Memórias do Pampa
O Memórias do Pampa é um projeto que visa divulgar a história e cultura do Rio Grande do Sul.
terça-feira, 23 de janeiro de 2024
Os Lanceiros Negros
segunda-feira, 4 de dezembro de 2023
Tarrã
O nome anhuma é pantaneiro, sendo também usado para uma outra espécie da mesma família, habitante da mata amazônica e matas densas do Centro-oeste (nunca foi detectada no Pantanal, mas ocorre no alto rio Paraguai).
Seu nome cientifico significa do (grego) khaunos = esponjoso, rugoso, poroso, referente aos sacos de ar sob a pele das aves gritadoras; e do (latim) torquata, torquatus = colarinho, colar - Pássaro com colar de pele rugosa.
É uma ave corpulenta, com patas grandes e cabeça desproporcionalmente pequena, bico pequeno e topetuda sendo sua coloração pardo-acinzentada escura, com algumas manchas brancas. O pescoço é contornado por uma gola negra realçada por uma segunda penugem branca. A face superior da asa é negra, com grande área branca visível durante o voo, e a face inferior da asa é totalmente branca.
As fêmeas são menores que os machos. As patas são curtas e fortes e os três dedos da frente estão unidos por uma membrana interdigital rudimentar. Sua altura média é de 85 cm e peso em torno de 4kg.
O Tarrã é um grande habitante dos brejos, com formato e características únicas. O corpo, pernas e pés são enormes em relação à cabeça, pequena e com um penacho na nuca. Em voo, mostra uma grande área branca sob a asa. Possui um esporão vermelho no cotovelo da asa, visível quando está pousada ou voando. Apesar do aspecto agressivo, não é usado como arma de ataque, servindo para comunicação entre as tachãs.
Destaca-se pelo chamado alto, feito por um indivíduo ou pelo casal, em dueto. Pode gritar a qualquer momento do dia, avisando sobre sua presença ou de intrusos, atraindo a raiva dos caçadores, ao espantar a presa. Esse chamado é mais grave no macho do que na fêmea, está mais esganiçada, e é interpretado como dizendo “tachã”.
Alimenta-se, principalmente, de folhas de plantas aquáticas, apanhadas enquanto caminha pelo brejo ou nas margens, assim como insetos e moluscos. Mas também caminha pelo campo do pampa para se alimentar.
São aves típicas de ecossistemas alagados, como brejos e lagos, sendo nativa do Pantanal, dos Pampas e dos Chacos Bolivianos. No Cerrado, pode ser vista em veredas, campos úmidos, e ocasionalmente matas de galeria próximos a esses biomas. É onívora, porém se alimenta principalmente de matéria vegetal, como sementes, folhas, raízes e brotos de plantas aquáticas, além de moluscos e insetos. Sua vocalização é um chamado alto que pode ser ouvido à distância, usado para avisar sua presença ou a de intrusos. É monogâmica e territorialista durante a estação reprodutiva, fazendo grandes ninhos com folhas emaranhadas sobre a vegetação acima da água.
Sua distribuição se estende do norte da Bolívia e extremo leste do Peru ao centro da Argentina, abrangendo o Paraguai, Uruguai, e o Brasil nos estados de Rondônia, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e principalmente o Rio Grande do Sul.
O Tarrã é uma das principais aves do Rio Grande do Sul, sendo muito comum nas terras gaúchas.
Jornalista e Mestre em História
Referências:
Gomes, Wagner. Lista das espécies de aves brasileiras com tamanhos de anilha.
Colabore com o projeto Memórias do Pampa:
Pix: dionesfranchi@gmail.com
sexta-feira, 3 de novembro de 2023
Rio Pardo – O histórico centro comercial do Rio Grande do Sul
terça-feira, 19 de setembro de 2023
As capitais farroupilhas
sexta-feira, 4 de agosto de 2023
Sete Povos das Missões
Os Sete Povos das
Missões foi o nome dado aos sete aldeamentos indígenas fundado pelos
Jesuítas espanhóis na Região do "Rio Grande de São Pedro", (Rio
Grande do Sul). Era composto pelas reduções de São Francisco de Borja, São
Nicolau, São Miguel Arcanjo, São Lourenço Mártir, São João Batista, São Luiz
Gonzaga e Santo Ângelo Custódio. Os Sete Povos também eram conhecidos como Missões
Orientais, por estarem localizados a leste do Rio Uruguai. As missões,
também chamadas de reduções, foram fundadas e organizadas por padres da
Companhia de Jesus. Os jesuítas chegaram à região com o objetivo de catequizar
e "civilizar" sob a autoridade espanhola. Os conflitos eram
marcados pela destruição das missões e pelos primeiros êxodos dos guarani. Nos
períodos de paz, os indígenas retornavam ao local de origem com o apoio dos
jesuítas
A origem
A fundação da
Colônia do Sacramento no Rio da Prata provocou a reação do governo espanhol.
Para evitar o avanço dos portugueses pelo litoral sul, a colonização espanhola
foi realizada por povoados. Por falta de homens brancos, o governo espanhol
recrutou índios cristãos, se tornando súditos do rei. Assim em 1682, se criou a
primeira redução de São Francisco de Borja e logo depois as demais, totalizando
Sete povoados.
A organização
Os Sete Povos eram organizados com uma praça central, tendo em sua volta diferentes edificações. A praça era um espaço cívico-religioso com uma cruz latina em cada canto, com um padroeiro do povoado.Em um dos lados da praça eram construídos a igreja, residência dos padres, colégio, oficina, cemitério, cotiguaçu (casa grande com vários aposentos) e horta. Na igreja não existiam bancos e os homens ficavam de um lado e as mulheres de um outro. No cemitério havia uma pequena capela e túmulos onde os índios eram enterrados de forma cristã. As habitações abrigavam índios do mesmo clã, onde cada bloco era dividido em vários cômodos, sob responsabilidade de um cacique. A gestão governamental das missões obedecia à organização das cidades espanholas. Cada uma possuía um chefe superior e havia prefeitos e vereadores. Ambos formavam um conselho. Todos os cargos eram exercidos por indígenas. O objetivo dos padres jesuítas era reunir os indígenas e educá-los de acordo com os princípios da cultura cristã ocidental. Foi também criada oficinas de artesãos, carpinteiros, escultores e fabricantes de instrumentos musicais. Na maioria das Missões surgia uma organização social, comercial, cultural e mesmo militar que mostrava a plena capacidade de desenvolvimento dos indígenas ‘descobertos’ pelos europeus. Cada povoado possuía a sua plantação de erva mate para a comunidade e também a criação de bovinos. A Coroa portuguesa permitia a escravidão indígena, enquanto o Império espanhol os tornava automaticamente súditos do rei. As missões foram constantemente atacadas por bandeirantes em busca de escravos para as colônias. Os Sete Povos das Missões comportou 30 mil habitantes. Todos eram indígenas, e os padres espanhóis seus principais administradores. O modelo inicial de catequização e de criação das Missões Jesuíticas somente foi encontrar maior sucesso em meados do século XVII, e cresceu bastante a ponto de virar um entrave para a expansão dos colonizadores europeus.
O fim
No século XVIII, a
região estava sob disputa entre Espanha e Portugal. O Tratado de Madri de
1750 estabelecia que a região dos Sete Povos das Missões fosse entregue a
Portugal, e em troca disso a Espanha ficaria com a Colônia do
Sacramento saindo os Jesuítas espanhóis. Mas este Tratado gerou conflitos:
pois nem padres nem índios queriam abandonar suas reduções, e nem os
portugueses queriam abandonar o Sacramento. Houve uma série de confrontos
armados que culminaram na Guerra Guaranítica, que deixou um rastro de
destruição e sangue que abalou as estruturas do sistema
missioneiro. Acredita-se que 20 mil indígenas morreram. Logo depois
veio o fim: com a intensa campanha difamatória que os Jesuítas sofreram a
partir de meados do século XVIII, a Companhia de Jesus foi expulsa de
terras portuguesas em 1759, e em 1767 a Espanha fez o mesmo. No ano seguinte
todas as reduções foram esvaziadas, com a retirada final dos Jesuítas. Então
suas terras foram apossadas pelos espanhóis e os índios foram subjugados ou
dispersos. Quando em 1801 eclodiu a nova guerra entre Portugal e
Espanha, os Sete Povos já estavam em tal estado de desintegração que com apenas
40 homens Manuel dos Santos Pedroso e José Borges de Canto conseguiram
conquistá-los para Portugal, embora pareça ter havido a participação indígena
como facilitadora da tomada de posse. Depois disso Portugal anexou o
território ao Rio Grande do Sul, instalando um governo militar. Atualmente, dos
Sete Povos existem as Ruínas de São Miguel das Missões e de São Nicolau, além
das cidades de Santo Ângelo, São Luiz Gonzaga e São Borja que ainda guardam
suas particularidades dentro da história e preservam a cultura gaúcha e
missioneira.
Por: Diones Franchi
Jornalista e mestre em
história
Referências:
FLORES, Moacyr.
História do Rio Grande do Sul, 1985
GARCIA, Elisa
Frühauf. A "conquista" dos Sete Povos das Missões: de "ato
heróico" dos luso-brasileiros a campanha negociada com os índios
quinta-feira, 8 de junho de 2023
Dialeto Gaúcho
O dialeto gaúcho, também conhecido como dialeto guasca, é um dialeto português falado no Rio Grande do Sul e em algumas outras partes do Brasil, onde exista uma presença de população de gaúchos. É fortemente influenciado pelo espanhol devido a colonização espanhola, tendo influência do guarani e de outras línguas indígenas, possuindo diferenças léxicas e semânticas em relação ao português padrão. Na fronteira com o Uruguai e Argentina a influência castelhana se acentua, enquanto que regiões colonizadas por alemães e italianos mantém as respectivas influências. Vale ressaltar que assim como no Brasil, existem no Uruguai e na Argentina os gaúchos, conhecidos como o termo “gaucho”. Algumas palavras de origem africana e até mesmo da língua inca também podem ser encontradas. Foi publicado um dicionário "gaúcho-brasileiro" por Batista Bossie, listando as expressões regionais e seus equivalentes na norma culta.
Tchê
O gaúcho e seu vocabulário
Rio Grande do Sul
quarta-feira, 10 de maio de 2023
A Revolução de 1923
A Revolução de 1923 foi o movimento armado ocorrido no Rio Grande do Sul no ano de 1923, em que lutaram, de um lado, os partidários do presidente do estado, Borges de Medeiros, conhecidos como Borgistas ou Chimangos, que usavam no pescoço um lenço branco, e de outro lado os revolucionários aliados de Joaquim Francisco de Assis Brasil, chamados Assisistas ou Maragatos, que usavam no pescoço um lenço vermelho. Vamos relembrar essa revolução, que neste ano completa 100 anos, conhecida também como a última guerra genuinamente gaúcha.
Antecedentes
Republicano e positivista, mas de viés bastante autoritário, Júlio Prates de Castilhos, o Patriarca, como era chamado, governou o Rio Grande do Sul com mão de ferro, de 1891 até sua morte em 1903. Para se manter no poder, tomou duas providências: redigiu praticamente sozinho e fez aprovar uma Constituição autoritária e montou uma poderosa máquina política no Partido Republicano Rio-Grandense (PRR), com seus incontáveis chefes locais e seu séquito de agregados, presentes em mais de cem municípios do estado. Ao morrer, ficou claro que se fora o ditador, mas a ditadura republicana continuava viva.
A conturbada eleição
Castilhos foi substituído na presidência do estado por Borges de Medeiros, que seguiu adotando os mesmos métodos e que também tinha como objetivo perpetuar-se no poder. Em 1922, Borges resolve candidatar-se mais uma vez à presidência, e contava, como sempre, com a força do PRR, que não hesitava em apelar para a fraude e a violência para garantir a vitória. Todavia, desta feita houve um fato novo: formou-se uma aliança entre vários segmentos da sociedade gaúcha, para estimular uma oposição organizada. O veterano político Assis Brasil desafia Borges na disputa nas urnas. Divide-se assim o Rio Grande entre Borgistas ou Chimangos, numa alusão ao pseudônimo dado a Borges por Ramiro Barcelos, no poema Antônio Chimango, e os Assisistas ou Maragatos, como eram chamados os adeptos do Partido Federalista. A campanha eleitoral ocorre sob um clima de repressão e violência. Os opositores do governo são presos, espancados e até mortos. Locais de reunião dos Assisistas são fechados e depredados pela polícia Borgista. Quando se anunciou o resultado das urnas, com a previsível vitória de Borges de Medeiros, a revolta foi geral. A comissão apuradora de votos, formada por pessoas fiéis ao governo, foi acusada de fraude eleitoral pela oposição. A disputa nas urnas transformou-se em disputa pelas armas. A oposição, liderada por Assis Brasil, aderiu à revolta armada para derrubar Borges de Medeiros, que toma posse para um novo mandato, em 25 de janeiro de 1923. Setores importantes da sociedade gaúcha já andavam descontentes com o governo, e política econômica de Borges precipitara o estado numa crise financeira que contribuíra para descontentar tanto a elite estancieira, como boa parte do movimento operário e estudantil. No plano nacional, Borges se isolara ao fazer oposição à candidatura de Artur Bernardes, que foi eleito Presidente da República.
A guerra
A partir deste episódio, os maragatos já não tinham condições de seguir lutando. Por iniciativa do governo federal, realizaram-se negociações comandadas pelo ministro da Guerra, general Fernando Setembrino de Carvalho, com a participação do senador João de Lira Tavares, representante do Congresso. Bagé, foi a cidade que abrigou diversas reuniões para buscar a paz ente chimangos e maragatos, entre eles ocorrida a primeira reunião no dia 15 de novembro no Palacete Pedro Osório. Em 14 de dezembro de 1923, é assinada a paz no Pacto de Pedras Altas, no famoso castelo de Assis Brasil. Pelo Acordo, Borges de Medeiros pôde permanecer até o final do mandato em 1928, mas a Constituição de 1891 foi reformada, impedindo as reeleições, e a indicação de intendentes (prefeitos) e do vice-presidente do Estado. O acordo foi importante para o Rio Grande do Sul, com profundas decorrências políticas. O sucessor de Borges no governo gaúcho foi Getúlio Vargas, lenço branco. Em 1930, a Frente Única Rio-grandense, sob sua liderança, assumiu o governo do país, na Revolução de 1930. A Revolução de 1923 foi a última guerra gaúcha, fechando a trindade que se iniciara na Revolução Farroupilha de 1835 e continuará na Revolução Federalista de 1893.
Fontes:
FLORES, Moacyr. História do Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Ediplat, 2006.
GZH – Os Cem anos da Revolução de 1923, a terceira e última grande guerra gaúcha, 2023.
LEMIESZEK,
Cláudio de Leão. Bagé 1923: a batalha de papel na Guerra Civil no RS. Bagé,
2013
PESAVENTO, Sandra Jatahy. História
do Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1982.
PIRES, César
Machado. Revolução de 1923 / Combate do Passo da Juliana. Santa Maria:
Pallotti,1999.
URBIM,Carlos. Rio
Grande do Sul, um século de História. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1999