segunda-feira, 7 de novembro de 2016

A batalha "mais sangrenta e gentil" da Revolução Farroupilha

A Revolução Farroupilha se comemora no dia 20 de setembro, data em que os farroupilhas tomam e cercam a cidade de Porto Alegre, mas a batalha que deu fama aos farroupilhas por sua hombridade foi sem dúvida a a batalha de São José do Norte.
Bento Gonçalves que estava no cerco à cidade de Porto Alegre, traçou com seus comandantes um ataque surpresa a cidade de São José do Norte, que estava sob o domínio imperial. O objetivo era através de São José do Norte, conseguir invadir a cidade de Rio Grande e tomar seu porto marítimo.
Bento Gonçalves que havia deixado o cerco de Porto Alegre, sob o comando de David Canabarro, assumiu o comando das tropas que rumaram em direção a São José do Norte, com o apoio de seus comandantes, Domingos Crescêncio que comandava a divisão de infantaria, seu primo Onofre Pires no comando da cavalaria e Giuseppe Garibaldi comandando um esquadrão de infantaria, do qual também faziam parte seus marinheiros. No total o numero de soldados farrapos que partiram para esta batalha, chegava em torno de mil homens. Na madrugada de 16 de julho de 1840, desferiram um ataque surpresa as tropas imperiais comandadas pelo coronel Antônio Soares Paiva, sendo que os imperiais foram pegos de surpresa, mas reagiram ferozmente ao ataque. Foram eles favorecidos por uma tempestade que caiu durante a batalha e impediu o avanço dos farrapos. Mesmo assim a batalha durou horas deixando muitas baixas dos dois lados.
A decisão crucial do desfecho desta batalha ficou nas mãos de Bento Gonçalves que teve que tomar uma escolha para sair vitorioso ou recuar e desistir da tomada da cidade. A solução seria atear fogo na cidade obrigando a retirada das tropas imperiais. Essa decisão teria um alto preço, pois acabaria atingindo toda a população que residia na cidade e causaria muitas mortes.
Tudo levava a crer que os farrapos, em maior número venceriam. Bento Gonçalves reuniu os oficiais e perguntou como poderiam tomar definitivamente a vila. A resposta: deveriam incendiar São José. Apavorado com a possibilidade de destruição e de mais mortes, Bento demonstrou grandeza: “Por tal preço não quero a vitória”. E ordenou a retirada do quase vitorioso exército farroupilha. (URBIM. 2008. p. 130).
Seria praticamente a grande tentativa dos farrapos nos campos de batalha e a última chance de tomada do porto de Rio Grande. 
Nos anos seguintes os farrapos começaram a viver momentos difíceis na guerra, por vários motivos como o desgaste de longos anos de guerra, dificuldade de recrutar novos soldados, intrigas que começaram a surgir internamente e uma posição mais dura dos imperiais em relação à revolta que não tinha fim na província.
A tentativa de tomar São José do Norte, para garantir um porto, resultou naquele que foi considerado o combate mais sangrento da guerra. Conta-se que as ruas da vila ficaram cobertas de cadáveres. Nele, os farroupilhas tiveram 181 mortos, 150 feridos e 18 deles foram feitos prisioneiros. Os imperiais tiveram 72 mortos, 87 feridos e 84 prisioneiros.
Apesar da violência do evento, ele também é lembrado pelo gesto cavalheiresco do coronel Antonio Soares Paiva, que comandava a guarnição legalista da cidade. Ao término do combate, Bento Gonçalves - que estava à frente das tropas farrapas - lhe enviou uma mensagem, dizendo que se achava sem médico e remédios para seus feridos. O coronel Paiva, então, lhe mandou um médico e metade dos medicamentos de que dispunha. Em agradecimento, Bento libertou todos os prisioneiros legalistas.

Fontes:

A Revolução Farroupilha, Sandra Jatahy Pesavento, Editora Brasiliense, Lígia Gomes Carneiro | Raízes Sócio-econômicas da Guerra dos Farrapos, Leitman, Spencer - Ed. Graal, 1979 | A Revolução Farroupilha: história e interpretação, Freitas, Décio et alli. Ed. Mercado Aberto, 1985 |

Imagem: Quadro Marcha de Bento Gonçalves a São José do Norte, de José Américo Roig (Zeméco)


Nenhum comentário:

Postar um comentário