segunda-feira, 24 de abril de 2017

O massacre dos Charruas em Salsipuedes

Por: Diones Franchi

O massacre de Salsipuedes ocorreu em 11 de abril de 1831, sendo considerado um dos principais genocídios indígenas da história. Neste dia foi praticamente extinto os índios charruas, que viviam no Uruguai e habitavam a região do pampa gaúcho. Salsipuedes era uma localidade do Uruguai, onde o governo colocou em prática o plano de extermínio destes índios nos primórdios da República Oriental do Uruguai.
Após a campanha libertadora dos 33 Orientales, momento em que o Uruguai se tornou independente do Império do Brasil, existia uma preocupação do governo uruguaio para se livrar dos charruas. O comandante e libertador uruguaio Juan Lavalleja, já havia recomendado por carta datada de fevereiro de 1830 a Fructuoso Rivera, presidente da recém-criada república, que adotasse as providencias “mais ativas e eficazes” para a segurança dos habitantes e a garantia das propriedades afetadas pelos charruas: Dizia ele que eram “malvados, não conhecem freio algum que os contenha, e não se poderia deixá-los livres às suas inclinações naturais”.
O plano de extermínio foi uma traição e um covarde ataque dos soldados uruguaios aos índios que se encontravam desarmados.
Este massacre foi atribuído a Fructuoso Rivera e seu sobrinho Bernabé Rivera, que segundo historiadores armaram uma emboscada para os charruas.
Os caciques haviam sido convidados a um encontro para organizar a defesa das fronteiras do novo país. Nesse encontro organizado pelo governo uruguaio foi servido um churrasco com bebida alcoólica .
Os índios que compareceram foram mortos ou aprisionados e enviados a Montevidéu como escravos. Esse massacre foi planejado friamente, pois os uruguaios temiam entrar em confronto com os charruas em batalha, pois estes eram exímios guerreiros em destreza com as boleadeiras.
Na época existia nas autoridades a ideia de que algumas tribos Charruas, se tornavam uma ameaça, por se moverem livremente pelos campos do pampa e especialmente pelos territórios do norte como na época da pré-colonização. O governo via isso como um obstáculo intransponível para a estruturação de uma sociedade organizada.
Eles também não esqueciam o ato que os charruas fizeram na primeira fundação de Montevidéu, onde eles destruíram o povoado e não aceitavam a colonização, se mostrando combativos e guerreiros na metade do século 16.
Diferentemente das outras tribos os charruas eram um povo nômade, que se deslocava para varias regiões do pampa gaúcho, a fim de buscar a caça ou demarcar o território. Muitos deles tinham tendência a viverem sedentários, principalmente após os estabelecimentos fundadas pelos jesuítas, as chamadas missões jesuíticas, sendo que outros foram integrados na sociedade rural e a miscigenação . Existiam grupos eram considerados perigosos, mas também guerreavam entre si, tendo grupos e tribos diferentes. Em algumas situações se uniram aos uruguaios para ajudar na defesa do território e também lutar ao lado de José Artigas nas lutas revolucionarias. 
Após a independência do Uruguai, a situação dos povos indígenas foi uma das principais preocupações dos militares, pressionados pelos caudilhos, grandes proprietários de terras que viam o índio como uma ameaça. Eles temiam que os índios pudessem cobiçar suas terras para fortalecer suas tribos e atrapalhar a dominação da classe social. Tendo assegurado a fronteira com o Brasil, os índios já não eram necessários para a nova organização do Estado.
A decisão de acabar com os Charruas era questão de tempo. Rivera tinha boa relação com alguns caciques, pois os charruas haviam lutado ao lado dos uruguaios para conter os diversos ataques do território. Aproveitando-se da confiança dos charruas, o presidente, Rivera chamou os principais caciques Charruas, Venado, Polidoro, Rondeau e Juan Pedro, juntamente com suas esposas e filhos, para uma reunião, a ser realizada nas margens do arroio Salsipuedes , dizendo-lhes que o exército necessitava de sua ajuda para proteger as fronteiras do estado.
Segundo relatos históricos, em 11 de Abril de 1831 participaram da reunião várias centenas de índios, que foram inicialmente bem tratados com comida e bebida. Quando os charruas se encontravam alcoolizados, em um ponto da reunião, Fructuoso Rivera perguntou a seu “amigo” Venado cacique se poderia cortar o rapé, uma espécie de tabaco, e esse quando pegou a faca para cortar, Rivera atirou e o matou. Então o cacique no leito da morte teria dito: ¡Olha, Don Frutos... Seus soldados matando amigos!. Este teria sido o sinal para iniciar o ataque. Os charruas foram imediatamente cercados por uma tropa de 1200 soldados sob o comando de Bernabé Rivera. De acordo com a historiografia oficial com base em Rivera o saldo foi de 40 mortos e 300 prisioneiros indígenas. Entre as tropas foram 9 feridos e um morto. Mas sabe-se que o número pode ter chegado entre 150 e 200 mortes. Os cavalos dos charruas estavam distantes, pois os charruas confiavam em Rivera que no fim preparou toda emboscada.
Após o massacre os indígenas sobreviventes foram presos e levados para Montevidéu. A maioria deles, principalmente mulheres e crianças, foram para famílias de Montevidéu onde foram escravizados. Quatro dos sobreviventes chamados de Vaimaca Piru , Tacuabe , Senaque e Guyunusa foram entregues a um francês chamado François de Curel, que levou para Paris, onde foram exibidos como espécie exótica da América. Todos eles morreram em cativeiro, sendo que a única exceção foi Laureano Tacuabé que conseguiu fugir com a filha de Guyunusa nascido na França, e não há nenhum registro de seu paradeiro. 
A perseguição dos charruas continuou após Salsipuedes, por Bernabé Rivera que descreveu como "grande interesse levar à conclusão dos infiéis." 
No dia 17 de agosto de 1831 , Bernabé Rivera surpreendeu no Mataojo perto da foz do rio Arapey outros chefes liderados por Juan Pedro e atacaram matando 15 e mais de 80 presos. Bernabé Rivera informou que 18 homens haviam escapado, 8 meninos de sete a doze anos e cinco chineses muito velhos "e, com eles, Polidoro, único cacique sobrevivente. 
No início de 1832 houve uma revolta dos índios Guarani em Santa Rosa e Barnabé foi para reprimi-la. Ele lutou contra o levante com sua habilidade habitual e intransigência. Mas a tarefa de perseguir os fugitivos acabaria em 20 de junho de 1832, quando encontrou um grupo de 16 charruas comandados cacique Polidor. Bernabé foi atingido por uma lança e morto. O comandante do massacre de Salsipuedes foi reconhecido e teve as veias dos braços arrancadas e colocadas na ponta das lanças dos charruas.
Os charruas são considerados extintos apesar de haver povos no Brasil e Uruguai, que se dizem descendentes destes indígenas.

Fontes:

BARRIOS PINTOS, Hannibal. "Caciques Charruas em território oriental" na revista Almanac State Bank Insurance.
Bracco, Diego. Charrúas, Guenoas y Guaraníes: Interacción y Destrucción: Indígenas en el Río de la Plata. Editor: Linardi y Risso, Libreria, 2004.
Hugarte Renzo Pi. Os índios Del Uruguay. Montevideo, Ediciones de la Banda Oriental, 1998.
Documentário Salcipuedes - Genocídio Indígena https://www.youtube.com/watch?v=GCMapV1RQQo
Documentário: Os Últimos Charruas - Histórias Extraordinárias – RBS TV https://www.youtube.com/watch?v=Z0bonoBzask


 Charruas em combate

Monumento aos últimos charruas - Montevidéu - Uruguai

4 comentários:

  1. Infelizmente fico muito triste das pessoas não comentarem tal fato visitei esse monumento qundoq se omite os fatos possibilitamos outras barbareis como essa.

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  2. Sim este e um genocidio mundial.Uma traiçao aos indios charruas.Muito pouco lembrada nos bancos escolares uruguaios.Sem duvida porque o traidor Gral Rivera e o fundador do partido Colorado.O mesmo que em 1933 e 1973 foi cabeça das ditaduras uruguaias.Com honrosas excepçoes sempre foi esta a maneira de gobernar dos colorados2

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  3. Muito bom, sou descendente de Charrua extraviado e há algum tempo venho resgatando essa História.

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