sábado, 29 de janeiro de 2022

Os Farroupilhas e os Caramurus

Durante a Revolução Farroupilha o exército imperial era conhecido de maneira diferente no Rio Grande do Sul.
Caramuru foi nome pelo qual os farroupilhas chamavam os soldados imperiais na Guerra dos Farrapos.
O termo antes havia sido empregado no Rio de Janeiro para designar membros do Partido Restaurador, os quais eram favoráveis ao regresso da coroa portuguesa e à volta do antigo imperador Dom Pedro I.
Logo após a Independência do Brasil, os ideais liberais de muitos brasileiros questionavam a centralização do poder pelo Imperador Dom Pedro I. Enquanto outros países da América tornaram-se repúblicas, após suas independências, o Brasil era governado por um monarca considerado por muitos absolutista.
Em 1831, o Imperador abdicou do trono em favor de seu filho. A partir daí os anos seguintes foram conturbados no Brasil e eclodiram cinco grandes revoltas regionais: a Revolta dos Malês (1835), a Cabanagem (1835-1840), a Revolução Farroupilha (1835-1845), a Sabinada (1837-1838) e a Balaiada (1838-1841). A Guerra dos Farrapos foi a mais violenta e duradoura desse período.
Em 1835, o liberal Antônio Diogo Feijó assumiu como regente uno do Brasil. Feijó renunciou, em 1837, e assumiu o conservador Pedro Araújo Lima.
No início do século 19, as Províncias do Rio da Prata entraram em guerra por independência, o que também envolveu a Província Cisplatina. Esses conflitos só terminaram, em 1828, após um acordo entre o Brasil, Argentina e Uruguai. Durante esse período, os pecuaristas do Rio Grande do Sul ficaram comercialmente fortalecidos e muitos gaúchos passaram também a sonhar com a independência. Entretanto, o governo imperial decidiu reduzir as tarifas alfandegárias para o charque argentino e uruguaio, provocando grande descontentamento no Rio Grande do Sul.
O ano de 1835 foi conturbado no Império do Brasil com o inicio de varias revoltas, sendo o poder executivo considerado instável. No Rio Grande do Sul as atividades econômicas eram o tropeirismo, a pecuária e o comércio de seus subprodutos.
Contudo, um dos problemas era os impostos sobre o charque, um tipo de carne salgada e seca ao sol, que era principalmente destinada à alimentação de tropeiros e escravos.
A Província do Rio Grande do Sul estava politicamente dividida entre os chamado farrapos (de tendência liberal) e os caramurus (de tendência conservadora).
Os farrapos ou farroupilhas eram os campesinos e estancieiros, muitos latifundiários escravagistas ou caudilhos. Não havia um ideal comum entre eles, mas um descontentamento geral com os caminhos do Império, especialmente relativos aos governos no Sul do Brasil e suas consequencias econômicas, sendo influenciados pelas repúblicas independentes da antiga América Espanhola.
Os caramurus eram uma referência a Caramuru, o Patriarca do Brasil, que habitou o Recôncavo Baiano nas primeiras décadas do século 16. Caramuru era um nobre da Casa Real de D. João III e dele descendeu os primeiros nobres brasileiros, caboclos, que habitavam a Casa da Torre (hoje, Praia do Forte). Antes e depois da fundação de São Vicente, a Bahia de Caramuru foi o principal porto do Brasil, desde os anos 1520 até cerca de 1870. Embora poderoso, sua vida na Bahia era despojada de luxo. A referência aos caramurus vem do século 17, da obra do poeta baiano Gregorio de Mattos, autor de poemas como “Aos caramurus da Bahia e aos principais da Bahia chamados os caramurus”. No Rio de Janeiro, o Partido Restaurador, que buscava o retorno de D. Pedro I, era chamado de "partido dos caramurus". Lá, também era publicado o jornal “O Caramuru” por simpatizantes daquele partido, que perdeu o sentido de sua existência com a morte de D. Pedro I, em 1834. Mas, no Rio Grande do Sul, os caramurus eram aqueles que defendiam o Império.
Em 1834, Bento Gonçalves era o comandante da Guarda Nacional do Rio Grande do Sul, quando foi denunciado por desobediência e apoio aos uruguaios que defendiam a separação do Rio Grande do Sul. Bento Gonçalves tinha fazendas de gado tanto no Uruguai, quanto no Rio Grande do Sul, sendo julgado inocente.
Bento Gonçalves indicou, ao Regente Feijó, o gaúcho Antonio Rodrigues Fernandes Braga para substituir o baiano José Mariani, um dos caramurus, no cargo de Presidente da Província, no que foi atendido. Braga assumiu em 2 de maio de 1834, mas seu governo era impopular, principalmente pela criação de impostos.
Em abril de 1835, Bento Gonçalves assumiu como deputado da primeira Assembléia Legislativa da Província. Foi acusado de tentar um golpe separatista, com outros deputados. Bento Gonçalves e Bento Manoel Ribeiro, outro importante personagem da Revolução, perderam seus postos militares.
Na noite de 19 de setembro de 1835, Onofre Pires, comandou os farrapos no combate da Ponte da Azenha. Em 20 de setembro, Bento Gonçalves comandou a tomada de Porto Alegre, dando início à Revolução Farroupilha. Era o inicio de uma longa guerra entre os farroupilhas e os caramurus, aquilo que era uma antiga disputa política se tornaria a revolta mais duradoura da História do Brasil.


Por: Diones Franchi
Jornalista e mestre em História

Fontes:

- Historia do Rio Grande do Sul – Moacyr Flores
- Portal Brasil Turismo - https://www.brasil-turismo.com/rio-grande-sul/historia/guerra-farrapos.htm

Caramurus - Exército Imperial

Farroupilhas - Exército dos Farrapos