segunda-feira, 15 de abril de 2024

O Pila

Pila é um dos nomes pelo qual é referido o dinheiro no Rio Grande do Sul. É a alcunha da moeda vigente no país, assim, um pila, quer dizer atualmente um real.
É muito comum o gaúcho utilizar o termo pila para o dinheiro no estado do Rio Grande do Sul. É também comum falarem um pila, dois pila, 10 pila, cem pila e por aí se vai.
A palavra Pila como moeda, provém de Raul Pilla, que foi um médico, jornalista, professor e político do Partido Libertador do Rio Grande do Sul. Este político e seu partido apoiaram a Revolução Constitucionalista de 1932, contra Getúlio Vargas. Como esta revolta foi mais intensa em São Paulo, e teve pouco respaldo no seu estado, ele exilou-se no Uruguai, saindo sem levar nenhum dinheiro.
Seus partidários, para ajudar no seu sustento, se solidarizaram e criaram alguns bônus com valor de 1 cruzeiro, que logo passaram a ser negociados, por um breve tempo, como dinheiro entre os seus correligionários. E os tais bônus eram cédulas impressas, que se popularizaram bem rapidamente e como eles tinham um valor “não-oficial” e caráter de dinheiro começaram a ser negociados e ser chamados de “pila”. Na foto desse bônus, existe a assinatura de Raul Pilla.
Porém existe uma outra versão, que é bem mais folclórica. Diz que nas eleições o candidato Raul Pilla, distribuía metade da nota de dinheiro para os eleitores que estavam prestes a votar, na promessa de entregar a outra metade se fosse eleito. Então os cabos eleitorais entregavam a metade da nota dizendo o nome do candidato “Pilla”, e logo isso acabou sendo assimilado por grande parte da população e rapidamente acabou virando sinônimo de dinheiro.

Como era a cédula:

Dizia assim a cédula: O portador contribuiu com o valor de … Cr$ para o Partido Libertador, em prol da Democracia. E até era assinado pelo político em um canto do documento.
Assim, se recolheram alguns valores em cruzeiros, que foram encaminhados ao Raul Pilla pelos seus partidários como auxílio financeiro, nascendo a denominação de “pila”, equivalente a dinheiro.

Uma possível lenda:

Diz que a moeda seria em nota de cruzeiro, e era cortada ao meio e distribuída aos eleitores, por seus partidários. Quando da votação e se confirmando que o portador votara no Dr. Pilla levava a outra parte da nota. Essa é apenas uma suposição, invenção popularesca do fato ou folclore político.

No entanto, ainda se ouve hoje “pila” pra cá, “pila” para lá...
Isso custa tantos “pilas” e até está fixada em registros em alguns dicionários.
E assim se conta a história do “pila” gaúcho, destacando-se que seu valor corresponde sempre a uma unidade de qualquer moeda nacional vigente. Que tenhamos muitos “Pila” durante nossa vida buena...

Referências:

BUENO, Antonio Avelange Padilha. Raul Pilla: Aspectos de uma bibliografia política. Porto Alegre, Julho de 2006.
FONSECA, Roberto: História do Rio Grande do Sul para jovens. Porto Alegre, Editora AGE Ltda., 2002

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Raul Pilla

Nasceu em Porto Alegre no dia 20 de janeiro de 1892, considerado um dos maiores defensores da adoção do regime parlamentarista. Pilla era chamado de O Papa do parlamentarismo no Brasil.
Pilla ingressou na política em 1909, com apenas dezessete anos, como secretário do diretório central do Partido Federalista do Rio Grande do Sul.
Formou-se médico pela Faculdade de Medicina de Porto Alegre, em 1915. Na mesma faculdade foi professor interino de patologia em 1917 e ainda livre-docente de fisiologia em 1926, deixando o cargo em 1932.
Em 1922, como membro da Aliança Libertadora, fez parte da campanha de Joaquim Francisco de Assis Brasil para governador do estado, contra Antônio Augusto Borges de Medeiros, do Partido Republicano Rio-grandense, que tentava sua quinta eleição e a terceira consecutiva. Com a vitória de Borges de Medeiros, Pilla foi um dos líderes da Revolução de 1923, conflito civil entre os chimangos (partidários de Borges de Medeiros) e maragatos (partidários de Assis Brasil).
Em 1928 é um dos fundadores do Partido Libertador, juntamente com Assis Brasil, do qual seria vice-presidente. Em 1929 é um dos criadores da Frente Única Gaúcha, aliança entre os antes adversários PL e PRR, com o objetivo de garantir a eleição de um gaúcho para a presidência da República. O candidato seria Getúlio Vargas, do PRR, então presidente do Rio Grande do Sul. Com a derrota de Vargas eclodiu a Revolução de 1930, da qual Pilla participou ativamente.
Depois de vitorioso o movimento revolucionário, Getúlio Vargas assumiu o poder e designou alguns membros do PL para cargos na nova administração. Com a nomeação do então presidente do PL, Assis Brasil, para o Ministério da Agricultura, Raul Pilla assumiu a presidência do partido.
Em 1932, com o PL rompido com Vargas, Pilla participou dos levantes ocorridos no Rio Grande do Sul em apoio ao movimento constitucionalista eclodido em São Paulo. Derrotado o movimento, Raul Pilla exilou-se na Argentina e no Uruguai, entre 1933 e 1934. Após a anistia foi também Secretário de Agricultura do Rio Grande do Sul na gestão de José Antônio Flores da Cunha, em 1936, onde elegeu-se deputado estadual Constituinte pela legenda do PL, em 1937. Teve o mandato cassado com a instituição do Estado Novo, ao qual se opôs, e afastou-se da política, retornando, então, a docência na Faculdade de Medicina de Porto Alegre.
No contexto da redemocratização, em 1945, integrou a Comissão de Orientação Política encarregada de elaborar os estatutos da União Democrática Nacional, UDN, tendo, no entanto, abandonado o partido para tornar-se presidente do refundado Partido Libertador. Era apoiador da sublegenda, tentando aprovar tal sistema no projeto da Constituinte de 1946.
Seria, depois, deputado federal, sendo que durante a Campanha da Legalidade foi o criador da emenda que permitiu a João Goulart assumir a presidência da república, no regime parlamentarista.
Também bacharel em Ciências e Letras pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, exerceu o jornalismo no Rio Grande do Sul e foi colaborador de diversos periódicos no estado. Durante o funcionamento da Constituinte de 1946, manteve colunas políticas regulares em O Globo, no Rio de Janeiro, Diário de Notícias (do qual foi um dos fundadores, em 1925) e Correio do Povo, de Porto Alegre.
Além disso, publicou diversos livros como Linguagem médica, Presidencialismo ou Parlamentarismo, O Professor e a Medicina e Revolução Julgada à Crise Institucional.
Faleceu na cidade de Porto Alegre no dia 7 de junho de 1973.

Por: Diones Franchi
Jornalista e Mestre em História

Cédula originária do Pila

Raul Pilla


terça-feira, 23 de janeiro de 2024

Os Lanceiros Negros

Os Lanceiros Negros foi um grupo de escravos que participou da Guerra dos Farrapos, com a condição de lutarem como soldados. Existiram dois corpos de exército de lanceiros, onde carregavam uma braçadeira vermelha, simbolizando a república rio-grandense.
Durante dez anos, combateram ao lado dos farrapos e contra as tropas imperiais. Possuíam 8 companhias e cerca de 51 homens cada, totalizando mais de 400 lanceiros que andavam montados em seus cavalos e armados com lanças compridas.
Tornou-se célebre o 1.º Corpo de Lanceiros Negros organizado e instruído em 1836, inicialmente, pelo coronel Joaquim Pedro, compadre do general Netto e antigo capitão do Exército Imperial, que participou da Guerra Peninsular e se destacara nas guerras platinas. Ajudou, nesta tarefa, o major Joaquim Teixeira Nunes, o Gavião, veterano e com ação destacada na Guerra Cisplatina. Este bravo, à frente deste Corpo de Lanceiros Negros, libertos, prestaria relevantes serviços militares à República Rio-Grandense.
Formado por homens escravizados, os Lanceiros Negros lutaram ao lado do exército Farroupilha contra o Império, com a promessa de liberdade ao fim do conflito. Entretanto, quando se aproximou o fim da guerra, cerca de 100 escravizados, desarmados e comandados pelo farroupilha Davi Canabarro, foram massacrados pelo exército imperial no distrito de Piratini, no Cerro dos Porongos, hoje município de Pinheiro Machado. Esse episódio ficou conhecido como Massacre dos Porongos e logo após aconteceria as negociações de paz dos farroupilhas com o Império, que culminou na assinatura do Tratado de Poncho Verde, em 1845.

A formação

Os Lanceiros Negros foram importantes em diversas batalhas dos farrapos frente aos imperiais, onde eram em sua maioria comandados por Teixeira Nunes. Eles eram escravos negros dos próprios estanceiros e trabalhavam nas lidas campeiras. Para poder manter seus contingentes de soldados, numa guerra que se prolongava, os farrapos passaram a recrutar os escravos, aos quais ofereçam liberdade em troca do serviço militar.
Com essa promessa da liberdade se apresentaram prontamente aos seus patrões. Durante 10 anos esse foi o seu maior sonho, ou seja tornar-se livre.
O recrutamento dos trabalhadores escravizados ocorreu possivelmente entre negros campeiros, e também entre outros, das Serras de Tapes e do Herval (Canguçu, Piratini, Caçapava, Encruzilhada e Arroio Grande.).
Muitos estancieiros, na tentativa de se livrarem, bem como a seus filhos, do recrutamento, terminavam por liberar em seu lugar seus escravos negros para substituí-los.
Os Lanceiros Negros foram vinculados aos rebeldes republicanos rio-grandenses, quando João Manuel recebeu a patente de general no exército farroupilha. Os lanceiros negros, eram assim denominados por carregarem uma lança de madeira de três metros de comprimento, atuando na “linha de frente”. Combatiam tanto a pé como a cavalo, fazendo, segundo o relato de Garibaldi, enorme gritaria.
Eram também habilidosos no uso da adaga e facão. Suas roupas eram simples: camisa e calça curta de algodão, sendo um chiripá de pano, colete de couro e sandálias de couro cru, Os detalhes do recrutamento são oferecidos pelo jornal oficial da república, O Povo, de 20 de abril de 1838, manifestando um decreto do Presidente Bento Gonçalves da Silva. Nele informa-se que os recrutas eram selecionados conforme a cor da pele, a instrução – pois os que sabiam ler e escrever eram destinados à artilharia – a educação e os bens. Os negros mais ágeis eram arrolados no Corpo de Lanceiros de primeira linha, a cavalaria, enquanto que os demais ingressavam na infantaria.
O 2º. Corpo de Lanceiros foi formado em 31 de agosto de 1838 e contava com 426 combatentes. Nos dois corpos de lanceiros negros os oficiais eram brancos.

As batalhas

Na medida em que a guerra avançava, a importância dos lanceiros tornava-se mais evidente, como na ocupação a Rio Pardo em 1838, no ataque a Laguna, em 1839, e na invasão de Lages em 1840. Possuíam grande habilidade para atacar o inimigo de surpresa, sendo obrigados a desempenharem as ações mais arriscadas.
Os Lanceiros Negros foram importantes na Guerra dos Farrapos, mas o que é mais lembrado é a chamada Batalha de Porongos que seria na realidade o Massacre de Porongos.
No acampamento montado próximo à cidade de Piratini, na metade-sul da Província, local conhecido como Cerro de Porongos, soldados brancos, índios e negros, estavam sob o comando do general David Canabarro, que deveriam passar mais uma noite, pois já existia a promessa de paz entre farrapos e imperiais.
Os negros haviam sido, suspeitamente, desarmados sob a alegação de que a guerra já estava em seus momentos finais. O comandante não preocupou-se, como de hábito em uma guerra, em deixar vigilantes estrategicamente posicionados para a proteção do acampamento.

O massacre

Era a madrugada de 14 de novembro de 1844, quando um toque de corneta ordenou o início do ataque sobre o desprotegido acampamento. Mais de mil soldados imperiais, sob o comando do Coronel Francisco Pedro de Abreu, o Chico Pedro, também conhecido como “Moríngue” (apelido em alusão a sua cabeça, parecida com uma “moringa”.) atacam o acampamento republicano. O general farroupilha David Canabarro foge a cavalo, mas os combatentes negros, desarmados, são violentamente exterminados na sua totalidade.
O saldo desse ataque foi a prisão de 280 homens de infantaria e 100 soldados negros massacrados, ou seja, a totalidade dos soldados negros presentes naquele acampamento. Conforme anotou Flores, em 4.2.1845, o barão de Caxias informava ao ministro da guerra, Jerônimo Francisco Coelho, que Canabarro havia prometido mandar entregar todos os escravos que ainda conservavam armas.
O próprio Bento Gonçalves criticou os acontecimentos de Porongos, onde em um trecho ele diz:
“Foi com a maior dor que recebi a notícia da surpresa que sofreram o dia 14 deste! Quem tal coisa esperaria…Perder batalhas é dos capitães, e ninguém pode estar livre disso; mas dirigir uma massa e prepará-la para sofrer uma surpresa semelhante é ser desfeita sem a menor resistência, é só dá incapacidade, e da inaptidão e covardia do homem que assim se conduz…”
Sobre a culpa de Davi Canabarro que teria traído os Lanceiros, existiria uma carta que combina os acontecimentos com Caxias para o massacre de Porongos, nela dizia em um trecho que poupasse sangue de gente branca .Canabarro morreu negando a traição.

O legado

Os soldados negros que sobreviveram, foram aprisionados pelo Império e seguiram para o Rio de Janeiro. Porongos, durante muito tempo, permaneceu um assunto intocado, pois, implicaria na mudança da visão dos personagens de Canabarro e Caxias na história oficial, mas também por termos uma revisão histórica da Revolução Farroupilha.
O grupo dos Lanceiros Negros foram merecidamente reconhecidos por sua bravura sendo, oficialmente incluído no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria, também conhecido como Livro de Aço, através da Lei federal Nº 14.795, de 5 de janeiro de 2024.
Que o Rio Grande do Sul continue honrando seus personagens farroupilhas, mas que honre principalmente os Lanceiros Negros.

Por: Diones Franchi
Jornalista e mestre em História

Referências:

ALMEIDA, Jerri Roberto. Heróis de Papel, 2007
FLORES, Moacyr. História do Rio Grande do Sul, 1985

Imagens: João Manuel Blanes, Vasco Machado.











segunda-feira, 4 de dezembro de 2023

Tarrã

A Tachã ou Tarrã é uma ave da família Anhimidae, muito conhecida e presente no Rio Grande do Sul sendo também conhecido em outras regiões por outros nomes, como inhuma-poca, anhumapoca, anhupoca, chajá, anhuma-do-pantanal ou tachã-do-sul.
O nome anhuma é pantaneiro, sendo também usado para uma outra espécie da mesma família, habitante da mata amazônica e matas densas do Centro-oeste (nunca foi detectada no Pantanal, mas ocorre no alto rio Paraguai).
Seu nome cientifico significa do (grego) khaunos = esponjoso, rugoso, poroso, referente aos sacos de ar sob a pele das aves gritadoras; e do (latim) torquata, torquatus = colarinho, colar - Pássaro com colar de pele rugosa.
É uma ave corpulenta, com patas grandes e cabeça desproporcionalmente pequena, bico pequeno e topetuda sendo sua coloração pardo-acinzentada escura, com algumas manchas brancas. O pescoço é contornado por uma gola negra realçada por uma segunda penugem branca. A face superior da asa é negra, com grande área branca visível durante o voo, e a face inferior da asa é totalmente branca.
As fêmeas são menores que os machos. As patas são curtas e fortes e os três dedos da frente estão unidos por uma membrana interdigital rudimentar. Sua altura média é de 85 cm e peso em torno de 4kg.
O Tarrã é um grande habitante dos brejos, com formato e características únicas. O corpo, pernas e pés são enormes em relação à cabeça, pequena e com um penacho na nuca. Em voo, mostra uma grande área branca sob a asa. Possui um esporão vermelho no cotovelo da asa, visível quando está pousada ou voando. Apesar do aspecto agressivo, não é usado como arma de ataque, servindo para comunicação entre as tachãs.
Destaca-se pelo chamado alto, feito por um indivíduo ou pelo casal, em dueto. Pode gritar a qualquer momento do dia, avisando sobre sua presença ou de intrusos, atraindo a raiva dos caçadores, ao espantar a presa. Esse chamado é mais grave no macho do que na fêmea, está mais esganiçada, e é interpretado como dizendo “tachã”.
Alimenta-se, principalmente, de folhas de plantas aquáticas, apanhadas enquanto caminha pelo brejo ou nas margens, assim como insetos e moluscos. Mas também caminha pelo campo do pampa para se alimentar.
São aves típicas de ecossistemas alagados, como brejos e lagos, sendo nativa do Pantanal, dos Pampas e dos Chacos Bolivianos. No Cerrado, pode ser vista em veredas, campos úmidos, e ocasionalmente matas de galeria próximos a esses biomas. É onívora, porém se alimenta principalmente de matéria vegetal, como sementes, folhas, raízes e brotos de plantas aquáticas, além de moluscos e insetos. Sua vocalização é um chamado alto que pode ser ouvido à distância, usado para avisar sua presença ou a de intrusos. É monogâmica e territorialista durante a estação reprodutiva, fazendo grandes ninhos com folhas emaranhadas sobre a vegetação acima da água.
Sua distribuição se estende do norte da Bolívia e extremo leste do Peru ao centro da Argentina, abrangendo o Paraguai, Uruguai, e o Brasil nos estados de Rondônia, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e principalmente o Rio Grande do Sul.
O Tarrã é uma das principais aves do Rio Grande do Sul, sendo muito comum nas terras gaúchas.

Por: Diones Franchi
Jornalista e Mestre em História
Referências:

Gomes, Wagner. Lista das espécies de aves brasileiras com tamanhos de anilha.
 
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sexta-feira, 3 de novembro de 2023

Rio Pardo – O histórico centro comercial do Rio Grande do Sul

Rio Pardo é um município brasileiro localizado no Rio Grande do Sul, tendo seu conjunto arquitetônico tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.
A cidade tem uma grande importância para a história do Rio Grande do Sul, estando localizado na Depressão Central do Estado. Já foi considerado o centro comercial, militar e cultural do Rio Grande do Sul.
No início a região era habitada pelos indígenas da Tradição Umbu que mais tarde foram substituídos pelos Tupis - guaranis, caingangues, Charruas e Tapes.
Em 1633, a região era dominada pela Espanha, onde os jesuítas fundaram a Redução de São Joaquim, perto da foz do Rio Pardo, reunindo mais de mil famílias indígenas, sendo depois destruídos pelos bandeirantes de Antônio Raposo Tavares. No início do século XVIII os tropeiros portugueses percorriam a área em busca de gado, onde alguns a partir de 1724, começaram a receber sesmarias. Neste período foram construídos estâncias de criação, marcando logo após a chegada de novos grupos de famílias portuguesas.
Com o Tratado de Madri de 1750, houve a divisão das áreas de colonização espanhola e portuguesa, surgindo a necessidade de defender a nova fronteira, estabelecendo uma guarda pelo governo português junto à foz do Rio Pardo.
Em 1751 o governador da Capitania do Rio de Janeiro, Gomes Freire de Andrade, incumbido de demarcar a fronteira, ali estabeleceu seu quartel general. Pouco depois foi erguido o Forte Jesus, Maria e José, guarnecido por um regimento de dragões em 1754.
Esse forte nunca caiu para o inimigo, e por isso recebeu a alcunha de Tranqueira Invicta, mas ele posteriormente foi destruído.
Em torno da fortificação começou a se formar o primitivo povoado de Rio Pardo, se tornando uma das primeiras e importantes rotas comerciais do Rio Grande do Sul.
Em 1809, a Capitania do Rio Grande de São Pedro, foi dividida em quatro municípios: Rio Grande, Porto Alegre, Santo Antônio da Patrulha e Rio Pardo. Entre os quatro, Rio Pardo possuía uma vasta área territorial, sendo o maior município do Rio Grande do Sul, chegando a ocupar três quartos do território. Em 31 de março de 1846 a vila foi elevada à categoria de cidade, consequentemente a população crescia, e aconteciam melhoramentos na infraestrutura, onde os escravos representavam um quarto na totalidade da população. Rio Pardo teve importância também na Revolução Farroupilha, onde imperiais e farroupilhas travaram batalha.
Durante um bom período, Rio Pardo, teve grande prosperidade como um importante entreposto comercial, favorecido pelo acesso à grande rede de navegação fluvial da região central do Rio Grande.
O Porto Fluvial era o grande responsável pelo escoamento de produtos da região, através dele, chegavam às mercadorias que vinham de Porto Alegre, e tinham como destino abastecer as “Missões, o Pampa e a Serra”. Por isso, era também muito comum o fluxo das carreteadas puxadas por bois, que buscavam bens e alimentos para as demais localidades do Rio Grande do Sul.
Devido a substituição da navegação pelas ferrovias, Rio Pardo iniciou uma fase de decadência, principalmente quando seu território começou a ser parcelado para a formação de novos municípios, acentuada pela substituição das ferrovias pelas rodovias como principal meio de circulação de bens e pessoas.
Rio Pardo, nos primórdios do século XIX, era então um dos mais importantes centros militares, comerciais e culturais do Sul do Brasil. Palco de lutas e saques durante as revoluções.
Na época do seu apogeu foi adornada por casas de estilo colonial, que atualmente é responsável pelo seu prestígio como patrimônio histórico tombado. A Igreja Matriz de Nossa Senhora do Rosário e a antiga Escola Militar, hoje um centro cultural, são seus principais monumentos.
Rio Pardo também conta com A Rua da Ladeira, que foi a primeira rua calçada do Rio Grande do Sul.
Dessa maneira, Rio Pardo oferece especiais atrativos históricos por ter desempenhado um papel importante na formação do Rio Grande do Sul, sendo sentinela avançada do Brasil, nas fronteiras do Sul.

Por: Diones Franchi
Jornalista e Mestre em História

Fontes:

Barros, Silvia. "História de Rio Pardo". Câmara Municipal de Rio Pardo / Arquivo Histórico de Rio Pardo, 2016
DUMINIENSE, Paranhos Antunes – Rio Pardo - Cidade Monumento. Porto Alegre: Globo, 1946
PESAVENTO, Sandra. História do RS. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1982

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Rio Pardo - Antigo


Rio Pardo - RS


A Rua da Ladeira - Mais antigo calçamento do Rio Grande do Sul

terça-feira, 19 de setembro de 2023

As capitais farroupilhas

A guerra dos Farrapos tomou outro curso, a partir da Proclamação da República Rio-Grandense em 11 de setembro de 1836. Com este acontecimento, procurando evitar que os guardas nacionais e os moderados monarquistas abandonassem a revolução, os farrapos ofereceram ao comandante Bento Gonçalves a presidência da República.
O futuro presidente da República Rio-Grandense estava acampado em Viamão, mas ao atravessar o rio Jacuí foi preso no combate da ilha do Fanfa.
Os moderados, impediram que Paulino da Fontoura, chefe da facção farroupilha, eleito vice-presidente, assumisse a presidência enquanto Bento Gonçalves estava preso. Dessa maneira, elegeram como presidente provisório José Gomes de Vasconcelos Jardim.
Os farrapos fundaram uma república separatista que adotou uma nova bandeira, escudo de armas e hino nacional. Concedeu cidadania e considerou os brasileiros de outras províncias como estrangeiros, manteve representantes diplomáticos no Prata e os líderes escreviam em suas cartas que haviam fundado uma nova nação. Pela primeira vez em território brasileiro, funcionou um Estado republicano com presidente, ministros, coletorias, serviço de correio, Exército, leis próprias e com um projeto de constituição liberal.
Durante a Revolução Farroupilha, a República Rio-Grandense teve 3 capitais oficiais além de capitais temporárias.
Em 10 de novembro de 1836, Piratini foi eleita a primeira sede e capital dos farrapos, sendo após, elevada a município. No dia 20 de novembro de 1837, chega a Piratini o então General Bento Gonçalves da Silva, que conseguira livrar-se das prisões da Regência, sendo que em 16 de dezembro, em Sessão Extraordinária da Câmara Municipal, é conduzido ao supremo poder da República, conforme se acha registrado no Livro de Atas n° 02 da citada Câmara.
Em 1838, por iniciativa de Domingos José de Almeida e Luigi Rossetti, foi criado o órgão oficial da República, o jornal "O Povo", sendo a tipografia e redação instaladas no prédio onde residiam Rossetti e Giuseppe Garibaldi.
As ocorrências da guerra fizeram com que a 9 de janeiro de 1839, se deliberasse a mudança da capital para um ponto mais central, sendo designada a Vila de Caçapava para sediar o governo da República.
Piratini foi capital da República e sede do governo farrapo até 14 de fevereiro de 1839.
A tomada de Caçapava pelos imperiais em 21 de março de 1840, obriga o governo a se retirar da vila, para logo retornar e ver os prejuízos causados pelo invasor. Isso faz com que os farrapos comecem a correr mais riscos, com o avanço dos imperiais na região.
Até 23 de março de 1840, a capital permaneceu em Caçapava, mas a partir de então, a sede do governo, passou a ser o lugar onde estava o Tesouro. Por algum tempo a capital farroupilha ficou ambulante, voltou para Piratini, onde esteve em diversos pontos da república até chegar em São Gabriel.
Nos primeiros dias do mês de agosto de 1841, a capital ficou em Bagé, onde Domingos José de Almeida, no Ministério da Fazenda, passa a tomar as providências para reorganizar o que se havia extraviado e perdido nessas andanças. A capital provisória em Bagé, foi do período de agosto de 1841 até abril de 1842.
Bagé ficou capital, devido a ocupação de São Borja pelos imperiais, fazendo com que Alegrete naquele momento, não oferecesse as condições de segurança adequada.
Em junho de 1842, a capital da República Rio-Grandense se instalou em Alegrete, até o fim da revolução em 1845.
Oficialmente existem três capitais farroupilhas que são Piratini, Caçapava e Alegrete, sendo Bagé e São Gabriel consideradas capitais transitórias.
As mudanças de capitais sempre se deram pelo avanço imperial e também como medida estratégica nos planos da República.
No dia 25 de fevereiro de 1845, quando todos os exércitos se concentraram nas proximidades de Ponche Verde, foram assinadas as atas que encerravam a mais duradoura revolução civil do Brasil.
A sede atual do governo do estado do Rio Grande do Sul, é chamada de Palácio Piratini, em homenagem a primeira capital farroupilha.
É preciso afirmar que todas as capitais farroupilhas, ficaram marcadas historicamente, cultuando em seus traços as raízes sul-rio-grandenses.

Por: Diones Franchi
Jornalista e Mestre em História

Referências:

FLORES, Moacyr. História do Rio Grande do Sul, 1985
SPALDING, Walter. A revolução farroupilha. Enciclopédia Rio-grandense, 1956

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Piratini Antigo - Palácio do Governo da República Rio-grandense

sexta-feira, 4 de agosto de 2023

Sete Povos das Missões

Os Sete Povos das Missões foi o nome dado aos sete aldeamentos indígenas fundado pelos Jesuítas espanhóis na Região do "Rio Grande de São Pedro", (Rio Grande do Sul). Era composto pelas reduções de São Francisco de Borja, São Nicolau, São Miguel Arcanjo, São Lourenço Mártir, São João Batista, São Luiz Gonzaga e Santo Ângelo Custódio. Os Sete Povos também eram conhecidos como Missões Orientais, por estarem localizados a leste do Rio Uruguai. As missões, também chamadas de reduções, foram fundadas e organizadas por padres da Companhia de Jesus. Os jesuítas chegaram à região com o objetivo de catequizar e "civilizar" sob a autoridade espanhola. Os conflitos eram marcados pela destruição das missões e pelos primeiros êxodos dos guarani. Nos períodos de paz, os indígenas retornavam ao local de origem com o apoio dos jesuítas

 A origem

 A fundação da Colônia do Sacramento no Rio da Prata provocou a reação do governo espanhol. Para evitar o avanço dos portugueses pelo litoral sul, a colonização espanhola foi realizada por povoados. Por falta de homens brancos, o governo espanhol recrutou índios cristãos, se tornando súditos do rei. Assim em 1682, se criou a primeira redução de São Francisco de Borja e logo depois as demais, totalizando Sete povoados.

 A organização

Os Sete Povos eram organizados com uma praça central, tendo em sua volta diferentes edificações. A praça era um espaço cívico-religioso com uma cruz latina em cada canto, com um padroeiro do povoado.Em um dos lados da praça eram construídos a igreja, residência dos padres, colégio, oficina, cemitério, cotiguaçu (casa grande com vários aposentos) e horta. Na igreja não existiam bancos e os homens ficavam de um lado e as mulheres de um outro. No cemitério havia uma pequena capela e túmulos onde os índios eram enterrados de forma cristã. As habitações abrigavam índios do mesmo clã, onde cada bloco era dividido em vários cômodos, sob responsabilidade de um cacique. A gestão governamental das missões obedecia à organização das cidades espanholas. Cada uma possuía um chefe superior e havia prefeitos e vereadores. Ambos formavam um conselho. Todos os cargos eram exercidos por indígenas. O objetivo dos padres jesuítas era reunir os indígenas e educá-los de acordo com os princípios da cultura cristã ocidental. Foi também criada oficinas de artesãos, carpinteiros, escultores e fabricantes de instrumentos musicais. Na maioria das Missões surgia uma organização social, comercial, cultural e mesmo militar que mostrava a plena capacidade de desenvolvimento dos indígenas ‘descobertos’ pelos europeus. Cada povoado possuía a sua plantação de erva mate para a comunidade e também a criação de bovinos. A Coroa portuguesa permitia a escravidão indígena, enquanto o Império espanhol os tornava automaticamente súditos do rei. As missões foram constantemente atacadas por bandeirantes em busca de escravos para as colônias. Os Sete Povos das Missões comportou 30 mil habitantes. Todos eram indígenas, e os padres espanhóis seus principais administradores. O modelo inicial de catequização e de criação das Missões Jesuíticas somente foi encontrar maior sucesso em meados do século XVII, e cresceu bastante a ponto de virar um entrave para a expansão dos colonizadores europeus.

O fim

No século XVIII, a região estava sob disputa entre Espanha e Portugal. O Tratado de Madri de 1750 estabelecia que a região dos Sete Povos das Missões fosse entregue a Portugal, e em troca disso a Espanha ficaria com a Colônia do Sacramento saindo os Jesuítas espanhóis. Mas este Tratado gerou conflitos: pois nem padres nem índios queriam abandonar suas reduções, e nem os portugueses queriam abandonar o Sacramento. Houve uma série de confrontos armados que culminaram na Guerra Guaranítica, que deixou um rastro de destruição e sangue que abalou as estruturas do sistema missioneiro. Acredita-se que 20 mil indígenas morreram. Logo depois veio o fim: com a intensa campanha difamatória que os Jesuítas sofreram a partir de meados do século XVIII, a Companhia de Jesus foi expulsa de terras portuguesas em 1759, e em 1767 a Espanha fez o mesmo. No ano seguinte todas as reduções foram esvaziadas, com a retirada final dos Jesuítas. Então suas terras foram apossadas pelos espanhóis e os índios foram subjugados ou dispersos. Quando em 1801 eclodiu a nova guerra entre Portugal e Espanha, os Sete Povos já estavam em tal estado de desintegração que com apenas 40 homens  Manuel dos Santos Pedroso e José Borges de Canto conseguiram conquistá-los para Portugal, embora pareça ter havido a participação indígena como facilitadora da tomada de posse. Depois disso Portugal anexou o território ao Rio Grande do Sul, instalando um governo militar. Atualmente, dos Sete Povos existem as Ruínas de São Miguel das Missões e de São Nicolau, além das cidades de Santo Ângelo, São Luiz Gonzaga e São Borja que ainda guardam suas particularidades dentro da história e preservam a cultura gaúcha e missioneira.

 

Por: Diones Franchi

Jornalista e mestre em história

 

Referências:  

FLORES, Moacyr. História do Rio Grande do Sul, 1985

GARCIA, Elisa Frühauf. A "conquista" dos Sete Povos das Missões: de "ato heróico" dos luso-brasileiros a campanha negociada com os índios


                                                                   Ruínas de São Miguel


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Redução Jesuítica

quinta-feira, 8 de junho de 2023

Dialeto Gaúcho

O dialeto gaúcho, também conhecido como dialeto guasca, é um dialeto português falado no Rio Grande do Sul e em algumas outras partes do Brasil, onde exista uma presença de população de gaúchos. É fortemente influenciado pelo espanhol devido a colonização espanhola, tendo influência do guarani e de outras línguas indígenas, possuindo diferenças léxicas e semânticas em relação ao português padrão. Na fronteira com o Uruguai e Argentina a influência castelhana se acentua, enquanto que regiões colonizadas por alemães e italianos mantém as respectivas influências. Vale ressaltar que assim como no Brasil, existem no Uruguai e na Argentina os gaúchos, conhecidos como o termo “gaucho”. Algumas palavras de origem africana e até mesmo da língua inca também podem ser encontradas. Foi publicado um dicionário "gaúcho-brasileiro" por Batista Bossie, listando as expressões regionais e seus equivalentes na norma culta.

Tchê

Tchê é uma interjeição muito utilizada no Rio Grande do Sul. Sua origem vem do espanhol “che” falado na Argentina, Uruguai e Paraguai. O tchê, portanto, é uma variação do “che”, oriundo da forma de grafar em português como ele é pronunciado no espanhol, como se tivesse um”t” e com o “e” fechado (ê). A interjeição “che” pode ser empregada com dois sentidos: a) como expressão de espanto e dúvida; como o sentido de companheiro, amigo, irmão, camarada. Há controvérsias quanto à sua etimologia. Uma das versões diz ser originária do dialeto falado pelos índios guaranis, em que “che” significa eu, meu, ei. Em decorrência disso, era empregada no início de frases. Outra versão afirma que “che” é uma forma abreviada usada pelo espanhol para a palavra latina “caelestis” (em latim, lê-se tchelestis), com o significado de gente do céu, criatura de Deus, menino do céu. Na linguagem regional gauchesca, prevalece, atualmente, a forma escrita e falada “tchê”, empregada geralmente ao final de uma frase, como expressão de espanto, surpresa ou como forma de chamar a atenção de alguém, como se fosse um vocativo. Exemplo: “O que é isso tchê?” Mas bah tchê, tava bom barbaridade!”

Principais termos, frases típicas e ditados populares da linguagem regional do gaúcho

Abagualado - expressão para descrever alguém grosseiro, rude ou sem muita instrução.
Abichornado - Indivíduo triste, abatido, aborrecido, desanimado, envergonhado.
Arreganhado - adjetivo que significa "exibido", pessoa que gosta de se exibir; ou uma aproximação com intenção de seduzir.
Afuzel / Afudê - usada para expressar que algo era bom, bonito, legal, entre outras coisas boas.
Arriar - também significa fazer graça de alguma coisa, zoar da cara de alguém.
A la pucha - Expressão para manifestar espanto, surpresa, admiração.
À ponta de faca - Ao pé da letra; de forma radical, sem concessões, sem meias palavras, sem meio-termo.
Arranca-rabo e rabo de cavalo - situação conflituosa entre indivíduos; discussão, desavença, briga.
Atucanado - pessoa estressada, que se preocupa com tudo e se diz ocupada com muitas tarefas e com a cabeça cheia de problemas. A etimologia da palavra está relacionada com o tucano.
Bah - uma expressão usada em praticamente todas as frases, e que não tem um significado específico. Serve para enfatizar alguma reação ou sentimento, como tristeza, dúvida ou alegria. Muito usado com o "Tchê", "Bah Tchê".
Bagual - excelente, bom, ótimo ou cavalo xucro.
Balaqueiro - expressão usada para se referir a uma conversa provavelmente cheia de mentiras, a conhecida "conversa-mole" ou "papo-furado".
Barbaridade - Termo usado para indicar surpresa, espanto. Empregado também com o objetivo de destacar, dar ênfase, sob a forma da exclamação: Mas que barbaridade!
Bergamota – é o modo como se chama a tangerina ou mexerica.
Branquinho - beijinho (doce).
Brigadiano - policial da Brigada Militar, conhecida em outros estados como Polícia Militar.
Boca aberta - uma pessoa sonsa, lerda ou burra.
Bodoque - arco de atirar que, composto por um elástico ligado às suas extremidades, é ativado pelo gatilho e usado para arremessar pedrinhas, chamado também de atiradeira ou estilingue.
Bochincho - é uma festa informal, local de bebedeira, desordem, briga, bagunça, baile popular, um arrasta-pé.
Bolicho - Pequeno armazém de secos e molhados. Em feriados e fins de semana, serve como local de encontro onde os homens do campo jogam baralho, bebem um trago e contam causos. O mesmo que bodega ou boteco.
Boia - como os gaúchos chamam comida.
Borracho - bêbado
Buenas - saudação espanhola, muito usada pelos gaúchos.
Bucha - pode ser para expressar que algo é difícil, mas no futebol significa um gol bonito.
Cacetinho - modo como os gaúchos chamam o pão francês, ou pão de sal.
Campeando - sinônimo de "procurando", ato de buscar por algo.
Cancheiro - pessoa que tem experiência e/ou habilidade em alguma coisa
Carpim - meia.
Casamata - banco de reservas (futebol).
Chasque - é um convite, uma carta ou aviso.
Chavear - o mesmo que fechar a porta com chave.
Chapa - pode se referir a uma radiogradia ou uma dentadura, mas também é uma forma de dizer "amigo".
Chimia - geleia de frutas
China - à-toa, mulher ou prostituta.
Chinaredo - bordel; onde fica o chinaredo.
Chinoca - guria que se pilcha de bota e bombacha ao invés do vestido de prenda, prenda que passou dos 30 anos.
Chinelagem - expressão para comportamento despojado, decadente, brega ou desajeitado, ou ainda ato ou objeto de gosto duvidoso ou popular (no sentido de brega). Algo ruim, fraco, bagunçado ou desanimado. Uma pessoa chata também pode ser chamada de chinelo.
Chinelão - pessoa que pratica a chinelagem.
Colorado - torcedor do Sport Club Internacional.
Cuecão - ceroula
Cuia - é o suporte para a erva-mate, sendo o fruto da Cuieira, um tipo de árvore. Pode também ser lavrada e ornada em ouro, prata e outros metais, posteriormente.
Cupincha - camarada, companheiro, amigo (em outras regiões essa expressão também é usada no mundo do crime, sendo sinônimo nesse caso a comparsa, capacho ou jagunço)
Cusco - uma gíria para se referir a "cachorro".
Entrevero - grande confusão de pessoas, animais ou coisas, transformando-se em uma desordem ou um prato típico.
Esgualepado - é o mesmo que machucado, arrebentado e ferido.
Faceiro - alegre, contente.
Fatiota - usado para falar que alguém está bem vestido, principalmente quando a pessoa está de paletó ou terno.
Faixa - é como os moradores do Rio Grande do Sul chamam as estradas asfaltadas.
Fandango - uma festa, qualquer tipo de baile ou divertimento.
Gaudério - homem do campo, pode também ser um indivíduo sem ocupação ou vadio.
Ginete - um cavaleiro habilidoso, que sabe montar bem um cavalo, com destreza e elegância.
Goleira - baliza (campo de futebol)
Guapo - palavra para dizer que alguém é bonito e forte.
Guaiaca - espécie de pochete de couro
Guampa - chifre.
Guaipeca - modo como os gaúchos chamam cachorros, geralmente vira-latas.
Gringo - modo como os gaúchos chamam os descendentes de italiano que moram na serra gaúcha.
Guri /Guria - gíria que pode substituir as palavras "menino" e "menina" em diferentes situações.
Guisado - no Rio Grande do Sul, guisado é o mesmo que carne moída.
Gremista - torcedor do Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense.
Indiada - grupo de várias pessoas.
Inticar - provocar
Lagartear - o mesmo que ficar no sol.
Laço - apanhar, surra ou corda.
Lomba - uma ladeira ou morro para subir ou descer.
Macanudo - Adjetivo que caracteriza o que é excelente, valente, de boa qualidade; que é admirado pela beleza, força, prestígio, poder, inteligência.
Matear - tomar erva-mate.
Matungo - palavra para designar um cavalo velho, que já não serve para o trabalho.
Melena - cabelo
Minuano - vento vindo do sul que traz as massas gélidas do Polo Sul.
Mongolão - não entende as coisas, burro, abobado, taipa ou boca a berta.
Negrinho - brigadeiro (doce).
Ôigale - gíria usada para expressar espanto e alegria.
Orelhano - animal sem nenhum sinal nas orelhas, portanto não foi assinalado, não possui marca de seu dono. Seria um antropônimo originado do padre Cristobal de Mendoza y Orellana, introdutor do gado no Rio Grande do Sul. Para alguns estudiosos, o termo vem do espanhol “orejano”, arisco, agreste, provavelmente derivado de “arilla”, margem, borda, portanto sem nenhuma ligação com a palavra orelha a não ser pela semelhança de grafia.
Paleta - sinônimo de ombro ou a parte superior das costas.
Pandorga - brinquedo também conhecido como pipa ou papagaio.
Parada de ônibus - Ponto de ônibus.
Parelho - liso, homogêneo, igual.
Patente - vaso sanitário.
Pechada - o mesmo que batida, um acidente que envolve dois carros, ou pessoas colidindo.
Peleia - briga
Prenda - como os gaúchos chamam suas mulheres.
Piá - palavra para se referir a um guri, menino criança.
Pingo - ao contrário do matungo, o pingo é um cavalo jovem, com saúde, bonito e cheio de energia.
Pila -palavra regional que dá nome a moeda nacional, no caso o Real (ex: 10 pila, 25 pila - usa-se sempre no singular)
Pousar - o mesmo que dormir na casa de alguém.
Querência - sinônimo para "terra natal", a cidade ou região de origem da pessoa.
Quebra-molas - lombada
Rabicó -gominha de cabelo
Ranheta / Reinento - o mesmo que uma pessoa brava ou reclamona.
Rengo - é algo capenga, mal feito, acabado.
Roleta - catraca.
Rótula - rotatória, redondo.
Sestear = dormir depois do almoço.
Sinaleira - outro nome para semáforo, sinal de trânsito.
Tchê - significa "amigo", "cara". Muito usado, inclusive, junto ao "Bah", no inicio ou fim de frase, formando a expressão "Bah Tchê", que tem a mesma função de surpresa.
Taipa - Parede de pedra com ou sem terra para represar água num açude. Parede de pedra para cerco de animais menores, especialmente o porco. Sujeito tapado, idiota, ignorante, sendo aquela pessoa sonsa, que nunca entende nada. Outras gírias para isso são “mongolão”, “tcho” ou “tanso”.
Talagaço - Porção de bebida alcoólica tomada de uma só vez, num único gole. O mesmo que talagada, mas também significa tomar golpe.
Taura - o mesmo que macanudo (valente).
Terneiro - bezerro
Trampa/Tramposo - é o mesmo que armadilha, pode ser usado ainda como adjetivo para alguém traiçoeiro. Ex.: Cuidado com ele, já me disseram que é um grande tramposo.
Tri - uma expressão usada para dar intensidade as coisas, para que elas pareçam maiores ou melhores. Para isso, basta adicionar o termo “tri” na frente da palavra que você deseja intensificar. Ex.: A festa ontem foi tri legal. Que tri!
Trovar - o mesmo que falar muito e contando vantagem.
Vareio - o ato de vencer com grande vantagem. Diz-se que o jogo foi um vareio.
Vazio - corte de carne conhecido como Fraldinha em outras regiões.
Vianda - palavra usada para se referir a uma marmita de comida.
Vivente - uma expressão utilizada para se referir a uma pessoa. Geralmente é usada com outra gíria, como “bah” e “tchê”. Ex.. Bah, vivente… tenho que contar algo para ti.
Veranear - passar o verão.
Xiru - índio ou caboclo. Na língua tupi quer dizer "meu companheiro".
Xis - hambúrguer.

Existem algumas expressões como: Afiada que nem dentada de traíra, Agarrado como carrapato em costela de boi gordo, Bagaceiro que nem papagaio de zona, Me caiu os butiá do bolso, Cheio que nem penico de velha, Mais solto que nem peido em bombacha, Dar uma banda, Deitar o cabelo, Estar a meia guampa, Mas que frio de renguear cusco, Mais feio que briga no escuro de foice, Mais feliz que lambari de sanga, mas bem capaz.
O Rio Grande do Sul conta com uma grande diversidade de palavras e frases caracterizando a cultura gaúcha composta por um rico vocabulário.


Por: Diones Franchi
Jornalista e Mestre em História

Fontes:
Flores, Moacyr. História do Rio Grande do Sul,1985
Dicionário de Regionalismos do Rio Grande do Sul, de Zeno e Rui Cardoso Nunes, Ed: Martins Livreiro, 1986.
Portal Sesc - www.conteudo.sesc-rs.com.br


           O gaúcho e seu vocabulário




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