quinta-feira, 18 de setembro de 2025

O Movimento Farroupilha

O Movimento Farroupilha ficou marcado na história como um movimento do período regencial brasileiro contra a imposição do presidente de província pelo Governo Central, isto é, sem consultar o governo provincial. O movimento tinha um caráter liberal e pretendia conseguir mais autonomia provinciana frente ao governo regencial que sucedeu o recém fim do Primeiro Reinado Brasileiro.
Após a Independência do Brasil em 7 de setembro de 1822, criou-se um processo de centralização do Poder Central do Rio de Janeiro sobre as demais Províncias brasileiras.
A própria Constituição de 1824 criava um sistema de governo rígido e centralizador que se chocava com os interesses “mais liberais” das elites regionais. O próprio Presidente das Províncias, o que hoje corresponderia ao governador do estado, era designado pelo Poder Central, afastando, com isso, as elites locais do controle sobre o poder político direto em suas Províncias.
É nesse contexto de disputa entre as elites regionais, pela configuração do Estado Nacional brasileiro que melhor lhes favorecesse, que devemos situar a guerra de 1835 ocorrida na Província de São Pedro do Rio Grande do Sul.
A Revolução Farroupilha, na verdade, foi uma das várias revoltas liberais republicanas ocorridas no Império. Sua base ideológica se fundamentava no federalismo e no liberalismo das classes pastoris na defesa de seus interesses econômicos e políticos de dominação sobre o Sul.
O termo farroupilha, era um apelido antigo, que remete aos combatentes populares que compunham as tropas, que eram conhecidos por trajarem roupas esfarrapadas, embora as lideranças políticas estivessem sempre representada por setores da elite local.
Desde 1831, circulava no Rio de Janeiro, jornais denominados “Jurujuba dos Farroupilhas” e “Matraca dos Farroupilhas”. Em 1832, Luís José dos Reis Alpoim, fundou o “Partido Farroupilha” em Porto Alegre, partido aliás que já existia em São Paulo.
Uma das versões dizia que o termo havia sido inspirado nos "sans culottes" franceses, os revolucionários mais extremados durante o período da Convenção (1792 a 1795). Os "sans culottes", que literalmente quer dizer sem calção, usavam calças de lã listradas, em oposição ao calção curto adotado pelos mais abastados.
Os “farroupilhas” eram os liberais exaltados, radicais, facção revolucionária que posteriormente defendia a separação do Rio Grande do Sul em relação ao Brasil.
A guerra é iniciada em 20 de setembro de 1835, com a invasão de Porto Alegre pelos rebeldes republicanos e a deposição do Presidente Braga.
Nesse contexto, havia uma divisão entre o movimento farroupilha, pelo menos, em dois grupos: o grupo da maioria e o da minoria. O grupo da maioria possuía como líder Bento Gonçalves da Silva, mas também, Domingos José de Almeida, Mariano de Matos e Antônio da Silva Netto e defendia a independência do Rio Grande do Sul num Estado republicano independente que poderia se vincular, numa espécie de federação, tanto ao Brasil como aos demais países platinos. O grupo da minoria, representado por David Canabarro e Vicente da Fontoura, desejava reformas para a autonomia da Província, fosse num sistema monárquico ou republicano sem, necessariamente, sua separação do Brasil. Esse grupo assumiu o controle da revolução já em seu final, a partir de 1843, negociando o processo de paz com o Império.
É necessário esclarecer que o movimento farroupilha, não iniciou com objetivo separatista, e sim um movimento que buscava a atenção do Império em suas reinvindicações.
A guerra farroupilha, no entanto, estava longe de ser unanimidade entre os rio-grandenses. Essa guerra emergira da classe de estancieiros, principalmente da metade-sul, grandes proprietários de terras e gado, que controlavam a matéria-prima da importante indústria do charque. Por seus próprios objetivos, os farroupilhas (liberais radicais) não defendiam um projeto de reformas sociais para o Rio Grande do Sul, pelo contrário, o ideário farrapo preconizava posturas racistas e de exclusão. Exemplo disso é o próprio Projeto de Constituição proclamado pelos rebeldes, e impresso em Alegrete em 1843, onde afirmava-se: “São cidadãos Rio-Grandenses todos os homens livres nascidos no território da República…”, ou seja, nem o escravo, nem o liberto, nem o imigrante, eram considerados cidadãos. Mas a exclusão vai além, pois eram excluídos do direito de votar nas assembleias os que não tivessem de renda anual de cem mil réis por bens de raiz, comércio ou emprego. O voto previsto era censitário, somente votaria ou se candidataria quem dispusesse de renda anual significativa. Somente poderia votar nas eleições de deputado, senadores e conselheiros do Estado quem tivesse renda anual de “trezentos mil réis”. Com isso o povo estaria, definitivamente, afastado das decisões e da vida política da Província.
A guerra durou dez anos, porque os farrapos recebiam continuamente mantimentos dos países de fronteira e o charque das províncias era contrabandeado para o Uruguai e entrava no Brasil como se fosse de procedência uruguaia e também pelo local estratégico, contribuindo para a sustentação econômica dos republicanos.
O fim da guerra era necessário pois os farroupilhas, já estavam economicamente enfraquecidos, não havia escolha e a paz era o caminho e a solução.
A Revolução também teria o polêmico episódio sobre o Combate e definitivamente o Massacre de Porongos, onde se aponta a suspeita a traição aos lanceiros negros.
Em 1ª de março de 1845, os imperiais, liderados por Duque de Caxias e os republicanos farroupilhas assinam um tratado de paz, o "Tratado de Poncho Verde". Oficialmente a guerra estava acabada, mas as cicatrizes continuavam por muito tempo.


Por: Diones Franchi
Jornalista e mestre em história

Referências Bibliográficas:

AHRS. Anais do Arquivo Histórico do Rio Grande do Sul-Volume 7. Porto Alegre, 1963.
Secchi, Neusa Marli Bonna (2013). Revolução Farroupilha 1835 a 1845 - Decênio Heróico