quinta-feira, 16 de dezembro de 2021

Gumercindo Saraiva

Foi um estancieiro, cavaleiro, caudilho e comandante militar gaúcho e importante nome da Revolução Federalista de 1893, onde comandou as tropas rebeldes denominado de maragatos. Gumercindo nasceu em Arroio Grande em 13 de janeiro de 1852, sendo filho de Francisco Saraiva e Propícia da Rosa. Tinha estância na região de Santa Vitória do Palmar, onde conduzia com força e lealdade as suas terras, sendo conhecido como amigo fiel e inimigo perigoso. Foi também capitão de guerra, comissário de polícia e tropeiro. Durante os últimos anos do Império, quando era chefe de polícia daquela localidade, chegou a ser simpatizante da causa republicana, mas os partidários locais o desiludiram. Conhecido também como Napoleão dos Pampas.
Líder caudilho, Gumercindo Saraiva arregimentava rapidamente uma montonera que constituía em uma formação militar geralmente constituída por indivíduos da mesma localidade, que ofereciam seu apoio armado a uma determinada causa. Seu prestígio dividia-se tanto pela amizade com seu ilustre amigo Gaspar Silveira Martins, um dos político mais influentes do Império nos anos que precederam a queda do regime monárquico, como também se dava em parte por seus soldados que o cercavam constantemente. Possuía cerca de quinze mil hectares de terra e milhares de cabeças de gado que se estendiam pela fronteira sul do Rio Grande do Sul. Desde jovem adquiriu agilidade ímpar com o cavalo. Aos dezoito anos se juntou a sua primeira montonera, quando ainda vivia no Uruguai. Muitos que constituíam a sua montonera durante a Revolução Federalista eram falantes de espanhol ou castelhanos que ele conhecera nessa lida na década de 1870 e começo de 1880. Estes eram provenientes da região de San José, e se autodenominavam maragatos devido à origem dos primeiros colonos dessa região, alcunha pela qual ficou célebre o grupo federalista durante as hostilidades. Depois de viver os seus primeiros 30 anos no Uruguai, em 1883 retornou ao Brasil fugindo da justiça A Guerra em que Saraiva entrou para a História teve início com o Golpe de 1889 ou Proclamação da República no Brasil e com a ascensão do governador Júlio de Castilhos, correligionário daqueles que seriam conhecidos como Pica - Paus, em 1892. Nesse período o governo de Júlio de Castilhos entra numa fase de instabilidade no Rio Grande do Sul. O estado se torna um caos, de um lado os castilhistas Pica-Paus, e do outro os federalistas maragatos liderados pelo General João Nunes da Silva Tavares, o Joca Tavares. A inimizade entre Gumercindo Saraiva e Júlio de Castilhos já existia desde a formação da República, quando o Saraiva recusou o convite para chefiar o Partido Republicano no Rio Grande do Sul. A partir daí foi perseguido pelo castilhismo. Seu objetivo buscava a reforma constitucional parlamentarista do então exilado Gaspar Silveira Martins que resolve voltar ao Uruguai onde os rebeldes estavam formando suas tropas. Em 2 de fevereiro de 1893, acompanhado por seu irmão Aparício Saraiva e liderando cerca de quatrocentos cavaleiros atravessou a fronteira pelo povoado da Serrilhada, entrando no Rio Grande do Sul, e juntando-se aos homens do General João Nunes da Silva Tavares, formando assim o Exército Libertador, com um contingente de mais de três mil homens, que em pouco tempo chegaria a doze mil. Consta que um terceiro irmão, Mariano, também teria participado desta revolução. No Uruguai os três irmãos Saraiva, eram conhecidos como Os três de Cerro Largo. Em 4 de abril de 1893 acontece a primeira batalha com as tropas legalistas denominadas Pica-Paus. Depois de vários combates com as forças do governo, percebendo estar diante de um exército melhor preparado e armado, Gumercindo Saraiva parte para a prática de guerrilha, evitando combates convencionais, e dispersando as tropas legalistas para tentar vencê-las depois, em partes, tática esta que deu certo. Gumercindo Saraiva e sua tropa dirigiu-se para Dom Pedrito, iniciando uma série de ataques relâmpagos contra vários pontos do estado, desestabilizando as posições conquistadas pelos legalistas. O governo, autoritário e centralista de Julio de Castilhos, provocou furor na oposição, com a formação de um confronto entre Maragatos e Pica - Paus, a disputa entre centralismo e regionalismo desencadeou uma Guerra Civil no Rio Grande do Sul, estendendo-se para Santa Catarina e Paraná. Em seguida as tropas de Gumercindo Saraiva rumaram ao norte, avançando em novembro sobre Santa Catarina e chegando ao Paraná, sendo detidos na cidade da Lapa, a 60 quilometros de Curitiba. Nesta ocasião, o coronel Gomes Carneiro morreu em fevereiro de 1894 sem entregar suas posições ao inimigo, no episódio que ficou conhecido como o Cerco da Lapa. O almirante Custódio de Melo, que chefiara a Revolta da Armada contra Floriano Peixoto, uniu-se aos federalistas e ocupou Desterro, atual Florianópolis. De lá chegou a Curitiba, ao encontro do caudilho-maragato Gumercindo Saraiva. Após a queda da Lapa, rumou para Curitiba que encontrou completamente desguarnecida, partindo em seguida para Ponta Grossa, onde enfrentou as tropas legalistas que haviam recebido reforços de São Paulo, obrigando-o a recuar, iniciando assim a retirada e seu retorno ao Rio Grande do Sul, agora acossado pelas tropas do governo. Em marcha pelos três estados, desde sua partida de Jaguarão até o retorno ao Sul, o General Gumercindo Saraiva e suas tropas percorreram a cavalo, um trajeto de mais de 3 000 km. Em 27 de Junho enfrentou sua última grande batalha. No dia 10 de Agosto de 1894 morreu com um tiro no tórax, desferido de tocaia por um homem que se encontrava no meio do mato, enquanto reconhecia o terreno na véspera da Batalha do Carovi em área hoje situada no município de Capão do Cipó no Rio Grande do Sul. Dois dias depois de enterrado, no cemitério Santo Antônio de Capuchinhos, atual município de Itacurubi, seu corpo foi retirado da cova, e teve a cabeça decepada. Segundo alguns autores a cabeça foi levada em uma caixa de chapéu ao governador Júlio de Castilhos. Seu corpo, mais tarde, foi novamente sepultado no cemitério municipal de Santa Vitória do Palmar, sem a cabeça. A propaganda de guerra governista na época acusou Gumercindo Saraiva de atrocidades, fato esse que foi desmentido por centenas de testemunhos, inclusive de seus inimigos políticos. Seu sabre se encontra até os dias de hoje no Museu Paranaense em Curitiba.

Por: Diones Franchi

Jornalista e Mestre em História

Fontes:

- Elmar Bones e Tabajara Ruas. A cabeça de Gumercindo Saraiva. 1.ed. Editora Record, 1997. 226 p.

- 1889: A República Não Esperou o Amanhecer, Hélio Silva, Civilização Brasileira, 1972

- A História Ilustrada do Rio Grande do Sul - 2004

 



quinta-feira, 2 de setembro de 2021

Anita Garibaldi – A heroína de dois mundos

Ana Maria Ribeiro da Silva conhecida como Anita Garibaldi, foi uma importante revolucionária. Participou da Revolução Farroupilha no Brasil e também da Batalha de Gianicolo, pela unificação na Itália. Por lutar na América do Sul e na Europa foi nomeada de “Heroína de Dois Mundos”.
Nasceu em 30 de agosto de 1821 em Morrinhos do Mirim, município de Laguna, Santa Catarina. Era filha de Bento Ribeiro da Silva e Maria Antônia de Jesus Antunes. A família tinha origem humilde e valorizava a cultura e a educação. Quando seu pai faleceu, Anita casou-se aos 14 anos com o sapateiro Manuel Duarte de Aguiar. Era uma jovem de caráter independente e resoluto, que defendia e gostava de participar das questões que promoviam liberdade e justiça no país. Após três anos de matrimônio, o casamento acaba.
Foi durante a Revolução Farroupilha no ano de 1839 que Anita conhece o italiano Giuseppe Garibaldi, que a serviço da República Rio-Grandense, participa da tomada do porto de Laguna, na então província de Santa Catarina. Garibaldi tinha chegado ao Rio de Janeiro em busca de exílio após ser condenado à morte em seu país. Nessa época iniciava no Brasil a Guerra dos Farrapos no Rio Grande do Sul, movimento comandado por Bento Gonçalves e ligado aos latifundiários escravistas e separatistas que lutavam pelo fim do Império brasileiro.
Quando Garibaldi soube dessa revolução logo se envolveu no apoio em defesa da causa. Com homens, armas e um veleiro à sua disposição, Garibaldi seguiu para a cidade de Laguna e assim lá conheceu Anita, que já estava envolvida na revolução. Apaixonaram-se a primeira vista e a partir desse momento seguiram sempre unidos em qualquer situação. No dia 20 de outubro de 1839, Anita subiu a bordo do navio de Garibaldi para uma expedição até Cananéia, abandonando definitivamente sua vida para trás. Em batalha, era uma mulher valente e não media esforços: chegou a carregar e disparar canhões na batalha de Laguna e lutou bravamente durante o combate em Imbituba, Santa Catarina.
Apesar de ser destemida, Anita Garibaldi foi capturada pelas tropas do Império durante a Batalha dos Curitibanos, mas conseguiu executar uma fuga em um instante de distração dos guardas, tomou um cavalo e fugiu. Após atravessar a nado o Rio Canoas, foi ao encontro de Garibaldi em Vacaria. Ela realizou essa façanha já grávida de seu primeiro filho.
Em 16 de setembro de 1840, nasceu no estado do Rio Grande do Sul, na então vila e atual cidade de Mostardas o primeiro filho do casal, que recebeu o nome de Menotti Garibaldi, em homenagem ao patriota italiano Ciro Menotti. Doze dias depois, o exército imperial, comandado por Francisco Pedro de Abreu, cercou a casa para prender o casal, e Anita fugiu novamente a cavalo com o recém-nascido nos braços, alcançando um bosque aos arredores da cidade, onde ficou escondida por quatro dias, até que Garibaldi a encontrou.
Em 1841, Bento Gonçalves dispensa Garibaldi, que segue com Anita para Montevidéu no Uruguai, engajando-se na frente da defesa contra o ex-presidente Oribe. Anita, Giuseppe e Menotti mudaram-se para Montevidéu, no Uruguai, recebendo um rebanho de 900 cabeças de gado. Foi no Uruguai que também em 26 de Março de 1842, Anita casa-se com Garibaldi na paróquia de San Bernardino e nascem os outros três filhos do casal: Rosa (1843), Teresa (1845) e Ricciotti Garibaldi (1847). Rosa faleceu aos dois anos de idade por asfixia, por causa de uma infecção na garganta.
Em 1847, Anita foi enviada para a Itália, onde lá, o casal continuou envolvido em lutas para a unificação do país, que na época estava dividido em reinos e repúblicas, além dos territórios pertencentes ao Papa. Sem sucesso na empreitada, são obrigados a fugir de Roma após a derrota na Batalha do Gianicolo. Assim seguem viagem para a Suíça, disfarçados de soldados. Ao passarem pela cidade de San Marino, a embaixada norte-americana ofereceu um salvo conduto para tirar o casal da situação de risco, mas Anita e Giuseppe não aceitaram por acreditarem que uma atitude de “rendição” poderia impactar negativamente o processo de unificação. Continuaram em fuga e Anita adoeceu durante a viagem, na região próxima a província de Ravena. Estava gestante de cinco meses e não resistiu a uma forte crise de febre tifóide, falecendo no dia 4 de agosto de 1849 em Mandriole, Itália. Por estar sendo perseguido pelos austríacos, Garibaldi precisava continuar em fuga e não conseguiu acompanhar o sepultamento da esposa. O revolucionário italiano seguiu viagem, permanecendo exilado dez anos fora da Itália.
Os restos mortais de Anita foram exumados por sete vezes. Por vontade do marido, seu corpo foi transferido a Nice.
Posteriormente, foi erguido um monumento em homenagem a Anita Garibaldi na colina de Gianicolo em Roma em 1932, junto ao local foram enterrados seus restos mortais em definitivo.
A casa onde Anita Garibaldi residiu em Laguna, Santa Catarina, foi transformada em museu aberto, reunindo o acervo histórico das batalhas e objetos que pertenceram à heroína. Foi também homenageada com o seu nome, um município no estado de Santa Catarina, além de ruas, avenidas e diversos monumentos no Brasil, Uruguai e na Itália.
Anita Garibaldi é verdadeiramente uma das principais personagens de nossa história.


Por: Diones Franchi
Jornalista e mestre em História

Fontes:

-BANDI, Giuseppe. Anita Garibaldi (1889).
-OLIVEIRA, Catarina – Infoescola.com Ensino Superior em Comunicação (Universidade Metodista de São Paulo, 2010)
-DUMAS pai, Alexandre. Memórias de Garibaldi (1861, 1931)
-LAMI, Lucio. Garibaldi e Anita: Corsari (1991).




quarta-feira, 11 de agosto de 2021

A música gaúcha e suas origens

A música gaúcha surgiu da origem da escola literária do parnasianismo, por abordar em suas canções coisas da natureza e de ambiente, como a terra, o chão, os costumes, o cavalo, buscando na musicalidade, a rima num arranjo muito acertado com as melodias, criando entre letra, música e dramatização, uma dinâmica que rebusca origens e paixões.
O estilo musical gauchesco mostra também origens fortes na música flamenca espanhola, e na música portuguesa. Os campos harmônicos bem arranjados denotam de ritmos bem elaborados e melodias com dois ou mais violões, tendo mais tarde a gaita como um dos instrumentos principais.
A música gaúcha também é originária da mistura cultural dos povos que aqui viviam nos anos de colonização do Rio Grande do Sul.
A partir de 1600, os portugueses iniciam as mesclas, que nascia com a música do período renascentista, cruzado com o índio brasileiro e o africano. Mas foi através dos missionários portugueses e bandeirantes que começam a destacar-se a formação do que viria a ser o estilo gaúcho.
A música barroca e renascentista, se destacou a partir da introdução dos Sete Povos das Missões vinda com os colonizadores.
Por muito tempo a música trazida pelos colonizadores portugueses que possuía um estilo medieval, com uma maior simplicidade harmônica, melódica e rítmica foi aquela que se destacou.
Nos séculos 18 e 19 a música gaúcha começou a ganhar sua identidade, com uma mescla de instrumentos de origem européia, com influências do pampa gaúcho platino.
Existem vários ritmos que fazem parte da música gaúcha, mas a maioria deles são variações de danças de salão centro-européias populares no século 19. Esses ritmos, derivados da valsa, do xote, da polca e da mazurca, foram adaptados para a vaneira, vaneirão, chamamé, milonga, rancheira, xote e chimarrita, entre outras.
Com uma formação harmônica/melódica complexa, a música tradicionalista torna-se ainda difícil de ser interpretada em alguns casos, por outros grupos ou músicos que não possuem ligação direta com a cultura gaúcha.
Outro ritmo da música gaúcha que ganhou força foi o nativismo, através do surgimento do Movimento Tradicionalista Gaúcho, que começou a organizar festivais da musica gaúcha.
A partir dos anos 1970 até hoje, registraram-se aproximadamente mais de 160 festivais de música nativista, alguns com quase quarenta edições. Isso demonstra a força da tradição musical do Rio Grande do Sul.
A música gaúcha tem como principais fatores de identidade, a ligação com o contexto rural e os hábitos da figura mítica do gaúcho, homem do campo que é, em termos rítmico-harmônicos, é fortemente influenciado pelo contato direto com a cultura dos países platinos como a Argentina e Uruguai e pela imigração ítalo-germânica – além do estreito vínculo com as culturas indígena, africana e portuguesa.
Na maioria das músicas gaúchas, o gaúcho é tratado como habitante nômade do pampa, homem sem lei descrito por vasta literatura, sobretudo a partir do século 19.
As características do gaúcho constituem a inspiração para a “música gauchesca”: que se define com a franqueza nas atitudes e nas palavras, o narcisismo, a bravura quixotesca, e a instantaneidade impulsiva das resoluções.
A música gaúcha atual foi precisamente constituída no final da primeira metade do século 20, sendo ligada diretamente aos surgimentos dos CTG - Centro de Tradicionalismo Gaúcho.
Podemos dizer que a musica gaúcha se define em música tradicionalista e música nativista.
A Música Nativista é o gênero mais representativo da identidade da Região Sul e é reconhecível além dos limites nacionais sendo típico da Argentina, Uruguai, Paraguai e extremo sul do Brasil, enfatiza o amor pelas tradições representado pelo ente folclórico denominado gaúcho, o campo, o cavalo, os valores, a culinária regional e a mulher.
A Música Tradicionalista tem variações de músicas que animavam as danças de salão centro-européias no século 19. A valsa, a polca e a mazurca, foram adaptadas para vaneira, vaneirão, chamamé, milonga, rancheira, polonaise e chimarrita (derivada do termo “chimarrão”).
Tem como temas a natureza e o ambiente: a terra, o chão, os costumes, o cavalo. As letras giram em torno das origens da identidade e a sensação de perda com as mudanças sociais e históricas e tem como protagonista o Gaúcho.
Podemos concluir que a música gaúcha apresenta manifestações de idéias, sentimentos e situações que enaltecem o Rio Grande do Sul, através das vivências do povo gaúcho em seus aspectos históricos, geográficos e culturais.

Por: Diones Franchi

Jornalista e Mestre em história

Fontes:

- Cougo, Francisco. «A historiografia da "música gauchesca": apontamentos para uma História.
- http://riograndemeupais.blogspot.com/
- www.regionalismogaucho.com
- www.revistacontemporaneos.com.br/n10/dossie/histografia-musica-gauchesca.pdf
- UFSM -https://repositorio.ufsm.br/handle/1/14366


                          

                                    

sexta-feira, 16 de julho de 2021

A lenda do monstro do Jacuí (Minhocão)

A beira do Rio Jacuí existe a lenda de um monstro que diz aparecer sob as águas do grande afluente. Esta localizado principalmente entre os municípios de Espumoso, Tapera, 15 de Novembro e Salto do Jacuí. Conta-se que o bicho, também chamado Minhocão, seria uma serpente gigante que se criou nas águas do rio, e volta e meia assombra os moradores.
Uma das versões é de que, na década de 1960, capotou próximo ao rio um ônibus que funcionava como zoológico ambulante, cheio de cobras, terneiros de duas cabeças empalhados e aberrações do gênero. Os animais teriam se refugiado nas águas da região e ali procriado. O formato de um minhocão se deve ao seu tamanho que seria assustador. Existe outra versão relatando que um fazendeiro largou no rio uma cobra sucuri com mais dois filhotes, depois disso foi construída a represa, mas com o barulho da obra da represa a cobra começou a ficar irritada, e a partir daí aterrorizou os moradores. Seu formato seria de uma cobra com grande cabeça, que anda pelo rio, e que nunca saiu d’água.Teria em média 12 metros de comprimento e 1,20 centímetros de largura. Sua cor é preto-acinzentado e sua cabeça seria igual à de um cavalo, porém, sem orelhas e que possuiria filhotes.
O minhocão aparece aos pescadores, no Rio Jacuí, e às vezes os derruba do barco.
Durante a construção da barragem do Passo Real, foi visto por vários operários, porém, imergiu nas águas. Apesar de ser lenda, há relatos reais de muitos moradores que dizem já terem visto o temível monstro no rio Jacuí.
 
Por: Diones Franchi
Jornalista e mestre em história

A lenda do Minhocão

Rio Jacuí


quarta-feira, 24 de março de 2021

A bandeira do Rio Grande do Sul

Desde o tempo das colônias, todo território continha uma bandeira para demonstrar sinal de posse pelo território, assim foi também com o Rio Grande do Sul. A primeira bandeira que por aqui surgiu, foi a bandeira da Companhia de Jesus, composto por padres jesuítas espanhóis que colonizaram no Rio Grande do Sul entre eles os Sete Povos das Missões. Outra bandeira que foi predominante no Rio Grande do Sul foi à da Ordem de Cristo, usada pelos portugueses durante grande parte da colonização.
Mas uma grande parte do território gaúcho teve iniciada sua colonização através de José da Silva Paes, que fundou a Vila de Rio Grande, esse o núcleo inicial da Capitania Real de São Pedro do Rio Grande do Sul. A partir disso ocorrem diversos conflitos entre espanhóis e portugueses visando demarcar territórios. Nisso se destaca uma bandeira de cor vermelho, verde e branco, que durante as Missões Orientais foi utilizada pelos espanhóis após conquistarem o oeste do Rio Grande do Sul em 1816, sendo mais tarde reintegrado ao Império em 1828.
Durante grande parte do período do Império do Brasil, a bandeira da então província do Rio Grande do Sul era dividida em quatro partes diagonais, alternadas nas cores azul e branco.

O surgimento da bandeira

A bandeira do estado do Rio Grande do Sul é composta de três faixas diagonais, sendo elas verde (superior), vermelha (meio) e amarela (inferior). Ela foi elaborada durante a Revolução Farroupilha, sendo ela um dos principais símbolos do estado.Em 11 de setembro de 1836, os farrapos decidem pela separação e proclamação da República Rio-Grandense, começando de fato a adotar de maneira mais marcante a bandeira.
Mas historicamente surge pela primeira vez em 6 de novembro de 1836, em Piratini, a bandeira da República Rio-Grandense, em um cortejo solene em direção à igreja local. Após haver sido eleito Presidente da nova República, Bento Gonçalves da Silva se encontrava preso na Fortaleza da Lage, no Rio de Janeiro, em consequência de prisão na ilha do Fanfa, então na oportunidade, coube oficialmente ao Major de lanceiros Joaquim Teixeira Nunes a honraria de ser o primeiro a carregar a bandeira da República.
Em 12 de novembro de 1836 com o Governo da República já instalado em Piratini, José Gomes de Vasconcelos Jardim, baixa o decreto criando o "Escudo D'armas" (Pavilhão Farroupilha), assim descrito, "O escudo d’armas do Estado Rio-Grandense será de ora em diante de forma de um quadrado dividido pelas três cores (nacionais), assim dispostas: a parte superior junto à haste verde, é escarlate, formado por um hexágono, determinado pela hipotenusa do 1º retângulo; e a de outro igual e simetricamente disposto, cor de ouro, que formará a parte inferior".
Quanto a criação da bandeira, existem controvérsias; alguns apontam o Coronel Bernardo Pires, Chefe da Polícia da República Rio-Grandense, enquanto outros apontam José Mariano de Mattos, Deputado da Província, Ministro da Guerra, da Marinha e do Exterior, Vice-Presidente da República Rio-Grandense e Presidente em Substituição a Bento Gonçalves em algumas passagens de período entre 1839 a 1841 e outros de que foi um trabalho em parceria de ambos.
Não há também um consenso no que refere-se aos significados das cores, existe uma versão possivelmente mais próxima da real, que conta que a faixa verde representa a mata dos pampas gaúchos, a vermelha simboliza o ideal revolucionário e a coragem do povo, e a cor amarela representa as riquezas nacionais do território gaúcho. Todavia, algumas outras versões alegam que as cores simbolizariam a bandeira do império (o verde e o amarelo), separado pelo vermelho da guerra. Já outras mencionam que o vermelho representaria o ideal republicano.
No centro da bandeira há o brasão do Rio Grande do Sul, onde suas características são de evidente inspiração maçônica, como as duas colunas que ladeiam o losango invertido são idênticas às encontradas em todos os Templos maçônicos. Além dos símbolos encontramos os dizeres: República Rio-Grandense, 20 de setembro de 1835. Abaixo do escudo há uma faixa com três palavras: Liberdade, Igualdade, Humanidade. Lema que também tem origem na Maçonaria e inspirada na Revolução Francesa. No centro está um barrete frígio, um símbolo republicano desde a Queda da Bastilha.
A atual bandeira gaúcha tem sua origem nas cores escolhidas pelos farrapos na bandeira da República Rio-Grandense, sendo que ela foi adotada oficialmente como símbolo do estado logo nos primeiros anos da república. Mais especificamente, através do título VI da constituição estadual promulgada em 14 de julho de 1891: "VI - São insígnias oficiais do Estado, as do Pavilhão Tricolor criado pelos revolucionários rio-grandenses de 1835”.
Em 1937, durante o regime político do Estado Novo, o presidente Getúlio Vargas ordenou que todos os símbolos estaduais fossem abolidos, incluindo bandeiras e brasões. Na constituição gaúcha de 1947, o estado reabilitava em seu Art. 237, o formato pavilhão tricolor da bandeira farroupilha.
A Bandeira foi oficialmente adotada pelo decreto estadual nº 5.213, de 5 de Janeiro de 1966, sendo governador, Ildo Meneghetti.
Existe também outra bandeira chamada de bandeira do governador do estado do Rio Grande do Sul, instituída através do decreto 19.891 de 18 de setembro de 1969. Trata se de uma bandeira retangular de campo branco, dividido horizontalmente por três faixas nas cores verde, vermelho e amarelo, tendo do lado as armas da republica rio-grandense nas cores originais. Ela foi destinada para ser hasteada nos quartéis e solenidades onde o governador esteja presente.
Nos dias de hoje no museu Dom Diogo de Souza, em Bagé-RS, existe um raro exemplar da bandeira republicana rio-grandense.

Por: Diones Franchi
Jornalista e Mestre em História

Fontes:

- Manual de Identidade Visual do Governo do Estado do Rio Grande do Sul - Secretaria de Cultura, 2020
- Governo do estado do Rio Grande do Sul https://estado.rs.gov.br/simbolos
- RIBEIRO, Clóvis (1933). Os Brazões e Bandeiras do Brasil. São Paulo: São Paulo Editora. p. 151
- Gaúcha Zero Hora - https://gauchazh.clicrbs.com.br/noticia/2014/11/1000-fatos-sobre-o-rs-veja-curiosidades-que-marcam-o-estado-cj5vrxc2u0rtkxbj0wcyoqb7p.html
- Prof. Nelmar Nepomuceno - https://www.youtube.com/watch?v=EJhUzbm47pY
- Portal das Missões - https://www.portaldasmissoes.com.br/site/view/id/1937/a-bandeira-da-republica-rio-grandense---revolucao-.html

Bandeira do estado do Rio Grande do Sul

Bandeira Republicana do Rio Grande do Sul

Bandeira da Província de São Pedro do Rio Grande do Sul (Imperial)

Bandeira do Governador do estado do Rio Grande do Sul

Exemplar do pavilhão farroupilha - Museu Dom Diogo de Souza - Bagé RS


quinta-feira, 14 de janeiro de 2021

O significado do Hino Rio-grandense

O Hino do estado do Rio Grande do Sul já foi chamado de Hino da República, Hino Nacional, Hino de 35 e Hino Farroupilha, mas o nome que ficou famoso foi de Hino Rio-grandense. Oficialmente existe o registro de três letras para o hino, desde os tempos do Decênio Heróico até aos nossos dias. Num espaço de tempo de quase um século foram utilizadas três letras diferentes, até que finalmente foi resolvido, por uma comissão abalizada, que somente um deles deveria figurar como hino oficial. A história real do Hino começa com a tomada da então Vila de Rio Pardo, pelas forças revolucionárias farroupilhas. Ocasião em que foram aprisionados uma unidade do Exército Imperial, o 2° Batalhão, inclusive com a sua banda de música. E o mestre desta banda musical era Joaquim José de Mendanha, mineiro de nascimento que também foi feito prisioneiro, ele era um músico muito famoso e considerado um grande compositor. Após a sua prisão ele, Mendanha, teria sido convencido a compor uma peça musical que homenageasse a vitória das forças farroupilhas de 30 de abril de 1838, no “Combate de Rio Pardo”. A música era muito festejada entre farroupilhas e populares àquela época. Quase um ano após a tomada de Rio Pardo, foi composta uma nova letra e que foi cantada como Hino Nacional, o autor deste hino é desconhecido, oficialmente ele é dado como criação de autor ignorado. O jornal “O Povo”, considerado o jornal da República Rio-grandense em sua edição de 4 de maio de 1839 chamou-o de “o Hino da Nação”. Após o término do movimento apareceu uma terceira letra, desta vez com autor conhecido: Francisco Pinto da Fontoura, vulgo “o Chiquinho da Vovó”. Esta terceira versão foi a que mais caiu no agrado da alma popular. Um fato que contribui para isto foi que o autor, depois de pronto este terceiro hino, continuou ensinando aos seus contemporâneos o hino com sua letra. A letra deste autor é basicamente a mesma adotada como sendo a oficial até hoje, mas a segunda estrofe, que foi suprimida posteriormente, era a seguinte:

Entre nós reviva Atenas
Para assombro dos tiranos;
Sejamos gregos na Glória,
E na virtude, romanos.

Em 1933, ano em que estavam no auge os preparativos para a “Semana do Centenário da Revolução Farroupilha”. Nesse momento um grupo de folcloristas resolveu escolher uma das versões para ser a letra oficial do hino do Rio Grande do Sul.
A partir daí, o Instituto Histórico contando com a colaboração da Sociedade Rio-Grandense de Educação, fez a harmonização e a oficialização do hino. O Hino foi então adotado naquele ano de 1934, com a letra total conforme fora escrito pelo autor, no século passado, caindo em desuso os outros poemas.
No ano de 1966, o Hino foi oficializado como Hino Farroupilha ou Hino Rio-Grandense, por força da lei 5213 de 05 de janeiro de 1966, quando foi suprimida a segunda estrofe.
Muitos gaúchos sabem cantar o hino, mas poucos sabem o significado dos versos. O hino pode ser traduzido da seguinte forma:

O que diz: 

Como a aurora precursora
do farol da divindade,
foi o vinte de setembro
o precursor da liberdade.

O que quer dizer:

O autor faz, nessa estrofe,
uma referência ao início da Revolução Farroupilha, movimento que iria criar condições, mais tarde, em 1836, para a criação da República Rio-grandense, tornando livre a província em relação ao império brasileiro.

O que diz:

Mostremos valor constância,
nesta ímpia injusta guerra,
sirvam nossas façanhas
de modelo a toda a terra.

O que quer dizer:

O autor faz um chamamento aos farroupilhas de então para que seus atos, naquela guerra cruel e desumana, demonstrem os valores que os caracterizavam, como coragem, brio e, sobretudo, permanente disposição para a conquista de seus ideais de república e de federação. Injusta seriam a guerra e a situação que o Rio Grande do Sul estava sendo submetido pelo tratamento recebido do Império.
Numa proposta de efeito, apontam seus atos heróicos como exemplos a serem seguidos.

O que diz: 

Mas não basta para ser livre
ser forte, aguerrido e bravo,
povo que não tem virtude acaba por ser escravo.

O que quer dizer:

O Hino Rio-grandense afirma a necessidade do cultivo de valores virtuoso para que um povo se mantenha em liberdade, por meio da manutenção da capacidade de decidir segundo seus próprios valores.
A utilização da palavra escravo está no sentido figurado, sendo o vício entendido como o oposto da virtude, como o fator escravizante. O escravo também seria a forma como o sul rio-grandense ficaria sendo tratado e submetido aos desmandos do Império, caso não houvesse tomado alguma atitude por parte dos farroupilhas. 

É preciso saber interpretar e compreender o tempo em que houve a composição, entendendo que o hino é importante para a cultura gaúcha, não atingindo nenhuma classe de pessoas, sendo considerado até hoje um dos mais belos hinos do Brasil.

Por: Diones Franchi

Fonte:

História do Rio Grande do Sul, regionalismo gaúcho
Portal das Missões
Corte Real, Antônio T. Subsídios para a história da música no Rio Grande do Sul. Movimento, 1984, p. 336
MTG





O Partido Farroupilha

O Partido Farroupilha foi um partido político brasileiro fundado em Rio Grande em 1832, que resultou nos dissidentes gaúchos que mais tarde lideraram a Revolução Farroupilha.
Foi fundado pelo tenente Luís José Alpoim, que participara, no Rio, das agitações populares de 7 de abril de 1831, que resultaram na queda do Imperador. O grupo se encontrava na casa do major João Manuel de Lima e Silva, sede também da Sociedade Continentino. O objetivo do partido era criar a federação, desenvolver o nacionalismo e proclamar a república, apesar de nem todos os farroupilhas tomarem conhecimento sobre esse assunto. Desde o início o partido teve atuação intensa. Em 24 de outubro de 1833, os farroupilhas promoveram um levante contra a instalação da Sociedade Militar em Porto Alegre (que congregava conservadores) em Porto Alegre.
No cenário político, os farroupilhas, reunidos num partido próprio - contrapondo-se aos conservadores, os caramurus - eram um dos grupos mais exaltados e defendiam idéias como a adoção de um regime republicano ou, ao menos, de um regime de federação, em que as províncias tivessem maior autonomia.
Na primeira eleição para a Assembléia Legislativa, em 7 de abril de 1835, fez a maioria no Legislativo do Rio Grande do Sul. 
Foi também em uma sessão extraordinária da Câmara de Piratini, na primeira capital da República Rio-Grandense, que em 6 de novembro de 1836, procedeu-se formalmente a votação para Presidente da República, conforme os parâmetros da época. Quem tinha direito a voto eram em sua maioria estancieiros que faziam parte do partido farroupilha. A eleição foi vencida por Bento Gonçalves (mesmo sem estar presente e sem campanha) e primeiro vice-presidente José Gomes de Vasconcelos Jardim. Assumiu o vice interinamente a presidência, nomeando o ministério e tomando a incumbência de convocar uma Assembléia Constituinte para formar a Constituição da República Rio-grandense.
Bento Gonçalves governou de 1836 a 1841, e logo após a renúncia de Bento, José Gomes de Vasconcelos Jardim governou de 1841 a 1845.
O Partido Farroupilha foi dissolvido em 1 de março de 1845, com o fim da Revolução Farroupilha.

Por: Diones Franchi

Fonte:
FLORES, Moacyr, República Rio-Grandense: realidade e utopia,Coleção História, vol. 54, EDIPUCRS, 2002.


General Neto – O Proclamador da República Rio-Grandense

Antônio de Sousa Netto foi um militar, considerado um dos mais importantes nomes da história do Rio Grande do Sul. É reconhecido por ser um dos líderes da Revolução Farroupilha (1835 a 1845). Nascido no Povo Novo, distrito do município de Rio Grande em 25 de maio de 1803. Era filho de açorianos, casais portugueses que colonizaram o Rio Grande do Sul. Mas foi em Bagé – RS que o General Netto desenvolveu a maior parte de sua enorme atividade de defensor da Liberdade, da República, da dignidade do Brasil Império, que ele profundamente amava como sua pátria, mas detestava como monarquia.
Estanceiro no Uruguai e Brasil, com seus campos talados e vazios, tudo que lhe restou foi a Revolução Farroupilha a que se dedicou de corpo e alma. Durante esse período não deixava de visitar sua casa em Bagé nos campos do Seival.
A partir de 1835 quando foi desencadeada a Revolução Farroupilha que manifestava o descontentamento dos gaúchos com o governo imperial. Enquanto o líder Bento Gonçalves, concentrava-se em ação militar próximo a Porto Alegre, Netto comandante da 1ª Brigada Ligeira de Cavalaria do Exército Liberal, travava uma batalha contra forças imperiais, próximo ao Arroio Seival, em Bagé. A batalha vencida pelos farroupilhas ficou conhecida como Batalha do Seival, onde Netto a estabeleceu no dia 11 de setembro de 1836 a proclamação da República Rio-grandense. Mesmo sem o conhecimento de Bento Gonçalves, líder do movimento, Neto e seus pares, pelos princípios republicanos resolveram separar a Província do resto do Império do Brasil e proclamá-la uma nação republicana independente. Bento Gonçalves seria informado e aclamado presidente, posteriormente.
A guerra durou 10 anos e a paz foi realizada em Ponche Verde no dia 1° de março de 1845, que pôs fim a Revolução Farroupilha, destinando-se a unir a todo o Brasi., Apesar de contrariado Netto concordou com os chefes da república que findava para a pacificação do Rio Grande do Sul. Desolado por motivos idealistas retirou-se para o Uruguai, sendo exilado voluntário. 
Era abolicionista ferrenho, e por isso levou alguns negros que o acompanharam por livre vontade e lá continuou com a criação de gado. 
Retornou à luta em 1851 na Guerra contra Rosas, com sua cavalaria na brigada de Voluntários Rio-Grandenses, organizada inteiramente à sua custa, o que lhe valeu a promoção de Brigadeiro Honorário do Exército brasileiro, e a transformação de sua brigada em Brigada de Cavalaria Ligeira. 
Voltou ao combate na Guerra contra Aguirre e depois, juntamente com seu exército pessoal, na Guerra do Paraguai. No comando em brigada ligeira fez a vanguarda do General Osório na invasão do Paraguai, no Passo da Pátria, em 16 de abril de 1866.
Sua brigada ostentava sempre, ao lado da bandeira do Brasil Imperial, o pavilhão tricolor da República Rio-grandense. Na batalha de Tuiuti foi importante na defesa do flanco da tropa brasileira, mas foi ferido a bala e mandado para um hospital em Corrientes na Argentina, onde morreu e foi inicialmente sepultado. 
Em 29 de dezembro de 1966 no centenário de sua morte, seu corpo foi exumado e transferido para um mausoléu em Bagé. Em sua lápide diz “Aqui descansam os restos mortais do Brigadeiro Antônio de Souza Netto, falecido na cidade de Corrientes em 1º de julho de 1866”. Existe em varias cidades do Rio Grande do Sul, ruas que fazem homenagem a este notável personagem histórico. O seu nome esta eternizado por sua bravura como proclamador da República Rio-grandense.

Por: Diones Franchi

Referências:
Pesavento, Sandra. História do Rio Grande do Sul. Mercado Aberto. 1982
Ruas, Tabajara. Netto perde sua alma. 1.ed. Editora Record, 2001


General Neto

José da Silva Pais - O Fundador do Rio Grande do Sul

José da Silva Pais foi um militar, engenheiro e administrador colonial português, tendo destaque por ser um grande estrategista e especialista na construção de fortes.
É considerado o fundador do Rio Grande do Sul. Não apenas idealizou, mas também participou diretamente da administração pública que estruturou a concepção do Brasil Meridional lusitano. Foi responsável pela construção de fortificações, desempenhando as construções de diretrizes geopolíticas para garantir a presença portuguesa no Prata, no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina. 
Silva Paes nasceu na freguesia de Nossa Senhora das Mercês, em Lisboa, sendo batizado no dia 25 de outubro de 1679, não há uma concepção do dia exato de seu nascimento. Era filho de Roque Gomes Paes e Clara Maria da Silva. Casou-se em Lisboa no dia 8 de maio de 1704 com Máxima Teresa da Silva ou de Brito. Aos 22 anos iniciou sua vida militar em Lisboa, passando no mesmo ano à província do Alentejo, na Praça de Olivença, nas funções de ajudante-engenheiro. Em 1703, atuou em Abrantes para determinar o local conveniente para construir-se uma ponte ligando a província da Beira ao Alentejo. Em 1705, foi-lhe outorgado o título de Cavaleiro Fidalgo da Casa Real. Neste mesmo ano, é admitido na Ordem de São Tiago, da qual é transferido por Alvará de 12 de janeiro de 1716 para a Ordem de Cristo. Em 1712, junto com o Marquês Bay participou do sítio da Praça de Campo Maior. No ano seguinte é nomeado Coronel de Engenheiros, sendo investido em emprego judicial em Lisboa em 1719, e passando em 1720 a desempenhar, por designação Real, serviços nos Açores. De 1723 a 1730, passou a Coronel de Infantaria com exercício de Engenheiro-Agregado e depois continuou no mesmo posto no regimento da Armada Real até 1735. Foi designado em 1728 para administrar os bens vinculados à Capela de Monte Argil. Nos anos de 1729 a 1733 foi encarregado da implantação de obras de engenharia em Lisboa.

A chegada ao Brasil

Aos 56 anos, embarca para o Brasil como Brigadeiro. No Rio de Janeiro foi designado para projetar e construir as fortificações da cidade e na Barra de Santos. Realizou várias obras públicas na capital da colônia, destacando-se o novo edifício da Alfândega.

A fundação do Rio Grande do Sul

Dois anos após desembarcar no Brasil, comandou as expedições ao Rio da Prata com cerca de 1100 soldados. Seu objetivo era expulsar os espanhóis de Montevidéu, socorrer a Colônia do Sacramento que estava sitiada e ocupar a barra do Rio Grande de São Pedro. Para isso contava com a ajuda do coronel Cristovão Pereira de Abreu a frente de 160 homens experientes em montaria, sendo o responsável por preparar o terreno para desembarcar em Rio Grande. O resultado das ações da esquadra no Prata não foram tão positivos,pois foram rechaçados de Montevidéu e os soldados não tiveram muito o que fazer em Sacramento, onde se vivia uma expectativa de paz entre Espanha e Portugal. Silva Paes, parte então com apenas 250 homens em cinco barcos para fortificar o canal que liga a Lagoa dos Patos ao Atlântico. Ter o controle estratégico do canal era primordial, devido ser a única entrada para navios, desde Tramandaí até o Prata. Ao se dirigir para a barra, Silva Paes espera 10 dias para desembarcar, após isso avança até a Serra de São Miguel onde construiu e projetou o Forte Jesus, Maria, José. Com isso distribuiu as primeiras sesmarias, fundando assim a cidade de Rio Grande em 1737.
É considerado o primeiro povoado do futuro estado do Rio Grande do Sul, que fora projetado para estabelecer as fortificações básicas para defender as novas áreas incorporadas a Portugal. O objetivo era marcar a presença portuguesa no sul da colônia. Aquela área era objeto de incursões espanholas comandadas por Dom Pedro de Ceballos, que por duas vezes a tomou. Desenvolveu neste tempo contínuas atividades em apoio à cartografia e criou o núcleo inicial do Regimento dos Dragões do Rio Grande de São Pedro.
Manuel José Gomes de Freitas, político e historiador enaltece Silva Paes: "E a 19 de fevereiro de 1737, o Brigadeiro Silva Paes descia a terra, com um contingente de 254 arcabuzeiros e dragões, dando nascimento ao quartel e vila de Rio Grande – núcleo inicial da Capitania Real de São Pedro do Rio Grande do Sul”.

Eventos posteriores

Silva Paes após sair do Rio Grande foi nomeado primeiro governador da recém-criada capitania de Santa Catarina, cargo que ocupou por 10 anos (1739 a 1749). Neste tempo, urbanizou a capital da província e projetou a nova igreja, obra essa que foi executada pelo seus sucessores que se tornaria a Catedral Metropolitana de Florianópolis.
Projetou e construiu as fortalezas que constituíram o principal sistema de defesa da ilha de Santa Catarina:
Ao norte: Anhatomirim, São José da Ponta Grossa e Ratones;
Ao sul: Conceição de Araçatuba.
Criou o Batalhão de Infantaria de Linha da Ilha, mais tarde batizado de Barriga-verde.
Retornou ao Rio de Janeiro em 1743, e no mesmo ano Paes partiu para o litoral gaúcho, onde construiu fortificações para defender o novo território e incorporá-lo a Portugal. 
Reassumiu o governo da capitania de Santa Catarina, de 1746 a 1749. Neste período, idealizou e administrou a vinda dos açorianos para colonizar o litoral catarinense, visto que nas ilhas dos Açores havia o problema da explosão populacional.
Em 1750, Portugal e Espanha assinam o Tratado de Madri, onde a Espanha reconhece pelo princípio do direito privado romano do uti possidetis, ita possideatis (quem possui de fato, deve possuir de direito), as posses portuguesas (da qual Silva Pais teve participação direta) no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e a oeste do Tratado de Tordesilhas.
Retornou para Portugal em fevereiro de 1749, onde ainda exerceu funções públicas e privadas, vindo a falecer em 14 de novembro de 1760, aos 81 anos, deixando testamento em que estabelece o destino de seus bens e num anexo arrola o acervo de sua biblioteca, da qual existe na Biblioteca Rio-Grandense, em local separado e em destaque, um bom número das obras ali relacionadas. Da análise dos títulos constantes da biblioteca de Silva Pais verifica-se, nos mais de 200 títulos, que além de obras de Engenharia Militar e Estratégia existem muitos livros de Biografias, História e Filosofia, denotando as preocupações intelectuais daquele homem invulgar e com características de um “iluminista”, que sem saber escreveu seu próprio livro na história do estado e do país.

Por: Diones Piazer Franchi - Jornalista e Mestre em História.

Fontes: 

- Borges Fortes (gen) - O Brigadeiro Silva Paes e a fundação de Rio Grande. Separata RIHGSR. Porto Alegre, 1933.
-História ilustrada do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, 2004.


José da Silva Paes

A história da bombacha

A história da bombacha é um dos fatores importantes de nossa cultura gaúcha e brasileira.
O tradicionalismo costuma dividir a história da pilcha masculina em quatro fases: chiripá primitivo, braga e chiripá, chiripá farroupilha e, finalmente, bombacha. Quando portugueses e espanhóis colonizaram o pampa, a vestimenta padrão passou a ser o chiripá indígena, também chamado chiripá primitivo ou chiripá-saia: traje simples, um tecido retangular de couro cru ou algodão que ia até os joelhos, amarrado à cintura e preso por uma tira de couro. O contato com os ibéricos incluiu outros elementos à roupa indígena, como a guaiaca presa à cintura. O chiripá-saia foi usado por muitos anos pelos peões, enquanto os estancieiros, conforme enriqueciam, passaram a adotar roupas europeias. Uma delas foi a braga – calções largos acompanhados de ceroulas de crivo, uma espécie de calça branca justa com franjas finas na barra. No período da Guerra dos Farrapos, o chiripá indígena foi adaptado pelos gaúchos para facilitar a montaria – assim, o tecido, maior, foi passado entre as pernas e amarrado, ficando como um fraldão. Também conhecido como chiripá-fralda, geralmente era acompanhado das mesmas ceroulas de crivo, e foi uma criação pampeana legítima. O chiripá farroupilha foi usado entre 1820 e 1865, foi então que entrou a bombacha.
A história da chegada da bombacha até o sul da América não é precisa, mas alguns pesquisadores procuraram refazer sua trajetória através do tempo. Existe mais de uma versão, e uma delas está ligada à invasão árabe à Península Ibérica, no século VIII: os mouros trajavam bombachas e este hábito foi incorporado pelos nativos, já que o domínio da região durou 600 anos. Assim, a vestimenta teria chegado ao pampa através dos colonizadores, especialmente os espanhóis da região de La Maragateria, ao norte do país.A uma probabilidade para que seja de origem arabe, mas a mais provável é que seja de origem turca. Nessa segunda versão, mais aceita, a bombacha fez seu caminho através de duas guerras: a guerra da Crimeia (1853-1856) e a guerra do Paraguai (1864-1870). Na Crimeia, ingleses, franceses, sardenhos e turcos uniram-se contra a expansão do Império Russo. A industria britânica, com sua produção têxtil, confeccionou bombachas para os aliados turcos durante todo o conflito e ficou com um enorme excedente quando este acabou. Com o início da guerra contra o Paraguai, os ingleses, apoiadores da Tríplice Aliança (Argentina, Brasil e Uruguai), venderam aquelas bombachas para os exércitos no Rio da Prata. Ao voltarem para casa, os militares sulinos levaram consigo o novo traje – que se adaptava perfeitamente ao clima temperado e tornava as cavalgadas muito mais confortáveis. De traje militar passou a ser um traje civil que se incorporou ao cotidiano sul-americano. No início, a bombacha só era usada por peões no trabalho nas estâncias, mas logo foi adotada pelos mais ricos, já que se adequava ao estilo de trabalho e de vida predominante no RS. Entre o fim do século XIX e o XX, o gaúcho começou a sair da margem, num processo nacional de valorização do homem regional. A bombacha, seu traje diário, foi valorizada junto com ele. Nos anos 1940-50, principalmente, o homem campeiro virou símbolo da regionalidade cultural, e o Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG) difundiu a bombacha como traje identitário do gaúcho rio-grandense.
Assim a bombacha pode ser larga ou mais estreita, com ou sem favos (chamados “de mel” ou “de abelha”), de brim, linho, algodão, tergal ou outro tecido – mas sempre com punho abotoado no tornozelo. De acordo com especialistas existem particularidades em cada região: na fronteira, elas costumam ser bem largas e com favos, chamadas também “de dois panos”; no Planalto Médio e Missões, são médias, nem muito largas, nem muito justas; no litoral e na Serra, são estreitas, quase calças-bombachas, conhecidas também como bombachas campeiras. Geralmente são usadas com botas altas, botas sanfonadas ou alpargatas.
Em 1989, a indumentária gaúcha passou a ser considerada traje oficial e social do Rio Grande do Sul através da Lei Estadual da Pilcha, nº 8.813, desde que seguidas as recomendações do MTG. Mas, quando saem das bailantas e cavalgadas e entram no ambiente urbano (coisa cada vez mais comum), as bombachas são adotadas por homens e mulheres, indiscriminadamente, preocupados apenas em valorizar a cultura daqui.
Fonte:

A Lenda do Arroz

Conta-se que, em 1637, quando os bandeirantes de Raposo Tavares devastaram o atual município de Cachoeira do Sul, no Rio Grande do Sul, destruindo todos os aldeamentos indígenas que os Jesuítas haviam fundado, conseguiu sobreviver apenas um jovem índio chamado Tuti.
Desesperado com a perda dos seus pais e de sua morada, Tuti sentava-se à margem do Rio Jacuí e via ali noites e dias nascerem e morrerem.
O índio chorava. Chorava de fome, chorava de dor, e de saudades.
E tudo parecia chorar com ele; o sol era pálido, a noite era negra, as florestas haviam se curvado e as águas endoideceram.
Seis sóis eram passados. Tuti, sentado no mesmo lugar, broqueado de fome e de dor, com a face chicoteada pelo vento e os olhos cravados ao céu, como a pedir clemência, enxergou um vulto.
Neste momento tudo cessou. As águas continuaram enfurecidas, mas em profundo silêncio, o vento adormecera nas moitas e no céu, como que prevendo felicidade, a lua sorria.
Sobre as águas, o vulto aproximava-se de mansinho.
Vulto de mulher, trazia em suas vestes a cor do rio com todos os seus peixes, a cor do céu com suas estrelas, a cor das matas com suas aves.
Trazia o sol em seus cabelos, e seus olhos luziam como diamantes.
Deixando rastros luminosos nas águas enfurecidas do rio, aproximava-se mais e mais, até chegar frente ao índio desconsolado.
Então, falou-lhe:
– Tenho aqui em minhas mãos a semente que saciará a tua fome e de todos que virão.
Tome-as.
Eu as recolhi de tuas próprias lágrimas caídas no rio.
Dizendo isto, o vulto luminoso deixou escorrer de suas mãos uns poucos pingos dourados, os quais o índio, com gestos selvagens, colheu.
O vulto sumiu. Um violento temporal desabou.
O índio de tão fraco desmaiara, apedrejado pelo granizo caído do céu.
E as sementes foram levadas pelas águas.
Após noites e dias de chuva, quando o sol, radiante, voltou, Tuti encontrou uns cachos, já dourados, com as sementes.
Colheu-os, preparou-os e saboreou.
Era uma plantinha frágil, mas que lhe dera muita vitalidade.
Hoje chamamos esta plantinha-ternura de ARROZ.
E para maior mistério, à meia-noite, às margens do Rio Jacuí, há um profundo silêncio, embora as águas desçam endoidecidas.
Isto, talvez, em homenagem à Deusa das Águas, que saciou a fome de Tuti e nos semeou o arroz.
Observação: Essa é uma das lendas sobre o arroz!!!
Fonte: Jornal do Povo – 10 e 11/9/2005 – página 13 / http://www.guiacachoeira.com.br/?url=15



A 1ª Carta dos farroupilhas ao Império

A Revolução Farroupilha, ou Guerra dos Farrapos, como também ficou conhecida, foi motivada por diversos fatores, incluindo o alto preço de impostos sobre produtos produzidos na então província de São Pedro do Rio Grande do Sul.
Insatisfeitos pelas cobranças indevidas e pelos presidentes da província não serem gaúchos e desse modo não importarem-se com o futuro do Rio Grande do Sul, um grupo de estancieiros optou pelo ato que daria início a Revolução.
Cerca de 200 homens comandados por Bento Gonçalves da Silva, Onófre Pires e José Gomes de Vasconcelos Jardim rumaram de Pedras Brancas (atual município de Guaíba) em direção a Porto Alegre, tomando a cidade. Bento Gonçalves e Gomes Jardim entraram triunfantes em Porto Alegre, após o presidente da província, Antônio Rodrigues Fernandes Braga, fugir de navio para Rio Grande
O que muitos não sabem é que o real motivo da tomada da capital não era a formação de um novo país, mas sim que o Império respeitasse e desse valor ao Rio Grande do Sul.
Essa posição fica evidenciada numa carta enviada por Bento Gonçalves ao regente do Império, Diogo Feijó, no qual ele esclarece que depôs o presidente Fernandes Braga e conclama condições mais dignadas para o Rio Grande do Sul.
A carta
"Senhor. Em nome do povo do Rio Grande, depus o governador Braga e entreguei o governo ao seu substituto legal, Marciano Ribeiro. E, em nome do Rio Grande, eu lhe digo que, nesta província extrema, afastada dos corrilhos e conveniências da Corte, dos rapapés e salamaleques, não toleramos imposições humilhantes, nem insultos de qualquer espécie. O pampeiro destas paragens tempera o sangue rio-grandense de modo diferente de certa gente que por aí.
Nós, rio-grandenses, preferimos a morte, no campo áspero da batalha, às humilhações nas saias blandiciosas do Paço do Rio de Janeiro. O Rio Grande é a sentinela do Brasil, que olha vigilante para o Rio da Prata. Merece, pois, mais consideração e respeito. Não pode nem deve ser oprimido por déspotas de fancaria.
Exigimos que o governo imperial nos dê um governador de nossa confiança, que olhe pelos nossos interesses, pelo nosso progresso, pela nossa dignidade, ou nos separaremos do centro e, com a espada na mão, saberemos morrer com honra ou viver com liberdade.
É preciso que V.S. saiba, Sr. Regente, que é obra difícil, senão impossível, escravizar o Rio Grande, impondo-lhe governadores despóticos e tirânicos. Em nome do Rio Grande, como brasileiro, eu lhe digo, Sr. Regente, reflita bem, antes de responder, porque da sua resposta depende talvez o sossego do Brasil. Dela resultará a satisfação dos justos desejos de um punhado de brasileiros que defendeu, contra a veracidade espanhola, uma nesga fecunda da pátria, e dela também poderá resultar uma província ou a formação de um Estado novo dentro do Brasil". Bento Gonçalves
Contudo, a resposta do Império foram atos de represália aos farrapos, que decidiram seguir a Revolução Farroupilha.
Fonte:
História do Rio Grande do Sul - RBS