domingo, 4 de maio de 2025

Ilha das Pedras Brancas

Ilha das Pedras Brancas, também conhecida como Ilha do Presidio e Ilha da Pólvora, é uma ilha situada no Lago Guaíba no Rio Grande do Sul. Pertence ao município de Porto Alegre, mas o município de Guaíba possui a concessão para administrá-la desde 2012.
Hoje em dia abandonada, a ilha já foi ponto estratégico dos Farrapos, depósito de pólvora, laboratório de pesquisa da peste suína, e também prisão.
Primeiramente serviu de ponto de observação das tropas imperiais e dos farrapos na Guerra dos Farrapos (1835-1845).
Foi em Pedras Brancas, em 1835, que começou os desentendimentos entre os Farrapos contra o Império. A ilha era estratégica para os revolucionários acampados logo ali na costa. Centenas de homens embarcaram na Praia da Alegria para tomar Porto Alegre, dando início à Guerra dos Farrapos. Mais adiante a ilha foi posto de observação dos imperiais.
As construções existentes na ilha ocorreram entre 1857 e 1860 e originalmente sediaram a Quarta Casa da Pólvora de Porto Alegre, ficando sob uso do Exército até 1930. A partir de 1940 a Ilha passa a ser administrada pelo Estado que utiliza o espaço, nos anos de 1947 a 1948, como laboratório de pesquisa animal, com foco na peste suína.
A transformação da ilha em um presídio ocorre na década de 1950, inicialmente para recolher jovens com delitos leves, pessoas com problemas psiquiátricos e menores de idade.
Em 1956 o presídio foi construído na ilha, tendo funcionado até 1973. O presídio foi reativado novamente em 1980 e funcionou até 1983. Há registros de arbítrio e de mortes não esclarecidas.
Com o início da Ditadura Militar no Brasil o presídio passa a ser utilizado como espaço de detenção para presos políticos, perseguidos pelo regime.
Estima-se que entre as décadas de 60 e 70 mais de cem pessoas tenham sido presas no local por motivos políticos. Um dos casos mais conhecidos que envolvem o presídio da ilha foi o do sargento Manoel Raymundo Soares, que 5 meses após a sua prisão, feita pelo DOPS, foi encontrado morto nas águas do lago Guaíba, com as mãos amarradas às costas. O caso amplamente divulgado na época ficou conhecido como "O caso das mãos amarradas".
O presídio foi desativado em 1983 e desde então está desocupado. A ilha do presídio foi oficialmente reconhecida como Patrimônio Histórico do Estado em dezembro de 2014, sendo tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado do Rio Grande do Sul (IPHAE) neste mesmo ano. O processo de tombamento da Ilha das Pedras Brancas foi direcionado pela Comissão Estadual da Verdade, que reuniu diversos documentos entre relatos orais, mapas, pesquisas, entre outros, que serviram de aporte para o reconhecimento do local como importante espaço para a história de Porto Alegre.
Atualmente o local se encontra depredado e em escombros, fazendo com que uma história esquecida fique definitivamente no meio de uma ilha.

Por: Diones Franchi
Jornalista e mestre em História

Referencias:

ROSA, Susel Oliveira, " A escrita de si na situação de tortura e isolamento: as cartas de Manoel Raimundo Soares", 2015
IPHAE - Ilha do Presídio, consulta em março de 2025 


    









domingo, 30 de março de 2025

A lenda de Teiniaguá

A Teiniaguá é considerada uma das lendas mais misteriosas e fascinantes do Rio Grande do Sul. Conhecida também como Salamanca do Jarau, todos os acontecimentos se passam no Cerro do Jarau, que divide-se entre Brasil e Uruguai.
Existe versões diferentes para a lenda, mas a principal conta que uma princesa moura veio parar na região, fugida, quando seu reino foi perdido para os espanhóis. Um pacto, haveria dado a princesa poderes sobrenaturais, entre eles o de se transformar em uma espécie de réptil que no lugar da cabeça teria uma joia vermelha de incalculável valor. Seu reduto era o Cerro do Jarau, cujas maldições eram conhecidas por toda a região.
Certa feita um sacristão assolado pelo calor dos pampas em um dia de verão, procurou a lagoa do Jarau para se refrescar. Para sua surpresa a água fervia ainda mais do que a terra e estava em uma estranha tonalidade vermelha. O sacristão viu o réptil misterioso no fundo da lagoa e o aprisionou em uma guampa que usava como recipiente.
Na noite ele abriu a guampa em sua cela, e a Teiniaguá transformou-se em uma belíssima e sedutora mulher. Ela pediu ao sacristão que lhe desse vinho e ele não negou, sobre os encantos da moça, repetiu o ritual de servi-la da bebida todas as noites. Até que os demais padres começaram a desconfiar, seguiram o sacristão e o flagraram em companhia da mais bela das criaturas.
Rapidamente, a Teiniaguá se transformou em réptil e fugiu para as barrancas do Rio Uruguai enquanto o sacristão foi preso e condenado à morte. No dia da execução, ela utilizou de magia para salvar o seu amado e refugiou-se com ele em uma furna no Cerro do Jarau, inacessível aos homens, e protegida por sua magia.
Conta a lenda que da união dos dois nasceram os primeiros gaúchos deste solo. E que até os dias de hoje, ela utiliza de sua magia para ajudar os apaixonados que a procuram.

Curiosidades:

- A lenda da Teiniaguá foi relatada nos Contos Gauchescos de Simões Lopes Neto e também na saga O tempo e o vento, de Érico Veríssimo.
- Foi retratada também na série de TV A Casa das Sete Mulheres.
- Até hoje, realiza pedidos amorosos daqueles que visitam seu reduto mágico.
-Salamanca vem de Salamandra ou lagartixa.
- Na Salamanca do Jarau existe uma gruta, que é guardada pela criatura mística que se transforma em uma princesa moura e em um lagarto com um rubi na cabeça.
- Ícone da cultura gaúcha, a Teiniaguá, é uma Princesa Moura, transformada em lagartixa pelo Diabo Vermelho dos índios, Anhangá-Pitã. Séculos atrás, quando caiu o último reduto árabe na Espanha, veio fugida e transfigurada em uma velha; para que não fosse reconhecida e aprisionada.
- O Corpo de lagartixa (ou salamandra), encontra-se no lugar de sua cabeça uma pedra preciosa cintilante, cor de rubi, que fascina os homens e os atrai, destinada a viver em uma lagoa no Cerro do Jarau.
- O nome Salamanca, ao invés de "salamandra", é reconhecido também como referência à cidade espanhola de Salamanca, a qual foi ocupada pelos islâmicos do norte da África entre os séculos VIII e X, e que ficou por muito tempo na zona de combate entre os islâmicos do Sul e os cristãos do Norte. Esta é uma explicação que reitera a referência à princesa ou nobre moura.

Por: Diones Franchi
Jornalista e mestre em História 






sexta-feira, 21 de fevereiro de 2025

As Armas na Revolução Farroupilha

Em 20 de setembro de 1835, teve início a Revolução Farroupilha, ou Guerra dos Farrapos, em referência aos trajes esfarrapados usados pelas tropas rebeldes.
Aconteceu na então, província do Rio Grande do Sul, sendo a rebelião mais duradoura do período imperial brasileiro, se estendendo até 1845. Em lados opostos, estavam o governo do Rio de Janeiro, então sede do Império, e as elites rio-grandenses, política e economicamente insatisfeitas.
Diante da guerra dos Farrapos contra os Imperiais, vamos conhecer neste artigo as armas utilizadas neste conflito.
As principais armas usadas foram lanças, pistolas, adagas, canhões, obuses, trabucos, garruchas, boleadeiras e laços.
A lança foi a principal arma da Revolução Farroupilha, sendo que os cavaleiros eram habilidosos no manejo da lança. As lanças utilizadas na guerra tinham cerca de 2,50 m de comprimento. Existiam diferentes modelos de lanças, como a lança punhal, a lança cruzeta triangular e a lança em forma de meia-lua.
As Pistolas e adagas eram utilizadas em entreveros. Sendo que a maioria das pistolas, pistolões, garruchas e trabucos eram carregadas pela boca.
Na artilharia os farrapos utilizavam canhões e obuses, muitas vezes, tomados do Exército Imperial.
As munições variavam de calibre sendo de 6 a 18 mm, já as boleadeiras e laços eram utilizadas principalmente pelos cavalarianos.
Um local onde se encontra muitas peças históricas da Revolução Farroupilha, é o Museu Farroupilha, localizado em Piratini - RS.

Conhecendo as armas

No início da guerra, em 1835, as tropas eram basicamente civis armados e comandados por chefes políticos regionais. Não se tinha uma estrutura de forças armadas. Então os combatentes portavam os mais diversos armamentos, de distintas origens, dá pra dizer que basicamente cada combatente peleava com suas armas particulares.
Depois com o tempo, as forças armadas farrapas foram separadas em Exército e Marinha. O Exército tinha 3 pilares: Infantaria, Cavalaria e Artilharia.
A Infantaria utilizava espingardas e carabinas, de modelos Tower e Brown Bless. A maior parte das armas tinha seus canos com alma lisa, calibres entre 15 a 19 mm e ainda eram adaptadas com baionetas. As espadas eram retas e pistolas completavam o arsenal dos infantes.
A Cavalaria utilizava clavinas e mosquetões (mesmo modelo das espingardas, porém com o cano mais curto) como armas de fogo, lanças e espadas como armas brancas.
A lança era a principal arma da Cavalaria que deixou na história a sua marca através das cargas a “pata de cavalo e a pontaços de lança”, tornando-se terríveis e avassaladoras devido a perfeita sincronização homem-cavalo-lança.
Havia vários modelos de lanças, entre elas: lança-punhal modelo brasileiro e a lança choupa losangular e, num número menor, lança cruzeta roliça triangular ou em forma de meia-lua, geralmente uma lança media 2,50 m.
Existem também inúmeros relatos de lanças preparadas com folhas da tesoura de tosquiar ou com facas adaptadas nas extremidades presas com tentos.
As espadas eram retas ou curvas, as primeiras de uso dos oficiais de Infantaria e as segundas de uso dos militares da Cavalaria principalmente as famosas espadas rabos-de-galo.
Também existem relatos da presença de terçados, nome dado ao modelo de espada de lâmina curta, também conhecida como chilfarote, arma de uso individual utilizada pelos músicos farrapos das Fanfarras e Corneteiros.
Outras armas de uso individual eram as pistolas e adagas sendo essas utilizadas nos entreveros, e quando o manejo das armas de cano longo e das lanças se tornava difícil, a maioria das pistolas, pistolões, garruchas e trabucos eram de carregar pela boca.
A Artilharia farrapa utilizava canhões, obuses, e canhões obuses, tomados do Exército Imperial, suas munições variavam do calibre 6 e 12 mm, mas haviam peças também de calibre 13 e 18 mm. Utilizavam projeteis ocos, cacho-de-uva, cheios e lanternetas.
Os projeteis ocos eram carregados com pólvora fina. Muitas munições eram adquiridas no Uruguai ou fabricadas nas oficinas de polvareiros e espoleteiros, que encontavam-se nos Trens de guerra.
Por último registramos que o laço e as boleadeiras também desempenharam, ao seu modo, o papel de armas e faziam parte do arsenal individual, principalmente dos cavalarianos.
Foram diversas artilharias usadas principalmente pelos Farrapos, por isso que a guerra, foi mais longa, que muitas outras revoltas na História do Brasil.

Por: Diones Franchi
Jornalista e Mestre em História

Referências:

Breve história do Rio Grande do Sul: da Pré-história aos dias atuais – Mario Maestri – 2010
Linha Campeira.com – Pesquisado em 2025
História do Rio Grande do Sul – Moacyr Flores – 2003