansinho.
Vulto de mulher, trazia em suas vestes a cor do rio com todos os seus peixes, a cor do céu com suas estrelas, a cor das matas com suas aves.
Trazia o sol em seus cabelos, e seus olhos luziam como diamantes.
Deixando rastros luminosos nas águas enfurecidas do rio, aproximava-se mais e mais, até chegar frente ao índio desconsolado.
Então, falou-lhe:
– Tenho aqui em minhas mãos a semente que saciará a tua fome e de todos que virão.
Tome-as.
Eu as recolhi de tuas próprias lágrimas caídas no rio.
Dizendo isto, o vulto luminoso deixou escorrer de suas mãos uns poucos pingos dourados, os quais o índio, com gestos selvagens, colheu.
O vulto sumiu. Um violento temporal desabou.
O índio de tão fraco desmaiara, apedrejado pelo granizo caído do céu.
E as sementes foram levadas pelas águas.
Após noites e dias de chuva, quando o sol, radiante, voltou, Tuti encontrou uns cachos, já dourados, com as sementes.
Colheu-os, preparou-os e saboreou.
Era uma plantinha frágil, mas que lhe dera muita vitalidade.
Hoje chamamos esta plantinha-ternura de ARROZ.
E para maior mistério, à meia-noite, às margens do Rio Jacuí, há um profundo silêncio, embora as águas desçam endoidecidas.
Isto, talvez, em homenagem à Deusa das Águas, que saciou a fome de Tuti e nos semeou o arroz.
Observação: Essa é uma das lendas sobre o arroz!!!
Fonte: Jornal do Povo – 10 e 11/9/2005 – página 13 / http://www.guiacachoeira.com.br/?url=15



A 1ª Carta dos farroupilhas ao Império

A Revolução Farroupilha, ou Guerra dos Farrapos, como também ficou conhecida, foi motivada por diversos fatores, incluindo o alto preço de impostos sobre produtos produzidos na então província de São Pedro do Rio Grande do Sul.
Insatisfeitos pelas cobranças indevidas e pelos presidentes da província não serem gaúchos e desse modo não importarem-se com o futuro do Rio Grande do Sul, um grupo de estancieiros optou pelo ato que daria início a Revolução.
Cerca de 200 homens comandados por Bento Gonçalves da Silva, Onófre Pires e José Gomes de Vasconcelos Jardim rumaram de Pedras Brancas (atual município de Guaíba) em direção a Porto Alegre, tomando a cidade. Bento Gonçalves e Gomes Jardim entraram triunfantes em Porto Alegre, após o presidente da província, Antônio Rodrigues Fernandes Braga, fugir de navio para Rio Grande
O que muitos não sabem é que o real motivo da tomada da capital não era a formação de um novo país, mas sim que o Império respeitasse e desse valor ao Rio Grande do Sul.
Essa posição fica evidenciada numa carta enviada por Bento Gonçalves ao regente do Império, Diogo Feijó, no qual ele esclarece que depôs o presidente Fernandes Braga e conclama condições mais dignadas para o Rio Grande do Sul.
A carta
"Senhor. Em nome do povo do Rio Grande, depus o governador Braga e entreguei o governo ao seu substituto legal, Marciano Ribeiro. E, em nome do Rio Grande, eu lhe digo que, nesta província extrema, afastada dos corrilhos e conveniências da Corte, dos rapapés e salamaleques, não toleramos imposições humilhantes, nem insultos de qualquer espécie. O pampeiro destas paragens tempera o sangue rio-grandense de modo diferente de certa gente que por aí.
Nós, rio-grandenses, preferimos a morte, no campo áspero da batalha, às humilhações nas saias blandiciosas do Paço do Rio de Janeiro. O Rio Grande é a sentinela do Brasil, que olha vigilante para o Rio da Prata. Merece, pois, mais consideração e respeito. Não pode nem deve ser oprimido por déspotas de fancaria.
Exigimos que o governo imperial nos dê um governador de nossa confiança, que olhe pelos nossos interesses, pelo nosso progresso, pela nossa dignidade, ou nos separaremos do centro e, com a espada na mão, saberemos morrer com honra ou viver com liberdade.
É preciso que V.S. saiba, Sr. Regente, que é obra difícil, senão impossível, escravizar o Rio Grande, impondo-lhe governadores despóticos e tirânicos. Em nome do Rio Grande, como brasileiro, eu lhe digo, Sr. Regente, reflita bem, antes de responder, porque da sua resposta depende talvez o sossego do Brasil. Dela resultará a satisfação dos justos desejos de um punhado de brasileiros que defendeu, contra a veracidade espanhola, uma nesga fecunda da pátria, e dela também poderá resultar uma província ou a formação de um Estado novo dentro do Brasil". Bento Gonçalves
Contudo, a resposta do Império foram atos de represália aos farrapos, que decidiram seguir a Revolução Farroupilha.
Fonte:
História do Rio Grande do Sul - RBS