quinta-feira, 18 de setembro de 2025

O Movimento Farroupilha

O Movimento Farroupilha ficou marcado na história como um movimento do período regencial brasileiro contra a imposição do presidente de província pelo Governo Central, isto é, sem consultar o governo provincial. O movimento tinha um caráter liberal e pretendia conseguir mais autonomia provinciana frente ao governo regencial que sucedeu o recém fim do Primeiro Reinado Brasileiro.
Após a Independência do Brasil em 7 de setembro de 1822, criou-se um processo de centralização do Poder Central do Rio de Janeiro sobre as demais Províncias brasileiras.
A própria Constituição de 1824 criava um sistema de governo rígido e centralizador que se chocava com os interesses “mais liberais” das elites regionais. O próprio Presidente das Províncias, o que hoje corresponderia ao governador do estado, era designado pelo Poder Central, afastando, com isso, as elites locais do controle sobre o poder político direto em suas Províncias.
É nesse contexto de disputa entre as elites regionais, pela configuração do Estado Nacional brasileiro que melhor lhes favorecesse, que devemos situar a guerra de 1835 ocorrida na Província de São Pedro do Rio Grande do Sul.
A Revolução Farroupilha, na verdade, foi uma das várias revoltas liberais republicanas ocorridas no Império. Sua base ideológica se fundamentava no federalismo e no liberalismo das classes pastoris na defesa de seus interesses econômicos e políticos de dominação sobre o Sul.
O termo farroupilha, era um apelido antigo, que remete aos combatentes populares que compunham as tropas, que eram conhecidos por trajarem roupas esfarrapadas, embora as lideranças políticas estivessem sempre representada por setores da elite local.
Desde 1831, circulava no Rio de Janeiro, jornais denominados “Jurujuba dos Farroupilhas” e “Matraca dos Farroupilhas”. Em 1832, Luís José dos Reis Alpoim, fundou o “Partido Farroupilha” em Porto Alegre, partido aliás que já existia em São Paulo.
Uma das versões dizia que o termo havia sido inspirado nos "sans culottes" franceses, os revolucionários mais extremados durante o período da Convenção (1792 a 1795). Os "sans culottes", que literalmente quer dizer sem calção, usavam calças de lã listradas, em oposição ao calção curto adotado pelos mais abastados.
Os “farroupilhas” eram os liberais exaltados, radicais, facção revolucionária que posteriormente defendia a separação do Rio Grande do Sul em relação ao Brasil.
A guerra é iniciada em 20 de setembro de 1835, com a invasão de Porto Alegre pelos rebeldes republicanos e a deposição do Presidente Braga.
Nesse contexto, havia uma divisão entre o movimento farroupilha, pelo menos, em dois grupos: o grupo da maioria e o da minoria. O grupo da maioria possuía como líder Bento Gonçalves da Silva, mas também, Domingos José de Almeida, Mariano de Matos e Antônio da Silva Netto e defendia a independência do Rio Grande do Sul num Estado republicano independente que poderia se vincular, numa espécie de federação, tanto ao Brasil como aos demais países platinos. O grupo da minoria, representado por David Canabarro e Vicente da Fontoura, desejava reformas para a autonomia da Província, fosse num sistema monárquico ou republicano sem, necessariamente, sua separação do Brasil. Esse grupo assumiu o controle da revolução já em seu final, a partir de 1843, negociando o processo de paz com o Império.
É necessário esclarecer que o movimento farroupilha, não iniciou com objetivo separatista, e sim um movimento que buscava a atenção do Império em suas reinvindicações.
A guerra farroupilha, no entanto, estava longe de ser unanimidade entre os rio-grandenses. Essa guerra emergira da classe de estancieiros, principalmente da metade-sul, grandes proprietários de terras e gado, que controlavam a matéria-prima da importante indústria do charque. Por seus próprios objetivos, os farroupilhas (liberais radicais) não defendiam um projeto de reformas sociais para o Rio Grande do Sul, pelo contrário, o ideário farrapo preconizava posturas racistas e de exclusão. Exemplo disso é o próprio Projeto de Constituição proclamado pelos rebeldes, e impresso em Alegrete em 1843, onde afirmava-se: “São cidadãos Rio-Grandenses todos os homens livres nascidos no território da República…”, ou seja, nem o escravo, nem o liberto, nem o imigrante, eram considerados cidadãos. Mas a exclusão vai além, pois eram excluídos do direito de votar nas assembleias os que não tivessem de renda anual de cem mil réis por bens de raiz, comércio ou emprego. O voto previsto era censitário, somente votaria ou se candidataria quem dispusesse de renda anual significativa. Somente poderia votar nas eleições de deputado, senadores e conselheiros do Estado quem tivesse renda anual de “trezentos mil réis”. Com isso o povo estaria, definitivamente, afastado das decisões e da vida política da Província.
A guerra durou dez anos, porque os farrapos recebiam continuamente mantimentos dos países de fronteira e o charque das províncias era contrabandeado para o Uruguai e entrava no Brasil como se fosse de procedência uruguaia e também pelo local estratégico, contribuindo para a sustentação econômica dos republicanos.
O fim da guerra era necessário pois os farroupilhas, já estavam economicamente enfraquecidos, não havia escolha e a paz era o caminho e a solução.
A Revolução também teria o polêmico episódio sobre o Combate e definitivamente o Massacre de Porongos, onde se aponta a suspeita a traição aos lanceiros negros.
Em 1ª de março de 1845, os imperiais, liderados por Duque de Caxias e os republicanos farroupilhas assinam um tratado de paz, o "Tratado de Poncho Verde". Oficialmente a guerra estava acabada, mas as cicatrizes continuavam por muito tempo.


Por: Diones Franchi
Jornalista e mestre em história

Referências Bibliográficas:

AHRS. Anais do Arquivo Histórico do Rio Grande do Sul-Volume 7. Porto Alegre, 1963.
Secchi, Neusa Marli Bonna (2013). Revolução Farroupilha 1835 a 1845 - Decênio Heróico



terça-feira, 5 de agosto de 2025

As embarcações farroupilhas – Travessia dos lanchões

Na Revolução Farroupilha, os farrapos utilizaram diversas embarcações, sendo as mais conhecidas a "Seival" e a "Farroupilha". Não há um número exato de embarcações, pois outras foram utilizadas em momentos diferentes da guerra.
A mais importante foi a Travessia dos lanchões, que consistiu na rota das duas famosas embarcações, construídas pelos farrapos.
As embarcações foram construídas na barra do Camaquã, sendo idealizado um plano para o transporte terrestre dos lanchões.
Durante o trajeto, foram utilizadas carretas de rodas grandes, com eixos duplos, que eram capaz de suportar o peso das embarcações, para contornar a barra da Lagoa dos Patos e chegar ao porto de Laguna, em Santa Catarina, pelo exército farroupilha, resultando na proclamação da República Juliana.
As embarcações farroupilhas Seival e Farroupilha, eram equipadas com canhões, essenciais para o plano de Garibaldi, tendo a barra da Lagoa dos Patos como um obstáculo natural, com águas turbulentas, o que tornava a navegação arriscada.
O nome Seival era a alusão à vitória na Batalha do Seival, em data anterior à fabricação do barco e o nome Farroupilha era denominado em referência a revolução.
As embarcações foram conduzida por terra, sobre rodas e puxada por juntas de bois, e por água, aproveitando o sistema lacustre costeiro dos estados do Rio Grande do Sul e sul de Santa Catarina.
O lanchão o Farroupilha seguia o Seival, mas afundou. Ambos os lanchões foram construídos para a tomada da cidade de Laguna, que constituía um porto marítimo necessário aos farrapos, pela impossibilidade técnica da conquista do porto de Rio Grande, fortemente defendido pelos imperiais.
Os lanchões Seival e Farroupilha cortaram as águas da Lagoa dos Patos, fustigados pela retaguarda por John Grenfell, comandante da Marinha Imperial na província do Rio Grande do Sul. Fugindo e despistando, os farrapos conseguem enveredar pelo estreito do rio Capivari, iniciando o caminho por terra. Ainda aí passariam por duras provações, pois era inverno, mau tempo com chuvas e ventos, tornando o chão um grande lodaçal.
Em 14 de julho de 1839 os lanchões rumaram para Laguna, sob o comando geral de David Canabarro.
O Seival era comandado pelo americano John Griggs, conhecido como "João Grandão", e o Farroupilha II por Giuseppe Garibaldi. Na costa de Santa Catarina, próximo ao rio Araranguá, uma tempestade, faz com que o Farroupilha, naufragasse salvando-se uns poucos farrapos entre eles o próprio Garibaldi.
Finalmente os farrapos atacam por terra, com as forças de David Canabarro, e por água. O Seival entra em Laguna através da Lagoa de Garopaba do Sul, atravessando a Barra do Camacho, na atual cidade de Jaguaruna, passando pelo rio Tubarão e atacando Laguna por trás, surpreendendo os imperiais, que esperavam um ataque de Garibaldi pela barra de Laguna e não pela lagoa. Garibaldi, com o Seival, toma Laguna no dia 22 de julho de 1839. A 29 deste mês proclamou-se a República Juliana, já que não havia contiguidade territorial com a República Rio-Grandense, para a preservação do porto em mãos republicanas.
O Farroupilha também conhecido como Farroupilha II, teve um fato curioso em relação ao local de seu naufrágio. Como a única referência descrita na época dava conta da região entre a barra do Camacho e a barra do Rio Araranguá, não se sabendo ao certo o verdadeiro local. Alguns estudos feitos anos depois, baseados em relatos da época dos próprios tripulantes sobreviventes, dão conta que o local seria a faixa litorânea entre os balneários Campo Bom e Esplanada, ambos no município de Jaguaruna.
A travessia ocorreu por terra, possivelmente utilizando estradas ou caminhos improvisados, contornando a barra e levando os barcos até Laguna.
A chegada dos lanchões a Laguna permitiu a tomada do porto e a proclamação da República Juliana, um estado revolucionário com ideais republicanos e separatistas.
A travessia dos lanchões foi um feito notável, demonstrando a engenhosidade e determinação de Garibaldi e dos farrapos na busca por seus objetivos durante a Revolução Farroupilha.


Por: Diones Franchi
Jornalista e mestre em história

Referências:

DUMAS, Alexandre, Memórias de Garibaldi, Editora L&PM, Porto Alegre, 2000,
Guerra dos Farrapos. O atalho dos farroupilhas para o mar. Battlefield Brasil.
Travessia dos Lanchóes. Consultado em 3 de agosto de 2025.
URBIN, Carlos. Os Farrapos, 2001








sexta-feira, 27 de junho de 2025

O Cristo Protetor

A maior estátua de Cristo do Brasil fica na cidade de Encantado no Rio Grande do Sul, chamando a atenção de milhares de turistas.
A estátua de Cristo Protetor é um monumento que representa Jesus Cristo de braços abertos, localizada no município de Encantado, no Rio Grande do Sul.
É a maior estátua de Cristo do Brasil, ultrapassando em 5,3 metros a do Cristo Redentor e em 4 metros do Cristo de Elói Mendes, sendo a maior estátua de Cristo do mundo, se desconsiderarmos as bases e pedestais.
A estátua ficou concluída em abril de 2022, sendo inaugurada em 6 de abril de 2025.
A estátua segundo a prefeitura do município, traduz o sentimento de fé, união e acolhimento do povo encantadense. Construído com recursos oriundos de doações da comunidade, o monumento de 43 metros de altura é o maior do Brasil.
O Cristo Protetor de Encantado mede 43,5 metros de altura no total, contando o pedestal. Somente o monumento, mede 37,50, sendo assim, o maior do mundo. A envergadura dos braços é de 39 metros.
Erguida no Morro das Antenas, a 432 metros acima do nível do mar, a estátua tem um elevador que levar os visitantes até o coração do Cristo, possibilitando uma vista privilegiada da cidade de Encantado e do Vale do Taquari.
O Cristo Protetor de Encantado é a união de ideias e esforços de famílias, líderes encantadenses, religiosos e empresários, que visam marcar a força da fé, da devoção e da gratidão de um povo, que venceu pelo trabalho.
Encantado é um município do Vale do Taquari, região alta. Encantado nasceu a partir da colonização italiana, cuja hoje representa a descendência da população, majoritariamente. Encantado é cidade irmã de San Pietro Valdastico (Vêneto - IT), mantendo um intercâmbio comercial e cultural permanente com a Itália.
A cidade possui uma atividade comercial diversificada e desenvolve produtos para áreas frigorífica, moveleira, de erva-mate, coureiro-calçadista, higiene, perfumaria, mecânica e alimentação. Ocupa a 45º posição no ranking brasileiro dos municípios mais alfabetizados. Possui boa infraestrutura turística para a realização de eventos, sendo o Cristo Protetor seu grande destaque.

Por: Diones Franchi
Jornalista e mestre em história

Fonte:

Prefeitura de Encantado - RS

 








domingo, 4 de maio de 2025

Ilha das Pedras Brancas

Ilha das Pedras Brancas, também conhecida como Ilha do Presidio e Ilha da Pólvora, é uma ilha situada no Lago Guaíba no Rio Grande do Sul. Pertence ao município de Porto Alegre, mas o município de Guaíba possui a concessão para administrá-la desde 2012.
Hoje em dia abandonada, a ilha já foi ponto estratégico dos Farrapos, depósito de pólvora, laboratório de pesquisa da peste suína, e também prisão.
Primeiramente serviu de ponto de observação das tropas imperiais e dos farrapos na Guerra dos Farrapos (1835-1845).
Foi em Pedras Brancas, em 1835, que começou os desentendimentos entre os Farrapos contra o Império. A ilha era estratégica para os revolucionários acampados logo ali na costa. Centenas de homens embarcaram na Praia da Alegria para tomar Porto Alegre, dando início à Guerra dos Farrapos. Mais adiante a ilha foi posto de observação dos imperiais.
As construções existentes na ilha ocorreram entre 1857 e 1860 e originalmente sediaram a Quarta Casa da Pólvora de Porto Alegre, ficando sob uso do Exército até 1930. A partir de 1940 a Ilha passa a ser administrada pelo Estado que utiliza o espaço, nos anos de 1947 a 1948, como laboratório de pesquisa animal, com foco na peste suína.
A transformação da ilha em um presídio ocorre na década de 1950, inicialmente para recolher jovens com delitos leves, pessoas com problemas psiquiátricos e menores de idade.
Em 1956 o presídio foi construído na ilha, tendo funcionado até 1973. O presídio foi reativado novamente em 1980 e funcionou até 1983. Há registros de arbítrio e de mortes não esclarecidas.
Com o início da Ditadura Militar no Brasil o presídio passa a ser utilizado como espaço de detenção para presos políticos, perseguidos pelo regime.
Estima-se que entre as décadas de 60 e 70 mais de cem pessoas tenham sido presas no local por motivos políticos. Um dos casos mais conhecidos que envolvem o presídio da ilha foi o do sargento Manoel Raymundo Soares, que 5 meses após a sua prisão, feita pelo DOPS, foi encontrado morto nas águas do lago Guaíba, com as mãos amarradas às costas. O caso amplamente divulgado na época ficou conhecido como "O caso das mãos amarradas".
O presídio foi desativado em 1983 e desde então está desocupado. A ilha do presídio foi oficialmente reconhecida como Patrimônio Histórico do Estado em dezembro de 2014, sendo tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado do Rio Grande do Sul (IPHAE) neste mesmo ano. O processo de tombamento da Ilha das Pedras Brancas foi direcionado pela Comissão Estadual da Verdade, que reuniu diversos documentos entre relatos orais, mapas, pesquisas, entre outros, que serviram de aporte para o reconhecimento do local como importante espaço para a história de Porto Alegre.
Atualmente o local se encontra depredado e em escombros, fazendo com que uma história esquecida fique definitivamente no meio de uma ilha.

Por: Diones Franchi
Jornalista e mestre em História

Referencias:

ROSA, Susel Oliveira, " A escrita de si na situação de tortura e isolamento: as cartas de Manoel Raimundo Soares", 2015
IPHAE - Ilha do Presídio, consulta em março de 2025 


    









domingo, 30 de março de 2025

A lenda de Teiniaguá

A Teiniaguá é considerada uma das lendas mais misteriosas e fascinantes do Rio Grande do Sul. Conhecida também como Salamanca do Jarau, todos os acontecimentos se passam no Cerro do Jarau, que divide-se entre Brasil e Uruguai.
Existe versões diferentes para a lenda, mas a principal conta que uma princesa moura veio parar na região, fugida, quando seu reino foi perdido para os espanhóis. Um pacto, haveria dado a princesa poderes sobrenaturais, entre eles o de se transformar em uma espécie de réptil que no lugar da cabeça teria uma joia vermelha de incalculável valor. Seu reduto era o Cerro do Jarau, cujas maldições eram conhecidas por toda a região.
Certa feita um sacristão assolado pelo calor dos pampas em um dia de verão, procurou a lagoa do Jarau para se refrescar. Para sua surpresa a água fervia ainda mais do que a terra e estava em uma estranha tonalidade vermelha. O sacristão viu o réptil misterioso no fundo da lagoa e o aprisionou em uma guampa que usava como recipiente.
Na noite ele abriu a guampa em sua cela, e a Teiniaguá transformou-se em uma belíssima e sedutora mulher. Ela pediu ao sacristão que lhe desse vinho e ele não negou, sobre os encantos da moça, repetiu o ritual de servi-la da bebida todas as noites. Até que os demais padres começaram a desconfiar, seguiram o sacristão e o flagraram em companhia da mais bela das criaturas.
Rapidamente, a Teiniaguá se transformou em réptil e fugiu para as barrancas do Rio Uruguai enquanto o sacristão foi preso e condenado à morte. No dia da execução, ela utilizou de magia para salvar o seu amado e refugiou-se com ele em uma furna no Cerro do Jarau, inacessível aos homens, e protegida por sua magia.
Conta a lenda que da união dos dois nasceram os primeiros gaúchos deste solo. E que até os dias de hoje, ela utiliza de sua magia para ajudar os apaixonados que a procuram.

Curiosidades:

- A lenda da Teiniaguá foi relatada nos Contos Gauchescos de Simões Lopes Neto e também na saga O tempo e o vento, de Érico Veríssimo.
- Foi retratada também na série de TV A Casa das Sete Mulheres.
- Até hoje, realiza pedidos amorosos daqueles que visitam seu reduto mágico.
-Salamanca vem de Salamandra ou lagartixa.
- Na Salamanca do Jarau existe uma gruta, que é guardada pela criatura mística que se transforma em uma princesa moura e em um lagarto com um rubi na cabeça.
- Ícone da cultura gaúcha, a Teiniaguá, é uma Princesa Moura, transformada em lagartixa pelo Diabo Vermelho dos índios, Anhangá-Pitã. Séculos atrás, quando caiu o último reduto árabe na Espanha, veio fugida e transfigurada em uma velha; para que não fosse reconhecida e aprisionada.
- O Corpo de lagartixa (ou salamandra), encontra-se no lugar de sua cabeça uma pedra preciosa cintilante, cor de rubi, que fascina os homens e os atrai, destinada a viver em uma lagoa no Cerro do Jarau.
- O nome Salamanca, ao invés de "salamandra", é reconhecido também como referência à cidade espanhola de Salamanca, a qual foi ocupada pelos islâmicos do norte da África entre os séculos VIII e X, e que ficou por muito tempo na zona de combate entre os islâmicos do Sul e os cristãos do Norte. Esta é uma explicação que reitera a referência à princesa ou nobre moura.

Por: Diones Franchi
Jornalista e mestre em História 






sexta-feira, 21 de fevereiro de 2025

As Armas na Revolução Farroupilha

Em 20 de setembro de 1835, teve início a Revolução Farroupilha, ou Guerra dos Farrapos, em referência aos trajes esfarrapados usados pelas tropas rebeldes.
Aconteceu na então, província do Rio Grande do Sul, sendo a rebelião mais duradoura do período imperial brasileiro, se estendendo até 1845. Em lados opostos, estavam o governo do Rio de Janeiro, então sede do Império, e as elites rio-grandenses, política e economicamente insatisfeitas.
Diante da guerra dos Farrapos contra os Imperiais, vamos conhecer neste artigo as armas utilizadas neste conflito.
As principais armas usadas foram lanças, pistolas, adagas, canhões, obuses, trabucos, garruchas, boleadeiras e laços.
A lança foi a principal arma da Revolução Farroupilha, sendo que os cavaleiros eram habilidosos no manejo da lança. As lanças utilizadas na guerra tinham cerca de 2,50 m de comprimento. Existiam diferentes modelos de lanças, como a lança punhal, a lança cruzeta triangular e a lança em forma de meia-lua.
As Pistolas e adagas eram utilizadas em entreveros. Sendo que a maioria das pistolas, pistolões, garruchas e trabucos eram carregadas pela boca.
Na artilharia os farrapos utilizavam canhões e obuses, muitas vezes, tomados do Exército Imperial.
As munições variavam de calibre sendo de 6 a 18 mm, já as boleadeiras e laços eram utilizadas principalmente pelos cavalarianos.
Um local onde se encontra muitas peças históricas da Revolução Farroupilha, é o Museu Farroupilha, localizado em Piratini - RS.

Conhecendo as armas

No início da guerra, em 1835, as tropas eram basicamente civis armados e comandados por chefes políticos regionais. Não se tinha uma estrutura de forças armadas. Então os combatentes portavam os mais diversos armamentos, de distintas origens, dá pra dizer que basicamente cada combatente peleava com suas armas particulares.
Depois com o tempo, as forças armadas farrapas foram separadas em Exército e Marinha. O Exército tinha 3 pilares: Infantaria, Cavalaria e Artilharia.
A Infantaria utilizava espingardas e carabinas, de modelos Tower e Brown Bless. A maior parte das armas tinha seus canos com alma lisa, calibres entre 15 a 19 mm e ainda eram adaptadas com baionetas. As espadas eram retas e pistolas completavam o arsenal dos infantes.
A Cavalaria utilizava clavinas e mosquetões (mesmo modelo das espingardas, porém com o cano mais curto) como armas de fogo, lanças e espadas como armas brancas.
A lança era a principal arma da Cavalaria que deixou na história a sua marca através das cargas a “pata de cavalo e a pontaços de lança”, tornando-se terríveis e avassaladoras devido a perfeita sincronização homem-cavalo-lança.
Havia vários modelos de lanças, entre elas: lança-punhal modelo brasileiro e a lança choupa losangular e, num número menor, lança cruzeta roliça triangular ou em forma de meia-lua, geralmente uma lança media 2,50 m.
Existem também inúmeros relatos de lanças preparadas com folhas da tesoura de tosquiar ou com facas adaptadas nas extremidades presas com tentos.
As espadas eram retas ou curvas, as primeiras de uso dos oficiais de Infantaria e as segundas de uso dos militares da Cavalaria principalmente as famosas espadas rabos-de-galo.
Também existem relatos da presença de terçados, nome dado ao modelo de espada de lâmina curta, também conhecida como chilfarote, arma de uso individual utilizada pelos músicos farrapos das Fanfarras e Corneteiros.
Outras armas de uso individual eram as pistolas e adagas sendo essas utilizadas nos entreveros, e quando o manejo das armas de cano longo e das lanças se tornava difícil, a maioria das pistolas, pistolões, garruchas e trabucos eram de carregar pela boca.
A Artilharia farrapa utilizava canhões, obuses, e canhões obuses, tomados do Exército Imperial, suas munições variavam do calibre 6 e 12 mm, mas haviam peças também de calibre 13 e 18 mm. Utilizavam projeteis ocos, cacho-de-uva, cheios e lanternetas.
Os projeteis ocos eram carregados com pólvora fina. Muitas munições eram adquiridas no Uruguai ou fabricadas nas oficinas de polvareiros e espoleteiros, que encontavam-se nos Trens de guerra.
Por último registramos que o laço e as boleadeiras também desempenharam, ao seu modo, o papel de armas e faziam parte do arsenal individual, principalmente dos cavalarianos.
Foram diversas artilharias usadas principalmente pelos Farrapos, por isso que a guerra, foi mais longa, que muitas outras revoltas na História do Brasil.

Por: Diones Franchi
Jornalista e Mestre em História

Referências:

Breve história do Rio Grande do Sul: da Pré-história aos dias atuais – Mario Maestri – 2010
Linha Campeira.com – Pesquisado em 2025
História do Rio Grande do Sul – Moacyr Flores – 2003





domingo, 3 de novembro de 2024

Mitos e Lendas do Rio Grande do Sul

O Rio Grande do Sul é um estado que se caracteriza, por ser um berço cultural, onde se destacam o folclore, a arte, o tradicionalismo, a história e também sua mitologia.
Os mitos e as lendas são um depoimento que o povo faz sobre si mesmo e para si mesmo. Mitos e lendas muitas vezes são confundidos, e isso explica-se pois muitos mitos geram lendas e algumas lendas, são pequenos mitos.
No Rio Grande do Sul existem quatro mitos principais, que são os seguintes:

O lobisomem no folclore gaúcho:

É a crença de que determinados homens podem se transformar em um monstro meio-lobo e meio-homem, em algumas circunstâncias. Segundo o mito no Rio Grande do Sul, o homem que se torna lobisomem sempre mora em um rancho isolado, obrigatoriamente com um galinheiro ao fundo. A meia noite ele transforma-se em lobisomem, e quando o sol está nascendo, transforma-se em homem novamente. O mito do lobisomem originou muitas lendas locais.

A bruxa no folclore gaúcho:

A bruxa é uma pessoa que gosta de praticar o mal. Suas principais vítimas são as crianças, pequenos animais e lavouras que estão em crescimento. Sua arma é o “olho grande”, que coloca onde deseja fazer o mal. Para afastar a bruxa, utiliza-se uma figa, um chifre de boi ou um galho de arruda. De Porto Alegre a Torres, é o local com maior crença neste mito, já em outros locais do estado a crença na Bruxa não é tão presente.

O diabo no folclore gaúcho:

O Diabo é visto como o anjo Rafael, que é muito capaz e invejoso. Segundo a obra citada, “tão alto subiu, que quis igualar-se a Deus e por isso foi precipitado nas profundezas do inferno”. Vários provérbios gaúchos citam o referido mito, tais como: “mais tem Deus pra me dar, do que o Diabo pra me tirar” e “onde o Diabo perdeu as botas”.

Sanguanel

É um mito da região da serra gaúcha. É um pequeno ser, de cor vermelha e que não faz mal a ninguém, apenas assusta. Vive em meio aos pinheirais da serra e costuma roubar crianças para esconder nas árvores ou matas. Quando as crianças retornam para suas casas, estão em estado de sonolência e pouco lembram o que aconteceu.

Os mitos não se localizam no tempo e no espaço. Referem-se o mais das vezes a fenômenos da natureza e às suas forças: o céu, o sol, a lua, as estrelas, os ventos, as águas, a criação do mundo, do homem e da mulher, o Bem, o Mal, e dos monstros do terror primitivo. É importante destacar que não existe vampiro na mitologia do Rio Grande do Sul”.
As principais lendas do Rio Grande do Sul são o Negrinho do Pastoreio, A lenda do João de barro, Sepé Tiaraju, A lenda do Boitatá, A lenda do quero-quero, a Salamanca do Jarau e A lenda da Erva Mate.
Vale destacar que mitos, lendas e folclore não são a mesma coisa. O folclore é o conjunto de criações culturais de uma comunidade, baseado nas suas tradições expressas de modo individual ou coletivo. Todos os povos possuem o próprio folclore, passado de maneira informal de geração a geração, por meio de músicas, histórias, comidas, etc.
As tradições folclóricas também incluem lendas – que são narrativas de caráter espetacular em que um fato histórico se amplia e se transforma na imaginação popular – e mitos – são narrativas que evoluem de acordo com as condições históricas e étnicas de uma determinada cultura.

Por: Diones Franchi

Jornalista e mestre em história

Fonte:

Fagundes, Antônio Augusto. Mitos e lendas do Rio Grande do Sul / Antonio Augusto Fagundes. – Porto Alegre: Martins Livreiro, 1992.
Rigo, Tamara Trentini – Revista Pia, MTG, 2020
https://www.lendas-gauchas.radar-rs.com.br - acesso em 1° de novembro de 2024


                                Lobisomem

                                      Bruxa