sábado, 17 de dezembro de 2022

General Osório – De soldado a patrono

Manuel Luís Osório, conhecido também como Marquês do Herval nasceu em 10 de maio de 1808, na localidade de Vila de Nossa Senhora da Conceição do Arroio, hoje município que leva seu nome, Osório no Rio Grande do Sul.Participou dos principais eventos militares do final do século XIX sendo herói da Guerra da Tríplice Aliança. Segundo o historiador e seu biografo Francisco Doratioto, Manuel Luis Osório foi militar contra a vontade, por imposição paterna e pela falta de alternativas para um garoto pobre do interior do Rio Grande do Sul. Mas com o tempo simpatizou com a vida e a carreira militar.Ingressou no Exército aos 14 anos e com 17 anos incompletos já era alferes. Participou de todas as batalhas ocorridas no sul do continente, como a batalha de Sarandi, na guerra da Província Cisplatina, em 1825. Lutou ainda em Passo do Rosário (1828), na Revolução Farroupilha (1835-1845) e na batalha de Monte Caseros (1852), contra o ditador argentino Juan Manuel Rosas.Em 1835, surgia a Guerra dos Farrapos caracterizada por agitações separatistas que, por dez anos, ameaçou a unidade do Império. O tenente Osório, à época, servia o 2º Corpo de Cavalaria Ligeira, na Vila de Bagé, onde abandonou a praça e entregou-a aos farrapos. Osório conduziu seu superior até a fronteira e apresentou-se depois ao coronel Bento Manoel Ribeiro.De espírito liberal, Osório apoiou a causa farroupilha, combatendo inicialmente ao lado dos rebeldes, até a proclamação da República Rio-Grandense em 1836, quando o movimento tomou a causa separatista o que ele não aceitou, motivo pelo qual integrou-se ao Exército Imperial, no qual permaneceu até o fim da revolta. Participou, ainda, dos combates contra os rebeldes em Porto Alegre, Caçapava do Sul e Herval. Tornou-se capitão em 1838 e major em 1842. Em 1844 solicitou a sua reforma, mas o Exército não querendo dispensá-lo, nomeou-o tenente-coronel e comandante do 2º Regimento de Cavalaria de Linha. Auxiliou Caxias na elaboração da paz de Poncho Verde que ocorrida em 25 de fevereiro de 1845. Com o fim da Revolução Farroupilha o imperador Dom Pedro II ainda muito jovem, decidira visitar a Província com o objetivo de consolidar a paz firmada. Caxias confiou a Osório a delicada missão. Em 1856, tornou-se general e, nove anos depois, marechal de campo, depois de ter organizado, no Rio Grande do Sul, o Exército brasileiro que participou da guerra do Paraguai (1865-1870). Comandou as tropas brasileiras que invadiram o Paraguai, em 16 de abril de 1866. Em maio, planejou a estratégia que permitiu ao Brasil vencer a batalha de Tuiuti, a maior do conflito. Recebeu o título de Barão e depois Marquês do Herval. Voltou ao campo de batalha em 1868 e mais uma vez demonstrou competência, conquistando a fortaleza de Humaitá e vencendo a batalha de Avaí. Osório era um homem simples, nada aristocrático, que se dava bem com os soldados e, assim como eles, estava sempre pronto para entrar em ação. Mais tarde foi chamado pelo imperador a ocupar uma cadeira no senado e promovido ao posto de marechal de exército. Em 1878, foi nomeado ministro da guerra, com a ascensão do Partido Liberal ao poder. Permaneceu no cargo até a morte. O General Osório conquistou a fama e reconhecimento nacional e até conquistou certa fortuna. Faleceu no Rio de Janeiro em 4 de outubro de 1879, sendo seu nome, homenageado em vários locais do Brasil, entre eles seu nome no município em que nasceu. Hoje Osório é o patrono da Arma de Cavalaria do Exército brasileiro. Contam os historiadores da época que, certa vez, despachando juntamente com outros ministros diante do imperador, percebeu que Dom Pedro II cochilava, sem dar atenção ao que eles diziam. Aborrecido, Osório deixou cair estrondosamente seu sabre ao chão. Abruptamente despertado, o imperador o admoestou: "Acredito que o senhor não deixava cair suas armas quando estava no Paraguai, marechal". "Não, majestade", respondeu Osório, "mesmo porque lá nós não cochilávamos em serviço".

Por: Diones Franchi
Jornalista
Mestre em História
Fontes:
DORATIOTO, Francisco. General Osório. Companhia das Letras, 2008
FLORES, Moacyr. Historia do Rio Grande do Sul, 1986




sexta-feira, 23 de setembro de 2022

A Revolução Farroupilha (1835-1845)

A Revolução Farroupilha foi a mais longa guerra civil da história brasileira, durando de 1835 até 1845. Foram dez anos de batalhas entre Imperialistas e Republicanos, os primeiros defendiam a manutenção do império e os segundos lutavam pela proclamação da república brasileira.

Porque a Revolução Farroupilha aconteceu:

No final do século XVIII, os ideais iluministas e liberais eram apresentados ao mundo. Na Europa a burguesia chegava ao poder após a Revolução Francesa, e na América, os norte-americanos conheciam a independência, após uma longa Guerra Civil.
Os iluministas e os revolucionários franceses defendiam a liberdade e a igualdade de todos perante a lei, a livre iniciativa e o direito à propriedade privada.
Quando essas ideias chegaram ao Brasil, no início do século XIX, a monarquia brasileira passou a ser vista como um atraso ao desenvolvimento econômico do país, principalmente pela burguesia que se formava.
Devido a isso, diversas revoltas - denominadas de Rebeliões Regenciais - estouraram em todo o país. No Rio Grande do Sul iniciava a Revolução Farroupilha.

Como começou a Revolução:

As ideias de autonomia e federalismo, encantam a elite brasileira e ganham força ao natural na província de São Pedro do Rio Grande do Sul.
A distância do poder central, a condição de produtor de alimentos, os elevados impostos pagos ao Império e a recente vivência de guerras impulsionaram o estado gaúcho a não aceitar a submissão que lhe era imposta.
Para piorar o governo central resolveu baixar o imposto sobre a importação de charque estrangeiro. Medida que afetava diretamente as oligarquias gaúchas, já que na época o Rio Grande do Sul era um grande produtor deste item.
Isto somado ao fato da elite rural gaúcha estar cansada dos desmandos do centro do país e do descaso político com o estado, decidiu se rebelar contra o Império.

A Revolução:

No dia 20 de setembro de 1835, tropas farroupilhas marcham sobre Porto Alegre, tomando o poder da cidade. No dia seguinte Bento Gonçalves, líder do levante, entrou triunfante na capital. Bento deu posse ao vice-presidente da província, Marciano Ribeiro, e acalmou a população declarando: "Em nossas mãos, a oliveira substitui a espada".
Alguns dias depois praticamente todo o estado estava em mãos farroupilhas. Somente as cidades de Rio Pardo, São Gabriel e Rio Grande ficaram em poder do Império.
No dia 15 de julho de 1836, os imperialistas reconquistaram Porto Alegre. Bento Gonçalves, líder dos farrapos, tentou a reconquista da capital mas foi frustrado após três horas de luta. A perda de Porto Alegre foi uma derrota decisiva, pois a capital nunca seria reconquistada pelos revolucionários.
Em 09 de setembro de 1836, iniciou a primeira grande batalha. Antônio de Souza Netto, a figura mais respeitada das forças farroupilhas depois de Bento Gonçalves, venceu as tropas imperiais na Batalha do Seival.
A vitória foi tão entusiasmante, que Netto, instigado pelos republicanos radicais, proclamou em 11 de setembro de 1836 a República Rio-Grandense. A decisão emancipava o estado gaúcho do restante do Brasil. A medida deu novos rumos ao levante, configurando o caráter revolucionário do movimento farroupilha.
General Netto proclamou dizendo: "Camaradas! Nós, que compomos a Primeira Brigada do exército liberal, devemos ser os primeiros a proclamar, como proclamamos, a independência dessa província, a qual fica desligada das demais do Império e forma um Estado livre e independente, com o título de República Rio-Grandense, e cujo manifesto às nações civilizadas se fará oportunamente. Camaradas! Gritemos pela primeira vez: Viva a República Rio-Grandense! Viva a independência! Viva o exército republicano rio-grandense!".
Outra medida muito importante foi que todos os escravos que se alistassem nas tropas farrapas seriam libertos. Com isso, o número de soldados farroupilhas dobrava de tamanho.
Contudo, em outubro do mesmo ano, na Batalha do Fanfa, os farroupilhas foram derrotados pelas forças imperialistas. Bento Gonçalves e outros oficiais farroupilhas foram presos e enviados para o Rio de Janeiro, capital do Império.
Na capital, Bento Gonçalves acaba conhecendo o revolucionário italiano Giuseppe Garibaldi. O italiano resolve aderir ao movimento farroupilha. Garibaldi e seus seguidores navegam em direção a o sul do Brasil onde são recebidos como reforços ao exército revolucionário.
As forças imperiais, acreditando que a revolta havia sido sufocada, oferece anistia aos derrotados. Mas Antônio de Souza Netto, agora líder absoluto do movimento, mantém-se rebelado.
Em 05 de novembro de 1836, a câmara municipal da cidade de Piratini oficializa a proclamação da República Rio-Grandense. Mesmo feito prisioneiro, Bento Gonçalves é declarado presidente do novo país, como vice-presidente é nomeado José Gomes Jardim, que assume a presidência interinamente.
Em outubro de 1837, Bento Gonçalves foge da prisão, dois meses depois chega ao Rio Grande do Sul onde assume a presidência da República.
O ano seguinte foi péssimo para os rebelados. Os farroupilhas não tiveram sucesso na reconquista de Porto Alegre e Rio Grande, além disso, sofrem importantes baixas militares.
Em 1839, Giuseppe Garibaldi e Davi Canabarro conquistam as cidades catarinenses de Laguna e Lages, e proclamam a "República Catarinense" ou "República Juliana".
Entretanto, poucos meses depois da conquista de Santa Catarina, os farrapos foram surpreendidos e Laguna voltou para o controle do Império. As embarcações farroupilhas foram destruídas, somente Garibaldi escapou. A cavalaria de Canabarro foge pelo litoral, escondendo-se na cidade de Torres.
De 1840 em diante, dois terços do exército brasileiro passou a lutar em território gaúcho. Em sua ofensiva final, o exército imperial contava com 11.400 combatentes, números elevadíssimos para a época. Para se ter uma ideia da expressividade deste contingente, basta lembrar que a população total do Rio Grande do Sul era de 70 mil habitantes aproximadamente. A Revolução também teria o polêmico episódio sobre o Combate de Porongos, onde se aponta a suspeita de traição aos lanceiros negros.
Em primeiro de março de 1845, os imperialistas, liderados por Duque de Caxias e os republicanos farroupilhas assinam um tratado de paz, o "Tratado de Poncho Verde". Oficialmente a guerra está terminada.

Principais pontos assinados no Tratado de Poncho Verde:

- O império pagaria as dívidas do governo republicano;
- Os oficiais republicanos seriam incorporados ao exército brasileiro;
- Eram declarados livres todos os escravos que haviam lutado nas tropas republicanas;
- Seriam devolvidos todos os prisioneiros de guerra;
- Foram elevadas as taxas alfandegárias para importação do charque estrangeiro, o que favoreceu ao charque gaúcho.

Pós Guerra:

- Antônio de Souza Netto muda-se para o Uruguai;
- Davi Canabarro luta ao lado das forças brasileiras na Guerra do Paraguai;
- Após deixar o Rio Grande do Sul, Giuseppe Garibaldi voltou à Itália onde foi um dos grandes heróis da unificação deste país.
- Bento Gonçalves morre dois anos após a guerra.

A assinatura do Tratado de Poncho Verde trouxe benefícios para ambos os lados, mas nem tudo foi cumprido. Por isso, é fato que os farroupilhas não venceram a guerra, da mesma forma que os imperiais. Por outro lado, também não podemos dizer que foram derrotados. A verdade é que os dois lados alcançaram parte de seus objetivos. Se o Império Brasileiro não perdeu sua importante província fronteiriça, os farrapos também lucravam com o aumento do imposto sobre o charque importado.
Entretanto o mais importante e polêmico sobre o final da Guerra dos Farrapos está na discussão que envolve o seu desfecho.
A Guerra dos Farrapos foi diferente das outras Rebeliões Regenciais que ocorreram na mesma época, pois houve um caráter revolucionário. Isto é, o rompimento com o Império e a luta pela República e pela abolição da escravatura. Fatores que tornavam o levante gaúcho uma revolução.
Contudo, quanto a este caráter revolucionário, os farroupilhas não obtiveram sucesso. Pois o Brasil manteve-se uma monarquia e o Rio Grande do Sul voltou a condição de província brasileira. Mas o pior de tudo foi que a escravidão foi mantida, mesmo os que haviam lutado na guerra, poucos foram os que mantiveram sua liberdade após a declaração de paz.
A revolução farroupilha ficou eternizada na memória e cultura dos gaúchos devido ao MTG - Movimento Tradicionalista Gaúcho, que cultivou os valores de uma guerra, constituindo personagens em heróis farroupilhas.

Por: Diones Franchi
Jornalista e Mestre em História

Fontes:
Urbin, Carlos. Os Farrapos, 2001
Flores, Moacyr. História do Rio Grande do Sul, 1986
Faber, Marcos Emílio Ekman, 2016



O Rio Grande do Sul na independência do Brasil

O início do processo da independência do Brasil começou com o retorno de Dom João IV a Portugal em 26.04.1821 devido a revolução liberal do Porto. Com isso surge uma divisão entre os partidos políticos portugueses.
José Bonifácio o ministro do regente Dom Pedro I, queria a união de Portugal e Brasil em uma só nação e império, através de uma monarquia constitucional e liberal, mas com o Brasil mantendo sua autonomia administrativa através de um Conselho de Estado. Uma ideia que influenciava Dom Pedro, pois garantia a possibilidade do Brasil não voltar a ser colônia.
Na época da independência governava o Rio Grande do Sul, o capitão-general João Carlos de Saldanha de Oliveira e Daun, que era mal visto pelos liberais nacionalistas, pelo fato de ser português e neto do Marquês de Pombal. Quando Daun visitava as Missões, o coronel Antero José Ferreira de Brito e o Tenente-General Manoel Marques de Souza reuniram uma assembleia com militares liberais para formarem uma junta. Seus inimigos queriam derrubá-lo, com isso o governador prendeu os conspiradores remetendo-os ao Rio de Janeiro. Enquanto isso o processo da independência prosseguia com a resolução de Dom Pedro permanecer no Brasil no chamado Dia de Fico em 9.01.1822, recebendo adesão imediata das províncias de Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro, Santa Catarina, Cisplatina e o Rio Grande do Sul.
A província do Rio Grande do Sul foi representada pelo coronel Manoel Carneiro da Silva e Fontoura, se incorporando a representação da Câmara Municipal do Rio de Janeiro, onde ele discursou relembrando que “os rio-grandenses com espadas e vidas formavam barreiras aos inimigos do Brasil no Sul”. O apoio dado pelo coronel Fontoura a Dom Pedro I não modificou a opinião do governador do Rio Grande do Sul, Daun. Diante disso em 22.02.1822 a tropa acompanhada por populares dirigiu-se a frente do palácio e aclamou a nova Junta Governista formada pelo Marechal João de Deus Menna Barreto, brigadeiro Felix José de Matos, Manoel Marques, José Inácio da Silva, Manoel Lousada, Fernando José Mascarenhas Castelo Branco, Francisco Xavier Ferreira, José Teixeira Bacelar, tendo como presidente o general Daun.
O governo provincial no Rio Grande do Sul era exercido pela Junta Governista, quando ocorreu a independência do Brasil. O general Daun não aderiu a ordem e em 15.7.1822 e a Câmara Municipal de Porto Alegre pediu sua exoneração, onde ele posteriormente solicitou demissão em 29.8.1822, com o objetivo de tentar ir para o Uruguai, mas foi lhe negado pois havia Voluntários Reais com cerca de 5000 soldados. Sendo assim a independência do Brasil ocorreu em 7 de setembro de 1822 nas margens do Rio Ipiranga.
No Rio Grande do Sul, a nova junta tomou posse em 29.11.1823, sendo denominado o presidente José Inácio da Silva, e os demais membros formado por José de Oliveira, Francisco Ferreira, Fernando Castelo Branco e o padre Tomé Luís de Souza.
A lei imperial de 20.10.1823 criou para cada província do Brasil, um presidente e um conselho. José Feliciano Fernandes Pinheiro foi nomeado presidente provincial em 25.11.1823, tomando posse em 8.3.1824. A constituição de 1824 confirmava essa nova forma admnistrativa, que além disso transformava Dom Pedro I no herdeiro do trono do Império com o controle político e executivo do Brasil.
O processo de independência do Brasil não foi um movimento popular por que o povo não tinha consciência de formar uma nação. O Rio Grande do Sul era uma província considerada distante das decisões do Império, mas foi de extrema importância, principalmente por ser um território de fronteira que visava a unificação e segurança do Brasil.
Por: Diones Franchi
Jornalista e mestre em História

Fontes:
Flores, Moacyr. História do Rio Grande do Sul, 1986
Fausto, Boris. História do Brasil, 1994




sábado, 6 de agosto de 2022

Os primeiros habitantes do Rio Grande do Sul - Os Índios

Os índios foram os primeiros habitantes do Rio Grande do Sul, antes da ocupação européia, sendo dividido em três grupos: Jês, Pampiano e Guarani.
As expansões povoadoras eram formadas por portugueses e espanhóis, que se articulavam no espaço indígena de maneira diferente. No oeste do estado os missionários jesuítas, criaram as reduções com o objetivo de transformar os índios em cristãos. Havia também os bandeirantes que buscavam mão de obra para o cultivo de cana de açúcar, sempre deixando um rastro de sangue, por onde passavam, chegando a dizimar povoações, tanto por assassinatos como por doenças contagiosas. Nesse mesmo período, ao leste surgiam as sesmarias, dando início ao processo de povoamento, através de fazendas de criação de gado. Já na região da campanha, viviam os índios pampianos, que eram aproveitados como soldado, peão e tropeiro.
Os jês habitavam a parte norte junto a Santa Catarina, os guarani ocupavam o litoral e a parte central até a fronteira com a Argentina, e os pampianos se localizavam ao sul junto do Uruguai.






Índios Guarani

Os guarani também conhecidos como tapes, arachane e carijó eram o grupo indígena mais numeroso da região. Habitavam principalmente os vales dos rios e as margens das lagoas, onde a caça e a pesca eram mais abundantes. O guarani coletava diversos tipos de moluscos, frutos, erva-mate e raízes e cultivavam principalmente o milho e o aipim, mas também plantavam feijão, abóbora, batata, fumo e algodão. Viviam em aldeias com varias casas dispostas em círculo. Cada clã ocupava uma casa de forma alongada, com uma porta para os homens e outra para as mulheres. Suas moradias tinham uma estrutura de madeira coberta com fibras vegetais, em geral de base circular. Essas habitações denominadas de ocas eram habitadas por diversas famílias com grau de parentesco entre si. Uma aldeia, normalmente era formada por três a seis ocas. Os guarani foram o grupo que formariam mais tarde, os povos missioneiros, catequizados pelos jesuítas espanhóis.

Índios Jês

Os índios Jês que ocupavam o planalto norte do estado viviam em aldeias de cinco a seis cabanas com 20 a 25 famílias, dirigido por um chefe que praticava feitiçaria. Viviam da caça, da pesca e da coleta de frutos e raízes. Também praticavam a agricultura, cujo principal produto era o milho, além de comer e cultivar o pinhão. Para se proteger do frio alguns moravam em casas “subterrâneas”. Eles cavavam buracos no chão, que tinham aproximadamente dois metros de profundidade e cinco metros de largura e protegiam o buraco com um telhado feito de galhos de árvores cobertos por ramos de palmeira. A terra pertencia à comunidade, com território de caça marcado.
Os jês foram sendo expulsos de suas terras pelos brancos que iam chegando ao território. Em 1882 os jês fora chamados de caingangues (kaingang – habitantes do mato). Muitos de suas aldeias foram simplesmente massacradas durante a colonização. No século XIX, os poucos jês que sobraram e que haviam sido um dia os senhores do planalto, foram obrigados a viver em pequenas reservas. Os kaingang que constituem a maior parte dos indígenas que vivem hoje em terras gaúchas faziam parte desse grupo.

Índios Pampianos

Os pampianos, grupo formado principalmente pelos charruas e minuanos, eram o povo indígena menos numeroso. Viviam principalmente nos campos e em áreas com bastante água, pois nelas havia abundancia de recursos para a pesca e caça. Diferentemente dos guarani e jês, os pampianos não praticavam a agricultura. Viviam da caça, da pesca e da coleta de frutos e raízes e logo incorporaram os animais trazidos pelos europeus à sua vida. Viviam na região da campanha, sendo os cavalos utilizados como meio de transporte para auxiliar na caça. O gado bovino servia de alimento, onde havia em abundancia na região. Praticavam a poligamia e quando a mulher envelhecia era trocada por uma mais jovem. O homem em sua maioria, não se importava se a china (mulher) tivesse relações com outro e trocava ela por qualquer outro objeto. Usavam botas de garrão de potro, e com o contato com espanhóis começaram a usar poncho, chiripá e se cobriram com chapéu de couro de “barriga de burro”. Com a ocupação de suas terras por portugueses e espanhóis, os pampianos foram obrigados a ir cada vez mais para o interior.
A escassez de recursos provocou a fome, e a situação se agravou com as epidemias e as guerras. Muitos deles foram trabalhar nas fazendas dos colonizadores europeus. Os pampianos que restaram foram massacrados por tropas uruguaias na década de 1830.
Na cultura gaúcha seus vocábulos são utilizados na linguagem coloquial tais palavras como cancha, china, chiripá, poncho, guacho, charque, chasque, chiru, guaiaca, guampa, guasca, inhapa, lechiguana, mate, pampa, tambo e vincha.

Atualmente os grupos indígenas que habitam o Rio Grande do Sul chegam a aproximadamente 40 mil, dos quais somente 23 mil vivem nas reservas ou em aldeias. Os pampianos foram completamente dizimados ainda no século XIX. Os poucos jês que restaram pertencem ao grupo kaingang e os guarani tentam sobreviver e enfrentam diversas dificuldades, principalmente em relação a demarcação de suas terras.
A importância dos índios no Rio Grande do Sul, esta presente até hoje, através dos costumes mais tradicionais dos gaúchos como o churrasco e tomar chimarrão oriundo da herança indígena.

Por: Diones Franchi

Jornalista
Mestre em História

Fontes:

- Flores, Moacyr. História do Ro Grande do Sul. Martins Livreiro, 1986
- Povos indígenas - Coleção: História Geral do Rio Grande do Sul, Ed. Méritos, 2009

quarta-feira, 1 de junho de 2022

Piratini – A Primeira Capital Farroupilha

Piratini é um município brasileiro localizado no Rio Grande do Sul, sendo destaque no estado por ter sido a primeira capital farroupilha e também a primeira capital de princípios republicanos no Brasil. Antes da chegada dos europeus, o território gaúcho era habitado por povos indígenas, entre eles os índios Tapes (guaranis) que habitavam a região de Piratini. Sua cultura era baseada na produção e cultivo da horticultura tecnicamente muito simples. Piratini" ou "Piratinin" (denominação primitiva) na língua tupi-guarani que significa "peixe barulhento". A história do município de Piratini se inicia de fato em 1777, quando os primeiros militares portugueses instalaram-se às margens do rio Piratini. No entanto a fundação aconteceu, mais tarde em 6 de julho de 1789, quando chegaram a região 48 casais açorianos. As terras onde foram colocados os casais faziam parte de uma estratégia de ali barrar possíveis caminhos de invasão por espanhóis ao Rio Grande do Sul, ao longo do divisor da serra dos Tapes, a partir de Cerro Largo (atual Mello), e através do passo Centurión (então Passo Nossa Senhora da Conceição) do rio Jaguarão. Os casais se estabeleceram em Piratini, de 1789 a 1807, com o objetivo de intensificar a ocupação portuguesa em todo território. Um dos motivos foi o Tratado de Santo Ildefonso, imposto pela Espanha a Portugal, que não agradava os rio-grandenses. A tradição guerreira da cidade iniciou-se já em 1827, quando muitos habitantes da Freguesia tomaram parte na campanha da Guerra da Cisplatina. A insegurança na fronteira que se transitava, elegeu Piratini, situada sob a proteção da serra dos Tapes, como local seguro para se viver. As famílias açorianas que migraram construíram boas casas, inclusive palacetes e sobrados até hoje mantidos. Piratini foi instalada a categoria de Vila em 7 de junho de 1832, pelo conselheiro Antônio Rodrigues Fernandes Braga, decorridos 42 anos de sua fundação, sendo eleita e empossada a primeira Câmara Municipal. Dos 40 signatários da ata de fundação registramos entre eles, Bento Gonçalves da Silva. No decorrer do tempo, Piratini se desenvolveu e passou a ser um local estratégico devido principalmente ao seu relevo. Durante a Revolução Farroupilha, Piratini teve um importante destaque no confronto. No dia 20 de setembro de 1835, os farrapos atacam a capital da província, Porto Alegre, destituindo do poder o presidente Antônio Rodrigues Fernandes Braga, que fugiu para Rio Grande. Um grupo de rebeles farroupilhas ocupou Porto Alegre, enquanto outros cem homens deflagravam o movimento na Vila Piratini, comandados pelo capitão de milícia Antônio José de Oliveira Nico e por Domingos de Souza Neto, rendendo e destituindo as autoridades imperiais na cidade. As primeiras colunas de farrapos marcharam pelas ruas estreitas da vila, em 8 de outubro de 1835, sob a aclamação dos piratinienses. Por sua localização estratégica, no alto da Serras do Sudeste, e pela existência de dezenas de prédios próximos para a instalação dos comandos revolucionários, a vila tornou-se o centro de operações do movimento. Em 10 de setembro de 1836, Antônio de Souza Neto, venceu o combate do Seival com sua Divisão Liberal Integrada. No outro dia, em 11 de setembro, Neto apareceu a galope, postou-se ao centro da tropa, ergueu a espada e anunciou a proclamação da República Rio-Grandense. Em 11 de novembro de 1836 foi instalada em Piratini, a capital da República Farroupilha, sendo elevada em 1837, ao título de "Mui Leal e Patriótica Cidade de Nossa Senhora da Conceição de Piratinym". Na Câmara da cidade houve a posse de Bento Gonçalves na Presidência da República Rio-Grandense em 16 de dezembro de 1837. Piratini esteve sede oficial da República Rio-Grandense ou República do Piratini, entre os períodos de 11 de novembro de 1836 e 15 de julho de 1842.
Nos dias atuais Piratini conserva, em suas ruas, os casarões da época do povoamento e da revolução, sendo patrimônio histórico e cultural do Rio Grande do Sul, tais como o Museu Histórico Farroupilha, a Igreja Nossa Senhora da Conceição, o Palácio da República Rio Grandense, o Sobrado da Dorada, a Casa da Camarinha, construções do final do século XVIII até à primeira metade do século século XIX, entre outros.
É considerada, uma das cidades mais importantes do Rio Grande do Sul, por possuir uma significativa concentração de monumentos tombados pelo IPHAN e IPHAE, considerado dessa maneira um dos centros históricos mais completos e homogêneos do Brasil.

Por: Diones Franchi
Jornalista
Mestre em História

Fontes:

- Anais do Arquivo Histórico do Rio Grande do Sul. Porto Alegre,1981. 12 volumes
- Portal - http://turismopiratini.com.br – Prefeitura de Piratini - RS
- PORTAL - http://www.ahimtb.org.br/piratini.htm
- Piratini- Um Sagrado Símbolo Gaúcho Farrapo - Cel Cláudio Moreira Bento

                                                                 Vista aérea Piratini - RS

                                                                       Piratini - RS


                                                                       Piratini - RS

 


 

segunda-feira, 2 de maio de 2022

O Tratado de Ponche Verde

O Tratado de Poncho Verde foi um acordo que pôs fim à Revolução Farroupilha, onde ficou definida a volta do território da província do Rio Grande do Sul, a fazer parte do Império do Brasil. À data de sua assinatura acontece em 1º de março de 1845, quando foi anunciada a paz.
Ponche Verde é uma região assim denominada pelos seus verdes campos, ótimos para a criação de gado, que faz parte atualmente do município de Dom Pedrito, localizado no sul do estado do Rio Grande do Sul.
Em 18 de dezembro de 1844, D. Pedro II elaborou um decreto, de conteúdo reservado, dispondo sobre as condições de paz. Estas condições poderiam ser adaptadas e autorizadas pelo Barão de Caxias nas negociações.
Ainda em 1844, Bento Gonçalves iniciou conversações de paz, mas retirou-se por discordar de Caxias em pontos fundamentais, assumindo no seu lugar Davi Canabarro.
Na verdade não foi uma paz fácil de ser realizada, pois um dos impasses era que o Império queria negociar uma anistia, mas os farrapos rejeitavam, entendendo que o acordo deveria ser através de um tratado de paz, fato esse que o governo central recusava, com o argumento que tratados se faziam entre países e a república rio-grandense não era reconhecida. O que podemos entender é que Caxias usava uma linguagem dupla, para satisfazer os farroupilhas e outra que evitasse condições inaceitáveis pelo Império. Através de documentos pode-se entender também que Canabarro e Vicente da Fontoura se submeteram em parte, as condições impostas pelos imperiais, sem dar um reconhecimento maior aos seus companheiros farroupilhas. Uma dessas condições seria não haver um acordo assinado em conjunto.
Em Ponche Verde, no final de fevereiro de 1845, foram examinados pelos republicanos os termos do documento, já assinado por Caxias, que foi intitulado de Convenção de Paz entre o Brasil e os republicanos. O general David Canabarro, comandante em chefe do exército republicano, investido de poderes para representar a presidência da República, aceitou as condições. Farrapos e imperiais se reuniram no Acampamento Imperial de Carolina, em Ponche Verde, região do atual município de Dom Pedrito, para decretar a pacificação da província. Foram 12 as cláusulas da pacificação. Foram lidas em Ponche Verde no dia 25 de fevereiro, por Antônio Vicente da Fontoura:
Art. 1° - Fica nomeado Presidente da Província o indivíduo que for indicado pelos republicanos.
Art. 2° - Pleno e inteiro esquecimento de todos os atos praticados pelos republicanos durante a luta, sem ser, em nenhum caso, permitida a instauração de processos contra eles, nem mesmo para reivindicação de interesses privados.
Art. 3° - Dar-se-á pronta liberdade a todos os prisioneiros e serão estes, às custas do Governo Imperial, transportados ao seio de suas famílias, inclusive os que estejam como praça no Exército ou na Armada.
Art. 4° - Fica garantida a Dívida Pública, segundo o quadro que dela se apresente, em um prazo preventório.
Art. 5° - Serão revalidados os atos civis das autoridades republicanas, sempre que nestes se observem as leis vigentes.
Art. 6° - Serão revalidados os atos do Vigário Apostólico.
Art. 7° - Está garantida pelo Governo Imperial a liberdade dos escravos que tenham servido nas fileiras republicanas, ou nelas existam.
Art. 8° - Os oficiais republicanos não serão constrangidos a serviço militar algum; e quando, espontaneamente, queiram servir, serão admitidos em seus postos.
Art. 9° - Os soldados republicanos ficam dispensados do recrutamento.
Art. 10° - Só os Generais deixam de ser admitidos em seus postos, porém, em tudo mais, gozarão da imunidade concedida aos oficiais.
Art. 11° - O direito de propriedade é garantido em toda plenitude.
Art. 12° - Ficam perdoados os desertores do Exército Imperial.
Os republicanos também conseguiram que o governo imperial elevasse em 25% a taxa sobre o charque importado, mas nem todas as cláusulas são integralmente cumpridas pelo exército imperial.
- Os farrapos não escolhem seu presidente provincial e o barão de Caxias é indicado a senador pelo Império.
- O Império não ressarci integralmente as dívidas de Guerra contraídas pela província do Rio Grande do Sul, elas não são devidamente contabilizadas e tendo sido pago apenas há alguns pouca quantia.
- Não houve a libertação de todos os escravos que lutaram no Exército Farroupilha, a fim de se evitar a insurgência dos negros pelo resto do Império. Alguns são devolvidos aos seus donos, mediante reivindicação, outros são levados para Rio de Janeiro e vendidos a outros senhores. Os que fazem parte do corpo de Lanceiros Negros, comandados por Canabarro, são massacrados na Batalha de Porongos, mais conhecida como massacre de Porongos. Apenas 120 soldados são mandados incorporar por Caxias aos três Regimentos de Cavalaria de Linha do Exército na Província.
No local onde houve as tratativas entre farroupilhas e imperiais, existe um obelisco de granito, a beira de uma estrada, a 45 km da cidade de Dom Pedrito, onde lêem-se estas palavras: “Nestes campos de Ponche Verde, em 1º de março de 1845, os defensores do Império e os republicanos de Piratini asseguraram a unidade nacional, com a pacificação do Rio Grande do Sul”.
Dessa forma o Tratado de Ponche Verde foi uma “forma honrosa” de acabar um conflito onde os farrapos se apresentavam, defasados em relação ao exército imperial.
Sendo assim a partir de 1º de março de 1845 o território do Rio Grande do Sul volta a integrar o império brasileiro e posteriormente, em 15 de novembro de 1889, à República Federativa do Brasil.


Por: Diones Franchi
Jornalista e mestre em história


Fontes:
Flores, Moacyr. História do Rio Grande do Sul, 1986.
Flores, Moacyr. Negros na Revolução Farroupilha, 2004
História Ilustrada do Rio Grande do Sul, 2004.
URBIM, Carlos. Os Farrapos - Porto Alegre, 2001.

 

Monumento a Paz Farroupilha - Dom Pedrito - RS

Obelisco da Paz - Dom Pedrito - RS



Mata – A cidade da pedra que foi madeira

Mata é uma cidade situada na área central do Rio Grande do Sul, onde possui uma imensa floresta de fósseis, contendo um jardim paleobotânico de 200 milhões de anos. A cidade também é conhecida pelos fósseis de dinossauros encontrados na região. O turismo influi diretamente na economia do Município, pois se constitui de importante fator de desenvolvimento. Mata, possui numerosas atrações culturais e turísticas, sendo considerado um verdadeiro Museu a Céu Aberto, cobertos por fósseis de pedras que já foram árvores, possuindo a maior reserva em área delimitada de fósseis do Brasil, para estudos científicos.
Mata é um importante ponto turístico do Rio Grande do sul, por fazer parte diretamente da pré - história do estado e do Brasil. Além da própria cidade que possui esses fósseis espalhados, o Jardim paleobotânico, possui uma a área de 36.000 m2, sendo a única reserva delimitada do Brasil em quantidade de fósseis do gênero. O local fica a cerca de 80 km de Santa Maria e foi descoberto em 1976, pelo Padre Daniel Cargnin, quando Mata ficou conhecida como "cidade da madeira que virou pedra" ou “cidade da pedra que foi madeira”.
A cidade de Mata faz parte, dos Sítios Paleobotânicos do Arenito Mata, criado pela Comissão Brasileira de Sítios Geológicos e Paleobiológicos. De idade Triássica, estas exposições de "florestas petrificadas" estão entre os mais importantes registros do planeta, tendo se formado a mais de 200 milhões de anos. No Museu da cidade denominado Padre Daniel Cargnin você encontra uma coleção com mais de 2.500 peças com fosseis animais, vegetais, minerais e na parte da arqueologia, sendo considerado um dos museus mais completos que existe também para estudos científicos. O acervo conta com material considerados, como um dos mais antigos do Rio Grande do Sul.
A cidade é tombada pelo patrimônio histórico e cultural, onde é composto por madeiras que passaram por processo de fossilização e se transformaram em pedra.
A explicação para a formação dos fósseis, segundo os paleontólogos, têm relação com um abalo no eixo da terra, que soterrou tudo, mantendo uma camada composta de mineral com água e sílica.
Dessa forma a madeira ficou toda soterrada e a água foi se infiltrando na própria madeira, tirando os pedacinhos de madeira e mineral, cristalizando no local. Seria uma substituição da matéria orgânica pela mineral.
Todos os anos, cerca de 10 mil pessoas visitam a cidade de Mata. E os fósseis não estão apenas nos museus. A madeira que virou pedra também é encontrada na arquitetura das casas, nas igrejas, nos detalhes das praças e até nas calçadas. Certamente é uma cidade que conta a verdadeira pré-história do estado do Rio Grande do Sul.


Por: Diones Franchi
Jornalista e mestre em História


Fontes:
- História Ilustrada do RS – RBS Publicações.
- Portal G1 - https://g1.globo.com/.../jardim-paleobotanico-de-200...
- Prefeitura de Mata – https://www.mata.rs.gov.br/

                                                             Pórtico de entrada Mata - RS

                                                                   Monumento Petrificado


                                                                        Praça petrificada


                                                                       Jardim Paleobotânico

 

quinta-feira, 10 de março de 2022

A Primeira divisão administrativa do Rio Grande do Sul

O surgimento do Rio Grande do Sul está ligado diretamente à história da sua ocupação, a partir das sesmarias e dos núcleos açorianos. Foi nesse momento que o Estado iniciou um processo de divisão territorial em áreas administrativas.Na época o Rio Grande do Sul recém fora elevado à condição de Capitania do Rio Grande de São Pedro do Sul. Dom Diogo de Souza fora designado por Dom João IV como capitão-general e “governador” do estado, sendo ele o responsável em assinar em um alvará que estabeleceria a primeira divisão administrativa no território gaúcho que, após muitas disputas entre as coroas portuguesa e espanhola, começava a tomar a forma que se mantém até os dias de hoje.
Sendo assim a primeira divisão ocorreu no ano de 1809, separando a então Província de São Pedro em quatro grandes municípios: Porto Alegre, Rio Grande, Rio Pardo e Santo Antônio da Patrulha.
Eles eram divididos da seguinte forma:
Porto Alegre – Com as paróquias de N.S. Madre de Deus, N.S. da Conceição de Viamão, N.S. dos Anjos da Aldeia, Bom Jesus do Triumpho.
Rio Grande – Com as paróquias de S. Pedro do Rio Grande, N.S. da Conceição do Estreito e S. Luiz de França das Mostardas.
Santo Antonio da Patrulha – Com as paróquias S. Antonio da Patrulha, N.S. da Conceição do Arroio e N.S. da Oliveirada Vaccaria.
Rio Pardo – Com as paróquias de N.S. do Rosário de Rio Pardo, Santo Amaro, S. José de Taquary e N.S. da Conceição da Cachoeira.
Com o passar dos anos, outras divisões administrativas foram ocorrendo, à medida em que emancipações eram efetivadas e novos municípios iam sendo fundados pelos desbravadores dos rincões gaúchos.
Essa evolução, com o surgimento de novas sedes municipais, acentuou-se, sobretudo, na segunda metade do século 19, quando a economia baseada na pecuária já se encontrava em processo de estagnação e a chegada de imigrantes europeus para povoar e colonizar novas áreas tornou-se presente.
Os imigrantes estabeleceram-se em pequenas propriedades nos vales dos rios Taquari, Sinos e Caí. Dedicaram-se primeiramente à agricultura de subsistência e, através da comercialização do excedente da produção, geraram capital que proporcionou o surgimento do comércio e da indústria. O desenvolvimento destes setores propiciou o surgimento de uma região mais dinâmica, formada de novos e inúmeros povoados. O crescimento populacional e o fracionamento das colônias, somados à chegada de novos grupos étnicos, resultou na expansão das áreas no Rio Grande do Sul e seu processo de emancipação se intensificou do que conhecemos hoje.
Atualmente, numa área de 281.730,2 km², o Estado do Rio Grande do Sul é divido em 497 municípios, de acordo com dados do IBGE e do governo do Estado. 


Por: Diones Franchi
Jornalista e mestre em História


Referências:
- Atlas Econômico do RS - https://atlassocioeconomico.rs.gov.br
- Jornal ZH - https://gauchazh.clicrbs.com.br/.../em-1809-rio-grande-do...

 


 

sábado, 29 de janeiro de 2022

Os Farroupilhas e os Caramurus

Durante a Revolução Farroupilha o exército imperial era conhecido de maneira diferente no Rio Grande do Sul.
Caramuru foi nome pelo qual os farroupilhas chamavam os soldados imperiais na Guerra dos Farrapos.
O termo antes havia sido empregado no Rio de Janeiro para designar membros do Partido Restaurador, os quais eram favoráveis ao regresso da coroa portuguesa e à volta do antigo imperador Dom Pedro I.
Logo após a Independência do Brasil, os ideais liberais de muitos brasileiros questionavam a centralização do poder pelo Imperador Dom Pedro I. Enquanto outros países da América tornaram-se repúblicas, após suas independências, o Brasil era governado por um monarca considerado por muitos absolutista.
Em 1831, o Imperador abdicou do trono em favor de seu filho. A partir daí os anos seguintes foram conturbados no Brasil e eclodiram cinco grandes revoltas regionais: a Revolta dos Malês (1835), a Cabanagem (1835-1840), a Revolução Farroupilha (1835-1845), a Sabinada (1837-1838) e a Balaiada (1838-1841). A Guerra dos Farrapos foi a mais violenta e duradoura desse período.
Em 1835, o liberal Antônio Diogo Feijó assumiu como regente uno do Brasil. Feijó renunciou, em 1837, e assumiu o conservador Pedro Araújo Lima.
No início do século 19, as Províncias do Rio da Prata entraram em guerra por independência, o que também envolveu a Província Cisplatina. Esses conflitos só terminaram, em 1828, após um acordo entre o Brasil, Argentina e Uruguai. Durante esse período, os pecuaristas do Rio Grande do Sul ficaram comercialmente fortalecidos e muitos gaúchos passaram também a sonhar com a independência. Entretanto, o governo imperial decidiu reduzir as tarifas alfandegárias para o charque argentino e uruguaio, provocando grande descontentamento no Rio Grande do Sul.
O ano de 1835 foi conturbado no Império do Brasil com o inicio de varias revoltas, sendo o poder executivo considerado instável. No Rio Grande do Sul as atividades econômicas eram o tropeirismo, a pecuária e o comércio de seus subprodutos.
Contudo, um dos problemas era os impostos sobre o charque, um tipo de carne salgada e seca ao sol, que era principalmente destinada à alimentação de tropeiros e escravos.
A Província do Rio Grande do Sul estava politicamente dividida entre os chamado farrapos (de tendência liberal) e os caramurus (de tendência conservadora).
Os farrapos ou farroupilhas eram os campesinos e estancieiros, muitos latifundiários escravagistas ou caudilhos. Não havia um ideal comum entre eles, mas um descontentamento geral com os caminhos do Império, especialmente relativos aos governos no Sul do Brasil e suas consequencias econômicas, sendo influenciados pelas repúblicas independentes da antiga América Espanhola.
Os caramurus eram uma referência a Caramuru, o Patriarca do Brasil, que habitou o Recôncavo Baiano nas primeiras décadas do século 16. Caramuru era um nobre da Casa Real de D. João III e dele descendeu os primeiros nobres brasileiros, caboclos, que habitavam a Casa da Torre (hoje, Praia do Forte). Antes e depois da fundação de São Vicente, a Bahia de Caramuru foi o principal porto do Brasil, desde os anos 1520 até cerca de 1870. Embora poderoso, sua vida na Bahia era despojada de luxo. A referência aos caramurus vem do século 17, da obra do poeta baiano Gregorio de Mattos, autor de poemas como “Aos caramurus da Bahia e aos principais da Bahia chamados os caramurus”. No Rio de Janeiro, o Partido Restaurador, que buscava o retorno de D. Pedro I, era chamado de "partido dos caramurus". Lá, também era publicado o jornal “O Caramuru” por simpatizantes daquele partido, que perdeu o sentido de sua existência com a morte de D. Pedro I, em 1834. Mas, no Rio Grande do Sul, os caramurus eram aqueles que defendiam o Império.
Em 1834, Bento Gonçalves era o comandante da Guarda Nacional do Rio Grande do Sul, quando foi denunciado por desobediência e apoio aos uruguaios que defendiam a separação do Rio Grande do Sul. Bento Gonçalves tinha fazendas de gado tanto no Uruguai, quanto no Rio Grande do Sul, sendo julgado inocente.
Bento Gonçalves indicou, ao Regente Feijó, o gaúcho Antonio Rodrigues Fernandes Braga para substituir o baiano José Mariani, um dos caramurus, no cargo de Presidente da Província, no que foi atendido. Braga assumiu em 2 de maio de 1834, mas seu governo era impopular, principalmente pela criação de impostos.
Em abril de 1835, Bento Gonçalves assumiu como deputado da primeira Assembléia Legislativa da Província. Foi acusado de tentar um golpe separatista, com outros deputados. Bento Gonçalves e Bento Manoel Ribeiro, outro importante personagem da Revolução, perderam seus postos militares.
Na noite de 19 de setembro de 1835, Onofre Pires, comandou os farrapos no combate da Ponte da Azenha. Em 20 de setembro, Bento Gonçalves comandou a tomada de Porto Alegre, dando início à Revolução Farroupilha. Era o inicio de uma longa guerra entre os farroupilhas e os caramurus, aquilo que era uma antiga disputa política se tornaria a revolta mais duradoura da História do Brasil.


Por: Diones Franchi
Jornalista e mestre em História

Fontes:

- Historia do Rio Grande do Sul – Moacyr Flores
- Portal Brasil Turismo - https://www.brasil-turismo.com/rio-grande-sul/historia/guerra-farrapos.htm

Caramurus - Exército Imperial

Farroupilhas - Exército dos Farrapos